O Rei Negro escrita por Oráculo Contador de Histórias


Capítulo 17
A pedra amarela




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Quando o sol raiou e invadiu pela janela, Gabriel acordou e não demorou a se lembrar que esquecera de fechar as cortinas. Entretanto, foi muito fácil entender o porquê disso, bastava olhar para o lado e ver o rosto adormecido de Leeta. Era a primeira vez que a via assim, logo ficou bem quieto, contemplando aquilo com um sorriso estampado.

—Humm... – ela logo começou a se mexer, toda manhosa, até finalmente abrir os olhos e se deparar com os verdes a observando – Para... Estou horrível...

—Bom dia pra você também, mentirosa. – respondeu sorrindo.

—Não é mentira... Eu deveria ter acordado antes pra me arrumar.

—Por que? Se eu acabaria te deixando assim de novo... – afirmou ele, trazendo-a para si e a beijando.

Toc toc.

—Tsc. Isso é tão clichê... Espere aí, Leeta, melhor eu atender. – sussurrou e ela começou a rir, o obrigando a tapar sua boca com a mão – Shhh... Calma! – e riu baixinho também.

Completamente despido, o rapaz caminhou até a porta, abriu e colocou apenas o rosto no vão. Ali estavam Sylie e Aelin, uma mais apreensiva do que a outra.

—Bom dia, querido. Desculpe acordá-lo, mas é que não encontramos Leeta em lugar nenhum.

—Bom dia! Já procuraram no lago? Soube que às vezes ela escapava e ia pra lá, foi assim que nos conhecemos. – disfarçou o rapaz.

—Eu disse, Sylie. Mande um dos guardas procurar no lago, por favor.

—Sim, menina Aelin. Agora mesmo. – e se afastou apressada ao passo em que também resmungava – Eu já disse várias vezes pra ela não se arriscar assim, mas é tão teimosa! Vou puxar suas orelhas assim que a encontrar!

Ele riu da cena, porém quando tornou a olhar para Aelin, sentiu uma fisgada incômoda na barriga. Ela já o encarava com um ar de seriedade.

—Espero que saibam o que estão fazendo. – advertiu.

—D-do que está falando?

—Não insulte minha inteligência, Gabriel. – replicou com rigidez – O perfume dela é único e, por acaso, seu pescoço está marcado.

Instintivamente, ele começou a esfregar o pescoço com urgência, até se dar conta do sorriso triunfante nos lábios da princesa elfa primogênita. Indignado consigo mesmo, suspirou.

—Não tem marca, né?

—Não até onde consigo ver. – confirmou, olhando em ambos os lados do corredor e se aproximando para falar mais baixo – Só não a faça sofrer.

Nesse momento, toda a insegurança desapareceu do rosto dele. Sem pestanejar, declarou:

—Eu a protegerei com a minha vida, senhorita Aelin.

—Assim espero. Agora tomem jeito e se aprontem para o café da manhã. Ah... E cuidado... Essa não seria a melhor maneira dos meus pais descobrirem sobre vocês. – alertou estreitando os olhos e se retirando.

Assim que fechou a porta, ele viu que Leeta estava logo atrás e tinha consigo uma expressão ligeiramente preocupada.

—Não quero te causar mais problemas do que já tem. Se você não quiser, eu vou enten-

Foi silenciada pelos lábios dele, que a puxou para si com tanta vontade que a fez ficar na ponta dos pés.

—Eu te amo além dos mundos. E a distância entre eles talvez não seja suficiente para expressar isso.

Ela jogou os braços ao redor do pescoço dele, ainda nas pontas dos pés e sorriu de maneira tão linda, tão meia que quase o desmontou.

—Eu te amo além dos mundos. E nenhuma escuridão jamais irá encobrir isso. Sei que a estrada será longa e muito perigosa, mas nós vamos passar por isso, porque você veio de tão longe só para ser meu, assim como tenho esperado todo esse tempo só para ser sua. – e o abraçou.

Durante o café da manhã, Yliel e Erilla conversavam baixinho, enquanto os demais comiam e interagiam, alguns de maneira não tão amigável. Heler e Sael estava discutindo, frente a frente na mesa, enquanto Nicolas bebia e engasgava.

—Eu não vou me desculpar. Já disse que errei, é o suficiente!

—De onde eu venho, admitir que errou vem acompanhado de um pedido de desculpa! – protestou Heler, batendo com o garfo e a faca na mesa.

