Um amor inesperado escrita por Tianinha


Capítulo 11
Sumiço de Bento




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À noite, foi comemorado o aniversário de tio Lili no Cantaí, e como sempre, Giane estava presente, assim como Bento e toda a vizinhança, as pessoas que Giane conhecia. Tio Gilson entregou o bolo para tio Lili, sob uma salva de palmas.

— Ai, meu Deus, mas que coisinha mais bonita! — elogiou tio Lili.

— Então, Lili, vai dizer quantos ou vai fazer mistério, hein? — perguntou tia Salma.

— Damas e cavalheiros nunca revelam a idade, Salma. — disse dona Odila.

— Olha que eu falo a tua, hein, benzinho! — implicou seu Nestor.

— Cala a boca! Eu falo a tua, viu? — disse dona Odila.

— Ô! — disse Giane, procurando acalmar os ânimos e impedi-los de brigar.

— De qualquer maneira, eu queria muito que vocês soubessem que... Que é muito bom ter vocês, meus amiguinhos queridos, aqui perto de mim, viu? — disse tio Lili, contente.

— Licença! Licença aí, licença aí! — disse Lucindo, cortando caminho por entre as pessoas, passando por seu Silvério, segurando um presente.

— Ih, chegou quem faltava! — disse Giane.

— Aí, tiozão! — disse Lucindo, abraçando tio Lili e levantando-o.

— Para! Para! — protestava tio Lili, enquanto Lucindo rodava com ele.

— Parabéns! — disse Lucindo, soltando-o no chão.

— Tá querendo me matar bem no dia em que eu nasci? — perguntou tio Lili.

— Ó, eu demorei pra achar o presente, mas o negócio é da hora, tio. Acho que você vai gostar. Dá uma olhada aí. — disse Lucindo, entregando o presente.

Tio Lili começou a desembrulhar o presente.

— Me ajuda aqui. — pediu tio Lili. Lucindo começou a ajudá-lo.

— Abre aí! Abre aí, tio! Abre isso aí, mano! — disse Lucindo.

Tio Lili olhou para o presente. Era um estojo de maquiagem.

— Ai, Lucindo! Meu Deus, que coisinha linda!

— Tem que abrir aqui, tio, pra ver os negócios, mano, ó. — disse Lucindo, abrindo o estojo.

— Olha! — disse tio Lili, mostrando o conteúdo do estojo a todos. Todos bateram palmas.

— Eu sabia que você ia gostar. — disse Lucindo. — Tem vários troços aí, entendeu, pra passar na cara, nos beiço, nos olho. Tem até um bagulho aí pra limpar, entendeu?

— Desmaquiante. — disse tio Lili.

— É isso aí, desmaquiante, mano. — disse Lucindo. — É coisa fina, viu, tio? É tudo pra você aí, aproveita.

— Ah, meu Deus! — disse tio Lili, colocando o presente sobre uma mesa. — Ô meu filho, eu queria... Eu queria muito que você soubesse que você é o homem que eu mais amo nesse mundo, viu?

— Pô, tio... — disse Lucindo, sem jeito.

— Olha aí... — disse tio Lili, emocionado.

— Você é o cara da minha vida, né, tio? — disse Lucindo, abraçando-o.

— Meu Deus! Olha aí, tô todo trabalhado nas lágrimas. — disse tio Lili, emocionado, com os olhos marejados. Todos gargalharam.

Felipinho começou a se apresentar no palco, cantando a música favorita de tio Lili. Tio Lili protestou:

— Ah, não! Essa música, não! Vai me fazer chorar mais ainda!

— Ué, a gente tinha que preparar pelo menos uma surpresinha, não é? — disse Bento.

— Vamos lá! Vamos lá! Eu vou dançar um pouquinho. — disse tio Lili.

Todos se divertiram muito na festa de aniversário de tio Lili. E no dia seguinte, todos na vizinhança colheram as flores, como sempre. Bento pegou uma caixa com as flores que seu Nestor e dona Odila haviam colhido. Bento elogiou:

— Ficaram ótimas! Seu Nestor, tia Odila, vocês arrasaram! — disse Bento, levando a caixa para a van. — Agora, é só torcer pro cliente novo aprovar.

— E alguém, algum dia, recusou as flores da Acácia Amarela? Ah! — disse Giane, que estava em cima da van, ajeitando as coisas. Em seguida, desceu.

— É! Só que as da Odila têm uma péssima energia, viu? — implicou seu Nestor. — É só colocar do lado de outro vaso, que ó... Murcha tudo!

