A Jornada Para o Último Céu escrita por Kamihate


Capítulo 70
Capítulo 67 - Sonho




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“Eu não me lembro quando perdi minha essência.

Talvez eu tenha nascido para ser alguém colocado em segundo lugar, nunca tive a chance de brilhar ou ser o protagonista, mas eu não entendia porque isso me incomodava.

Só queria ter alguém pra poder me dizer que ‘eu fiz o meu melhor’.

Mas tudo que eu havia ganhado quando era menor foi a repreensão do meu mestre e a rejeição das outras pessoas da seita do sangue.

Até os sete anos eu vivi na aldeia de Jiangxi, próximo a vila do sangue.

Eu nasci com o QI muito abaixo dos membros da seita do sangue, não conseguia controlar o selo do sangue, além de ser frágil e não conseguir copiar todas as técnicas que me eram passadas.

Eu era visto como uma aberração, um serviçal que apenas existia para ocupar espaço na seita do sangue.

Frequentemente eu era colocado para limpar o chão dos salões, podar as árvores, fazer o chá e até mesmo colher ervas nas montanhas. Ao menos eu tinha alguma utilidade, era o que eu pensava, mesmo vendo todos os meninos da minha idade rirem de mim e fazerem todos os tipos de zombaria.

“O bastardo sem talento”

“O fracassado sem QI”

“O plebeu mais fraco”

Depois de um tempo eu já havia me acostumado com tudo aquilo, não fazia sentido me importar, nada do que eu pudesse fazer mudaria a situação.

Eu havia tentado treinar sozinho enquanto colhia as ervas nas montanhas, mas nenhum método aumentava meu QI, imitei vários seniores no cultivo, mas de alguma forma parecia que algo bloqueava meu QI.

— Você deve estar amaldiçoado, jovem, sua mãe era uma vadia, eu não te culpo.

Essas palavras do meu mestre me fizeram, pela primeira vez, perder toda paciência que eu havia acumulado, eu o golpeei no rosto, e por conta disso, fui colocado em uma caverna e preso por um ano apenas comendo restos de comida que me jogavam e tomando a pouca água que caía de algumas rochas.

Eu vi naquilo uma oportunidade de cultivar, uma clássica história de xianxia onde o protagonista sofria pela infância toda, era enviado para algum lugar macabro isolado, cultivava, ficava forte e se vingava de todos que lhe fizeram mal.

Infelizmente a vida não é uma história de fantasia.

Eu não consegui ficar nem um pouco mais forte, todas as noites alguns garotos entravam lá pra me bater, eles descontavam a raiva que acumulavam pelo treinamento insano da seita do sangue, eu já nem sentia mais dor.

Dor... O que era aquilo mesmo?

O sentimento de ser impotente?

De não ter amigos?

De ser abandonado?

De ser um fracasso?

Afinal, por que eu ainda resistia?

Ficar em pé parado esperando que os mesmos dias se repetissem.

O que era dor?

Por quê eu nasci nesse maldito lugar?

Pensava constantemente se eu tivesse nascido na seita do Dragão, ou até mesmo na porra da seita da sombra.

Fugir não era uma opção, a única vez que tentei quase fui aleijado.

A seita do sangue possuía muitos guardas fortes, muitas pessoas sem compaixão e com sede de sangue.

Eu era apenas um coelho pronto para ser abatido a qualquer momento por lobos sedentos.

“EU prefiro me matar do que ser morto por esses lixos”

Era o que pensava, mas ao pegar a corda em minhas mãos, elas começavam a tremer.

Eu era tão fraco a esse ponto?

Se ao menos... Alguém viesse me salvar.

Essa falsa esperança preencheu meu peito até o dia em que eu vi uma mudança repentina que poderia me libertar da escuridão, ao menos da escuridão total.

Eu nunca esperaria me livrar daquele lugar infernal, mas em determinado dia eu fui ‘vendido’ para a seita do céu prateado, uma das seitas mais desconhecidas e fracas do murim, mas eu não me importava. Eu preferiria viver até em um pântano com bestas selvagens do que na seita do sangue.

Já sabia que eu seria um escravo ou capacho, mas estava feliz.

Depois de anos eu estava feliz que iria sofrer menos.