—Está louca se pensa que vai conseguir isso de mim! – replicou Sael – Só o fato de eu não ter te matado já deveria bastar.

—Só não me matou porque sua mãe me salvou! É muito descaramento, cria vergonha!

—Quanta insolência! Duvido repetir isso, humana!

—C-r-i-a v-e-r-g-o-n-h-a!

Ele rosnou, ameaçando levantar e, concomitantemente, ela já ia fazendo o mesmo, quando se ouviu tinidos vindos da primeira cadeira. O rei batia gentilmente com a colher em uma taça, trazendo para si a atenção de todos.

—Vocês dois, não se esqueçam de que estamos tomando café. Resolvam suas diferenças depois e façam isso de maneira prudente ou mandarei trancar ambos até que consigam conviver em paz.

—Desculpe, majestade. – disse a garota a contragosto.

—Desculpe, papai.

—Ótimo. Agora trataremos de um assunto mais leve e adequado ao momento. Nos próximos dias, celebraremos o Grande Dia de Nymira. Para os que não sabem, se trata de uma data sagrada aos elfos, onde festejamos e nos alegramos em toda Aurora. Nesse dia, há mil anos, a Grande Árvore Nymira nos presenteou com a Floresta Lazúli assim que os primeiros elfos chegaram a Eastgreen. – explicou Yliel com eficiência – Nesse ano, essa data se torna ainda mais especial, pois o Vigia de Emberlyn finalmente está entre nós.

Gabriel sentiu um desconforto ao ter para si todas as atenções e Leeta segurou sua mão por baixo da mesa, o confortando.

—Não tenho como agradecer tudo o que fizeram por mim nesses últimos dias. – disse o rapaz olhando para cada um que estava ali – Vocês me acolheram e se arriscaram. Foram pacientes e fraternos. Minha gratidão por Aurora jamais cessará.

—Quando Aurora precisou, Emberlyn estava lá para lutar ao seu lado. E embora falar do Rei Negro seja um tabu, de uma coisa eu sei. Enquanto esteve conosco, na companhia do meu pai, o rei antes de mim, Hectaliel Luyah, Gabriel Eichen sempre prezou ao máximo pela nossa amizade e nunca virou as costas para os elfos quando estes precisaram.

Nicolas engoliu em seco. Para ele, era difícil associar o Rei Negro a algo bom, mesmo que ali pertinho estivesse – e já acreditava nisso – a reencarnação dele. Este, por sua vez, também tinha a mesma dificuldade, afinal sempre que via seu outro eu, era terrível.

Mais tarde, quando todos terminaram de tomar café e já estavam para se levantar, o rei pediu gentilmente, com um aceno de mão, para que esperassem um pouco mais. Dessa vez, estava sério e claramente queria tratar de algo importante.

—Antes dos festejos, está previsto a chegada de alguém em nosso reino. – respirou fundo, sentindo a mão da rainha segurar a sua por baixo da mesa – O regente de Calendria, Merlin, virá pessoalmente tratar comigo a respeito do recente incidente envolvendo a Escuridão do Sul e o pilar Leste do Escudo do Mundo.

Exceto por Erilla e Sael, todos à mesa ficaram surpresos. Nicolas e Heler se entreolharam sem realmente entender o porquê daquilo. Leeta e Aelin não paravam de fitar o pai, como se esperassem urgentemente por respostas. Já Gabriel parecia ter parado no tempo, com o olhar perdido na mesa, sentindo como se tivesse perdido o chão.

—A ideia desse encontro partiu dele. – continuou o rei – Obviamente, achamos que Merlin sabe sobre Gabriel e existe a suspeita de que esteja por trás do sequestro envolvendo Walther Di Blanco e seus militares. Seja como for, não podemos deixar que ele te encontre, amigo. – dirigiu-se diretamente ao rapaz, que com dificuldade despertou de seus pensamentos e o fitou de volta – Nenhum lugar em Aurora é seguro o bastante para escondê-lo por causa da instabilidade de sua aura e alma. Merlin é um homem extremamente poderoso e muito sagaz, ele te encontraria facilmente ao menor deslize. Por isso, decidi que durante esse encontro, você estará inconsciente.

Outra vez a estranheza de todos, exceto pela rainha Erilla.

