Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 20
19. Homens são muito difíceis de lidar... eles acham que tudo está nas mãos deles.


Notas iniciais do capítulo

* Estou presenteando vocês, queridos leitores, com mais um capítulo na semana, para compensar as semanas que não atualizei a história.



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Final de março|1803 Palácio de Hampton Court, Londres

Na sala de visitas dos Tudor-Habsburg, entrou um pequeno grupo de criados trazendo bandejas com chá e biscoitos, isso foi o suficiente para fazer a marquesa e Mary pararem de conversar e irem se refrescar, mas não Richard. O marquês continuou analisando algumas plantas numa mesa afastada, afinal, que outra opção ele tinha?

Após a ascensão e queda que foi o debute de Mary, o único desejo de Richard era esquecer da Rússia e do inevitável casamento russo — bem como da humilhação que foi praticamente suplicar a Vorontsov que o casamento fosse adiado — e a única distração viável no momento era a construção.

— Quanto chá vocês pediram, serão visitas de cavalheiros ou uma festa? — Assim que os criados saíram, Robert entrou na sala e apontou sarcástico, fazendo Richard imediatamente fechar os olhos em desprazer. Ele não estava com vontade alguma de escutar tolices, porém... — Ainda não entendo porque fazer isso sendo que Mary já está noiva.

Foi uma provocação, sem dúvida alguma foi uma provocação! A primeira ação do marquês foi voltar-se irritado ao irmão caçula, cuja mão estava curiosamente na orelha. Mary, porém, sequer deixando ele abrir a boca, imediatamente respondeu:

— Posso até estar noiva, irmãozinho, mas ninguém sabe disso.

— Ah isso é verdade, ninguém sabe, — Caminhando até um espelho, Robert respondeu, o que resultou em olhares desconfiados. O jovem Kendal, porém, após analisar alguma coisa na orelha, voltou-se para trás e... sorriu afrontoso. — apenas deduzem o óbvio.

Pelo amor de Deus! O marquês revirou os olhos e retornou às plantas. Definitivamente, não havia como esperar nada sério de Robert, seria o mesmo que pedir dinheiro a um mendigo. Kendal, porém, começou a rir da reação do irmão, bem como dos olhares de Cathrine e Mary.

Ouvindo essas risadas, Richard franziu o cenho e semicerrou os dentes, era tanta tolice e ignorância que o deixava irritado, prestes a... ele tentou focar nos projetos. Cathrine, muito diferente de Mary que apenas serviu-se de chá, percebeu a irritação do marido, tanto que voltou-se ao cunhado.

— Infelizmente não podemos negar que você está certo, Robert. — Chamando a atenção do duque, bem como de Mary, a marquesa reconheceu tristemente, apenas para logo em seguida sorrir... provocadora. — Mas não houve anúncio oficial, e noivado só é noivado após o anúncio oficial.

— Não acho que seja exatamente assim...

— Por que você não cala a boca, Robert!? Não vê que está sendo inconveniente!? — Sequer olhando na direção do irmão, Richard exclamou sem paciência. Não houve resposta, então ele virou-se e franziu o cenho ao encontrar Robert ainda no espelho. — O que você está escondendo aí?

Novamente, não houve resposta, escondendo a orelha com o cabelo, Robert apenas voltou-se ao irmão e deu os ombros, sorrindo como sem entender. Tanto faz, Richard revirou os olhos e retornou aos projetos, o que resultou num firme silêncio na sala de visitas. Chegava a ser reconfortante.

Mary, bebendo alegremente uma xícara de chá, esperava pela distração que seria os cavalheiros; Cathrine folheava distraidamente um livro da cunhada e Robert... este aproximou-se lentamente do marquês, apenas para bisbilhotar as plantas. Richard encarou então o marquês, que negou sorrindo. Era bom mesmo ele não falar nada.

— O que você tanto olha aí, Richard? Parece com Goldenhall. — Porém, para a surpresa de Richard, foi Mary quem falou, fazendo ele arquear uma sobrancelha para ela. — Não me olhe assim, antes mesmo de eu chegar você já estava aí.

