Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 5
4. O azul profundo... como um oceano, encontrou o gélido azul claro, como o encontro entre o oceano quente e frio.


Notas iniciais do capítulo

* Eu demorei não foi, acho que foram duas semanas. Tenho algum motivo válido, eu estava de férias, é um motivo válido para mim. Foram duas semanas esclarecedoras, um ótimo momento para descansar e renovar a arte da escrita.

* Boa leitura!



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— ... como disse antes, fomos enviadas pela princesa Anne a fim de servi-la como damas de companhia. — A dama ruiva... Lady Newport explicou palavra por palavra toda essa situação. A reação de Cathrine era o mais profundo estoicismo. — Espero que agora tudo tenha ficado mais claro.

Como o sol, porém em um dia profundamente nublado. Damas de companhia, agora? Elas não deveriam vir apenas depois e escolhidas por ela mesma? A princesa mordeu os trêmulos lábios, tentando manter-se calma, mas... ela estava incrédula com essa situação! Parecia um terrível desrespeito! Cathrine fechou fortemente os olhos e depois encarou as "damas". Na Dinamarca...

— Eu... agradeço profundamente ao marquês e a princesa Anne por esse amoroso arranjo. — A Grã-Bretanha não era a Dinamarca. A princesa até tentou, mas não houve coragem para recusar. As damas assentiram friamente, e então, após novamente morder os lábios, Cathrine perguntou: — E quanto a Helene e Marie, minhas aias dinamarquesas?

— Elas são desnecessárias agora, sendo assim estão dispensadas, assumimos por aqui. — Ouvindo Lady Spencer, as jovens dinamarquesas agarraram as mãos da princesa, que negou veemente. A condessa, porém, apontou para fora. — As senhoritas podem sair, nós...

— Não! Elas não sairão! A senhora não pode fazer isso! — Lady Spencer arregalou levemente os olhos surpresa com a alta negação da princesa.

Apertando as mãos das amigas, Cathrine novamente sinalizou que não. Ela não poderia deixar isso acontecer, Helene e Marie eram a única lembrança que havia sobrado da Dinamarca. Elas não a deixariam agora! Entretanto, a surpresa de Lavinia Spencer logo foi substituída por dureza.

— É milady, minha princesa, não senhora. — Todo o charme dela foi substituído por frieza. Cathrine quase sentiu-se diminuída com essas palavras. Mas, muito infelizmente, não acabou aí: — Estamos na Inglaterra, madame, entenda que as coisas funcionam diferentes aqui. Assim como entenda que a princesa tem damas de companhia e não... aias.

Cathrine negou uma última vez, mas ela sabia que não tinha mais forças para negar. Lágrimas já estavam invadindo os olhos dela, então a princesa deu as costas para as damas inglesas e fitou dolorosamente as amigas. Helene já nem segurava mais o choro, enquanto Marie ainda tentava. Não poderia ser assim, esse não era o plano, uma despedida não... não deveria ser abrupta.

— É assim que deve ser, minha princesa! Lady Spencer está certa, aqui não é a Dinamarca! — Afastando-se de Cathrine, e levando Helene consigo, Marie exclamou emocionada. Ainda assim, a princesa tentou negar, mas não conseguiu. — Cumpra seu dever, esqueça de nós! Deixe seus fúteis e egoístas sentimentos pessoais de lado, o dever é o que realmente importa!

Tudo sempre resumia-se nisso, cumprir o dever como princesa, cumprir o dever para com os Oldenburg. Mas cumprir esse dever estava sendo tão difícil! Cathrine mordeu os lábios tentando não chorar. Marie estava certa, de fato, mas... a princesa fechou dolorosamente os olhos e os abriu novamente, o dever sempre era o mais importante.

A vida toda dela foi resumida em cumprir o dever, então não faria diferença alguma agora. Essa parte os contos não diziam, infelizmente.