—Enquanto Merlin estiver em nosso reino, você será mantido em nossas masmorras e ficará adormecido através do Elixir da Lua, uma substância capaz de levar o indivíduo a um estado de sono profundo. Dessa forma, garantiremos que ele não perceba sua presença e mesmo se souber que pisou em Aurora, não terá nada para comprovar que ainda esteja aqui. Alguma dúvida?

—Tenho uma. – disse forçando uma calma que não lhe pertencia, pois estava realmente muito preocupado – Esse elixir vai garantir que eu não tenha sonhos ou pesadelos?

—Sim. – confirmou o rei – Você não verá, nem sentirá nada. Para alguns alquimistas, trata-se de uma experiência de quase morte. Entretanto, é perfeitamente seguro e assim que o efeito cessar, você acordará sem nenhuma sequela.

O garoto assentiu com a cabeça e não disse mais nada.

Durante a tarde, Gabriel e Heler conversavam sentados sobre a grama, no mesmo local onde ele outrora tinha começado a treinar com Aelin. Ambos contaram o que tinha acontecido desde a última vez que se viram na Vila dos Farrapos. Bom, quase tudo, afinal ele omitiu sobre o estranho contato com o Rei Negro e aquilo que veio depois, todavia não escondeu seu relacionamento com a princesa Leeta.

—Cara...

—Tudo isso é loucura! É, eu sei. – completou ele com a canhota na cabeça – Mal tive tempo de parar pra pensar, Heler. Tudo está acontecendo muito rápido e eu sinto que não estou pronto, é frustrante!

—Relaxa! – e deu um tapa no ombro dele que quase o fez tombar – Você não está sozinho e além do mais, já conseguiu fazer um baita progresso. Isso de poder enxergar a aura dos outros é incrível, sem falar que pode ter mais alguma coisa pra descobrir. Só está começando, Gabriel, para de se cobrar tanto.

—Estou com saudade de ser o Tral. – disse em tom descontraído.

—E usar aquele cabelo ridículo? Como disse que se chamava mesmo?

—Moicano.

—Deve ser legal no seu mundo. – ela se inclinou pra trás a medida em que apoiava as mãos na grama – O que pensa em fazer sobre a princesa? Vai falar com os pais dela?

—É o que eu queria. Se pudesse, faria hoje mesmo, mas agora tem isso do Merlin, eles devem estar com a cabeça cheia, não é o momento.

—Foi legal a Aelin ter ficado na dela e deixado vocês resolverem sozinhos. Mas se aquele idiota do Sael descobrir, já era.

—Confesso que me irritei quando você contou o que tinha acontecido na floresta, sobre ele quase ter te matado. Só que ao mesmo tempo eu entendo as razões dele e... Bom, ainda bem que nada de ruim aconteceu.

—Ele só é valente com os arqueiros por perto. – resmungou a garota – Tô louca pra enfiar a porrada naquela carinha doce de príncipe.

Andando normalmente e sem as faixas nas pernas parcialmente reveladas pelo vestido verde, Ada se aproximou e meio apreensiva, perguntou:

—Tudo bem se eu me juntar a vocês? Sylie finalmente se distraiu com as orelhas da princesa Leeta e pude escapar.

—Claro, senta aí! – respondeu Heler espontaneamente.

—Conta pra gente, por que fugiu da Sylie? – perguntou Gabriel interessado.

—Ela está me ensinando técnicas de curandeirismo e é uma excelente mestra, mas também é exigente. Tive que refazer a mistura de ervas nove vezes.

—Ah, não é tão ruim... – comentou o rapaz na tentativa de consolar.

—Cada uma das nove vezes levou uma hora e cinquenta batidas no pilão.

—Tá legal, é bem ruim... – admitiu ele.

Heler riu e prendeu seus longos cabelos num coque, então disse:

—Tenho certeza de que você vai conseguir, Ada.

—Assim espero.

—Olha, Heler... – começou Gabriel – Qual é mesmo o nome da mulher que salvou vocês em Calendria?

—Lady Hina Yeshi, se não me engano. Ela é uma nobre, alguém bem importante pelo que disse o senhor Nicolas e, bom, não duvido. Se visse a forma como os guardas a trataram...

—Por que alguém como ela ajudaria...? Walther quase me matou, mas essa tal lady Yeshi ajudou vocês. Disse que ela sabia sobre mim, né?

