Dekais escrita por Marlon C Souza


Capítulo 2
O amigo do meu amigo é meu inimigo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/811960/chapter/2

Já era de manhã cedo quando o despertador tocou e já não era a primeira vez. Nathan estava atrasado e aquela cena se repetia praticamente todos os dias.

— Droga! — Exclamou enquanto se levantava da cama rapidamente. Seu pai já havia ido para a escola, a primeira aula era sua.

Colocou seu uniforme e correu, pois, o ônibus escolar já havia passado. Exausto pela corrida, chegou no portão e implorou para o porteiro deixa-lo entrar, e sem hesitar muito, o porteiro cedeu sua entrada. Correu para a sala, abriu a porta e todos olharam para ele como se nunca tivesse o visto antes. Franco sorriu — Bom, pelo menos conseguiu chegar — Disse depois que Nathan entrou.

Entrou na sala e percebeu que as meninas que estavam na frente comentavam entre si o motivo na qual ele sendo o filho do professor sempre chegar atrasado daquela forma e talvez alguma coisa sobre o julgamento do dia anterior, só que essa parte ele decidiu ignorar. Caminhou desviando-se de carteira em carteira até chegar a sua, que é do lado de Emily. Era uma menina intrigante, porém, era sociável e totalmente contrária a Nathan. Usava óculos fundo de garrafa e tinha uma inteligência acima do normal. Ela, muitas vezes, foi promovida a melhor aluna de seu estado, porém, ela queria terminar o Ensino Médio como todo aluno normal. Resolveu ignorar muitas oportunidades devido suas amizades na escola de Hayan. Seus cabelos eram cacheados e pretos e seus olhos eram verdes escuros e chamava a atenção de todos com sua coloração exótica.

— Bom dia. Está atrasado como sempre. — Disse a garota.

— Me desculpe, o despertador tocou atrasado.

— Escovou os dentes? — Perguntou a garota fazendo careta.

Nathan não respondeu. Envergonhado, apenas virou-se para seu pai e perguntou: — Do que ele está falando?

Cristofer, um problemático da escola e da cidade, que muitas vezes respondia Nathan de má fé, respondeu à pergunta dele, mas novamente com ironia: — Se nem mesmo você que é filho dele sabe, por que deveríamos nos importar?

Todos da sala riram, exceto Emily e Nathan que permaneceram calados. Franco continuou sua aula sem nada dizer.

As aulas foram se passando até que a hora do recreio chegou. Daniel o acompanhou na saída junto com Emily. Antes, Daniel não tinha vínculo algum com Nathan. De forma estranha virou um grande amigo, porém, o garoto não se importou muito com isso, afinal, Daniel tinha uma personalidade incrível. Era notável assim como seu pai, Daniel tinha olhos claros, porém verdes, assim como os de Emily. Era branco, quase a mesma altura que Nathan, porém, mais robusto. Seus cabelos eram pretos com cortes muito comum na época. Sempre preocupado com sua saúde e vivia na academia. Falava tanto sobre isso que as vezes era insuportável. Os três comentavam:

— Quer dizer que semana que vem tem teste da professora Ellisabeth? Eu nem entendo a aula dela. — Disse Daniel.

— E tem alguma aula que você entende, Daniel? Só sabe falar de academia. — Comentou Emily, rindo.

— Não precisa falar. Ninguém precisa saber. — Disse Daniel.

Emily virou-se para Nathan, que nada dizia. Preocupada, perguntou:

— Nathan, está calado. Algo aconteceu? Tem algo a ver com a sessão de ontem?

— Não. Eu só não quero falar sobre isso. — Respondeu o garoto, meio desanimado. Aquilo de fato o afetava, mas ele tentava parecer que estava tudo bem, mas o peso de sua consciência era mais forte.

— Nathan, eles não conseguirão provar nada. Seu pai é inocente. — Disse Emily, tentando acalmá-lo. Foi quando Marcos, amigo de Cristofer e Daniel chegou e se encostou na pilastra próximo a eles. Marcos era de poucas palavras e junto com Cristofer, causava muito caos na cidade. Era moreno escuro, de boa aparência, olhos castanhos e possuía uma águia tatuada no braço direito. Seu cabelo seguia quase o mesmo corte que de Daniel, era um marco para eles. Ele era tão robusto quanto ele. Usava sempre luvas de motoqueiro, além de um brinco na orelha esquerda e jaquetas pretas pesadas, o que de certa forma fugia os padrões dos alunos daquela escola. Fazia academia juntamente com Daniel, logo notava-se que ambos eram amigos, porém se vestia como motoqueiro mesmo em período de aula, afinal, ele era um. Adorava provocar a Nathan. Sempre chegava de forma mais inconveniente para atrapalha-lo.

