Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 4
3. Estou ansioso... Sinto como se estivesse prestes a desmaiar.




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14|10|1798 Palácio de Hampton Court, Londres

Os criados dos Tudor-Habsburg, em total silêncio e com cabeças baixas, saiam da sala de desenho trazendo bandejas prateadas cheias de doces, porcelanas e bules de chá. Com suas expressões estoicas, passos ligeiramente apressados e posições ordenadas, eles pareciam mais um pequeno exército que um grupo de empregados. Não era uma visão anormal, entretanto, afinal, não falar, não olhar, não tocar e não aparecer eram as principais regras deles, mas hoje era diferente.

Com o chá em homenagem a princesa Mary no início da tarde e o casamento do marquês marcado para a mesma noite, tudo em Hampton Court estava muito mais rápido e atarefado que o normal. O palácio deveria estar praticamente perfeito, desde os jardins até as salas de estado deveriam estar preparadas para receber a princesa Cathrine, a nova marquesa, e a comitiva dano-norueguesa.

E, francamente, a princesa Anne não era a mais flexível das senhoras...

— ... diga também a Sra. Enscobe que as taças de cristal da imperatriz Anna serão usadas apenas pela realeza reinante em St. James. — Ou seja, eles mesmo e a família real. Camilla Neville escutava e, quando Anne a encarava, assentia obedientemente com tudo que era dito. — Nossos amados, e depostos, primos Orange devem usar o dote enviado em 1740...

Sentados um pouco mais afastados, os outros irmãos escutavam com sorrisos divertidos todas as ordens de Anne. Era impressionante como ela era obcecada com ordem e perfeição. Richard, que tinha consigo uma xícara de chocolate quente, encarou a irmã, bebeu um pouco de chocolate e negou aos irmãos.

— Teríamos em casa uma irmã ou um general do exército? — Robert quase engasgou com um doce ao ouvir Richard, enquanto Mary apenas negou sorrindo. Mas era verdade, o marquês riu e acrescentou zombeteiro: — Porque, francamente, até um deles teria medo dela... talvez medo seja uma palavra muito forte, mas vocês entenderam.

— Poderíamos até fazer uma petição ao rei: dar um exército para Anne e enviá-la a França. — Ainda rouco por conta do doce, Robert disse ainda mais zombeteiro. Embora tentado a rir, Richard encarou cético o irmão, que assentiu com tola veemência. — Dou como certo que dentro de um mês a república francesa seria substituída por uma monarquia.

— Tão fácil quanto vencer a Fortaleza de Luxemburgo, não? — Sorrindo inocentemente para frente, Mary respondeu irônica, o que não a impediu de receber uma careta do irmão. Logo, porém, após pegar mais um chocolate, ela deixou a ironia. — Vamos deixá-la em paz, por favor, ou nós que iremos sofrer. Por que será que ninguém comeu dos chocolates suíços?

— Sobrou mais para nós, Mary, — Alegre como uma criança, Robert pegou para si a bandeja, anteriormente quase intocada, com chocolates. — isso que importa. O paraíso doce é nosso.

Novamente negando, o marquês riu e bebeu do chocolate quente. Todas as sobras do chá eram deles, realmente, mas isso dificilmente significava que eles poderiam aproveitar plenamente tudo. Richard olhou um momento para Anne, que ainda dava ordens a Srta. Neville... parecia até não ter fim! E voltou aos irmãos.

— Esse dia ainda não acabou, vocês sabem, não é? — Robert e Mary apenas assentiram calados. Eles realmente... o marquês sorriu tensamente. — Hoje é o dia do meu casamento!

— Lembramos perfeitamente disso, não precisa ficar preocupado, Richard. — Não? Ele levantou uma sobrancelha. Robert respondeu tão despreocupado que foi duvidoso. O príncipe, porém, revirou os olhos e apontou a xícara. — Por que você não bebe seu chocolate quente e relaxa, irmãozinho?

— Porque ele sabe que deve manter-se limpo para daqui a pouco, ao contrário de vocês dois, com certeza! — Fazendo Richard fechar dolorosamente os olhos e eles levantarem assustados, Anne falou altamente ao aproximar-se. Pegando uma xícara de chá, ela sentou entre Robert e Mary. — E se a princesa encontrá-los sujos? Não quero nem imaginar o que ela vai pensar!