— Mary está com a razão, Richard. — Por Deus, era uma conspiração!? Cathrine também comentou, levantando-se e aproximando-se deles. O marquês negou e retornou aos projetos. Porém a marquesa o encarou fixamente. — Logo Goldenhall estará completamente concluído e... você não mudará nada, não é?

Mudar!? Assim parecia até que ele era um indeciso! Richard encarou a esposa e abriu a boca para protestar, porém ele caiu no erro de também olhar para Robert, com seu olhar irônico, e Mary, nada convencida. Mas que coisa, isso tudo só porque ele mandou aumentar o tamanho de Goldenhall antes!?

— Esse olhar, esse seu silêncio, sinto mudanças vindo. — Atrás dele, Robert zombou. Era preferível não responder, tanto que o marquês revirou os olhos.

— Goldenhall será concluído em breve, isso é certo. Falta apenas a parte interna. — Que, ao contrário do exterior, não estava nem rococó e muito menos bela. Richard suspirou cansado. — Estou tendo apenas alguns problemas com os espelhos venezianos. Parece que Veneza está com dificuldades comerciais.

Não era surpreendente, de qualquer forma, a República Veneziana existiu mais de mil anos apenas para ser rebaixada a província dos Habsburg, e como moeda de troca, ainda por cima. Na verdade, toda a Itália deveria estar com problemas. O marquês balançou a cabeça e voltou a analisar os desenhos da galeria.

Quem também aproximou-se para ver a galeria foi Mary, cujos olhos brilharam ao imaginar como seria, porém... havia uma pontada de tristeza. Richard franziu o cenho ao ver isso, também compartilhando esse sentimento com a irmã. Talvez ela nunca visse Goldenhall concluído.

— Pergunto-me o que os espelhos venezianos mostram, que os ingleses não? — Fingindo uma certa inocência, Robert comentou... e sorriu. Richard tentou não mostrar afetação, mas não deu. — Ah, perdão, Richard, sua Galeria dos Espelhos será magnífica.

Uma crítica, muito mal velada, de fato, mas perceptivelmente uma crítica. Tudo bem então, o marquês também sorriu para o irmão e deixou à vista alguns outros projetos. Esses fariam Robert andar pelas paredes, com certeza.

— Fico muito feliz de saber sua opinião, Robert, e creio que você também gostará bastante dos outros. — O jovem Kendal arqueou uma sobrancelha, curioso com esse "outros". Como o planejado, Richard sorriu e entregou dois desenhos ao irmão. — Vamos reformar a Fürstliche Oper, assim como construir terraços em Goldenhall.

Os olhos de Kendal arregalaram, fazendo com que Cathrine e Mary se aproximassem para olhar também. O marquês respirou fundo e sorriu vitorioso, ele também sabia brincar de irritar. Eram dois projetos bem ambiciosos, a Fürstliche Oper de Niedersieg dobraria de tamanho e capacidade, seria praticamente um novo prédio. Já os terraços de Goldenhall...

 

— Eu... não vou dizer nada. — Passando os desenhos para Cathrine e Mary, Robert negou e fitou o irmão. — Mas por que você quer construir uma cidade, Richard!?

— Mas não é uma cidade, apenas uma simples área residencial. — Quatro praças jardins, algumas ruas e muitos terraços de estuque e pedra Portland. Seria grande e ambicioso, mas... Richard deu os ombros. — Se os Grosvenor e os Russell podem fazer isso em Londres, certamente que podemos fazer o mesmo em Bristol.

— Vejamos qual o resultado. — Robert respondeu sorrindo desafiador, e o marquês sorriu da mesma forma.

A questão era que Richard queria deixar uma marca no mundo, algo visível e que fizesse todas as futuras gerações lembrarem dele. Adam era tão frágil e fraco que... Richard balançou a cabeça, mesmo lembrando que príncipes sem herdeiros eram facilmente esquecidos.

