A Jornada Para o Último Céu escrita por Kamihate


Capítulo 48
Capítulo 45 - Para Sobreviver




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“Eu sempre vivi apenas para ser a sombra de outra pessoa.”

“Desde quando me lembro, meus pais diziam para eu me espelhar em como a sacerdotisa da vila agia para que eu fosse igual, minha família era pobre e minha mãe vivia doente, por conta disso, não importa o quanto meu pai trabalhasse, o custo para manter os remédios eram altos demais, essa vila sempre teve proprietários tiranos e injustos, eles exigiam imposto mesmo daqueles que não tinham condições, tirando as mulheres que se ofereciam como objetos sexuais dos senhores das terras, as famílias que não forneciam nada em troca tinham que pagar, mesmo se fosse para dar tudo que elas possuem.

Aquele porco imundo sempre quis meu corpo, mesmo quando eu tinha 6 anos, mas meu pai nunca permitiu, ficamos sem comida diversas ocasiões por conta disso, quando eu fiz 11 anos eu já entendia toda situação e me ofereci, mas meu pai me bateu dizendo que enquanto ele estivesse vivo ele nunca me deixaria se sujar com um ser humano daqueles.

Eu não sabia o que fazer, ninguém aceitaria uma garota no trabalho dos campos, nós éramos descendentes da família Lin da névoa, minha mãe havia crescido lá mas foi expulsa devido a usar seu poder sem permissão, ela chegou até essa região e conheceu meu pai, ele prometeu protege-la e não permitiu que ela usasse mais seu poder, pois isso diminuía o fluxo do seu QI com o passar dos usos, além de precisar do sangue da pessoa para se transformar.

Basicamente é um tipo de vampirismo, uma técnica herdada de um relacionamento de uma mulher da seita do sangue com o ex líder da seita da névoa, apenas mulheres herdavam esse poder, tomando o sangue de alguma pessoa, as pessoas com esse poder podiam se transformar durante um dia todo, pegando todas as características da pessoa que teve seu sangue tomado, na verdade minha mãe disse que quanto maior a quantidade de sangue, mais tempo a transformação durava, se fosse apenas uma gota, ela duraria poucos minutos.

Meu pai sabia que eu havia herdado esse poder, mas nunca tinha me contado antes, eu fiquei sabendo apenas quando minha mãe estava em seu leito de morte.

Ela me chamou sem que meu pai ouvisse e me disse tudo, me ensinou como usar a técnica e que se precisasse sobreviver, eu poderia usá-la.

Meu pai nunca concordou em minha mãe usar esse poder pois se alguém descobrisse ela seria pega e supostamente escravizada pelo império.

Ela não confessava mas sabia que sua doença tinha a ver com o uso da técnica, deve ter tido uma época que ela foi obrigada a usar muito isso.

Quando minha mãe morreu meu pai caiu no vício da bebida, ele não conseguia mais trabalhar como antes e ficamos ainda mais com problemas.

Eu me ofereci várias vezes para ser concubina dos proprietários mas ele sempre negava, até chegou a ferir um dos senhores e foi chicoteado até desmaiar nesse dia. Eu não podia ver meu pai caindo na escuridão depois de ter feito tudo por mim e minha mãe, eu tinha o poder de fazer as coisas mudarem.

Foi naquele dia que eu decidi usar a técnica da minha mãe que eu comecei a quebrar.

Sempre me pediram para me espelhar na sacerdotisa para achar um esposo rico futuramente, mas eu não precisava disso, eu podia ser melhor do que ela.

Só eu que passei por tantas dificuldades sabia como sobreviver nas piores situações, foi então que eu precisei apenas me aproximar dela e arranhá-la para coletar um pouco do seu sangue, foi muito difícil conseguir essa ocasião mas quando tive a oportunidade, ao olhar para o espelho, vi que eu não era mais Chang-Mou. Não...Eu não queria mais ser Chang-Mou.

Eu finalmente podia ser quem eu quisesse, parar de viver na sombra dos outros e não sofrer mais injustiças, mas e quanto ao meu pai? Eu não podia simplesmente abandoná-lo, foi então que a única alternativa que me restou foi usar do meu charme e da minha técnica.

No dia em que me transformei na sacerdotisa Ninmei eu fui até a casa de um dos senhores, em troca dele me levar pra cama eu consegui arrancar um bom dinheiro e algumas roupas.

Eu vomitei muito nesse dia e não consegui dormir, foi minha primeira vez, com aquele porco nojento, mas apesar disso... eu tinha conseguido dinheiro pra pelo menos um mês em nossa casa.

O preço não era tão alto, afinal, não era meu corpo. Eu não precisava me preocupar, foi o que pensei.

Dali em diante eu pensei em como coletar o sangue de garotas da vila ou de lugares próximos, eu chegava a jogar algumas moedas no meio de espinheiros ou locais com agulhas para as moças que estivessem passando se furarem, no começo foi um tanto difícil mas eu fui coletando aos poucos frascos de sangue.

Cada noite eu dormia com um rapaz diferente e conseguia tirar muita coisa deles.

Aos poucos eu fui aprimorando minhas técnicas de sedução e de imitação, eu podia ser quem quisesse.