— Talvez ela pense, corretamente, que gostamos de chocolate. — Ao beber do chá, a princesa mais velha revirou os olhos ao comentário de Mary, que riu e comeu o chocolate. — Mas você fez bem em mencionar a princesa, Anne. Poderia trazer meu xale, Emma?

A Srta. Emma Caroli fez uma mesura e saiu da sala, deixando para trás os irmãos Bristol em silêncio. Que situação, esse pedido de Mary sinalizava que estava chegando a hora... tudo hoje mostrava que a hora estava chegando. Suspirando fortemente, Richard bebeu o resto de chocolate quente que havia na xícara e fitou Anne, que encarava fixamente os chocolates na bandeja.

— Parabéns pelo seu esforço na preparação desse casamento, Anne. Parece até uma segunda anglicização, já que a primeira foi um desastre. — Fazendo uma triste careta ao lembrar, Richard balançou a cabeça. Melhor esquecer 1794. Anne, porém, apenas assentiu encarando pensativamente o chocolate. — Eu já disse antes que tenho pena dos nossos criados?

Agora o marquês conseguiu a real atenção da irmã, que o encarou ofendida. Robert e Mary também começaram a rir, enquanto Richard apenas deu os ombros e sorriu pedindo perdão.

— Dos criados? Você deveria ter pena de nós mesmos, irmãozinho! — Entre risadas, Robert falou num sorriso malicioso, fazendo então uma carranca surgir no rosto da princesa. — Nós que somos as maiores vítimas da última maldição de Anne na família!

— Sua opinião é irrelevante para mim, Robert! Lembre-se que a última Anne foi cunhada da rainha.

— Não que isso seja muita coisa. — Para a maior indignação de Anne, Mary comentou indiferentemente. Richard e Robert começaram a rir altamente. Porém, antes de qualquer resposta, a Srta. Emma voltou com o xale. — Creio então que está na hora, irmãos. Que animação!... As carruagens já estão prontas, não estão?

— Claro que estão, meu "perfeccionismo" providenciou elas. — Levantando com Mary, Anne respondeu encarando orgulhosamente Richard e Robert, que também levantaram. Logo depois, porém, ela agarrou um chocolate da bandeja. — Eu sabia que faria isso, é impossível resistir a tentação.

Mas que mal um único chocolate poderia causar? Revirando os olhos, o marquês negou e seguiu os irmãos para fora. Os quatro estavam em silêncio, presos nas preocupações e expectativas desse casamento, tornando assim o ambiente perfeito para os próprios medos e expectativas de Richard aflorarem. Porque... Jesus Cristo, ele iria casar nesta noite! A respiração de Richard começou a pesar drasticamente.

Por quê? Por que disse agora!? Quando chegou pela manhã o anúncio de que a princesa havia aportado em Greenwich e, em seguida, que apenas esperava as ordens para desembarcar, Richard não sentiu nada, ou melhor, nada diferente de curiosidade e expectativa. Agora, porém, isso mudou, era como se ele pudesse morrer a qualquer instante, ou pior ainda, morrer assim que a visse.

Seria essa a tal sensação da "ficha cair"? Bem, seja o que fosse, estava fazendo Richard sentir-se terrivelmente ruim, ao mesmo tempo que também muito curioso. Foi uma pergunta feita tantas vezes antes, mas ainda assim, como seria a princesa Cathrine?

— Não sejam inconvenientes, nem pareçam muito surpresos ou decepcionados. — Caso houvesse motivo, claro, mas... Richard suspirou fortemente, não haveria. Colocando um sorriso no rosto, ele apertou a mão de Mary e depois o ombro de Robert. — Caso a princesa não fale inglês, usem dinamarquês ou alemão, sei que pelo menos um desses ela fala.

Os dois mais novos assentiram e em seguida entraram na carruagem. Logo uma longa fila de seis carruagens saiu de Hampton Court rumo a Greenwich. Pois era assim, logo eles iriam finalmente se encontrar. Observando as carruagens afastando-se, Richard suspirou pesadamente. Ele tinha apenas 18 anos, mas já iria casar...