Novamente balançando a cabeça, tentando ao máximo não pensar nessas tolices, Richard pegou novamente os desenhos. Porém foi no mesmo instante que Robert virou-se para olhar as horas. O marquês franziu o cenho ao ver na orelha do irmão... algo dourado?

 

— O que é isso na sua orelha? — Semicerrando os olhos para ver melhor, o marquês perguntou. Robert tentou negar, mas Richard agarrou ele e tirou o cabelo da frente. — Um brinco?

— Não, não é um brinco, — Afastando-se do irmão, Robert respondeu. Cathrine e Mary também olhavam para a orelha dele. — é uma argola.

— Espero que você não tenha roubado isso de nós. — Sequer mencionando que não havia muita diferença entre um brinco e uma argola, Cathrine comentou irônica e franziu o cenho. — O que deu em você para usar uma coisa dessas?

— Eu vi por aí um cavalheiro usando e achei legal. Pareço até um corsário. — Corsário? Richard riu consigo mesmo. Estava mais para pirata, deve ter sido isso que Robert viu, um pirata na forca. Robert foi até um espelho e flexionou os músculos. — Eu fiquei tão atraente, não foi?

— Ficou ridículo, isso sim! Cuidado ou o próximo que mandarão a forca será você! — Mary riu zombeteira, fazendo Richard e Cathrine também rirem. Robert fez uma careta. — Cuidado também para não inflamar, ou a sua orelha vai cair.

Uma coisa dessas seria possível? Em seu lugar, Richard riu do irmão, principalmente quando ele levou preocupado uma mão a orelha. O jovem Kendal, porém, logo fez uma careta e afastou-se deles.

— Eu não... vou logo para o meu clube. — Richard, assim como Cathrine e Mary, riram e, assentindo, acenaram em despedida. Robert deu as costas. — Lá tem quem aprecie a minha companhia.

— E o dinheiro também. — Principalmente o dinheiro. Mas Robert continuou em direção à porta, até que Richard zombou: — E lembre-se de escolher uma dançarina limpinha, não sou apenas eu que precisa ter filhos.

— Oh irmãozinho, as minhas sempre são as melhores. — Nem mesmo olhando para trás, o duque responde e deixou a sala.

Ao marquês coube apenas negar e voltar aos projetos. Dizia-se que garotos eram problemáticos dos 13 aos 18 anos, mas Robert mostrava-se um ponto fora da curva, pois logo ele seria homem e ainda era problemático. Talvez isso mudasse com o tempo... ou talvez não, Richard duvidava muito.

O silêncio, porém, não retornou com a saída do duque de Kendal. Enquanto Mary observava o projeto da Fürstliche Oper, Cathrine encarava fixamente o marido, e fazia isso com uma expressão tão... incomodada? Richard encarou preocupado a esposa.

— Algum problema, Cathrine? — Ela sentia alguma coisa? Pelo tempo que ela demorou a negar, talvez. Richard franziu o cenho.

— Eu... aquilo que você disse a Robert sobre... — Sobre? Richard esperou ela continuar, mas Cathrine... pareceu até reconsiderar o que dizia. Suspirando, ela negou. — Apenas não entendo porque vocês não conseguem ter uma conversa normal, sem qualquer troca de farpas.

— Não é como se eu quisesse que sempre fosse assim.

— Mas, ainda assim, você poderia fazer algo a respeito. — Cathrine continuou nesse assunto, nada satisfeita com a resposta dele.

— Hmmm. — Foi apenas isso que Richard "falou", não desejando briga.

O objetivo dele, pelo menos, era evitar qualquer tipo de discussão, mas acabou causando em Cathrine uma expressão ofendida. Mas o que era isso!? Robert era cunhado dela, não filho. Richard revirou os olhos e virou o rosto, o que foi a gota d'água para Cathrine.

— É assim que você me responde, Richard!? Nem uma sílaba isso é direito! — Definitivamente, Cathrine havia perdido a paciência. Ela negou e começou a andar. — Como você planeja falar com nossos…!