— Vocês não sabem como sentirei saudades. São assistentes em teoria, mas, na prática, verdadeiras amigas. — Sorrindo emocionada, Cathrine aproximou-se das amigas e as abraçou fortemente. O choro de Helene apenas aumentou, enquanto a princesa permitiu uma única lágrima descer. — Sejam felizes, minhas amigas, em qualquer que seja o destino de vocês.

— Foi uma honra servi-la, minha princesa! — Entre lágrimas e sussurros, Helene conseguiu falar algo.

— Escreveremos sempre... eu tentarei, pelo menos. Vamos, Helene. — Marie falou tentando conter a emoção e afastou-se junto de Helene. Estava acabado então. Cathrine deu um último sorriso às amigas e ambas saíram em direção a porta. — Veremos ela mais tarde, não chore... eu nunca me casaria com um lord inglês!

As seis damas britânicas abriram caminho para as duas dinamarquesas. Cathrine viu suas amigas indo embora com o coração na mão. Muito provavelmente elas nunca mais iriam se ver novamente, muito provavelmente ela nunca mais fosse ver ninguém da Dinamarca, fora os enviados, claro. Parecia realmente o passado sendo deixado para trás, mas doía tanto, tanto mesmo!

— O que acontecerá com elas? — Enxugando a única lágrima que derramou, Cathrine voltou-se às damas de companhia.

— Retornarão a Copenhagen junto da comitiva dano-norueguesa. Creio que será o mais rápido possível. — A condessa Spencer respondeu calmamente. Pelo menos o casamento Helene e Marie assistiriam, Cathrine suspirou tristemente. Porém, impedindo qualquer outra tristeza, Lady Spencer bateu animadamente as mãos. — Bem, se tudo está resolvido, vamos então aos preparativos. Margaret, faça seu trabalho.

Uma das mais velhas, e com certeza a mais fria de todas, aproximou-se e, agarrando a mão de Cathrine, a levou para frente do espelho. A princesa estava sem reação.

— Peço que fique parada, Sua Alteza. Vamos tentar consertá-la. — Consertá-la? Mas consertar o que!? Cathrine encarou confusamente a condessa de Carlisle, porém a condessa simplesmente agarrou o rosto dela e o voltou para frente. — Harriet, Georgina, tirem esse vestido da princesa e coloquem algum dos enviados. Jane, desfaça esse horror na cabeça dela, faça algo inglês.

Tudo estava acontecendo muito rápido, rápido até demais, e a princesa não conseguia falar nada, protestar em nada. Cathrine era uma mulher tímida, não havia como negar, mas ela sabia que timidez não era passividade. Foi um horror! A condessa de Paston e Lady Chartents tiraram o vestido dela, deixando apenas uma chemise e o espartilho. Uma vergonha!

— Não fique assustada, criança. — A princesa tentou encarar Lady Newport, mas novamente foi impedida. Essa mulher não tinha mais de vinte anos! A condessa suspirou e negou para Lady Carlisle. — Tenha um pouco de mais tato, milady! É apenas uma criança!

 

— Não existem crianças na realeza, Beatrice, essa é uma princesa, apenas isso. Além do mais, estamos atrasadas. — Lady Newport negou, mas acabou afastando-se. Lady Carlisle deu os ombros e pegou um pincel de maquiagem, enquanto Lady Chartents aproximou-se com vestidos. — Aquele espetáculo gastou muito do nosso tempo. O branco, Georgina. Dará uma maior impressão de riqueza.

— E quando o casamento acontecer mais tarde, em St. James, ela vestirá o marfim. — Aproximando-se dela, com Lady Paston atrás, Lady Chartents comentou. A condessa de Carlisle assentiu e suspirou.

— É uma pena não podermos escolher esse também, ficaria lindo um marfim inglês. — Havia alguma diferença? A dama das vestes pegou o rosto da princesa e o analisou. — Falta rouge nas suas bochechas, menina.

