As últimas vinte e quatro horas após o choque ocasionado pela revelação de meu tio foram de negação. Eu não conseguia acreditar que eu poderia estar tão enganada por tantos anos. Nada daquilo fazia sentido para mim e, embora a história de meus pais terem morrido vítimas de um acidente, meu irmão ainda havia sido assassinado.

Fechei os olhos e abracei o travesseiro, tentando não lembrar daquelas imagens que me atormentavam. O bater na porta do meu quarto interrompeu meus pensamentos. Já havia perdido as contas de quantas vezes Lily havia batido na porta e sido totalmente ignorada, mas dessa vez o bater se tornou mais forte, seguido do som grave da voz de meu tio.

— Nessie - disse ele repetidamente, voltando a bater - Por favor, abra a porta.

Puxei a coberta e me escondi debaixo dela. Eu não sabia se estava pronta para ter mais uma conversa com tio Matt, ao menos não naquele momento.

— Nessie - insistiu ele, voltando a bater na porta do meu quarto - Se não abrir a porta, eu vou derrubá-la.

Saí debaixo do cobertor e me sentei na cama. Eu conhecia o tio Matt o suficiente para saber que ele derrubaria minha porta caso eu não abrisse. Suspirei, levantando da cama e, após uma nova batida do punho de meu tio na madeira da porta, eu finalmente a abri.

— Você está bem? - Perguntou ele com um semblante de preocupação.

Olhei para a porta e Lily encostou com os braços cruzados. Suspirei, olhando novamente para o meu tio, e balancei a cabeça de forma positiva, voltando a me sentar na minha cama.

— Você está trancada nesse quarto há dois dias - disse meu tio - Estamos preocupados com você.

— Eu só preciso de um tempo…

— Nessie - Lily sussurrou e entrou no quarto. Se aproximou da minha cama e sentou ao meu lado - Seu tio e eu entendemos você - a mão dela buscou pela minha e acariciou suavemente minha palma em um gesto carinhoso.

— Não, vocês não entendem…

— É claro que entendemos - disse tio Matt, fazendo com que minha atenção se voltasse para ele - Querida, tudo que sempre desejamos foi proteger você. Reconheço que o que fiz foi duro, mas não posso deixar que você deixe de viver, deixe de ter uma vida normal em busca de algo que você criou em sua cabeça."

— Compreendemos que você criou algo e se apegou a isso para diminuir sua dor, Nessie, mas você é uma mulher agora e não uma menina. Precisa aceitar a realidade e superar essas perdas. - Completou Lily.

Meu olhar se dividiu entre ambos e suspirei.

— Posso ter me equivocado sobre meus pais, mas meu irmão, ele ainda foi assassinado.

— Riley era um bom garoto- disse meu tio. - Mas isso não significa que ele não possa ter cometido erros, Nessie, e pago por eles.

Minha expressão se tornou mais séria.

Você quer mesmo que eu acredite que ele estava envolvido em gangues?

— Se estivesse? Meu tio respondeu. - Mudaria algo para você?

 Neguei com a cabeça. - Não consigo imaginar que o Ry…

— Nessie- Tio Matt se ajoelhou à minha frente e colocou suas mãos sobre as minhas e de Lily. - Riley se perdeu, mas não deixou de ser o irmão protetor e amoroso que era com você. O fato dele ter cometido erros que o levaram a esse final não o diminuem, pois todos podemos errar. Mas está em suas mãos escolher o seu final.

O encarei em silêncio. Embora as palavras de meu tio fizessem todo o sentido, eu jamais conseguiria ver meu irmão como um criminoso. E embora uma parte de mim se negasse a acreditar nisso, uma outra parte reconhecia que meu tio estava certo. Eu havia completado dezoito anos há alguns meses e o que havia conseguido? Nem mesmo na faculdade haviam me aceitado.

— E se for tarde para que eu tenha um final feliz? Perguntei, desviando os olhos do rosto do tio Matt.

— Você só tem dezoito anos, Nessie. Só está começando sua vida- Respondeu Lily. Tio Matt sorriu. - Sei que tenho sido duro, mas perdi meu sobrinho e meu irmão em um intervalo curto de tempo. Não quero perder você também.

Sorri timidamente. - Você não vai, tio.

 Tio Matt me puxou para seus braços e me abraçou apertado. Fechei os olhos e senti sua destra tocar meus cabelos. – Obrigado-  disse ele, se afastando devagar e em seguida se levantou. - Tome um banho, coma alguma coisa. Espero você no escritório.

Olhei para ele um pouco receosa. ‘Para quê? ’

— Chegou o momento de entregar algo a você-  ele respondeu, caminhando até a porta e olhou para Lily, que sorriu, dando um beijo em meus cabelos.

 -Vou preparar algo para você comer- disse Lily ao se levantar e caminhou até o marido.

— Te aguardo no escritório- Foram as últimas palavras de meu tio antes de sair do quarto de mãos dadas com Lily. Eu não estava totalmente convencida de que a morte de meus pais não tinha nenhuma relação com a de Riley, mas pela primeira vez tinha dúvidas sobre isso. Levantei-me da cama e fui para o banheiro. Eu precisava saber qual era o próximo tratamento de choque que meu tio faria comigo. Depois de alguns minutos no banho, vesti algo leve e saí do meu quarto. Lily havia deixado a mesa com um lanche, mas eu estava ansiosa demais para pensar em comida. Passei rapidamente pela sala de jantar e segui para o escritório de meu tio.

— Posso entrar? Perguntei ao passar pela porta que estava aberta. Meu tio, que tinha sua atenção voltada para seu notebook, olhou para mim.

—Eu estou justamente esperando por você- Disse ele, sinalizando para que eu entrasse e me sentasse na cadeira à sua frente. Conforme ele havia pedido, eu fiz.

— E então?, perguntei ao me sentar. - O que tem de tão importante, além de fotografias de autópsias?

Tio Matt riu baixo e negou com a cabeça. Em seguida, pegou uma pasta que estava sobre sua mesa e me entregou. - O que é isso? Perguntei, pegando a pasta das mãos dele. - Seu pai deixou algumas coisas e eu vim administrando durante todos esses anos, explicou ele

O texto que você forneceu já está bem escrito e não precisa de correções. No entanto, aqui estão algumas sugestões para torná-lo ainda mais claro:

Abri o envelope e comecei a ler o que estava escrito em alguns papéis. Meus olhos se arregalaram ao ver o saldo da minha conta bancária, do qual eu não tinha a mínima ideia. — Nossa! — Sussurrei, surpresa.

— Não é uma fortuna, mas deve ajudar em algo importante — explicou meu tio — Por exemplo, para pagar uma faculdade particular.

Olhei para ele, surpresa. Como ele sabia que eu não havia sido aceita em nenhuma faculdade fora de Seattle? Saí do escritório com a pasta nas mãos, pensativa. Descobrir o que realmente havia acontecido com meu irmão e meus pais havia se tornado minha razão para existir. Agora, eu precisava de uma nova razão, eu precisava de novos caminhos para seguir.