‘Eu sempre fui uma garota má. 

Por mais que todos me elogiassem e dissessem que eu era disciplinada, eu não conseguia conter o ódio que estava dentro de mim.

Eu sou filha de uma cortesã que era do clã dos assassinos, mas para me salvar do destino da seita do sangue, minha mãe conseguiu ter o parto na seita do céu prateado, mas eu tive que ser criada naquele ambiente inóspito e cheio de ódio e preconceito, onde tudo que aprendemos era lutar para trabalhar para o império futuramente.

Minha mãe não queria isso, mas era inevitável.

Todas as crianças do clã dos assassinos eram obrigadas a serem treinadas, se não isso, elas eram mortas ou enviadas como escravas para o império.

Minha mãe tentou fugir comigo mas acabou sendo morta brutalmente.

Mesmo com cinco anos ainda me contaram tudo, descrevendo detalhadamente o que ela havia passado.

Meu ódio começou a ser nutrido desde então.

Eu conheci os dois assassinos dela e os olhei face a face, me lembrando muito bem de suas feições. Não importe quanto tempo passe, eu sempre me lembrarei.

Todos daquele clã que nos usavam, que nos oprimiam.

Várias crianças morriam todas as semanas e eu apenas podia aguentar, tinha que ser forte para honrar o desejo da minha mãe em querer que eu viva. Mas o quanto eu aguentaria? Com seis anos de idade eu já sonhava em decapitar todos aqueles cretinos assassinos.

Eu havia herdado as habilidades da minha mãe, era exímia na prática do assassinato, meu destino era me tornar uma das assassinas mais talentosas do clã, era o que todos queriam também ao verem meus feitos com tão pouca idade, mas meu destino foi salvo daquela chuva eterna de sangue por Mujang e por minha mãe.

Se ela não tivesse tido o parto longe do clã dos assassinos, meu destino seria a morte ou ser um escravo do império matando todos os dias por ordens de sabe-se lá quem, sem motivo algum, apenas para interesses políticos e sádicos dos superiores.

Eu…quero acabar com esse mundo.

Mesmo depois de ter chegado na seita do céu prateado e conhecido Huo-Lei, eu ainda queria me vingar, eu me lembrava de todas as crianças e aquilo me fazia sentir um ódio abisal. Ódio de mim mesma por ter fugido.

Eu me tornei a garota privilegiada por ter uma mãe que se arriscou para que eu não tivesse o selo do sangue, agora eu estava livre? Não. Na minha mente eu sempre estaria presa nessas amarras malditas, minhas mãos já estavam sujas de sangue e não poderiam ser limpas.

Huo-Lei foi a única constante que não me fez perder a sanidade que me restava.

Era minha única família depois do meu pai que também me demonstrou amor, mesmo sendo a filha bastarda de uma cortesã, o período em que eu o conheci eu senti que ele gostava de mim de maneira paternal.

Quando ele morreu, aquele ódio suprimido pelos cuidados de Huo-Lei transbordou novamente.

Eu era uma bomba relógio programada para ser ativada e nada podia contê-la.

Eu vou…destruir esse mundo.

Huo-Lei era a única pessoa que queria salvar, e por conta disso, eu me contive o tempo todo.

E isso me fez pensar o que eu faria se o perdesse.

O perder…?

Como isso poderia acontecer?

Huo-Lei era o único que me apoiava e mesmo eu sendo meio louca ele nunca desistia de mim.

Eu me mantinha em pé por sua existência.

Quem poderia tirá-lo de mim!?

Se alguém ousar fazer isso, essa pessoa terá que morrer. Eu não ligava se todos morressem, contanto que Huo-Lei estivesse vivo e feliz.

Por quê eu tinha que odiar tudo? Eu apenas queria ser uma pessoa normal e viver treinando em uma seita, participar de torneios, crescer junto de Huo-Lei, ir pescar e acampar como sempre fazíamos. 

Mas agora eu estava ali parada em sua frente enquanto ele permanecia amarrado e cuspindo sangue após eu atingi-lo com minhas adagas em alguns pontos não vitais.

Irmã…

Eu não conseguia me controlar mais, minhas mãos trêmulas eram banhadas com minhas lágrimas. Quando vi o que havia feito, já era tarde.

Eu não queria, eu…Ah sim, você queria sim. 

Atrás de mim estava aquela garotinha cuja mãe eu matei, mas quando olhei em seu rosto, seus olhos estavam roxos e sua pele pálida com veias verdes saltando.

Lembre-se, ele fodeu com tudo aquela vaca, ele a comeu de maneira bruta e violenta, estocou sua buceta com força deixando-a molhada, eles estavam gostando, ele nunca sentiu tesão ou amor por você, te via apenas como a irmãzinha que precisava ser protegida, apenas um objeto frágil que quebraria a qualquer instante, você é um mero objeto, serviu ao clã dos assassinos e sempre continuará a ser a filha da puta cortesã que morreu em vão, uma crápula sem futuro, destinada a matar e não receber amor de ninguém, sua vida não é sua, sua vida nem é real!!!!

A garota começou a rir enquanto minha cabeça doía mais ainda, eu estava perdendo a consciência novamente.

ÓDIO. ÓDIO. ÓDIO. ÓDIO.

Eu amava odiar, porque isso me dava um propósito para viver.

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Você gosta de putas sujas como ela, HUO-LEI?

Eu não estava mais sob meu controle, mas eu enxergava tudo.

A verdadeira Jia-Li havia saído daquela jaula maldita, eu quebrei as correntes que me prendiam áquele mundo falso criado por Huo-Lei para me proteger.

Então vá comê-la de novo!

Comecei a dar chutes consecutivos no rosto de Huo-Lei até ele ficar coberto com sangue.

Jia-Li, volte, você é minha preciosa irmã, eu não quero te machucar.CALA A BOCA! VOCÊ JÁ MACHUCOU! NUNCA PENSOU O QUE EU SENTIA SOBRE TUDO? Eu sempre pensei, e ainda penso. Eu prometi estar com você e te proteger.E por que me abandonou agora?

Eu não mereço proteção, tudo que mereço é apenas o desprezo e a morte, eu não poderia mais acordar, não depois disso tudo.

Me desculpa, irmão…

Naquele momento Jia-Li acumulou as últimas forças que lhe restavam e pegou uma de suas adagas apontando para seu estômago.

O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO!?

Huo-Lei tentava se soltar mas algo o tinha enfraquecido, a Mariposa Roxa havia usado uma substância que bloqueava o seu fluxo de Qi por 10 minutos, o fazendo ser incapaz de se mover nesse período.

HAHAHAHA, acabe mesmo com sua vida insignificante, você não serve nem para ser fodida pelo seu irmão, ele prefere aquela demônio vaga…

Antes que a garotinha pudesse dizer mais alguma coisa, sua cabeça saiu rolando para o lado de Jia-Li e ao mesmo tempo, um chute atingiu as mãos desta mesma fazendo sua adaga voar para longe.

Irmã Jia, nem pense em acabar com sua vida, nossa jornada mal começou.

Hiang-Lin, com sangue cobrindo quase todo seu corpo e muito machucada, apareceu na frente de Jia-Li.