— Espero que tudo dê certo hoje. Não podem haver erros na recepção da princesa. — Como ele, Anne também observa as carruagens partindo, mas ela tinha preocupações diferentes. Richard continuou calado, fazendo Anne estranhar: — Qual o seu problema? Você está parecendo uma coluna grega de tão branco e estoico.

— Estou ansioso, Anne, esse é o meu problema. Sinto como se estivesse prestes a desmaiar. — Havia tantos pensamentos na cabeça dele que era difícil manter-se até de pé. O marquês encarou dramaticamente a irmã. — Acho que vou desmaiar.

Essa última parte foi mais uma brincadeira que realidade, mas não deixava de ser possível. Não mostrando preocupação alguma, Anne simplesmente voltou-se para trás e entrou novamente no palácio.

— A ansiedade é um veneno mortal, Richard, e precisamos do noivo vivo. — Antes, porém, de afastar-se muito, Anne olhou para trás e respondeu. Ele nunca ouviu falar de alguém morrendo assim. — Não desmaie, você sabe que tem irmãos muito malvados.

Do pior tipo possível. Richard não aguentou e riu. Logo ele também seguiu a irmã para dentro, era preciso se arrumar para o encontro com a princesa Cathrine. Porém a ansiedade continuava, assim como a cada instante tornava-se maior.

*****

Aportados desde a madrugada em Greenwich, os passageiros e tripulantes do KDM Arveprins Frederik apenas esperavam o momento de desembarcar do navio. Desde o final de setembro eles estavam viajando, passando desde a mais pura calma, até uma terrível tempestade. Foi uma viagem horrível, principalmente considerando que o Arveprins era um navio de guerra, não viagem, mas finalmente tinha acabado.

Quando Cathrine acordou pela manhã e soube que eles haviam chegado, ela não aguentou a animação e correu ao convés a fim de ver a cidade. E foi nesse momento que Cathrine descobriu o novo mundo que a esperava. Londres... Londres definitivamente não era Copenhagen. Pouco ela viu, de fato, mas haviam mais prédios, pessoas e movimentação. A grande Britannia realmente mostrava-se superior.

Mas isso foi pela manhã, agora Cathrine, ao ser vestida pelas aias a fim de encontrar-se com o marquês, tentava ao máximo não mostrar os reais sentimentos que sentia... o que estava sendo terrivelmente difícil! Ela iria casar... não, ela logo conheceria o marido! Havia alguma possibilidade de não sentir ansiedade?

— Minha respiração agradecerá muito quando finalmente sairmos desse navio e conhecermos a cidade. — Causaria uma renovação. Helene e Marie riram, mas apontaram em seguida a penteadeira, o cabelo dela seria arrumado. Cathrine obedeceu encarando o reflexo das amigas. — Vocês também permanecerão em Londres, não é? Digam que irão, por favor.

— Faremos o que a senhora desejar, não importa o que seja. Podemos até nos casar com nobres ingleses, caso queira. — Cathrine sorriu docemente para Helene e apertou a mão dela. Um pedido desses nunca poderia ser feito. A baronesa assentiu tristemente e voltou ao cabelo. — Minha princesa está tão bela, o príncipe com certeza vai se apaixonar no mesmo instante que vê-la.

Cathrine riu levemente, enquanto Marie, muito realista em tudo, simplesmente revirou os olhos. Em certos momentos era bom criar sonhos e ilusões, poderiam fazer um tremendo mal, com certeza, mas também distraía maravilhosamente. Se bem que... a princesa suspirou, a realidade também deveria ser vista.

— Não acho que aconteça exatamente assim, Helene. Tudo é um processo. — Mesmo o coração mais sonhador precisaria reconhecer isso. A aia, porém, apenas deu os ombros. Cathrine suspirou e encarou fixamente o próprio reflexo. — Estou tão ansiosa, para tudo no caso! Queria tanto eles todos aqui comigo, mas infelizmente não é possível.

— Todo o seu passado Oldenburg deve ficar para trás. — Cathrine assentiu lentamente as palavras da baronesa.