— Eu não teria tanta certeza, Emily. — Disse Marcos com as mãos no bolso, de forma totalmente despreocupada. Em sua mão, um cigarro.

— Quem pediu sua opinião? — Perguntou a garota, irritada.

— Ora. Vejam só. A “menininha nerd” resolveu tomar uma atitude para proteger seu grupinho? — Disse ele, ironizando a garota e o rapaz.

— Marcos, por favor, agora não. — Disse Daniel, tentando evitar problemas.

— Realmente o mundo dá voltas. Antes você andava com a gente, agora está andando com essa turma de lezados. — Disse Marcos.

Daniel abaixou sua cabeça, envergonhado. Nathan olhou para ele, fechou sua mão e gritou com tom de desafio para Marcos, que aparentemente era seu maior rival naquela escola:

— Qual é a sua hein? Vamos resolver isso agora!

— Como se você fosse capaz — Marcos o ironizou, rindo.

— Está com medo? — Indagou Nathan, sorrindo.

Marcos, percebendo que Nathan não parecia estar brincando e que todos que ali estavam, exceto Emily e Daniel, agitando a briga, parou de rir. — Está certo, vamos resolver isso. — Desta vez, falou mais sério. Jogou o cigarro no chão e pisou. Desencostou-se da pilastra e foi estalando os dedos, e então retirou suas luvas.

Emily percebendo a situação tentou amenizar.

— Meninos, parem com isso, por favor.

Daniel segurou Marcos. — Não Marcos, por favor, aqui não.

— Me solte. — Disse ele. Com um golpe certeiro derrubou Daniel. Nathan correu, fechou sua mão e acertou o rosto de seu rival em cheio, aproveitando que Marcos ainda estava evitando que Daniel se levantasse.

— Não bata nele, Marcos. — Gritava Emily em desespero, percebendo que o caso se tornava mais grave, foi quando, Johnny, o “monitor-advogado” chegou.

— O que vocês estão fazendo? — Perguntou Johnny diretamente à Nathan e Marcos. Sua função naquela escola era óbvia: manter a ordem.

Nathan limitou-se a pegar sua mochila e sair sem nada dizer. Johnny sacou um pequeno papelzinho do bolso e anotou o nome deles. Uma anotação daquele tipo poderia gerar punição de dias, tanto para Nathan, quanto para Marcos.

— Marcos e Nathan como sempre. — Disse o monitor.

— Oh dos ‘olhos azuis’ — Ironizou Marcos. Johnny tinha olhos azuis devido sua descendência alemã. Era loiro e seus cabelos bagunçados formavam seu estilo. Era observador e adorava ironizar tudo. Usava sempre trajes dignos de festas formais e andava sempre com um papelzinho em mãos. Era bastante misterioso, mais que Denovian. Marcos continuou: — Tente não se meter mais no que eu faço. Você não é meu pai, e mesmo que fosse — pegou sua mochila e saiu. Emily continuou olhando espantada. Johnny colocou a caneta no bolso juntamente com o papel.

— Humph! — Suspirou — Eu realmente não me importo com a briga destes dois. — Disse ele, enquanto se virava para sair. A rodinha que tinha se formado de curiosos começou a se dispersar. Emily, pelo contrário, ficou parada pensando na fala de Johnny, enquanto Daniel, estava cabisbaixo, ainda no chão, parecia realmente arrependido de algo que fez.

Franco observava tudo pela janela. Seus pensamentos se mantinham em silêncio, quando, bateram na porta da sala na qual ele se encontrava.

— Posso entrar? — Perguntou William, o advogado de Franco.

— O que faz aqui? — Indagou Franco.

— Vim te perguntar algo... Sobre seu filho. — Disse William com sua prancheta em mãos. Apenas olhava seriamente para Franco, que, não entendia o motivo pelo qual William gostaria de perguntar algo sobre Nathan.

— O que deseja saber? — Perguntou Franco.

— O seu filho é feliz?

— Mas que pergunta é essa?

— Seu filho não é feliz, Franco. Ele tem poucos amigos e mal consegue chegar na sala de aula sem alguém comentar algo. Franco, eu não sou a melhor pessoa para dar uma opinião sobre isso, afinal, sou apenas um advogado, porém, saia mais com seu filho. Você precisa ser mais presente na vida de seu filho.

