Nebulosa escrita por Camélia Bardon


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Oi! ~acenando muitíssimo empolgada

Hoje hablarei muito nas notinhas. Ai, gente, eu tenho um carinho ENORME por essa história. O começo da criação dela foi em 2019, quando eu e uma amiga (oi, Nicole!) trabalhávamos nela através de RPG. Jogamos com os personagens por quase um ano, quando se deu a pandemia. A ideia de estender a história e fazer uma long-fic (porque fazíamos apenas diálogo-pensamento) vem desde aquela época, mas múltiplos motivos até o momento não tinha conseguido dar atenção para ela. Escrevi pelo menos 70k de palavras dela, ano passado, até decidir que queria começar tudo do zero, porque percebi que o formato que escolhi não iria se sustentar durante a história. Então, cá estamos nós, com a versão "final".

Como dito nas notinhas, por ora as postagens serão feitas às terças-feiras. Enquanto não começa o NaNoWriMo pra me obrigar a escrever, só tenho o prólogo pronto + metade do capítulo 1 da versão final + uns 24 capítulos da versão anterior xD Nesta data, completa um ano que não escrevo long-fics, espero que eu sobreviva!

Acho que é isso! Espero que vocês gostem dessa maluquice conjunta tanto quanto eu estou gostando de revisitá-la ❤



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Little Italy, Manhattan — outubro de 1945

 

Vittoria Rivera segurava sua filha nos braços, numa tentativa de ninar a pequena. Era a primeira vez que conseguia fazer isso em pé. Já haviam se passado três dias desde o parto, e ela ainda não sabia qual nome daria para a criança. Mais do que um nome, outras questões mais relevantes martelavam sua mente sem descanso.

Até quando a paciência de sua senhoria duraria? Como ela se sustentaria, se fosse o caso de ser mandada embora? O que faria para justificar uma criança ter nascido sem que fosse casada? E aos dezessete anos? 

Em momentos como aquele, a voz de sua mãe ecoava nas paredes de seu subconsciente. Ela não tinha gritado, não, mas de alguma forma o sussurro ríspido machucou mais do que se ela tivesse o feito. Eu não criei você para isso, Vittoria. Eu não criei uma filha minha para ser uma qualquer, uma… Moça da vida. Você envergonhou toda a nossa família. E olhar do pai dela… De decepção. Vittoria sempre escutava-os falando acaloradamente. Ser expulsa de casa com tanto silêncio foi aterrador.

Ao primeiro sinal de uma nova onda de choro se aproximando, Vittoria sentiu os olhos marejar. Queria tanto poder fazer com que ela nunca mais chorasse… Como poderia garantir o conforto que aquela menininha merecia quando não conseguia controlar as próprias emoções? 

— Shh, querida — Vittoria sussurrou, sorrindo para a bebê apesar do coração palpitar. — Está tudo bem, a mamãe está aqui… 

— Acho que é o jeito que você está segurando.

Vittoria voltou o corpo na direção do som. A voz de Sofia, a senhoria, puxou-a de volta para a realidade com brusquidão. Sofia lembrava-lhe muito a mãe, de corpo esguio e a pele curtida ao sol, o nariz aquilino e comprido. Ainda que ela não fosse nem um pouco espanhola e respirasse a Itália em cada um de seus poros, as duas portavam a mesma altivez e aura impertinente. Sofia, até o momento, entretanto, não havia tratado Vittoria com menos do que doçura. Falar com ela era como comer muito tocino de cielo. Doce demais, mas uma hora a boca amargava.

— Estou tão cansada, Sofia — Vittoria deixou os ombros caírem, num pedido de ajuda. No entanto, Sofia continuou parada ao batente da porta. — Queria dar uma volta… 

— Primeiro lide com sua filha, depois pode dar quantas voltas quiser. Precisa ser forte por ela. E pode começar dando apoio para a cabeça da pobre coitada. 

Vittoria fez conforme o orientado, passando a bebê para o outro braço. Quando ela o fez, sua miniatura foi cessando os choramingos pouco a pouco. Vittoria seria capaz de chorar de alívio pelo silêncio.

Grazie, Sofia… 

— Me agradeça quando aprender a trocar fraldas. Do jeito que o cheiro está exalando, parte dos seus problemas vêm daí. 