Cathrine sentia-se como uma boneca sendo vestida, e com o silêncio dela parecia exatamente isso mesmo. Não demorou muito e a princesa foi vestida, e era impossível não sentir-se uma inglesa, não com um vestido inglês, um cabelo inglês e uma maquiagem inglesa. Lady Carlisle realmente amava rouge, a julgar pelas bochechas quase carmim de Cathrine.

E quanto ao cabelo!? A princesa sentia-se um cacho de uvas com tantos cachos no cabelo. Estavam na moda, de fato, mas Cathrine não gostava tanto assim deles. Porém, assim como o rouge, Lady Carlisle insistiu, agora com o apoio de Lady Spencer.

Graças ao Senhor, porém, acabou e ela pôde finalmente sair ao convés. E foi exatamente nesse momento, onde a princesa estava prestes a descer do navio, que Cathrine avistou dois jovens, praticamente crianças, esperando por ela no... Imediatamente Cathrine parou onde estava. Eram eles, os dois irmãos mais novos do príncipe! O cabelo loiro alaranjado da mocinha já dizia tudo, e ainda havia a altura do garoto.

Voltando vagarosamente a descer, assim como a respirar fortemente, Cathrine aproximou-se cada vez mais dos jovens. Ela estava ansiosa em ver duas crianças de 15 e 13 anos? Estava sim, quem não estaria!? Não eram simples "crianças", eram os irmãos dele! Altos, bonitos, com um sorriso tão natural que dava inveja e, ainda por cima, vestidos como dois verdadeiros adultos, essas duas crianças poderiam ser tudo, menos apenas crianças.

Pisando no pier, finalmente em algo firme, Cathrine fitou os dois e fez uma mesura, ação que foi respeitosamente seguida pelos príncipes. Eles haviam analisado ela! Foi rápido, muito rápido mesmo, mas ainda muito perceptível! A princesa engoliu em seco e voltou a encarar os irmãos.

— É um imenso prazer conhecê-la, Sua Alteza. — O garoto, um pouco menor que Cathrine, aproximou-se e beijou a mão dela. — Robert, o duque de Kendal.

— Estou encantada, Sua Alteza Sereníssima. — Novamente fazendo uma simples mesura, ela respondeu.

— É uma felicidade finalmente tê-la conosco, Sua Alteza. — Com Robert afastando-se, a mocinha cumprimentou com uma mesura e um sorriso agradável. — Sou a princesa Mary.

— E para mim é uma felicidade ainda maior finalmente estar em Londres, estar prestes a casar.

Voz baixa, doce e num tom formal... seria o necessário? A princesa Mary mostrou novamente um sorriso e levantou, trocando com o irmão um rápido olhar. Apenas esse ato fez Cathrine ficar ainda mais ereta e tentar mostrar mais orgulho "principesco", mesmo com os dois sorrindo.

— Nosso irmão está igualmente feliz, tenha a mais pura certeza. — O sorriso dela não tornou-se mais natural com essa garantia de Kendal. O príncipe, após trocar novamente um olhar com a irmã, apontou a carruagem. — Não demoremos mais, todos em Hampton Court estão esperando e... esse sol está de lascar.

Foi o suficiente para Cathrine dar uma pequena risadinha, embora nada muito "natural". Robert parecia um garoto... encantador. O príncipe ajudou as princesas a entrar na carruagem, que, após ele mesmo entrar, começou a andar. A princesa voltou a respirar fortemente, o momento estava ficando cada vez mais perto!

O primeiro momento da viagem foi o mais silencioso, pelo menos da parte de Cathrine. Dividida entre olhar Londres pela janela e encarar Robert e Mary, ela escutava os dois cochichando sobre ela, ou melhor, sobre a aparência dela.

— ... não é nada como papai, Robert! Não é alta, nem grandemente bela! — Entre esses sussurros, alguns Cathrine realmente não escutou, mas outros, com certeza. — Dos Oldenburg tem apenas a cor azul dos olhos, o cabelo castanho e o formato do rosto. Enquanto todo o resto... não sei nem o que é! E os olhos? Tão grandes que parecem até...

