Um amor inesperado escrita por Tianinha


Capítulo 10
Visita à Toca do Saci




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No dia seguinte, Charlene convidou Giane e Bento para irem à Toca do Saci se apresentarem para a criançada. Bento teve uma boa formação musical, desde cedo. Sabia tocar violão muito bem. Ao chegarem à ONG, Bento e Giane encontraram Malu ao lado de uma mesa, onde estavam sentadas várias crianças. Giane e Bento foram logo cumprimentando as crianças:

— E aí, molecada! — disse Bento.

— Tudo bom? — Giane perguntou.

— Eu quero saber quem aqui gosta de música? — perguntou Bento.

— Eu! — disse um garoto, levantando um braço.

— Eu também! — disse Bento, alegre.

— Vai rolar muita música aqui hoje. — disse Charlene.

— Opa! — disse Bento.

Passaram bons momentos com as crianças. Fizeram diversas atividades com elas. Uma hora formaram um círculo e começaram a cantar com elas: "Nós, gatos, já nascemos pobres, porém, já nascemos livres. Senhor, senhora, senhorio, felino, não reconhecerás!". Ao final da cantoria, estavam todos batendo palmas, comemorando. Malu disse:

— Agora chega de farra, vai. Quero todo mundo pra mesa ali que eu quero uma pintura bem legal da casa de vocês, tá?

— Oba! — disse Bento.

— Retratem a família também. Quero ver os irmãos. — disse Malu. — Eu já volto, tá?

Todos ficaram surpresos e espantados ao verem Wilson, que acabara de chegar.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou Malu.

— Calma, gente, só vim conversar. — disse Wilson.

— O quê que você veio fazer aqui? — perguntou Bento, furioso, apontando para Wilson. — Se você fizer mais uma grosseria, eu juro, eu quebro essa tua...

— Calma! Eu já disse que vim em paz. — disse Wilson. Olhou para Malu. — Eu vim aqui te pedir desculpas pelo modo que eu te tratei, naquele dia. E também pra dizer que você pode levar as crianças lá no meu parque, que eu não vou cobrar nada. — olhou para Charlene. — E aproveito também, já que você está aqui pra dizer que eu não sou esse sujeito desalmado que você disse que eu sou. Eu, na verdade...

Giane desconfiou de Wilson. Ele acabara de se desculpar com a Mulher Mangaba diante da imprensa. Ela, Bento, Charlene e Malu haviam assistido à televisão mais cedo. Agora, Wilson certamente queria fazer o bonzinho, ao permitir que as crianças entrassem em seu parque de graça. Puro interesse. O que ele queria era ficar bem na fita, limpar sua imagem.

— Pô, cara, tu é falso, hein? — disse Giane, interrompendo-o. — A gente viu você na tv hoje, pedindo desculpas lá pra Mulher Mangaba. E você só fez isso, sabe por que? Porque estava com medo dos fãs dela aprontarem lá no teu parquinho. Aí agora, resolveu fazer uma média, né, pensou assim: “vou pegar lá as criancinhas da Malu, vou ficar bem com a mídia, né”.

— Não é nada disso! Eu vim de coração aberto! — disse Wilson.

— Você não tem coração! — disse Bento. — Você é um baita de um oportunista! Agora se manda daqui que a Malu não vai deixar você tirar proveito destas crianças!

— Peraí, gente, calma! — disse Malu. — Também não é assim, a gente pode conversar.

— Não, não. Não tem mais clima pra conversar. — disse Wilson.

— Não tem mesmo não. Vaza daqui! — reforçou Giane.

— Olha aqui, a minha proposta continua de pé. — disse Wilson para Malu. — Se você quiser, é só levar as crianças, que não vai ter mídia, não vai ser divulgado nada.

Wilson foi embora. Charlene foi atrás dele. Malu falou:

— Vocês não podiam expulsar o cara desse jeito. Olha aqui, a gente não é como o Wilson e não pode se comportar como ele. Está errado!

Malu foi cuidar de seus afazeres. Giane não entendeu nada.

— A gente defende a patricinha e ela ainda fica brava?