— Eu te pago para me defender nos tribunais, não para me dar conselhos de como agir com meu filho. — Disse Franco, dando uma pequena pausa. William bufou. Franco continuou: —Você só veio aqui falar isto? Agora o senhor pode se retirar.

— Eu vou sim, senhor Franco. Mas não se esqueça de que em breve eu não poderei mais segurar essa causa pelo senhor. Minha reserva de desculpas “esfarrapadas” está acabando, e se em um futuro próximo Nathan se revoltar contra você, quem irá defendê-lo? — Questionou William, retirando-se.

Franco virou-se para a janela novamente e viu Nathan sentado no jardim, sozinho, aparentemente triste.

— Então, preciso me aproximar mais de Nathan. — Comentou, respirando fundo, voltando a olhar seu filho pela janela.

Nathan estava perdido em seus pensamentos segurando alguns livros em seu colo, quando, Marcos chegou e os derrubou.

— Você tem sorte que sou paciente, lerdão. Na hora da saída vamos nos encontrar lá fora. Espere por mim se você tiver coragem. — Disse Marcos com sua mania de chamar Nathan de “lerdão”. Era rotina todo dia eles arrumarem briga.

— Eu não tenho medo de você. — Disse Nathan, demostrando coragem. Marcos fechou sua mão com raiva, ameaçou dar-lhe um soco, porém, hesitou e disse: — Lá fora a gente se acerta.

— Eu já disse que não tenho medo de você. — Disse Nathan novamente, olhando fixamente para Marcos. Apesar de sofrer bullying, Nathan não abaixava sua cabeça para seu rival. Marcos virou-se e saiu.

Chegou a hora de subir. Todos subiam desaminados para a sala novamente. Emily aproximou-se de Nathan e perguntou: — Está tudo bem?

— Sim. Eu não tenho motivos para estar mal. — Respondeu Nathan. Porém, a garota permanecia preocupada, visto que seu amigo parecia impaciente.

— Não faça nenhuma besteira, Nathan. — Disse a garota, o rapaz sorriu.

— Não tenho medo de repetente de 20 anos. — Disse Nathan, referindo-se a Marcos, apertando seus passos e saindo de perto de Emily, caminhando em direção a sala.

As aulas iam se passando e finalmente chegou a hora que todos mais esperavam: a hora da saída. O portão da escola estava amontoado de alunos, que se apressavam para irem embora, porém, Nathan, Emily e Daniel permaneciam esperando, até que finalmente eles pudessem passar sem serem empurrados por alguém. Quando essa hora chegou, eles foram. Marcos passou rapidamente com sua moto ao lado de Nathan, derrubando-o.

— O que é isso? — Perguntou Emily, assustada, pois a moto quase a derrubou também.

— Desgraçado! — Disse Nathan. — Desça dessa moto e venha aqui se você for homem realmente. — Completou Nathan, levantando-se. Apesar de enfrentar a Marcos, no fundo, Nathan o temia, e isto estava explícito em seu olhar.

— Nathan, pare! — Gritou Emily.

Marcos correu em direção a Nathan, que de certa forma, tentou correr, porém com socos e pontapés, Marcos o machucava. O rapaz não conseguia se defender e Daniel se quer tentou separar a briga dos dois. Emily, por outro lado, gritava desesperadamente por socorro. Os alunos que saíam logo se amontoavam novamente em volta dos dois. O porteiro apareceu para separar a briga deles, mas já era um pouco tarde. Nathan se encontrava muito machucado.

— Isso é por ter me dado um soco. — Disse Marcos voltando para sua moto. Rapidamente partiu. Nathan se levantou já com um pouco de dificuldade, por isso, contou com a ajuda de Samuel, o porteiro. Samuel era parrudo, barbudo e possuía olhos negros escuros. Não importava onde ele estivesse sempre usava boné, talvez para esconder a ausência de cabelo. Possuía aparência de um adulto bem vivido. Ele era sempre prestativo. Usando seus óculos observava tudo que acontecia naquela escola. Daniel, pelo contrário, permaneceu imóvel.

— Por que você não fez nada? — Perguntou Emily.

— Ele fez o certo. A briga não era dele. — Disse Nathan, logo após cuspir sangue. Seu rosto estava completamente inchado. Seu nariz estava escorrendo sangue. Estava irritado. Emily exclamou: — Seu estúpido!