— Eles ainda estão com a senhora, fisicamente não, mas no coração com certeza. — Soando muito mais doce que o normal, fazendo até a princesa encará-la surpresa, Marie tentou consolá-la. Porém, graças ao Cristo, o assunto mudou: — Eu descobri algumas informações interessantes sobre a família do príncipe, Cathrine. Curiosa?

Imediatamente Cathrine franziu o cenho e voltou a encarar Marie, mas não com a mesma expressão surpresa de antes, agora a princesa tinha no rosto muita confusão. Informações?... Descobriu!?

— Mas ninguém aqui conhece os Tudor-Habsburg, pelo menos ninguém da minha comitiva. Como você conseguiu essas "informações"? — Pega de surpresa, a dama corou violentamente e abaixou a cabeça. Foi o suficiente! Cathrine arregalou os olhos e arfou surpresa. — Oh, meu Deus, Marie, por favor!

— Diga tudo, e nem ouse negar para nós, esse olhar entrega tudo! — Antes de qualquer negação, Helene perguntou cheia de malícia. Marie negou, mas isso não bastou: — Quem é? Quando foi? Vocês...

— Calada, Helene! Se você quiser ouvir, me dê espaço para falar! É o ajudante do capitão... — Aquele jovem que tinha o rosto de um menino com 15 anos? Não conseguindo conter, Cathrine e a baronesa começaram a rir altamente. — Não riam! Ele tem...

— Muitos cravos e espinhas no rosto. — Deixando a aia ainda mais vermelha, Cathrine comentou aos risos. — Francamente, Marie, eu pensava que os marinheiros aparentavam mais do que tinham, não o contrário.

— Não vou negar que ele parece uma criança, nem que é feio. Estou apaixonada, não cega. — Era aliviante saber que ela tinha essa consciência, a princesa negou divertida. Marie, porém, sorriu extasiada. — Mas ele fala palavras tão belas, além de ser muito gentil.

Definitivamente, uma tola apaixonada. Novamente Cathrine riu da amiga, que virou rapidamente o rosto envergonhada. Isso era muito difícil de acreditar, a sempre tão razoável e prática Marie von Plessen apaixonada, e por um jovem inferior, ainda por cima. Seria um sinal de como seria o casamento dela?... Oh, Cristo, o casamento...!

— Não quero nem saber como o marechal von Plessen vai reagir aos descobrir isso. Certamente vocês terão que fugir e só voltar quando... — Quando? Tanto Cathrine, quanto a irritada Marie voltaram-se para Helene, que parecia pensativa. — Você nem disse o nome dele! De qualquer forma, só voltarão quando ele se tornar almirante e fizer uma bela fortuna.

— Não seja tola, Helene! Eu nunca me arruinaria dessa forma. É uma simples, e passageira, paixão. — Elas acreditavam, realmente, mas as palavras de Marie não impediram as risadas de Cathrine e Helene. A aia suspirou cansada. — Podemos voltar aos Tudor-Habsburg? Basil é um assunto que...

Basil? O nome dele é Basil!? Mas que... — Antes que pudesse acabar, a baronesa ganhou um duro olhar da amiga apaixonada. Helene sorriu tensamente. — exótico. É um nome bem exótico.

— É bom que seja mesmo. Pior que um marinheiro feio, é um marinheiro feio e nascido nas colônias. — A princesa negou para todas essas expressões da amiga... embora não deixasse de ser verdade. Essa negação, porém, fez Marie voltar-se a ela. — Agora retornemos aos Tudor-Habsburg. Você não vai acreditar no que Basil disse, Cathrine.

E o que ele poderia ter dito? Ela sabia que era uma família criada por mulheres, cuja principal matriarca foi uma Santa Imperatriz. Na Inglaterra, eles detinham o marquesado de Bristol, que poderia passar para mulheres. O marido da segunda marquesa havia ganho um principado da imperatriz Maria Theresa. Richard, que tornou-se príncipe alguns meses após nascer, começou a governar sozinho há poucos meses. Cathrine, em resumo, sabia o necessário, não era o suficiente?

— Diga-me o que ele disse. — Definitivamente, não era nada suficiente.