— Ela está ouvindo, Mary! — Com o toque do irmão, a princesa Mary voltou a sorrir para Cathrine. Não aguentando de vergonha, ela virou o rosto. — Jesus Cristo! Se Anne... pior ainda, se Richard ficar sabendo, estaremos fudidos…!

Estavam errados, estavam muito errados! Cathrine era muito Oldenburg sim! Eles não eram altos, nem grandemente belos! Realmente, Cathrine não tinha o nariz e os olhos dos Oldenburg, eram heranças dos Mecklenburg-Schwerin, porém não era ela a diferente, mas sim o príncipe Wilhelm. Toda a Dinamarca comentava como o falecido príncipe e os irmãos eram anormalmente belos.

— Londres é tão grande, não é mesmo? Todos os viajantes ficam impressionados. — Ouvindo a doce voz da princesa Mary, Cathrine voltou-se para os irmãos Bristol. — Deve ser tão diferente de Copenhagen.

Mary estava sorrindo para ela, sorria muito docemente. Não conseguindo guardar ressentimento, Cathrine sorriu de volta, dessa vez quase naturalmente.

— É assustadoramente grande, além de muito diferente, claro. Copenhagen é infinitamente menor. — A princesa voltou a olhar pela janela e suspirou. Eram tantas casas, praças, jardins e... pessoas. — Estou tão ansiosa.

— Mas não existe necessidade alguma de ansiedade. Londres logo ficará comum, quase como uma cidade provinciana. — A forma como o príncipe Robert falava era quase desdenhosa. Talvez o efeito de passar a vida nessa cidade. — Logo você se acostuma, tudo será comum.

— Até mesmo nós seremos comuns. Logo também seremos uma presença familiar. — Cathrine voltou-se novamente aos dois, que sorriam amplamente. A princesa Mary sorriu mais ainda. — Tenha certeza disso, assim como saiba que Richard gostará muito de você.

Se todos fossem assim, ela com certeza logo iria se acostumar. Cathrine sorriu amplamente. Talvez o felizes para sempre não estivesse tão distante assim.

*****

Entrando na sala verde, após serem anunciados pelo barão Pembroke, o 2⁰ conde de Aberavon e a esposa dele, uma das filhas do 4⁰ duque de Marlborough, fizeram uma simples mesura ao marquês e a princesa Anne. Naturalmente, os irmãos assentiram em reconhecimento à honra do casal, que levantou.

— Fico muito feliz com a presença de você aqui hoje, primo Frederick! — Dando um passo para frente, Richard sorriu genuinamente feliz e estendeu uma mão ao primo. — E claro que com a sua também, Charlotte.

Nesse dia tão especial, ter parentes queridos seria muito bom, e nada mais querido que o conde de Aberavon! Anne não gostava nenhum pouco deles, segundo ela, essa era uma "família desgraçada", mas que importância isso tinha? Richard gostava muito deles, e, na opinião dele, Frederick era o mais confiável dos Aberavon.

— Mas é claro que vim! — Ao invés de um aperto de mão, Lord Aberavon avançou em direção ao marquês e o abraçou fortemente. — Eu não poderia deixar meu priminho sozinho nessa empreitada.

— Essa empreitada, como você fala, chama-se casamento. — Com o azedo comentário de Anne, Aberavon soltou o primo. Todos sentaram nos sofás, onde a princesa começou a servir o chá. — Casamento este que foi planejado justamente por você, junto do rei, claro. Deseja açúcar, Lady Aberavon?

— Apenas um pouco. — Muito desinteressada, como sempre, Lady Aberavon respondeu.

Compartilhando um olhar com a irmã, Richard sorriu e deu os ombros. Lady Charlotte era assim mesmo, ela havia fugido com o reverendo, afinal de contas, eles não poderiam esperar muito. Com todos em silêncio, Anne serviu o chá para a condessa e depois começou a servir ao primo... que nunca conseguia manter a língua parada:

— Lembro-me desse dia. Você ficou com tanta raiva, priminha! — Indiferente a qualquer ofensa, o conde riu, desdenhando da prima. Anne, porém, sorriu e continuou colocando açúcar no chá dele. — Deve ter sido frustração por ter que ceder o seu lugar como senhora da casa.