— Eu já disse que não posso fazer nada, Cathrine! Entenda, por favor! — Richard elevou logo a voz, em certos momentos só assim dava para falar. A marquesa, porém, encarou o marido com descontentamento. — Tem certeza que estamos falando de Robert...!?

— Já chega disso! — Deixando as plantas de lado, Mary exclamou num tom censurador. Foi o suficiente para eles se calarem. — Não quero mais escutar discussões tolas, os cavalheiros logo irão chegar e quero parecer minimamente feliz.

— Pois vamos deixá-la feliz, Mary, com prazer. — Levantando-se da cadeira que estava, Richard respondeu e começou a recolher as plantas e desenhos. — Irei para o escritório, com licença.

Em certas situações, o melhor seria deixar passar. A marquesa deu as costas ao marido e sentou-se num sofá, voltando a folhear distraidamente um livro. Assim seria melhor, com certeza. Richard, já com suas coisas, foi então em direção a porta, porém...

— Irei procurá-lo quando chegar a hora de irmos ver Adam, Richard. — Cathrine avisou, embora ainda encarando os livros, Richard apenas assentiu e saiu da sala.

*****

O silêncio que instaurou-se na sala de visitas após a saída de Richard só acabou quando Mary sugeriu que elas tomassem chá. Cathrine prontamente aceitou a sugestão, para o alívio da princesa mais jovem, e sentou-se mais perto dela. Ainda no silêncio, Mary preparou delicadamente o chá da cunhada: muito açúcar, pouco leite e nada de limão.

— Ainda não consigo entender como você consegue tomar o chá assim. — Mary comentou ao entregar a xícara para Cathrine, que deu os ombros. A princesa sorriu de lado. — É tão doce que parece até mel.

— É preciso adoçar a vida, principalmente quando ela é tão amarga quanto a minha. — Havia uma certa dor nessa frase, mas a marquesa negou e bebeu o chá.

O sorriso de Mary tremeu ao escutar a cunhada, o que dizer numa situação dessas? Ela fitou então a própria xícara e... simplesmente mudou de assunto:

— Não sei se já disse isso antes, mas acho muito bonita a relação de vocês dois. — Foi o suficiente para conseguir a atenção da marquesa. Mary sorriu docemente e continuou: — Mesmo discutindo, você e Richard sempre mostram uma grande preocupação um com o outro. É louvável.

Apesar de não parecer, Mary sabia de todas as crises e discordâncias que existiam nessa família, entre Richard e Cathrine. Na maioria das vezes ela mantinha-se calada, mas não eternamente. Porém quem estava calada agora era a marquesa, que apenas encarava a cunhada.

— Homens são muito difíceis de lidar, Mary, eles acham que tudo está nas mãos deles, o que nem sempre é o caso. — Era um aviso ou um desabafo? Mary piscou confusa, porém Cathrine logo suspirou e "sorriu". — Mas, apesar de tudo, Richard e eu gostamos muito um do outro, e não será uma ofensa que mudará isso.

— Ofensa? — Franzindo o cenho em confusão, a princesa repetiu, fazendo Cathrine arregalar os olhos, como se pega numa... mentira. — Mas tudo aquilo não foi por causa de uma dis...

— Adam, temos que permanecer unidos por Adam. — A desconfiança de Mary apenas cresceu com essa interrupção de Cathrine. Porém tornou-se pena quando a marquesa fechou dolorosamente os olhos. — Nosso filho é tão doente e... é o único que temos. Talvez seja frieza da minha parte falar isso, mas sem ele, nós não temos nada.

— É normal crianças ficarem doentes, principalmente quando a criança é um menino como Adam. — Sorrindo calmamente, Mary tentou tranquilizar a cunhada, mas a única coisa que ela ganhou foi um fraco sorriso. — Não fique excessivamente preocupada. E com certeza mais filhos...

— Mais filhos virão, eu já conheço o dizer. — Cathrine cortou impacientemente, negando logo em seguida. — Vamos ver então, pois às vezes até mesmo eu duvido da minha capacidade de ser mulher.