— Emily, pare de se meter em minhas brigas, da próxima vez, você vai se machucar. — Disse Nathan.

Daniel abaixou sua cabeça de novo. — Ele está certo Emily, não devemos nos meter nas brigas deles.— Disse Daniel. O rapaz parecia muito literal no que dizia, o que fazia Samuel o olhar, estranhando-o. Apenas balançou a cabeça enquanto Emily estava intrigada com a fala de Daniel.

— O que? — Indagou Emily, não entendendo a atitude do amigo. Os curiosos permaneciam lá. Alguns riam e outros apenas observavam. Aquilo era uma atração para eles. A escola de Hayan adorava ver Nathan, o filho do professor, na pior. E aquilo era quase como rotina.

Enquanto isso, Marcos em alta velocidade ia em direção à floresta que rodeava a cidade onde eles moravam. Sua moto, em alta velocidade fazia muito barulho. Marcos sorria com satisfação.

—Não posso me render a isso agora. — Disse Marcos, sorrindo, mas para ninguém em especial.

Após rejeitar a ajuda de Samuel, Nathan caminhava em direção a sua casa com dificuldade. Emily e Daniel o acompanhavam logo atrás, sem dirigirem uma única palavra um para o outro. Emily estava irritada com os dois, com Nathan por sempre se meter em encrenca com Marcos e com Daniel por não fazer nada para impedir que Nathan ficasse naquele estado. Mas sabia que seu amigo era muito orgulhoso para aceitar qualquer tipo de ajuda vinda de Daniel, só que aquilo não mudava o fato dela ficar com o coração apertado por vê-lo naquele estado.

— Nathan, por que você não nos deixa ajudá-lo? — Perguntou a garota, triste com a persistência e prepotência de Nathan.

— Eu cresci sozinho para ter minha independência. Não preciso de ninguém. — Respondeu Nathan.

Estava parando a cada instante, seus ferimentos doíam. Todos que passavam por ali o olhavam, pois percebiam que ele estava sujo e muito machucado. Nathan finalmente chegou a sua casa. Daniel despediu-se e partiu, porém, Emily ficou para ajudar a cuidar dos ferimentos do rapaz.

— Emily, eu já disse que não preciso de ajuda. — Disse Nathan, enquanto a garota tratava de suas feridas usando um kit de primeiros socorros, que encontrara na pia do banheiro.

— Dá para você ficar quieto Nathan?! — Indagou, em meio às mexidas inquietas e os gemidos que o garoto dava. Ele a observou, confuso por alguns instantes e disse: — Emily por que se importa tanto comigo? Já disse que não preciso de sua ajuda. Está perdendo seu tempo. Vá para casa. — Disse Nathan, fazendo Emily parar de ajudá-lo.

— Você é um grosso estúpido e orgulhoso. Que morra então — Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, a garota havia jogado de lado com raiva o algodão que segurava e já estava dando as costas para ele...

— Emily espere! Eu não quis te ofender... — Comentava o rapaz em meio as dores. — Emily volte aqui! — Disse tentando acompanhá-la, porém, com muita dificuldade, sentou-se novamente olhando para aquele kit de primeiros socorros em cima da mesa sem ao menos saber o que fazer com tudo aquilo.

Em um lugar não muito longe dali, em meio a uma densa floresta, Marcos caminhava por entre as frondosas árvores. “É sempre bom vir aqui para amenizar minha raiva” pensou consigo mesmo. Fechou seus olhos e lembrou-se de alguns fatos de sua infância. Seus pais deixando-o em um orfanato e ele gritando desesperado: “Pai, mãe, não me deixem”. Rapidamente aqueles pensamentos se dissiparam. Marcos ficou irritado e deu um soco em uma árvore que encontrava logo à sua frente, tão forte, que a partiu ao meio, o que demostrava uma força sobrenatural no rapaz. Estranhamente seus olhos, naquela altura encontravam-se negros e suas pupilas dilataram-se e tornaram-se vermelhas como sangue. Aquilo era perturbador para qualquer pessoa comum e foi desencadeado com aquelas lembranças que ele tanto queria esquecer que sempre voltavam para assombrá-lo quando se metia em brigas com Nathan, e provavelmente seria assim sua vida toda.

— Droga! Eu odeio tudo isso. — Comentou Marcos, aparentemente falando de seu passado. — Por que teve que ser desse jeito? — Indagou.

Estranhamente, de cima de uma árvore, Johnny, o monitor da escola, o observava discretamente com olhos e ouvidos atentos. Observando e anotando mentalmente cada passo dado por Marcos.