— Eu vou dizer pra você quem é que murcha tudo aqui! — replicou dona Odila, levantando-se e levantando os peitos com as mãos. — Aliás, digo, eu sou a única coisa que você não murchou.

— Ah, mas tem uma razão, né? Já veio murcha de fábrica. — disse seu Nestor.

— Ah, meu filho, você já olhou teu traseiro no espelho? — replicou dona Odila. A essa altura, Bento e Giane já haviam ido embora na van.

Bento e Giane foram ao shopping, se encontrar com a cliente nova, que ficou satisfeita com o serviço prestado. Bento disse:

— A gente que agradece. Precisando, já sabe, é só ligar.

— Valeu aí!  — disse Giane, sorridente, despedindo-se da cliente.

— Valeu! — disse Bento, despedindo-se também da cliente.

Bento e Giane saíram andando.

— Não falei que ela ia gostar? — disse Giane.

— Boa! — disse Bento.

— Mais uma cliente! Yeah! — comemorou Giane.

— Mandou bem, garota. — elogiou Bento.

— Peraí. Fica um pouquinho aí, já volto. — disse Giane.

— Vai lá. — disse Bento.

Giane passou o dia todo trabalhando, como sempre. Bento também, e até passou um tempo na Toca do Saci, ajudando Malu, o que deixava Giane enciumada. Bento agora andava quase o tempo todo atrás da Malu. Sempre dava um jeito de ir para a ONG, nem que fosse na hora do almoço. Ele e Malu ficaram muito amigos, agora estavam trabalhando juntos no projeto da ONG.

No dia seguinte, Giane viu que havia saído na capa de uma revista uma foto com Bárbara Ellen, ao lado de toda a família. Bem, quase toda a família, pois estavam apenas os filhos adotivos e Maurício. Malu não estava. Giane resolveu dar uma olhada na revista, e viu que a reportagem falava a respeito de um fã esquizofrênico. Que fã seria esse? Será que a matéria se referia a Bento? Terá sido naquele dia em que ele fora tirar satisfações com Amora? Lembrou-se que quando Bento fora à casa de Amora, ela estava dando entrevista. Com certeza, Amora se aproveitou mais uma vez da situação para posar de boazinha, como sempre, como se estivesse fazendo alguma caridade ao dar atenção ao fã esquizofrênico.

Giane resolveu mostrar a revista a Bento. Precisava abrir os olhos dele. Bento achava que Amora era uma coitada, uma traumatizada. Giane sabia que Bento havia encontrado com Amora por acaso no shopping, no dia anterior, e tiveram outra discussão. Ele notara que Amora havia comprado um monte de sapatos repetidos, e ficara morrendo de pena dela. Amora não superara o trauma de passar a infância descalça. Giane sabia porque Bento havia contado. Giane achava que precisava abrir os olhos dele. Bento precisava ver quem era Amora.

Foi atrás de Bento e mostrou a capa da revista.

— Estão falando de você aí, nessa matéria da família feliz. Se liga. — disse Giane, abrindo a revista e mostrando a matéria para o amigo. — “Alma caridosa”.

Bento tomou a revista das mãos de Giane e começou a ler:

— “A jovem estrela interrompeu a entrevista por alguns minutos pra atender a um fã esquizofrênico”?

— É. Eu acho que o “fã esquizofrênico” no caso, é você, né? — disse Giane. — Não foi nesse dia que você foi lá dar uma lição na patricinha?

— Foi! — disse Bento, furioso. — E o esquizofrênico aqui ainda ajudou a estrela a posar de alma caridosa! Quer saber? Cansei disso, Giane! Agora chega!

— Bento, calma aí, cara! Onde é que você vai? — perguntou Giane.

Mas Bento saiu correndo, sem dizer aonde ia nem o que faria. Será que foi atrás de Amora, tirar satisfações de novo? Foi para casa, e encontrou o pai na frente do computador.

— E aê pai, já virou hacker? — perguntou, juntando peças de roupa que estavam espalhadas pela sala.

— É, estou tentando passar um e-mail aqui. — disse seu Silvério.

Giane foi para a lavanderia e enviou as roupas dentro da máquina de lavar.

— Ei! Você não tinha que estar trabalhando hoje, não? — perguntou seu Silvério, falando alto, da sala.

— Ah, o Bento pegou a van e saiu cedinho, sumiu! — disse Giane, fechando a tampa da máquina e ligando-a. — Ainda bem que a gente não tinha nenhuma entrega urgente.

— Ele deve ter um bom motivo pra sumir assim, né?