Os filhos eram a garantia da lembrança, mas... era triste isso. A princesa não esboçou reação, enquanto Cathrine apenas sorriu e riu, não um sorriso feliz, mas sim tenso e preocupado. Ela até tentou esconder, mas Mary sabia reconhecer sentimentos falsos, era fácil percebê-los quando você vivia com uma máscara de alegria e inocente doçura.

Porém, isso com certeza era muito egoísmo da parte dela, Mary sentia-se até satisfeita com isso. Na posição dela, prestes a ser sacrificada ao Ceto, era bom ver que contos de fadas não existiam, nenhum casamento era perfeito. Mary e Konstantin seriam terrivelmente infelizes... a princesa suspirou e voltou a beber do chá.

Não demorou muito e Lady Spencer entrou na sala de visitas, as outras damas já estavam presentes, mas eram quase invisíveis, como se nem lá estivessem. De qualquer forma, a condessa avisou que...

— O primeiro cavalheiro chegou. — Foi o bastante para fazer Mary correr ao espelho, onde além de arrumar o cabelo, ela deixou mais fraco o ruge nas bochechas e lábios. A maquiagem forte ficou nos séculos passados, a moda agora era ser naturalmente bela.

Cathrine caminhou calmamente até o piano, onde ela sentou e começou a tocar uma doce melodia. Muito bem, Mary respirou fundo e sentou num sofá à frente da porta, bem como sorriu belamente. Não seria apenas conversas, não era apenas corte, mas sim um grande jogo de omissão e beleza.

Logo, porém, Lady Cavenbush entrou na sala, sendo imediatamente seguida pelo irmão do 4⁰ duque de Clifton. Mary imediatamente levantou, uma ação que Cathrine também fez.

— Lord Pitt Sarlen veio ver a princesa Mary, minha marquesa. — A baronesa anunciou, saindo da frente logo em seguida. O cavalheiro deu alguns passos para frente, apenas para logo em seguida fazer uma mesura as realezas.

— Ficamos muito felizes por sua visita, Lord Pitt. — Com as palavras da marquesa, o cavalheiro levantou, assentindo em agradecimento. Mary e Cathrine trocaram um olhar, então a mais velha disse: — Espero que não fique incomodado se eu apenas tocar hoje.

— Jamais, Sua Alteza Sereníssima, estamos na sua casa, afinal de contas. — Dito isso, o irmão do duque voltou-se à princesa.

— Você é o primeiro hoje, Lord Pitt, és então o mais especial. — Aproximando-se do cavalheiro, Mary falou sorrindo, o que fez ele corar, mas rir logo em seguida. — Espero que não tenha sido sacrificoso para o milorde está aqui. Sei como o parlamento é difícil e... não quero ser um fardo para ninguém.

Entristecendo o sorriso e olhando para baixo, a princesa disse, embora nunca perdendo a doçura. No caso de Mary, essa era a receita para ser amada: mostrar sempre muita doçura. Lord Pitt, porém, negou e aproximou-se mais ainda dela.

— Nunca é um sacrifício vê-la, minha princesa. — Lord Pitt pegou então a mão de Mary e sorriu. — É maravilhoso, na verdade.

Após essas palavras, Lord Pitt levou a mão dela aos lábios e a beijou castamente. Mary sorriu encantada, mas rapidamente soltou-se dele e deu as costas. Melhor ele não ver que isso dificilmente faz ela corar.

— Lord Pitt, assim o senhor me constrange. — Num tom tímido, embora a expressão dela estivesse longe disso, Mary respondeu e então sorriu ao cavalheiro. — Sinto-me lisonjeada, o milorde é muito gentil.

Mary sentou e apontou para o lado dela no sofá, como se fosse um cachorrinho, Lord Pitt imediatamente sentou. Seria uma conversa bastante agradável, mas ela deveria lembrar de sempre rir, assentir e virar timidamente o rosto. Porém não tardou muito e outros cavalheiros começaram a chegar.

*****

— Está linda... não, mais que linda, — Sorrindo galanteador, o honorável Charles Stewart pegou delicadamente a mão de Mary e começou a massageá-la. — minha princesa está espetacular.

