A Jornada Para o Último Céu escrita por Kamihate


Capítulo 68
Capítulo 65 - A Única Opção




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— Eu não costumava ser muito melancólica, sabe. Era até animada nos meus dias de juventude, sempre pensava em sair pras guerras e era repreendida por minha avó, meus pais queriam me mimar demais! Eu não conseguia ficar trancada no quarto, às vezes fugia saindo pela janela e era pega por minha serva que sempre me encobria. Ah, a velha Liang...Ela me faz muita falta, ela morreu enquanto lavava as roupas, tinha uns 98 anos, ela era bem animada apesar da idade, eu chorei por por uma semana, acho que mais do que quando  meu pai morreu. Ei, jovem, desculpe estar te incomodando tanto haha, talvez eu esteja muito ansiosa, sabe, foi um dia agitado, eu perdi meu servo mais fiel, um olho e muitos guardas, deixei meus convidados serem mortos também, acho que qualquer acordo que eu tinha com o império foi desfeito, fora os estragos no palácio, mas diante disso tudo ainda sou apenas uma mulher impotente, não é mesmo?

Jion sorria enquanto tomava um pouco de chá saindo fumaça de tão quente. Na sua frente havia um dos seus servos que estava parado em pé ouvindo a imperatriz enquanto concordava com tudo que ela dizia sem olhá-la diretamente nos olhos.

— Você é tímido? Ok que ninguém consegue me encarar, mas é por me acharem feia? Eu nunca destratei ninguém aqui, sei que você quer apenas manter o respeito, mas não me importo se olhar para uma imperatriz com o rosto deformado como o meu, me sentiria até bem nesse momento sabe.

Jion sorriu enquanto ria, mas se sentia por trás de sua expressão uma tristeza profunda escondida por seus gestos, seu rosto estava enfaixado devido aos ferimentos em seu olho arrancado, ela havia sido medicada e tomado várias pílulas para recuperação, os médicos disseram pra ela ficar descansando, mas ela havia chamado um dos guardas pessoas para lhe fazer companhia.

Jion estava com medo de ficar sozinha.

— Você está satisfeito nesse palácio? Se arrepende de ter feito parte da seita da jade? Pode ser sincero, jovem, eu quero saber todos os meus erros até aqui, rever a minha vida e buscar uma resposta que eu mesma já sei.

A mulher se levantou e caminhou em direção à janela ampla aberta do seu quarto. Na parte de fora ela via pequenos fogos de incêndio ainda que perduraram, a destruição e sangue espalhados pelo chão demonstrava a situação da seita da jade, apesar de não terem saído totalmente derrotados, aqueles dias pacíficos e neutros de antes chegariam ao fim.

— Eu vi essa seita crescer, vi um lugar que todos podiam se abrigar, eu chamei várias pessoas pra cá, nunca discriminei ninguém por seus selos, gostava particularmente dos jovens com ânimo e determinação, Kuoran era um deles, mas no final todos que eu coloquei confiança acabaram me traindo hahaha, acho que é por eu ser quem eu sou, né? Meu primeiro marido não aguentou 3 anos, talvez eu não sirva pra essas coisas.

Jion estava falando mais do que o normal, o servo em sua frente finalmente demonstrou alguma reação e se sentou em uma cadeira encostada na parede próxima da porta.

— Não, você não tem culpa de nada disso.

O jovem havia falado repentinamente, Jion se virou e viu nele uma expressão calma, porém fria.

— A culpa é desse mundo que sempre foi injusto. Eu entendo a sua dor em ser traída e perder alguém, quanto mais alta a posição, deve machucar mais não é?

— Oh, você fala então, que bonitinho.

Jion sorriu e foi servir um pouco de chá para seu servo.

— Eu acho que você é uma boa imperatriz. Eu não sei muito sobre a seita da jade na verdade, mas ouvi que esse local salvou vários desabrigados e jovens órfãos de Doshiang e outras cidades, acho que você aguentou o quanto pôde.

— O quanto pude, é? Haha, eu talvez tenha ido um pouco mais longe do que imaginei.

Jion suspirou.

— Querer evitar a luta todo esse tempo, sabia que isso custaria tudo.

— Você estava pronta para perder tudo?

— Claro que não! Quem estaria? Eu até pensei em me casar de novo haha, que ingênua.