— Não vamos lembrar disso, por favor. — Mesmo estando muito curioso para saber onde isso iria dar, Richard interviu. — Foi...

— Um escândalo, de fato. Eu fiquei muito irritada. — O marquês franziu o cenho para a irmã. O sorriso inocente que havia no rosto dela, junto com o açúcar que ela ainda colocava, era suspeito. — Mas como não ficar? Richard é tão jovem, é como se estivéssemos casando duas crianças.

O silêncio entre eles instaurou-se, mas só até o conde rir, novamente, desdenhoso. Irritando-se com isso, Anne colocou uma última colher de açúcar e entregou o chá ao primo. Em seu lugar, Richard suspirou pensativo e depois aceitou uma xícara de chá. Falar desse casamento estava sendo tão comum, mas também não estressante, hoje. Não havia apenas como deixá-lo sozinho com isso?

— Sou obrigado a concordar com Anne, primo Frederick. Tenho apenas 18 anos e sou tão inexperiente. As vezes penso até que... não estou pronto. — Principalmente nestes últimos dias. Richard novamente suspirou preocupado, porém, ao invés de receber alguma palavra do primo, Aberavon simplesmente negou e riu. O marquês, naturalmente, franziu o cenho. — Não foi você, junto do Conselho de Bristol, quem afirmou isso!?

— Oh, priminho, o que poderia dar errado? Ela ser feia!? — Muitas coisas poderiam dar errado? Richard negou incrédulo, e ela ser feia era a última dessas coisas. Deixando, porém, a situação ainda pior, Aberavon sorriu malicioso. — Ou não me diga que você não sabe como usar seu monstro na bucetinha da princesa!?

A xícara que o marquês segurava quase caiu no chão, ele encarou o conde com os olhos arregalados de horror. Richard às vezes esquecia como o primo poderia ter... uma língua suja. Mas dessa vez Aberavon havia passado dos limites! Foi uma dupla ofensa! Porém, graças ao Cristo, foi Anne que respondeu:

— Tenha mais respeito quando estiver falando próximo a damas, Aberavon! — Elevando sua voz, a princesa fez o conde parar de rir. Richard quase sorriu satisfeito. — Aqui não é Orange House, então não quero ouvir suas... tolices!

Foi o suficiente. A princesa voltou a expressão calma de antes e bebeu do chá que tinha. Richard quase não acreditou no que ouviu, foi muito pouco! Principalmente considerando que saiu da boca de Anne!

— Não mais voltarei a fazer isso, priminha. Minha palavra é confiável. — Aberavon falava tão zombeteiro que era difícil acreditar. Richard e Anne se entreolharam, mas logo voltaram ao conde quando ele riu novamente. — Mas apenas por respeito a você, claro, essa vagabunda aqui até gosta!

— Não tanto quanto a pura Lady Amélia. — Aparentemente desinteressada no assunto, mas não o suficiente para não ficar ofendida, a condessa respondeu irônica ao marido, cujos olhos arregalaram em raiva. — Tão bela, não? Pega nua na própria cama, e ainda mais com Lord August Hervey! Que situação!

— Calada, Charlotte! Deixe sua língua venenosa longe da minha irmã! — Apesar da ordem, a dama continuou rindo, longe de ficar calada.

— E o que aconteceu depois? Oh, foi tão engraçado! — Aberavon praticamente avançou em direção a esposa, completamente irado, mas ela continuou: — Ela ficou grávida! Eu, pelo menos, mantive minha pureza intacta.

Apenas essas palavras foram o suficiente para iniciar uma briga. Chegando perto o suficiente da esposa, o conde gritou algo indecifrável, pelos menos Richard não entendeu, e a condessa naturalmente respondeu. O grande escândalo dos Aberavon aparentemente ainda era muito doloroso, mesmo já fazendo anos que aconteceu.