—Uhum. Ela te mandou “lembranças” e também sabia sobre o meu pai. É estranho dizer isso, mas até que gostei dela.

—Dizem que os escravos da casa Yeshi são diferentes. – revelou Ada – Por algum motivo, nenhum deles jamais tentou fugir.

Aquela história estava ficando realmente complicada de entender, mas Gabriel sabia que cedo ou tarde deveria investigar a fundo para entender os mistérios que sondavam lady Yeshi e sua casa, até porque a nobre claramente quis chamar sua atenção. “Tá na cara que ela conheceu meu outro eu. Tudo o que sei dele são fragmentos, então é difícil diferenciar os amigos dos inimigos. De qualquer forma, estou devendo a ela por ter salvo Heler, Ada e o senhor Nicolas”.

—Escuta, pentelha... – graças a isso, recebeu um tapa seco nas costas que o fez tossir – Argh... Droga!

—Fala logo.

—Só ia perguntar se você alguma vez viu o Merlin pessoalmente. Lembro que me disse sobre ele ter ajudado a vila.

—Verdade, ele ajudou bastante todos nós. Mas nunca o vi pessoalmente, só sei como é seu rosto por causa dos desenhos nos jornais. – revelou dando de ombros.

Não muito tempo depois, mais alguém estava se juntando ao grupo nos jardins. A princesa Leeta, que massageava ambas as orelhas, parecia emburrada com alguma coisa.

—Oi. – disse seca.

—Que bicho te mordeu nas orelhas? Parecem duas vezes maiores. – disse Heler curiosa.

—Uma chamada Sylie! – respondeu a elfa, sentando-se ao lado da garota e fuzilando Gabriel com o olhar – Tudo culpa sua...

—Tem razão. – admitiu o rapaz sorrindo descaradamente – Quer uma massagem nelas para aliviar?

Leeta virou um tomate e imediatamente protestou:

—Gabriel! – lançou um olhar sutil para Ada e Heler.

—Não se preocupe, elas são de confiança.

Ada não demorou a entender do que estavam falando. A mulher se inclinou para trás e tombou a cabeça para o lado, sorrindo de um jeito realmente satisfeito.

No interior das muralhas do reino de Calendria, mais especificamente no pátio do castelo, alguns guardas reais transitavam de um lado a outro, ostentando sobre os ombros seus mantos dourados. No entanto, havia um militar entre eles que mal conseguia andar e atravessava o local com dificuldade. Tinha na face uma cicatriz transversal e carregava queimaduras até onde se conseguia ver. Ele só parou quando um outro de cabelos longos e pretos, tendo relativamente a mesma idade, porém aparentando ser mais jovem, veio em sua direção.

—Comandante! – exclamou em continência.

—Capitão! – respondeu respeitosamente – Descansar! Por que não está se recuperando na torre do Conselho?

—Lorde Di Blanco achou por bem que eu voltasse, senhor. – respondeu Decarlo em tom aparentemente neutro.

—Sem me comunicar? – perguntou de maneira claramente reciproca – Além do mais, do jeito que está, você é inútil militarmente falando. Precisa se recuperar antes de voltar às suas atribuições, Ulisses.

—Eu entendo, senhor e peço que perdoe minha insolência, mas não posso desacatar uma ordem de um lorde. – declarou com um ar de preocupação.

—Onde está o lorde Di Blanco? – perscrutou impaciente.

—Acredito que esteja na sala do trono, senhor.

—Espere aqui. – ordenou o comandante Jonathas, se retirando com um ar de irritação evidente.

O capitão Decarlo assentiu com a cabeça e instantes depois, longe dos olhares, sorriu de canto.

O ambiente ao redor do trono estava quase que completamente vazio. Havia, porém, um homem de longos cabelos brancos, sem barba, trajando roupas pretas por baixo de um luxuoso casaco azul marinho. Ele estava parado, encarando a coroa disposta ao lado do assento real e seus olhos negros pareciam brilhar diante daquela visão, combinando perfeitamente com um horrível sorriso de pura ganância.

—Lorde Di Blanco! – anunciou-se Jonathas, fazendo uma rápida continência.

—Ah! Comandante McStrade... – respondeu Walther com sua voz aveludada ao se virar – Soube que Merlin já partiu para Aurora.

—Afirmativo, milorde. Mas não é sobre isso que vim tratar. – embora respeitoso, Jonathas não conseguia disfarçar a insatisfação em seu rosto – O capitão Ulisses Decarlo deveria estar se recuperando na torre do Conselho, porém ao que parece, o senhor ordenou que voltasse a ativa.

