A missão escrita por camibsva


Capítulo 4
Uma armadilha




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Talvez a enfermaria não fosse mais segura como antes. Assim como a sala de Minerva, costumávamos despejar nossos planos e ansiedades para que aquelas paredes ouvissem. Estudantes escalados, de alguma forma em punição por contravenção, geralmente não tinham parte com a nova administração da escola. Era uma questão de segurança, Gina Weasley dizia. Tinha um posto de liderança e um instinto felino para as entrelinhas. Ela quem jogava escuridão onde minha inocência via luz, e ela quem transformou a enfermaria em campo de batalha. Não sem motivos. Alguns sonserinos costumavam ter com a beira da cama de Blásio Zabini. De repente, nossa a audição aflorava, e parávamos em silêncio para ouvir qualquer coisa, qualquer indício de motivo. A razão de Blásio Zabini decidir desobedecer a ordens que, semanas atrás, desempenhava sem qualquer fagulha de compaixão na varinha. 

A hipótese foi de uma armadilha. Uma infiltração. Se Dolohov tinha as mãos dadas com os sonserinos, nada como violência combinada para entrar na mente dos opositores. Se é que podíamos nos considerar assim. Ultimamente, o mal espreitava a cada movimento do bem. Não eram de hoje as tentativas para tomar certos espaços, como a sala de Minerva. Talvez fosse questão de tempo para que tentassem macular o ninho dos escalados. 

Talvez.  

Eu não tinha a mesma coragem da ruiva para dizer que aqueles rasgos violentos nos punhos de Zabini foram, de alguma forma, talhados de boa vontade. Zabini passou dois dias em cuidados intensivos. Consciente, fingindo inconsequência? Tinha perdido quantidade significativa de sangue, e uma boa chance de infecção. Suas bandagens, enroladas do antebraço até encapar metade de suas mãos, eram trocadas duas vezes por dia. Ele costumava aparecer entre meus plantões de enfermagem, silencioso como um sepulcro. Sentava-se na beirada da maca, estendia o ferimento. Observava enquanto circulava seus braços de faixa. Tinha olhos de melancolia, e de forma alguma, como um infiltrado faria, tentava me contactar. Cingir seus ferimentos, ter deitado água numa bacia para lavar seu sangue, o envergonhava?  

Ao contrário do esperado, ele voltava. Dessa vez com um roxo no olho.  

Tínhamos classes de Defesa contra as Artes das trevas juntos, e especialmente aquela semana havia algo mais escuro em Dolohov. A sonserina costumava devotar grande participação em suas aulas, enquanto uma grifinória silenciosa tentava se manter fria perante os rompantes de crueldade do mestre. Seus olhos negros espreitavam os alunos como se presas na selva, enquanto um faixo de perversão borbulhava a cada palavra dita. Sua voz era retumbante, como se os absurdos que proferia não passassem de obviedades na história. Quis fazer uma revisita ao conceito de maldições. Assim que apontou a varinha para retirada do pano, três corujas batiam asas sob a mesa do professor, agoniadas, como se soubessem seu cruel destino. Naturalmente, não demorou para que levantássemos das mesas, em fila indiana, para retirarmos a ficha de escalação. Meia dúzia de Grifinórios trêmulos permaneceram congelados. A outra metade murmurante.  

Nesse interim, quando Blásio Zabini se ergueu em uma das primeiras fileiras, levantou consigo uma onda de silêncio. Parou ao meu lado, sob o semblante desafiador de Dolohov, e sacou uma ficha. Assisti sua mão trêmula pausar, pensar. Por fim, foi possuído de sua decisão. Eu mesma vi Dolohov carimbá-lo com a hematoma no olho.  

Mesmo assim Zabini era um desses peixinhos fora do aquário. Na enfermaria, atraiu olhares furtivos de Simas Finnigan, bastante acostumado em trocar os próprios curativos e limpar pólvora do rosto. A velha Pomfrey não arriscava um só sorriso perto do garoto, grave e desconfiada. Eu o ajudava com os ferimentos, mas sem esquecer, é claro, com quem lidava. Mesmo humilhado, uma marca de arrogância na testa do negro quase me fazia desistir de auxiliá-lo. Se imaginava o mau feito as cobaias, o quanto era preconceituoso, era difícil continuar. Por isso eu não pensava, nem conversava. Deixava as mãos fazerem o trabalho. 

Hoje, porém, algo lhe chamou atenção. Meu colar prateado dançava frente ao seu rosto.  

“Cristã?” — ele levantou uma das sobrancelhas. “Perdão. A pergunta correta começaria com ainda. Ainda cristã?”.  

Confirmei com um movimento de cabeça.   

“Interessante. A cruz é sacrifício ou maldição?”.  

“Sacrifício.”  

“Não acha que tudo isso aqui se parece muito mais a uma maldição?” 

“Será? Pois acha uma maldição que te acolhamos, mesmo sabendo das coisas que você fez?”  

“Um momento. Estou escalado como você, não estou? Além do mais, se lhe custa tanto ajudar, por que ainda o faz?”.  

“Ajudo porque não há servo diferente de servo. E não me custa nada”.  

“João 13, claro” ele riu. “Não fique tão surpresa. Eu fui um dos únicos na turma a levar estudos dos trouxas a sério.” 


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