Assistindo impassível toda a discussão, o marquês negou e voltou a beber do chá. Richard gostava muito de Frederick, mas isso não significava que ele também gostava da personalidade do primo. Era bom que a princesa chegasse logo, pelo menos assim essa discussão... oh, Deus! Richard balançou a cabeça. Talvez não fosse assim tão bom.

— Não entendo o motivo de você gostar tanto assim dele. — Ouvindo o comentário da irmã, o marquês a encarou curioso. Anne assistia toda a discussão com nojo. — Eu queria esquecer da existência dos Aberavon.

— Frederick fez um ótimo trabalho cuidando de Niedersieg, e sou muito grato por isso. — Quando as tropas francesas aproximaram-se de Niedersieg durante a Campanha do Reno, foi Aberavon que cuidou de toda a frágil proteção do principado. — Além do mais, é divertido imaginar o que sairá daquela boca podre.

A princesa riu e negou. A discussão dos Aberavon, porém, não continuou por muito mais tempo, logo a Srta. Neville entrou na sala verde e avisou que as carruagens haviam chegado de Greenwich. Muito bem, Richard respirou fundo e levantou do sofá, uma ação que foi imediatamente seguida por Anne. A carruagem chegou, isso significava que...

— ... em Orange House terminaremos essa discussão. — A voz do conde ficou para trás, os irmãos estavam saindo da sala.

— Esperarei pacientemente por esse momento, amado marido. — Com a saída dos irmãos Bristol, a condessa respondeu fria. Porém a última coisa que Lady Aberavon falou foi: — Essa Cathrine da Dinamarca será bonita?

Também era uma pergunta que Richard se fazia com muita frequência, embora não tanta quanto as mais importantes. Eles seriam felizes? Alguns diziam que isso não importava muito. Teriam algum tipo de conexão? Novamente, não importava muito. Como seriam os filhos deles, isto é, se houvessem filhos? Essa sim era uma pergunta que todos achavam importante.

Richard, porém, com todas essas perguntas, tinha apenas duas certezas: ele não falharia, com ninguém, e logo a conheceria. Ele logo a conheceria... o marquês riu consigo mesmo, como isso era irônico. Ambos eram dois desconhecidos, não sabiam nada um do outro, mas, assim que a princesa entrasse pelas portas duplas da sala branca, estariam automaticamente casados. Desconhecidos, eram dois desconhecidos! A pobrezinha iria deitar com um desconhecido!

— Eles se atrasaram um pouco, mas nada o suficiente para atrapalhar nosso cronograma. — Ele fitou fixamente Anne. Atrasados? Essa era preocupação dela? Richard negou e voltou-se para frente, porém a princesa percebeu. — Vejo que você realmente está ansioso.

— Muito. — Seria apenas isso, mas, ao olhar para a irmã e perceber um olhar preocupado, ele sorriu ansioso. — Não recomendo isso para ninguém. É uma sensação terrível.

— Sorte a nossa, todos nós passaremos pela mesma experiência. — Seria mesmo? Richard tentou dar à irmã um sorriso confiante, mas o máximo que ele ganhou foi uma sorriso, seguido por negação. — Todos casaremos sem nunca antes ver. Toda a realeza européia está muito amedrontada para viajar a Londres.

 

— Então vamos casar vocês com a realeza britânica. — Nada mais apropriado, não? O marquês sorriu sugestivo a irmã, que negou. Eles estavam quase na sala. — Você ficaria perfeita com o príncipe Ernest, sabia?

Anne parou no lugar onde estava, tão perplexa quanto ofendida. Rindo divertido, Richard continuou a andar, até que parou. Eles haviam chegado... finalmente.

— Tão linda quanto Robert e Amélia, ou Mary e... Augustus? — Passando a ofensa, Anne correu para junto do irmão e provocou. Mas, ao perceber o que viria a seguir, ela calou-se. Ambos os irmãos encararam sérios as portas. Havia realmente chegado a hora. — Seja forte, Richard. Lembre-se da beleza e glória.