A resposta de Mary foi um sorriso lisonjeado, que fez então o cavalheiro tentar beijar a mão dela, porém a princesa afastou a mão e imediatamente levantou-se do sofá.

— Sr. Charles! Assim o senhor me coloca numa posição delicada. — Num tom ofendido, porém ainda muito tímido, Mary censurou o filho do 1⁰ conde de Londonderry. Ainda de costas aos sete cavalheiros, ela então disse: — Devo ser vista e adorada, não tocada e... não consigo nem falar.

— Beijada? Oh minha princesa, tenha certeza que todos desejam tocar os seus lábios. — Mary arregalou os olhos e voltou-se surpresa ao honorável Magnus Elton. Seria hereditária a loucura dos barões Hagen? O cavalheiro aproximou-se dela. — Um beijo seu seria... como beijar um querubim celestial.

A princesa franziu o cenho, negando logo em seguida e afastando-se. Querubim? Observando tudo do piano, Cathrine tentou segurar uma risadinha. Deveria ser até uma ofensa aos Tudor-Habsburg ser comparados a querubins, afinal, esses anjos estavam abaixo dos serafins. Mas a marquesa continuou a tocar e sorrir, bem como assistir.

Estava muito divertido assistir a corte desses sete cavalheiros, parecia até uma comédia de tão engraçado que estava. Mas... ainda tocando, Cathrine sorriu para o Sr. Dalton Wandes, ela também tinha assistência.

— Por favor, cavalheiros, não firam a minha virtude com... tais insinuações! — Dramática como uma atriz, Mary exclamou e afastou-se na direção de um recamier. Os homens também levantaram e, mesmo a distância, foram atrás. — Odiaria destruir minha honra e... a carreira dos cavalheiros!

Com a expressão mais chorosa possível, a princesa sentou-se e escondeu o rosto num dos braços do recamier. Foi o bastante para tocá-los, alguns até franziram o cenho em preocupação, tanto que todos os sete aproximaram-se dela. O marquês de Douglas e Sir Ronald Axwell, o 2⁰ baronete, sentaram-se, respectivamente, ao lado e atrás da princesa.

Mas... por Deus, isso era impressionante! Mary parecia tê-los na palma da mão, o que uma expressão melancólica e um sorriso doce não poderiam fazer? A vontade de Cathrine era assistir tudo com muita atenção, até rir, porém ainda havia o piano... e Wandes.

— É impressionante a visão da senhora tocando, minha marquesa! — Dalton Wandes, sorrindo extasiado próximo ao piano, comentou encantado para Cathrine. — És como Euterpe tocando a flauta dupla, agindo como patrona e deleitosa inspiração aos poetas que a adoram com...

Cathrine errou, deliberadamente, uma nota, fazendo Dalton Wandes fechar dolorosamente os olhos. Melhor ele ficar calado mesmo, poderia até não perturbá-la. Sorrindo satisfeita, a marquesa voltou a tocar, bem como escutar.

— Não chore, minha princesa, nem mesmo pense que é culpada por algo, pois somos apenas nós. — Seguindo o exemplo do marquês de Douglas, os outros cavalheiros assentiram. Mary, porém, continuou escondendo o rosto, tanto que Alexander Hamilton tocou no ombro dela. — O que devo fazer para perdoar-me?

Com a menção da frase "o que devo fazer?", Mary deixou o braço do recamier e encarou fixamente o herdeiro do duque de Hamilton e Brandon. Cathrine virou-se imediatamente na direção deles, bem a tempo de presenciar Mary estendendo a mão ao marquês e ordenar:

— Beije-me. — Em outras palavras, ame-me, adore-me... ou melhor ainda... sirva-me.

Sem qualquer tipo de receio, Lord Douglas pegou a mão de Mary e a beijou. Cathrine arregalou os olhos com essa imagem, muito surpresa com tamanha ousadia, mas não o suficiente para não deixar de se surpreender quando Charles Stewart empurrou Lord Douglas para trás e agarrou fortemente Mary contra si.