— A Malu não conhece o Wilson, Giane. — defendeu Bento. — Ela é uma pessoa de boa fé.

— Palhaço! — disse Giane, xingando Wilson.

Continuaram cuidando dos afazeres junto às crianças. Giane estava abraçada a uma das crianças, um garotinho. Charlene voltou.

— Gente, eu realmente acho que o Wilson veio de coração aberto oferecer o parque.

Giane grunhiu, descrente. 

— Vocês acreditam, ele estava lá na padaria comprando um lanche para um menino de rua? — disse Charlene.

— É, só pra te mostrar o quanto ele é bonzinho! — disse Bento.

— Ele não me viu! — disse Charlene. — Bento, quem sabe o Wilson não é assim tão ruim?

— Charlene, não se iluda! — disse Bento. — Esse cara nunca teve um gesto de afeto com nenhuma criança. Eu sei muito bem o que estou falando.

— Ô Bento! — disse Malu, levantando-se da mesa. — Eu também acho ruim viver assim, desconfiando dos outros, sabe? Eu acho que a gente podia ter dado um voto de confiança pra ele.

— Concordo! — disse Charlene. — A gente podia ter dado uma chance pra ele.

— E eu quero ver até quando ele vai enganar vocês. — disse Bento.

— Tia, hoje vai ter aula de teatro? — perguntou uma garotinha à Malu.

— Claro que vai, amor! — disse Malu. — Eu já estou indo. Vai lá. — Olhou para Bento. — Bento, você me ajuda?

— Claro! — Bento concordou.

Representaram para a criançada, manipulando bonecos de marionete.

— Quem está se divertindo levanta a mão! — disse Malu.

— Eu! — disse a criançada, em coro, levantando os braços.

— E com vocês, o Pinóquio! — disse Malu, representando Gepeto.

— O Pinóquio, sou eu, sou eu! — disse Bento, representando Pinóquio. — Obrigado, obrigado!

Giane observava-os de cara amarrada. Afastou-se um pouco, porém continuou por perto. Quando acabaram de representar, Bento perguntou à Malu:

— O que você acha de eu dar aula de horticultura para as crianças?

— Boa ideia. — disse Malu. Porém, ela não parecia muito animada.  

— O quê que foi, Malu? Cadê o seu entusiasmo? — perguntou Bento. — Você não ficou assim só porque a gente botou o Wilson pra correr, né?

— Não, Bento. — disse Malu, abanando a cabeça. — Ontem, eu me declarei pro Maurício.

— Você está brincando? — disse Bento. — Quer dizer que finalmente você tomou coragem?!

— Antes eu tivesse ficado quieta! — disse Malu, triste. — Tomei um fora. Ele foi super delicado, mas foi doído, sabe? Ele é muito apaixonado pela Amora.

Bento entendia muito bem como ela se sentia. E Giane sabia muito bem em quem ele estava pensando. Estava pensando em Amora.

— É duro amar sem ser amado, né? — disse Bento. — Eu acho que o pior é a gente não poder transferir esse amor pra outra pessoa. Ele fica aqui dentro, doendo, pesando, envenenando. Sei muito bem como é, Malu.

Giane entendia bem do que ele estava falando. Era o que ela sentia.

— Pior mesmo é ver gente legal, gente do bem desperdiçando o amor que sente, Bento, por pessoas que não valem nada. — disse Malu.

Giane sabia que Malu se referia à Bento e Amora, e estava de acordo.

— Concordo! — disse Bento, entendendo o que Malu quis dizer. — Quem sabe se depois da Toca do Saci, a gente não cria a casa dos corações partidos?

— Estou dentro! — disse Malu. — Um lugar onde os corações partidos, eles encontram outros corações pra poder extravasar, pelo amor de Deus, esse amor sufocado! Vai lotar!

— No fundo é só isso que a gente quer, né, Malu? Amar e ser amado. — disse Bento. — Podia ser tão simples, mas é tão complicado. É uma pena!

— É uma pena mesmo! — murmurou Giane.

Depois da visita à Toca do Saci, Giane e Bento foram ao linhão, cuidar de seus afazeres. 


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