Beleza e glória... Richard respirou fundo e abriu as portas. Ele não era mais o menininho órfão de 1793, mas um homem prestes a casar, um príncipe! Recebidos com respeitosas mesuras pela "corte"; Conselho de Bristol, damas de companhia, cavalheiros, enviados estrangeiros, aristocratas, nobres e os outros Aberavon; o marquês e a princesa Anne entraram na sala, parando então em frente a cadeira prateada de Niedersieg.

Logo Robert e Mary também entraram na sala e se juntaram aos irmãos mais velhos no lugar de destaque. Todos os quatro Bristol estavam orgulhosamente de pé, esperando pacientemente pela entrada da princesa Cathrine. Entretanto, esse silêncio foi momentaneamente quebrado por Anne, que sinalizou para os mais novos falarem algo.

— Ficamos levemente surpresos com a aparência dela, se é isso que desejam saber. — Robert respondeu despreocupadamente, o que não contentou os irmãos. Ele iria acrescentar algo, mas Lord Pembroke entrou na sala. — Fale o que você achou, Mary.

A princesa mais jovem assustou-se momentaneamente com abrupta responsabilidade, ainda mais quando o barão bateu o bastão no chão:

— Sua Alteza, a princesa Cathrine da Dinamarca e Noruega!

— Ela não é o que estávamos esperando. — Muito rapidamente, a tempo das portas duplas serem abertas, Mary respondeu. Como…?

Lenta e orgulhosamente, a princesa Cathrine da Dinamarca e Noruega entrou na sala branca, onde toda a corte curvou-se em reverência a ela. A princesa... ela realmente não era como o imaginado. Não era uma grande beleza como o príncipe Wilhelm, nem mesmo chegava aos pés da marquesa Katherine, uma beleza inferior até mesmo a dos irmãos Bristol...

Com os olhos fixos na princesa, que a cada instante ficava mais próximo, Richard reprimiu esses pensamentos. A aparência da princesa Cathrine não importava, pois, mesmo não tendo uma estonteante beleza, ela era linda! Irradiava de uma inocência e pureza que encantava. Ele não conseguia parar de encará-la. Inerentemente, o marquês desceu um degrau, ficando mais próximo dela...

Finalmente, após uma caminhada angustiante, a princesa Cathrine chegou em frente ao marquês e fez uma longa mesura. O marquês, descendo até a noiva, estendeu uma mão para ajudá-la. Nesse momento, quando ela estava levantando, os olhos deles se encontraram. O azul profundo de Cathrine, tal como um oceano, encontrou o gélido azul claro de Richard, como... o encontro entre o oceano quente e frio.


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Notas finais do capítulo

* Uma coisa, eu não lembrava que tinha preparado esse capítulo, mas aqui está ele. Richard e Cathrine tiveram seu primeiro encontro... será um felizes para sempre bem difícil, digo logo.

* Vamos as amenidades, durante as Guerras da Coalizão, basicamente desde 1792 e 1815, a Europa esteve em constante guerra, durante esse tempo a moda mudou bastante, mas havia uma grande diferença entre a moda francesa e inglesa. Pode-se dizer que os vestidos ingleses eram mais cheios que os franceses nesse final de século. Isso acontecia basicamente por causa da guerra e da interrupção entre o comércio inglês e francês.

* Eu disse que Lady Carlisle colocou muito rouge em Cathrine, fiz isso não porque as inglesas usavam muito rouge, mas porque Lady Carlisle viveu grande parte da juventude do pico da Era Georgiana. Cabelos esculturais, vestidos de corte longos e muita maquiagem, é como se ela não tivesse deixado realmente todo o passado para trás.

* Vamos aos cachos. Esse foi o período onde as mulheres mais usaram cachos, tanto que eram cartunizadas. É interessante como, na maioria das vezes, a mídia tira cachos das mulheres nesse período.

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