— Não, esse é um sonho simplista mas válido. Me diga, você iria matar aqueles convidados, não é?

A pergunta do jovem em sua frente deixou Jion com uma expressão estranha, mas ela não tinha mais motivos para mentir.

— Claro que iria. Era a única condição para manter a paz, ao menos por mais um pouco, mas agora acho que todas as oportunidades se foram.

— Entendo. Era a única opção?

— Às vezes, não existem opções, apenas fazemos a única coisa que devemos. Eu como imperatriz sempre tive que tomar decisões, a maioria deles, que não queria. Eu simpatizei com aquele jovem Huo-Lei, se pudesse, queria tê-lo visto fugir do império.

— E você acha que ele seria capaz?

— Quem sabe, os jovens hoje em dia parecem mais fortes do que da minha época hahaha.

Jion sorriu enquanto olhava para baixo relembrando os velhos tempos.

— Talvez isso possa se tornar realidade, eu também acredito.

 O jovem havia se levantado, ele parecia apressado para algo.

— Eu soube desde que te vi, rapaz. Mas me diga, quais os motivos?

— ...

O rapaz havia ficado parado sem responder.

— Você podia ao menos dizer isso pra uma velha que já perdeu tudo, não é?

— Foi como você disse, às vezes, algumas pessoas não tem opções.

A alguns quilômetros do palácio da jade, Huo-Lei e os outros haviam conseguido fugir da cola de qualquer um que estivesse por perto, eles usaram a ilusão de Yi-Fang mais uma vez para fingirem suas mortes.

— Por que não pegou a comida que eu pedi seu burro?

Yi-Fang beliscou Yuan-Shui que gritou devido a todos os machucados em seu corpo.

— PORRA! Não tá vendo que eu quebrei vários ossos?

— E que eu tenho a ver com isso? O monge já te deu a porra de um revigorante.

— Não é como se isso fosse fazer efeito na hora!

— Ah, obrigado por me lembrar, não posso esquecer de cobrá-lo.

— Você vai mesmo me cobrar!?

— Você é neto do líder da seita do céu prateado cara, deve ter muita grana, deixa de ser mesquinho.

Jin Manchu encostou sua cabeça em um tronco de uma árvore que estava deitado e olhou para o céu estrelado.

— Deve estar na hora quase, irmão.

Jia-Li pegou uma bússula que carregava consigo.

— Espere, eu estou ouvindo alguém.

Hui-Lei se atentou e pegando sua espada, viu surgir em sua frente uma figura feminina.

— Há, quem diria, você saiu viva mesmo.

Yi-Fang sorriu enquanto comia algumas frutas silvestres que havia achado, apesar delas serem venenosas.

— Hiang-Lin, fico feliz que tenha voltado.

Huo-Lei saudou a mulher que parecia com uma expressão tranquila mas Jia-Li percebeu que ela não estava bem.

— Forjar a sua morte foi essencial para nos salvar, você foi muito bem.

Huo-Lei elogiou a mulher o que fez com que Jia-Li e Yi-Fang ficassem putas.

— EI PORRA, EU FIZ O TRABALHO PESADO TAMBÉM!

Yi-Fang se jogou na frente de Huo-Lei espumando.

— Nah, vocês são invejosas demais, a irmã Hiang fez a tarefa mais difícil se infiltrado... Ela conseguiu nos criar a rota de fuga, além de distrair alguns guardas e abrir o caminho pra Jia-Li, e também...

Jin Manchu percebeu que as mãos de Hiang-Lin estavam sujas de sangue. A garota tremia mesmo tentando disfarçar.

— O que aconteceu lá...?

Hiang-Lin se sentou e parou com seu sorriso forçado.

— Não é óbvio.

Ela disse enquanto tentava voltar a sorrir tentando ser forte, naquele momento Jia-Li se aproximou e segurou sua mão, surpreendendo Hiang-Lin e todos ali.

— Não se preocupe, você realmente fez bem.

PALÁCIO DA JADE

— Chame reforços urgente!!! RÁPIDO, CADÊ O LÍDER DA SEITA?

— GUARDAS, CUBRAM OS FUNDOS!

— Onde está aquele maldito do Hiei!?

Nas portas do palácio da jade, um tumulto havia sido começado depois das coisas terem se acalmado um pouco.

No quarto da imperatriz Jion, sua cabeça fora encontrada decepada do seu corpo em cima de sua poltrona.


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