Com um suspiro, Vittoria voltou a sentar-se em sua cama. Sofia acompanhou-a, partilhando o seu silêncio. Seu amor. Antigamente, a garota acreditava que só podia se saber se indivíduos se amavam quando diziam um ao outro que se amavam. Contudo, o amor que Vittoria sentia por Sofia – e, agora, pela recém-chegada – não era verbalizado. Era mais tímido, reproduzido através de toques e silêncios. Mas aquilo só era válido para Sofia. Quando o homem que amou presenteou-a com toques e depois silêncio, aquilo estava longe de significar que seu amor era tímido. Era um amor egoísta, que partiu quando deveria multiplicar-se.

Como alguém poderia dizer que aquela coisa minúscula era um erro quando o que mais sentia por ela era amor e amor sem fim? 

Ah, Deus, que ela não crescesse com os olhos dele… Seria como olhar para a própria alma num poço.

— Não se preocupe tanto, você vai aprender conforme os dias passarem — Sofia murmurou, num misto de não querer perturbar a criança e nem a mãe. Vittoria levantou a cabeça para olhá-la, incrédula. — Parece impossível, eu sei. Pensei o mesmo quando Luca nasceu. Eu não estava sozinha, mas ainda tinha que trabalhar. Ser mãe não é fácil e nunca será. Mas eu tenho certeza que essa garotinha será muito amada por você. E, no momento, se isso é tudo que pode oferecer, é o suficiente. É bem mais do que muitas fazem. Veja só, sua menina já nasceu num mundo de cabeça para baixo, destruído… Ela é muito especial.

Vittoria assentiu com a cabeça. É claro que Sofia tinha razão. E é claro que Vittoria superaria tudo aquilo, algum dia. Talvez pudesse começar após um cochilo. Melhor, após trocar a fralda. Melhor… 

— Às vezes, eu penso que ele era um deus errante, Sofia… Veio e se foi como um vento de verão. Tudo ficou destruído quando ele foi embora, mas conseguiu me enganar direitinho — Vittoria acariciou o cabelo da bebê, que tinha a cor das folhas no outono. Algo entre o alaranjado e o castanho. Mais para o castanho. — Se não fosse por ela, eu não teria provas de que tudo foi real…

— Mas foi. E eis aí sua semideusa. Infelizmente, as coisas funcionam assim. 

Vittoria sorriu, permitindo que a bebê segurasse seu dedo. Uma semideusa… ela se recordava das histórias, de deuses-homens com dons maravilhosos que caminharam por aquelas mesmas terras. Apaixonando-se e deixando seus filhos ao relento, por não serem iguais a eles. Quantas histórias as pessoas inventam para embelezar a feiura da realidade… 

A mãe dela estava certa. Vittoria Rivera não era qualquer uma. Ela seria a melhor mãe de todas, ainda que precisasse começar do zero a partir dali. A poeira já havia baixado e, ainda que pudessem existir deuses egoístas zombando de sua existência, ela faria com que sua menina risse deles quando crescesse. Porque, se havia algo que Vittoria aprendeu após uma guerra e uma gravidez, era que a coragem nascia apenas quando o medo atingia seu ápice. 

— Valerie — ela soprou o nome, com a nova certeza florescendo em seu peito. — Esse é o nome dela. 

Sofia assentiu, satisfeita. Valerie riu.

Dali em diante, Vittoria começou a assinar o próprio nome como Victoria Brogini, e contava que era viúva de Luca Brogini, morto em combate. Foi a última vez que se permitiu ter alguma imaginação. Porque dali em diante Vittoria não se permitiria ser nada além de força – uma força gentil e silenciosa –, sem margem para qualquer tipo de desvio de foco de sua filha. 

No entanto, a imaginação ainda seria uma das heranças mais preciosas que iria transmitir à garota. E que ela a carregaria consigo por mais tempo do que qualquer humano deveria. 

Tudo começou com uma noite estrelada. A primeira vez em que os humanos olharam para a imensidão e se puseram a tentar decifrá-la.


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Notas finais do capítulo

Amo a Vittoria e a protegerei para sempre ❤
Nos vemos no próximo capítulo, que espero que saia no dia 7/11!



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