— Esse rapaz sempre me intriga. — Disse, e seus olhos tornaram-se da mesma cor dos olhos de Marcos, o que de certa forma trazia incertezas de quem eles eram. Como num piscar de olhos, Johnny desapareceu.

Enquanto isso, Emily chorava solitária em um canto de seu quarto quando sua mãe a chamou.

— Filha, saia desse quarto. Já está aí há muito tempo. O que houve? — Perguntou Ellie, mãe de Emily, demonstrando preocupação com sua filha que chegara totalmente transtornada e correu para o quarto sem nada dizer. Ellie era uma mãe coruja e parecia muito com sua filha. Seu rosto era revestido por uma camada fina de sardas, o que demostrava sua descendência ruiva. Mulher baixa, de cabelos castanhos e olhos verdes.

— Mãe, já disse para me deixar em paz.

— Filha, o almoço já está pronto, só falta você na mesa.

— Não quero comer. Já disse para me deixar em paz, não disse? Então faça isso.

— Não seja rude, filha. Eu quero seu bem.

Emily se calou, sua mãe tentando não piorar as coisas achou melhor dar um pouco de privacidade a ela, mais tarde ela viria tentar um diálogo mais adequado. Ellie virou-se e saiu. Emily levantou-se ao ver seu celular tocando. Era Nathan, imediatamente jogou o aparelho de lado com raiva e exclamou:

— Eu não vou atender. — Logo após voltou a se sentar no chão com mais lágrimas nos olhos, e ficou ali por um bom tempo. Ela chorava por seu amigo que parecia não se importar com o que ela fazia por ele. Não demostrava, mas a garota gostava do rapaz. Não sabia qual era o real sentimento que minava dentro dela.

Nathan cansou de insistir e desligou o telefone — Droga! O que eu faço? — Perguntava o rapaz, repassando a conversa que tivera com ela mentalmente repetidas vezes antes de ter dito algo que a magoara, ao perceber que ela não o atendia.

O dia estava rapidamente chegando ao fim enquanto Denovian conversava com Franco em uma sala fechada para não levantar suspeitas.

— E novamente estamos aqui. Graças a essa ação judicial eu sou obrigado a tê-lo em minha escola. — Disse Denovian sem se quer olhar para Franco. Estava sentado em sua cadeira com as mãos entrelaçadas sobre seu colo.

— Essa perseguição sua é no mínimo suspeita. Eu não cometi nenhum daqueles crimes, Denovian. Você não tem provas de que eu sou o culpado.

— Sabe que eu não preciso de provas. Você sabe tudo sobre mim, não sabe?

— Você fala sobre a Havin? Eu também não sou tão estúpido assim. De todos os professores desta escola, acredito que eu seja o único que saiba.

— Do que você está falando? — Perguntou Denovian, levantando-se e olhando para Franco com olhares acusadores.

— Eu talvez seja um dos poucos humanos que sabem da existência de vocês. O único motivo para eu não revelar ao mundo é que não tenho como provar.

— Está enlouquecendo, Franco? Sou humano, assim como você.

— Você não me engana, Denovian. Se é que este é teu nome mesmo. Esse disfarce logo irá cair, assim como esse teatro. Você acha que não sei qual o real motivo de me querer preso?

Denovian riu. — Desculpe, não sei do que você está falando. Mas saiba, que em breve, iremos arrumar um jeito de te colocar atrás das grades, não simplesmente porque queremos, mas porque lugar de assassino é lá.

— Seria estupidez achar que nós humanos somos tão burros. — Comentou Franco, deixando uma incógnita na mente de Denovian. — A propósito, se for colocar na balança nossos crimes, seu destino seria cadeira elétrica.

Denovian sorriu e finalmente virou-se para Franco. — Pelo que vejo seu destino não é uma cadeia e sim um manicômio. A propósito, você já deveria estar em casa, Nathan entrou em uma briga hoje e se machucou feio. Não se preocupa com seu filho?

— Claro que me preocupo. Mas o que houve?

— Serio que está me perguntando isso? Você não se preocupa. Você está fingindo se preocupar para a sociedade continuar o rotulando como uma “boa pessoa”. E quer passar essa impressão também para Nathan. Que coisa errada, forçar seu filho a acreditar em algo que não passa de um mísero teatro.

— Engraçado você falar de teatro, Denovian. Eu não sei o que busca de mim, mas a Havin existe. Não me importa que você esteja negando agora ou não, afinal, eu não acredito em você.