— Mas o que é isso, explique-se!? — Furioso, como se tivesse até sido traído, Stewart gritou aproximando-se do rosto de Mary, que recuou assustada. — Por que Douglas pode beijá-la e eu não!?

— Sr. Charles Stewart, poderia fazer o favor de comportar-se!? — Cathrine rapidamente levantou-se do piano e buscou resolver a situação. Stewart, porém, não soltou Mary. A marquesa respirou. — Aqui é Hampton Court, não a casa de um nobre qualquer. Lembre-se que o honorável está entre a realeza!

Ela apontou então para a porta, sinalizando claramente que chamaria a Guarda Germânica caso ele não soltasse a princesa. Charles Stewart agora obedeceu, fazendo em seguida uma mesura e deixando a sala. No mais profundo silêncio, Mary voltou a sentar e deu um olhar de agradecimento à cunhada, que apenas voltou ao piano.

Dominar os homens parecia ser maravilhoso, mas havia um perigo nada maravilhoso nisso: homens sabiam se revoltar, e tinham força o bastante para criar um desastre ao fazer isso. A música do piano tornou-se o único barulho na sala, até que...

— Deseja escutar um poema, minha princesa? Fui eu mesmo quem criou. — Edgard Wandes, o sétimo cavalheiro, sugeriu a estóica Mary, que apenas assentiu.

Não muito depois de Edgard Wandes acabar de recitar o poema, claramente escrito pelo irmão mais velho dele, os cavalheiros começaram a ir embora, tanto que logo Mary subiu aos próprios aposentos e Cathrine... bem, ela foi atrás do marido no escritório. Já fazia duas horas e... a ofensa passou.

Sequer batendo na porta, ela sabia que ele não responderia, Cathrine entrou no escritório. Richard estava em pé e de costas, lendo tão concentrado um bilhete que nem mesmo percebeu a presença dela. A marquesa aproximou-se então do marido e falou no ouvido dele:

— Isso é para mim? — Richard voltou-se imediatamente para ela e... sorriu de lado.

— Pode ser, mas apenas se você quiser uma reunião com o rei. — Oh, ela dispensaria então. Percebendo os sentimentos dela, o marquês amassou o bilhete entre a mão e foi em direção a poltrona. — Imagino que os cavalheiros já foram embora.

— De fato, creio que está na hora do conhaque diário deles. — Ao falar isso, Cathrine olhou para um copo de conhaque na mesa e depois para Richard, que sorriu de lado e sentou. Ela foi até uma cadeira. — O rei disse qual o assunto da reunião?

— Os cavalheiros se comportaram? Espero que tenham dado a você e Mary todo o respeito que merecem. — Não foi uma resposta, mas uma mudança de assunto. Cathrine encarou fixamente o marido, até que ele suspirou cansado. — Não é nada que você precise se preocupar, como outro casamento.

Ainda não era uma resposta, não uma desejável. De qualquer forma, a marquesa sentou-se à frente do marido e sorriu docemente. Melhor deixar as coisas como estavam, ele falaria depois de qualquer forma.

— Foram todos uns cavalheiros, como era de se esperar, apenas Dalton Wandes não me deixava em paz com seu "Euterpe, a patrona e maior musa dos poetas". — Melhor não mencionar Charles Stewart. O marquês sorriu divertido, embora logo o sorriso dele tenha virado apenas um fixo olhar. — Alguma coisa lhe incomoda?

Parecia até que ele desejava falar algo. Cathrine encarou fixamente Richard, que apenas abriu a boca, mas fechou em seguida, apenas para abrir e fechar novamente. A marquesa franziu o cenho, por que ele não se decidia logo? Até que Richard olhou para baixo e... finalmente disse:

— Eu... peço desculpas se irritei ou... se te ofendi. — A ação deixou a marquesa com essas palavras, tanto que não houve resposta. Richard, porém, deixando de lado o orgulho, a encarou. — Não era meu objetivo causar dano algum, apenas... apenas me desculpe.