Mas quando o velho Mujang me deu uma espada e disse que eu devia ficar mais forte, comecei a pensar que aquela escuridão havia finalmente se dissipado.

“Escute jovem, você parece ter desistido de tudo já, mas eu não desisti de você. Eu nunca treinei ninguém do sangue antes, então vai ser um grande desafio hahaha”

Mujang ria enquanto me mandava pro chão, ele golpeava sem dó, suas aulas eram mais difíceis que dos mestres do sangue, mas aquela dor me deixava feliz.

As feridas causadas por Mujang me fazia rir, às vezes eu até sangrava, mas aquilo não podia ser melhor.

Mesmo que eu vivesse em uma casa isolada na seita do céu prateado, já estava bom.

Eu comia três vezes ao dia, eu tinha um treinamento rígido, e eu... estava ficando mais forte.

Depois de um ano meu QI havia aumentado.

Mujang disse que de alguma forma, algo na seita do sangue bloqueava o meu crescimento.

Eu estava preso o tempo todo, mas agora havia sido liberto. Todas as esperanças que eu tinha perdido voltaram em um piscar de olhos.

Comecei a chamar Mujang de avô, ele me disse para deixar assim por enquanto, para eu fingir que sou o neto dele pra ninguém criar desconfiança, e acima de tudo, jamais revelar que sou da seita do sangue.

Por conta disso eu treinava separadamente e mal saía para me juntar aos outros, mas não me incomodava. Amigos eram algo que eu me conformei em nunca ter, ao menos tinha o Mujang, ninguém batia em mim e eu estava ficando forte!

Eu comecei a almejar um futuro que parecia ser de uma fantasia que achei que existisse apenas em livros.

Mujang quebrou os cadeados daquela gaiola que me aprisionavam na escuridão, e quando conheci Huo-Lei, vi que eu podia lutar contra aqueles fardos que me atormentavam.

Eu o desafiava sempre, mas ele me vencia com facilidade. Eu queria ficar mais forte.

Vencê-lo se tornou minha meta, por mais que brigássemos e ele me irritasse muito profundamente, eu ainda gostava de lutar com ele e a irmã Jia, ela me tratava bem, menos quando eu a olhava de maneira meio pervertida, mas ela nunca me desprezou.

Esses dois... Eles me aceitaram como seu, mesmo sabendo que eu era da seita do sangue.

Mas aquela fantasia... Aquela história surreal iria durar pouco, afinal, eu tinha sido enviado para a seita do céu prateado para matar Mujang.

Em determinado dia uma pessoa do sangue me fez uma visita, ele me disse que havia um selo com o líder do sangue que não deixava meu QI subir de certo nível, mas eles o quebrariam caso eu matasse Mujang, e com o QI acumulado de todos esses anos, eu iria pra um nível surreal ultrapassando até mesmo os mais fortes aprendizes do sangue.

Então foi isso.

Eu fui enganado a vida toda, e agora eles queriam matar a única pessoa que eu me importava?

“Você vai se tornar invencível, jovem Yuan.”

Aquele pensamento maldito tomou conta de mim.

Invencível...?

Se eu matar Mujang, poderia ficar forte o suficiente para me vingar da seita do sangue. Aquele era o meu... sonho?

“Huo-Lei”

Eu havia almejado ficar mais forte que Huo-Lei, aquele era meu sonho atual, mas eu ainda queria muito me vingar do sangue.

Toda aquela pressão me fez querer desistir mais uma vez, eles não iriam me deixar em paz até eu cumprir a ‘missão’, mas eu havia me decidido já...

Mesmo que eu morra, eu jamais vou me entregar novamente a escuridão.

Vários anos se passaram, as visitas do pessoal do sangue pararam, Mujang havia se livrado de dois deles e depois daquilo ninguém ousou vir mais. Eu não contei nada pra ele... Em várias ocasiões, até pensei na proposta, mas ele era meu avô. Como posso me perdoar por ter se quer cogitado isso!?

Mas agora, mesmo que o vovô tenha morrido, eu ainda tenho pessoas para proteger. Eu finalmente tinha um objetivo...que valia a pena.

— Voltar? Talvez você que tenha que voltar, mas dentro de um caixão.

Yuan-Shui deu um salto e parou na frente de Jian-Lou com o selo do sangue em sua mão brilhando.

 


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