—De fato. – confirmou com um sorriso amargo.

—Por que?

—Porque não podemos nos dar o luxo de permitir que nossas forças tirem férias em tempos de tensão. – respondeu num falso tom de simpatia.

—Com todo o respeito, senhor, mas cabe a mim decidir quem está apto ou não para exercer suas funções em nosso exército. – esclareceu sem pestanejar.

—Hum... Tem razão. Todavia, como notei que nosso exército não tem sido muito eficiente nos assuntos da Cidade Sombria, imaginei que o comandante estivesse sobrecarregado e... Com dificuldades em tomar boas decisões. Eu quis ajudar...

—E o que o senhor sugere que seja feito na Cidade Sombria? Um massacre? Ao que me recordo, o regente deu ordens expressas proibindo ações desse tipo. – embora estivesse irritado pelo comentário anterior, Jonathas foi excepcional em disfarçar.

—Oh, sim... Deveríamos permitir que aqueles vermes de Emberlyn ganhem força como foi no passado. – ironizou Walther – Talvez o cachorrinho do regente não entenda da história tão bem quanto eu. Quando não se elimina a praga no início, ela contamina toda a colheita.

—O regente deu essas ordens baseado em estratégia, afinal, foi um verdadeiro milagre que o rei Yliel não tenha declarado guerra contra Calendria após a queda do Rei Negro. E até o “cachorrinho do regente” sabe que quando se tem um vizinho problemático, a última coisa que se deve fazer é enviar o exército para atacar os aliados dele, enquanto desguarnecemos nosso próprio reino. Mas talvez o “cachorrinho” tenha mais entendimento do que alguns dos seus senhores.

Walther semicerrou os olhos negros e se aproximou bastante de Jonathas, que era mais alto e o encarou irredutível.

—Você tem bons irmãos... – sussurrou, encostando no maxilar do comandante a peça de prata que cobria seu antebraço esquerdo – Talvez eu os faça uma visita para saber o que eles acham da sua... Estratégia...

—Não deveria se incomodar... – murmurou o comandante com um olhar realmente perigoso, se desvencilhando do toque de Walther com uma notória repulsa – O capitão Decarlo retornará a torre do Conselho para se recuperar.

—Mas é claro... – proferiu Di Blanco de maneira teatral – Longe de mim questionar o comandante do exército de Calendria. – e passou por ele, ainda dizendo – Vai que ele fica insatisfeito e resolve se juntar aos elfos. Ah! É mesmo, isso já aconteceu...

Quando finalmente ficou sozinho, Jonathas respirou fundo por mais de uma vez. Em determinado momento, seus olhos castanhos repousaram sobre a coroa e algo o fez franzir a testa. Então chamou o capitão da guarda real, que logo se apresentou. Um homem loiro de cabelo curto, alto e exageradamente forte.

—Sim, senhor comandante!

—Capitão Turvin, veja. – indicou o precioso objeto – A pedra amarela da coroa... Parece estar refletindo uma cor diferente.

—Humm... – o grandalhão se aproximou para conferir de perto, levando a mão até o queixo como se fosse um perito analisando – É, não lembro disso. Mas vai ver é por causa da luz, comandante.

—É... – concordou a contragosto, ainda observando – Talvez seja isso. De qualquer forma, redobre a vigilância nesta sala. Não deixe mais ninguém entrar sozinho e, acima de tudo, vigilância máxima no trono e na coroa.

—Sim, senhor! Pode contar comigo. – sorriu, revelando dentes grandes e ligeiramente amarelados – Ah, senhor, não posso deixar nem as crianças? Os meninos Ostrade gostam de correr por aqui.

—Está permitindo que crianças brinquem aqui? – indagou incrédulo.

—Ah... Mas o lorde Otto diz que não tem problema, sem falar que ele sempre vem buscá-las aos berros. É engraçado... – riu como se fosse uma criança gigante.

—Francamente, Edd. – suspirou vencido – Escuta, isso acabou. Nada de correrias por aqui e todo aquele que vier, deverá estar acompanhado de um guarda real, entendeu?

—Sim, senhor comandante. – respondeu meio triste.

Jonathas perpassou os olhos uma última vez sobre a coroa antes de finalmente se retirar.


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