Com Helene dando os últimos retoques no penteado, Cathrine fitou atentamente o reflexo de Marie no espelho. Qualquer informação, grande ou pequena, inútil ou útil, seria muito bem-vinda no momento. Talvez até ajudasse ela a controlar toda essa ansiedade, já que lembrar desse casamento estava sendo tão... angustiante.

— Os Tudor-Habsburg são muito impopulares, uma família tão fria que quase já foi exilada. E a marquesa Katherine e o príncipe Wilhelm foram assassinados por revolucionários. — Os olhos de Cathrine imediatamente arregalaram ao ouvir isso. Assassinados? Ela negou, mas Marie não parou: — Após a morte dos pais, o príncipe e os irmãos dele isolaram-se do mundo num tal de Hampton Court…

— Mas... Lord Robert disse que eles morreram num acidente de carruagem. Pessoas belas não são... — Levando uma mão ao pescoço, Cathrine o massageou fortemente. Essa palavra estava como que presa na garganta dela. — Eles não foram assassinados! Você certamente foi enganada, Marie, Basil é um aproveitador.

— Creio que a única pessoa enganada aqui é você, minha princesa. — Cathrine, seguida por Helene, fitou Marie completamente ofendida. Percebendo o erro, a aia imediatamente tampou a boca com as mãos e negou. — Oh, Jesus Cristo! Perdão pela minha ousadia! Eu...

— Não tente remediar, vamos simplesmente esquecer. Tudo isso é uma completa... — A princesa ganhou um assentimento pela primeira parte, antes, porém, dela acabar, uma batida foi ouvida na porta. — Veja quem é, Helene. O meu cabelo ficou bonito?

O assunto anterior estava oficialmente morto com essa pergunta. Cathrine saiu da frente do espelho e afastou-se junto de Marie, que assentiu com um sorriso a pergunta, em direção ao jarro com água que havia numa mesa. E foi nessa ação que eles perceberam algumas mulheres falando algo com Helene na porta. Elas pareciam querer entrar. Por quê?

Após alguma insistência das mulheres, Helene finalmente permitiu a entrada delas. Eram seis, como os ingleses chamavam, damas aristocratas, que irradiavam imponência e muita, mais muito, arrogância. Elas fizeram uma respeitosa mesura a princesa, que quase se sentiu obrigada em retribuir. Cathrine fitou confusamente a baronesa, que não fez nada, apenas apontou:

— Minha princesa, essas... damas foram enviadas pelo príncipe, são suas novas aias. — Mas já!? A primeira reação de Cathrine foi agarrar fortemente a mão de Marie.

— Somos damas de companhia, minha querida, não simplesmente aias. Sua Alteza, é um prazer. — Numa repreensão, seguida por uma segunda mesura, uma dama com expressão mal-humorada, mas de fala muito charmosa, tomou a frente. — Sou Lavinia Spencer, a condessa Spencer, sua primeira dama.

Primeira dama? Damas de companhia? Spencer!? Cathrine deu um passo para trás e negou sem entender nada do que acontecia. Não disseram nada disso antes, Lord Robert FitzGerald...

— Fomos enviadas pela princesa Anne, Sua Alteza, estamos aqui para servi-la. — Percebendo o que acontecia, uma das mais jovens, ruiva e doce, tentou ajudar. Mas Cathrine novamente negou.

— Quem são vocês? — Fazendo o melhor para manter uma composta voz calma, a princesa perguntou. — E por que estão aqui?

A dama ruiva trocou um preocupado olhar com as companheiras, embora essas mostrassem mais frieza, e, voltando-se a princesa, abriu a boca para falar...

*****

— ... a condessa Spencer; a condessa de Carlisle, nossa tia-avó; Lady Beatrice Blount, a condessa de Newport; Harriet Gerald, a condessa de Paston; Lady Georgina Simon, a viscondessa Chartents e Jane Bush, a baronesa Cavenbush, serão respectivamente a primeira dama da marquesa, a dama das vestes, a camareira-mor e as três damas do quarto. — Entrando na sala azul, completamente arrumados, Anne respondeu indiferente ao irmão. — Minhas escolhas foram perfeitas, não?