— Ah! De bom o motivo não tem nada, né, pai? — disse Giane, voltando para a sala. — Ele sumiu depois que eu mostrei uma foto da Amora, numa revista.

Giane sentou-se no sofá. Seu Silvério se levantou da mesa do computador.

— Filha, para de lembrar o tempo todo que Amora existe! — aconselhou seu Silvério, sentando-se em um dos sofás. — Quanto menos o Bento pensar na Amora, melhor, entendeu?

Seu Silvério sabia que a filha era apaixonada por Bento. Sempre sonhou em ver a filha e Bento juntos, e faria de tudo para juntá-los, para ajudar a filha.  

— Ô pai, não começa, não começa! — disse Giane, largando o jornal em que estivera dando uma olhada, sobre a mesa de centro.

Levantou-se do sofá. Resolveu ligar a televisão. Pegou o controle.

— Se você prefere ver tv, ao invés de lutar pelo o que quer. Paciência! — disse seu Silvério.

— O que que é, pai? Resolveu tirar o dia pra me encher, é? Eu, hein! — resmungou Giane, mal-humorada.

Bento passou o dia todo fora, sem dar notícias. Nem ligou para dizer onde estava, com quem, nem o que estava fazendo. Giane ficou preocupada. Anoiteceu sem que ela soubesse nada do amigo. Foi andando na rua, e viu que os garotos estavam jogando bola. Resolveu falar com os garotos, para saber se eles tinham notícias de Bento. Douglas a chamou:

— Oh Giane, vem! Agora completa os dois times, vem!

Giane adorava futebol, mas não estava com vontade de jogar.

— Não, não! Valeu, valeu, valeu! — disse Giane.

Douglas percebeu que Giane não estava com bom humor.

— Ih, tá naqueles dias! — disse Douglas.

— Ô seu animal! Olha como você fala com a mina, mano! — disse Lucindo.

— Ah, que mina, mano? É a Giane, ô! — disse Douglas.

Jonas se aproximou de Giane.

— Tá querendo saber notícias do Bento, né? — disse Jonas. — Ele ligou pra casa, falou que está tudo bem.

— E aí? Onde é que ele está? — perguntou Giane.

— Isso ele não disse. Só falou que ia chegar tarde. — disse Jonas.

— Oh Jonas, você vai ficar de lalalá com essa mina aí? — perguntou Lucindo.

— Calma aí, cara! — disse Jonas.

— Ah! — resmungou Giane.

— Depois a gente se fala, tá? — disse Jonas, tocando no ombro da garota.

— Ah, sua demônia! — disse Lucindo.

Jonas foi jogar com os garotos.

— Vambora! Rola aí! — disse Jonas.

Giane ficou esperando por Bento em frente à sua casa, sentada no muro. Até que viu chegar a van da floricultura. Giane desceu do muro e foi atrás do amigo. Precisava saber por que ele havia sumido por tantas horas. O que será que ele fez o dia todo?

— Oh Bento, pô, tava te esperando, cara! Onde é que você estava?

Espantou-se ao ver Bento todo arrumado, com o cabelo no lugar, todo elegante. Pelo visto, tomara um banho de loja. Giane não gostou nada de ver Bento com aquele cabelo, aquela roupa. Não parecia o Bento que ela conhecia. Ele não tinha nada que ter mudado o visual. Ela gostava dele do jeito que ele era. Só faltava Bento virar um almofadinha. E ela tinha horror a almofadinhas.

— O que é isso? Que raio de disco voador te sequestrou e te cuspiu desse jeito aí, cara? — perguntou Giane.

— E aí, gostou? — perguntou Bento.

— Não. Que roupa é essa? Não, na boa! Na boa! — disse Giane, bagunçando o cabelo dele. — Volta lá de onde você veio, traz o meu amigo de volta.

— Nossa! — disse Charlene, aproximando-se. — Pois eu acho que ele está o maior gatinho!

Bento sorriu.

— Ih, será que isso tem a ver com aquela nossa conversa? — perguntou Charlene.

Giane não estava entendendo nada. Sobre o que Charlene e Bento conversaram? Bento disse:

— Acabei de dar a minha primeira entrevista. E adivinha pra qual programa? Luxury.

— Ah, lindo! — disse Charlene, abraçando Bento. — Ai, sabia que você ia arrasar!

— Peraí, gente! Peraí! Dá pra alguém me explicar direito o que que está acontecendo? — perguntou Giane.