Denovian sorriu. Franco continuou. — Eu tenho que ir. A propósito, seu filho Daniel. Você se preocupa com ele?

— Isso não vem ao caso.

— Mas vem sim. Você não pode me dar conselhos sobre como agir com meu filho se você se quer é um pai exemplar.

— Nossa conversa termina aqui. — Disse Denovian, olhando para Franco.

— Estou saindo Denovian, mas antes de qualquer coisa não me venha falar sobre algo que você não faz. — Disse Franco saindo. Fechando a porta fortemente. Denovian jogou-se em sua cadeira, colocou a mão na cabeça e ficou ali pensativo por algum tempo.

— Droga! — Exclamou Denovian. — Espero estar certo sobre quem ele é, porque se eu estiver errado, temos um humano que sabe demais.

Enquanto isso, Marcos caminhava rapidamente floresta adentro. Johnny o acompanhava mantendo certa distância, mas acabou o perdendo de vista.

— Droga! Onde será que ele foi? — Perguntou Johnny, piscou seus olhos e eles estavam como os de Marcos novamente. Logo em seguida, desapareceu em milésimos de segundos. Depois de algum tempo encontrou Marcos, desta vez, ele estava em frente a um lago que refletia a luz da lua. Johnny escondido entre alguns arbustos observava o rapaz de costas quando, de repente, ele começou a gritar com as mãos em seu rosto, Johnny não conseguia ver nada do que estava acontecendo. Depois de alguns segundos um vulto quase imperceptível subiu aos céus deixando algumas penas negras caírem suavemente no vento.

— Interessante... — Comentou Johnny, sorrindo.

Paralelamente a isto, Nathan estava realmente preocupado quando chegou na casa de Emily e foi atendido pela mãe da garota.

— Olá dona Ellie. Boa noite. — Disse Nathan.

— Boa noite Nathan, tudo bem com você? E Franco como está? — Questionou Ellie.

— Estamos bem, obrigado por perguntar. Emily está?

— Está trancada no quarto. Não quer descer para nada, nem mesmo para o jantar.

— Eu posso subir lá?

— Sim, é claro. Fique à vontade. O que houve contigo? Está machucado!

— Prefiro não falar sobre isso, senhora Ellie.

— Tudo bem. Eu respeito, de qualquer forma não é assunto meu.

Nathan adentrou a casa de sua amiga e deu de cara com Dean, o pai de Emily. O homem a sua frente o encarou com um tom intimidador. Não importava o que o rapaz fazia, Dean não gostava muito de sua presença ali. O pai da garota era alto, de poucas palavras e um ex-militar que se aposentou após uma missão terrível que levou a amputação de sua perna esquerda, que foi substituída por uma prótese. Sua pele era mais escura que de Ellie e era robusto, o que poderia ser pavoroso para o rapaz, que enfrentava Marcos, mas a Dean, o rapaz preferia não se pronunciar. Subiu às escadas que davam acesso ao quarto da garota, enquanto Dean o olhava sem nada comentar com seus braços cruzados. Chegou à porta, bateu e como não obteve resposta tentou abri-la, mas estava trancada por dentro.

— Emily, sou eu Nathan. Por favor, abre essa porta. Precisamos conversar.

— Eu não vou abrir, Nathan. Eu não tenho o que conversar com você.

— Emily, por favor, me perdoe...

— Vá embora, Nathan.

Depois de muito insistir Nathan sentou-se do lado de fora da porta encostando suas costas a parede.

— Olha, Emily. Se isto tem a ver com o que eu disse. Sobre você não se meter mais nas minhas brigas. Me perdoe. Eu só... Eu só quero ser capaz de resolver meus próprios problemas e não que se machuque por causa de mim.

— Nathan, eu...

— Você o quê?

Emily finalmente abriu a porta. Nathan olhou para cima e ficou encarando aqueles olhos verdes em pé e depois se levantou.

— Eu me preocupo com você. Pare de arrumar briga com Marcos. Você me promete?

— Tá bom. Eu te prometo. Mas não vai ser fácil.

Ellie olhava do lado de baixo da escada, com seus braços cruzados, balançava a cabeça de um lado para o outro. Dean suspirou e resolveu os deixar em paz. Ellie por outro lado, deu um sorriso e já sabia o que havia causado tanto sofrimento para sua filha, então lembrou-se de Dean nos tempos de quartel. Suspirou e deixou os dois a sós.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dekais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.