Uma ironia descarada! Richard negou sem acreditar e deu as costas para a irmã. Pobrezinha dessa princesa, sofreria como se estivesse no inferno.

— Lady Carlisle e Lady Spencer são bastante próximas de nós, não me diga que você colocou elas como espiãs? — A princesa não respondeu, mas, assim que passou na frente dele, assentiu. — Anne, eu deveria…!

— Lady Cavenbush também é uma espiã, se isso lhe consola. — Sentando calmamente no sofá, ela acrescentou. Como isso seria um consolo!? Richard gemeu e passou com força as mãos no rosto. — Precisamos de espiãs, ou como saberemos o que ela faz?

— De qualquer outra forma, Anne, de qualquer outra forma! — Elevando a voz, o marquês respondeu com a paciência acabando. Anne, porém, deu os ombros, indiferente. Richard afastou-se dela e começou a andar impacientemente pela sala. — Lady Chartents? Quem é o visconde Chartents? Não me recordo de nenhum Simon com esse título.

— Ludwig Simon foi feito visconde há pouco tempo. Creio ter sido um presente pela vitória no Cabo de São Vicente. — Apenas assim para um ninguém ser feito nobre. Richard riu irônico. — O pai dele era cavaleiro, sabia? Da Ordem do Cardo. Mas escolhi Lady Chartents basicamente porque ela é irmã de Lord Clasterberg.

Fazia tanto sentido agora, ele negou irônico e sentou a frente da irmã. Muito provavelmente Anne havia feito isso apenas para não ter a própria Lady Clasterberg, uma Lennox sobrinha do duque de Richmond, como dama da nova marquesa. Surpreendente, porém, era ela não ter escolhido Lady Compton como "espiã". Os dois irmãos ficaram momentaneamente em silêncio até que…

— Francamente, Anne, não direi nada sobre suas escolhas. — Serviria para quê, afinal? Anne revirou os olhos, indiferente. Novamente o silêncio instaurou-se, mas Richard, ainda muito inquieto, não conseguiu manter-se calado: — Apenas peço que não interfira, não queremos assustar a princesa.

— Caso necessário, irei sim interferir. — Fitando ele fixamente, a princesa respondeu... ameaçadora!? O marquês franziu o cenho, mas isso apenas deixou ela mais irritada. — Lembre-se que sou a senhora desta casa há cinco...

— Lembre-se que ela é senhora da casa dela há quatro! — Ambas estavam praticamente em pé de igualdade. Anne poderia ser autoritária, mas Richard também poderia perder a paciência e mostrar-se firme.

O marquês encarou a irmã de volta. Essa era uma posição que nenhum deles gostava de estar, principalmente Richard, mas em certos momentos era necessário. Os dois irmãos ficaram nessa luta de olhares apenas por um breve momento, pois logo Anne virou arrogantemente o rosto. Não foi o suficiente para fazer ele deixar a seriedade, estava longe de ser uma vitória.

— Se você faz tanta questão. — Muita questão. Anne suspirou irritada e acrescentou, embora num tom calmo: — Talvez eu possa ceder.

— Eu agradeceria muito, querida irmã.

De forma alguma Richard queria assustar a princesa. Nunca antes um príncipe Tudor-Habsburg se casou com uma princesa estrangeira. Tudo deveria sair perfeitamente, igual a própria Anne dizia. Havia nele, porém, apenas mais uma preocupação, e essa caberia unicamente a ele resolver. Mas era possível esperar. No mesmo silêncio, os irmãos permaneceram na sala azul, apenas quando a princesa chegasse eles iriam para a sala branca.


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Notas finais do capítulo

* Damas de companhia, não é? Esse assunto ainda vai render muitos problemas, principalmente no próximo capítulo, e os subsequentes também. Passando as escolhas, eu realmente quis fazer uma mistura entre o real e a ficção, como eu tanto gosto.

* Só lembrando aqui que Londres realmente era, e ainda é, uma cidade impressionante e grande. Londres estava entre uma das mais modernas e maiores capitais da Europa, ela era a maior cidade da Europa. Então Cathrine realmente teria uma grande surpresa com o lugar.

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