Foram para a casa de Bento. Giane ficou sabendo que Bento resolveu ficar famoso para dar uma lição em Amora, para chamar a atenção dela e de outros deslumbrados pela fama. Bento queria mostrar à patricinha entojada que era possível manter a fama e o prestígio sem perder os valores verdadeiros da vida. A ideia foi de Malu. A princípio, Bento se recusara. Charlene o incentivou a aceitar a ideia de Malu. Bento acabou mudando de ideia depois que Amora tratou mal a Socorro. Socorro fora à premiação de melhor publicitário do ano, que estava sendo apresentada por Amora, à frente do Luxury. Socorro foi puxar saco de Amora, como sempre. Tentou falar com Amora, entregar um presente, um álbum de recortes, mas foi ignorada. Socorro tentou furar o bloqueio dos seguranças e ir atrás de Amora. Bateu no vidro do carro. Amora fez de conta que não a viu, fez o motorista arrancar com o carro e Socorro acabou caindo no chão e se machucando.

Bento havia passado o dia todo ao lado de Malu, que tratou de transformá-lo em celebridade instantânea. Foram até mesmo ao apartamento de Plínio Campana, pai de Malu, para pedir ajuda, pois Plínio conhecia vários jornalistas. Então resolveram ir ao lançamento do livro de Artur Bicalho, um ambientalista. A imprensa toda estava no lançamento do livro. Bento e Malu passaram em uma loja para comprar roupas, para ele estar bem apresentável no lançamento. Na livraria, onde estava ocorrendo o lançamento, acabaram dando entrevistas para vários apresentadores de TV. Bento e Charlene conversaram sobre a entrevista que Bento havia dado para Lara Keller, ao lado de Malu e Plínio. Lara agora estava dividindo o comando do Luxury com Amora. Giane ouvia tudo, mal-humorada.

— Ah, mas eu pagava pra ver a cara de tacho da Amora vendo você lindo, dando a entrevista pro Luxury.  — disse Charlene, tomando uma xícara de chá.

Giane não estava gostou nada desta história. Era só o que faltava, Bento querer ficar famoso para impressionar Amora. Ele tinha horror ao mundo das celebridades. Vivia criticando o mundo da fama. Mas pelo visto, ele estava querendo fazer de tudo para impressionar a patricinha. Só faltava ele querer entrar no mundo dela. E se a fama subir à cabeça dele, e ele ficar igual à Amora? E se Bento começar a esnobar ela, Giane, e a todos que o querem bem?

— Se é que vai ao ar, né, Charlene? — disse Bento, colocando água na xícara. Charlene riu. — Mas você sabe que pra minha grande surpresa eu até achei divertido?

— Pois eu não tô vendo graça nenhuma. — disse Giane, mal-humorada. — Também não tô entendendo nada, cara. Pô Bento, qual é a tua? Você sempre meteu aí o pau nos famosos. Você agora resolveu virar um deles, cara?

— Que isso, Giane? A ideia é entrar nesse meio exatamente pra mostrar o ridículo que as pessoas... — disse Bento, porém Giane o interrompeu.

— Isso você diz agora, né, cara? Eu quero ver depois, você ficar aí, famoso. — disse Giane. — Vai ficar todo babão e deslumbrado.

— Ô, Giane, você não conhece mais teu amigo? — perguntou Charlene.

— Olha pro cabelo e pra roupa do cara. — disse Giane. — Se ele mudou o visual assim, não vai mudar o jeito dele? Daqui a pouco eu sou sócia do maior almofadinha da Casa Verde. — sentou-se no sofá. — Isso se ele não quiser se mudar daqui, né? Que é a cara do playboy querer ir lá pra Jardim América.

— Ô, Giane, você não pode estar falando sério. — disse Bento.

Bento não estava entendendo a reação da amiga.

— E tudo isso só pra impressionar aquela perua metida à besta da Amora, né? — disse Giane, enciumada. — Olha, Bento, eu sabia que você puxava aí um trem pela Amora. — levantou-se do sofá. — Ela te virou a cabeça mermo, né, cara? — Aproximou-se de Bento. — Vai fundo aí. Vai. — Tocou a mão no ombro do rapaz. — Boa sorte aí, nessa tua nova vida de almofadinha. — tocou no peito e no ombro do rapaz, despedindo-se e indo embora.

— Giane! Giane! — chamou Bento. — Oh Giane! Peraí! Giane!

Giane nem deu ouvidos, e saiu batendo a porta. Estava muito na cara que Bento gostava de Amora. Ele estava fazendo de tudo para atingi-la, para chamar a atenção dela. Ele gostava era de Amora e não dela, Giane. Giane estava arrasada por chegar a esta conclusão. 


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