Por Deus, o quão poderoso poderia ser um pedido de desculpas? Ela ainda não conseguiu responder nada, apenas fitou Richard com a boca entreaberta, até que ele virou o rosto e levantou-se, afastando-se para o lado. Cathrine, mais do que ninguém, sabia como uma "derrota" dessas poderia atingir uma Tudor-Habsburg, então ela levantou.

— Mas você nunca irrita ninguém, Richard. — Apoiando-se no braço dele, Cathrine afirmou com doçura. Sequer olhando nos olhos dela, Richard riu irônico. Ela falou novamente, agora com mais certeza: — Você é tão bonzinho, um verdadeiro anjo da paz em nosso meio.

— Queria eu que fosse assim, pois às vezes sinto um imenso ódio no meu coração. — Ódio? Cathrine buscou uma explicação nos olhos dele, mas Richard virou o rosto e... — Robert... desculpe se lhe irritei por dar razão às tolices dele.

Cathrine franziu cenho. Robert? Dar razão às...? Os olhos da marquesa arregalaram, ela lembrou do que disse exatamente na sala de visitas, as reclamações dela sobre a briga de Richard e Robert. Oh Deus, o que ela fez? Cathrine pegou o rosto do marido e, trazendo-o na direção dela, negou veemente.

— Robert gosta muito de duvidar, de desafiar e dizer o que pensa, sem pensar nas consequências. Meu objetivo não era defendê-lo. — Jamais foi defendê-lo, ela referia-se ao que Richard disse sobre a falta de filhos dele. Porém... Cathrine fechou dolorosamente os olhos, não havia forças para falar. — Eu... pergunto-me se Adam será do mesmo jeito? Se ele e os irmãos... isto é, se houver irmãos.

Agora foi Richard que voltou-se a esposa e franziu o cenho, imediatamente percebendo do que ela falava. Os dois ficaram momentaneamente em silêncio, até que o marquês pegou as mãos dela e a conduziu até um recamier, onde ambos sentaram.

— Adam terá irmãos, tenha certeza disso. — Segurando fortemente as mãos dela, Richard afirmou encarando-a firmemente. Cathrine, porém, nada disse. Então ele sorriu largamente. — Nós iremos garantir isso.

Como? Como eles poderiam garantir uma coisa tão difícil dessas? Cathrine queria saber e logo soube. Richard agarrou a esposa contra si e a beijou desesperadamente nos lábios. Cathrine inicialmente ficou sem reação, mas rapidamente cedeu e começou a beijá-lo de volta, tanto que o marquês começou a deitá-la no recamier...

Quando deu-se por si, Cathrine tinha metade do vestido abaixado e Richard, já sem calça, aproveitava com a boca os seios dela. Por um momento, um breve momento, ao vê-lo balançando para lá e para cá, Cathrine estendeu a mão e agarrou o marido. Richard encarou surpreso a esposa, mas não reclamou... até que Richard penetrou Cathrine e começou a mover-se...


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Notas finais do capítulo

* Talvez muitos não saibam, mas os homens já usam brincos a séculos. Durante o final do século 16 e início do século 17 era uma "febre" entre os nobres e aristocratas, o próprio Charles I da Inglaterra e Escócia usava uma grande pérola na orelha, isso antes de perder a cabeça. Não era algo muito comum nos séculos 18 e 19, é verdade, mas eh decidi colocar, momentaneamente, Robert com um. Para falar a verdade, não era muito comum nem as mulheres usarem brincos. Pelo menos elas não faziam isso com tanta frequência, era mais em momentos para mostrar riqueza e status.

* Falando nisso, é muito interessante como a maquiagem também mudou entre o séculos 18 e 19. No início de 1800 a moda não era mais uma maquiagem forte e cabelos esculturais, mas sim algo mais natural e simples. As mulheres eram desencorajadas a usar maquiagem pesada. Um pouco de ruge nas bochechas, um pouco de vermelhão nos lábios e pronto. Ter uma pele bronzeada e sardas ainda era visto como algo feio, mas as mulheres deveriam ter um "frescor natural".

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