Eu não conseguia mais evitar, nenhum deles me excitava, mas aquilo era a única maneira de sobreviver.

Eu já estava quebrada e aceitava isso, eu não era uma garota que podia ter uma vida normal ou pensar em ter um marido e uma família, o mundo nunca foi justo comigo mas já aceitei esse fardo, eu apenas precisava continuar me transformando de novo e de novo até o dia em que acabarei como minha mãe.

Foi assim que pensei até aquele desgraçado aparecer.

Eu fiquei tentada por sua oferta...Seria a última vez que eu teria que me transformar, eu fui fraca. Não pude carregar o fardo que achei que conseguiria, e por conta disso, eu matei duas pessoas inocentes, a garota devia ser pura, todos falavam muito bem dela na vila, fiquei sabendo de toda sua história com Huo-Lei e eu decidi sujar minhas mãos pela última vez, ou ao menos achei que seria a última.”

— Ei, garota, por mais que eu quisesse te matar, eu acho que Huo-Lei não permitiria isso, mas e se eu disser que você mordeu a própria língua cometendo suicídio? HAHA

“Essa demônio desgraçada, aquele canalha não me avisou sobre isso, talvez nem ele soubesse da existência dela, como ele podia me deixar me aproximar de Huo-Lei sabendo que havia um demônio entre eles? Ela pode me matar a qualquer momento, mesmo que eu tenha aprendido certas artes marciais com meu pai, eu não seria capaz de arranhá-la.”

— Se quiser me matar vá em frente, mas eu acho que eu teria mais utilidade que você para Huo-Lei.

— Aiai, você acha que porque é gostosa vai conseguir alto? Eu sou muito melhor que você e Huo-Huo nunca tocou em mim, ele gosta mesmo daquela menina Jia, não ache que tem chance.

— Não isso, mas eu posso leva-lo até o Zhao-Kung, aliás, acho que só eu sei onde ele está.

Naquele instante, Huo-Lei entrou novamente no quarto enquanto ouvia a conversa pelo lado de fora.

— Você encontrou a pu.. digo, a irmã Jia!?

Yi-Fang sorriu falsamente para Huo-Lei.

— Ela está bem, levei ela pra cama, apenas está desmaiada, mas parece que não sofreu ferimentos graves, aliás, como diabos você ganhou da minha irmã? Somos do Florescer do QI, você não está nem no fluxo do QI, isso não pode ser explicado.

Hiang-Lin olhou para o lado querendo evitar o rapaz, ela por outro lado, também se sentia envergonhada.

— Ei vadia, o Huo-Huo te fez uma pergunta!

Yi-Fang começou a pisar novamente no estômago da garota.

— Aparentemente eu consigo unir o meu QI com o QI da pessoa que me transformo, além de adquirir suas habilidades também...

Huo-Lei cerrou os punhos e virou de costas.

— Huo-Huo, já posso matá-la?

Huo-Lei ficou em silêncio por um momento.

— Você sabe onde está Zhao-Kung?

Hiang-Lin viu naquele instante uma oportunidade única.

— Como eu disse, talvez apenas eu saiba. Vai me torturar pra conseguir a localização?

Huo-Lei se virou e se aproximando da garota a segurou pelos cabelos aproximando seu rosto do dela.

— Escute, eu não sou um demônio como você pra usar as pessoas assim, mas você não matou minha irmã, e apenas por isso está viva agora, mas ainda não posso perdoá-la pelo que fez, então se me levar até Zhao-Kung, eu posso considerar te deixar viver.

Yi-Fang fez uma cara emburrada, ela não gostava de ter mais uma mulher em seu grupo, ainda mais uma garota atraente. O efeito da transformação havia acabado e revelado a verdadeira face da garota que se chamava Chang-Mou, ela era um pouco mais baixa que Jia-Li, tinha a pele clara mas com um tom corado de sol, seus olhos castanhos e seios fartos, além de possuir curvas excepcionais e um físico bom para uma garota.

— Você quer que eu seja sua escrava? Por que isso seria melhor do que morrer?

— Então você não quer? Sendo assim, Yi-Fang, mate-a.

— NÃO, espera... Eu posso te levar até Zhao, se prometer me deixar mesmo ir depois.

— Eu já disse, não sou um vadio como você, cumpro minhas promessas, mas se ousar tocar em minha irmã, saiba que você morre na hora.

— EI, e se ela tocar em mim?

Yi-Fang fez beiço cutucando Huo-Lei.

— Você eu sei que mataria ela na mesma hora.

— É, acho que sim.

— ... Tudo bem, eu posso aceitar isso, mas só peço uma coisa.

A garota ficou calada por um momento e olhou para Huo-Lei.

— Me chame de Hiang-Lin, eu quero honrar o legado daquela garota, eu realmente não queria ter feito o que fiz... E quero abandonar o meu nome também pra não sujar o nome do meu pai, agora que eu já não tenho jeito...

— Muito bem, tanto faz o seu nome, contanto que cumpra o que disse.

Huo-Lei segurou Yi-Fang pelo braço e no mesmo instante foi dizendo para ambas.

— E mais uma coisa... Se uma das duas espalhar o que aconteceu nessa noite pra Jia-Li, saiba que ela vai nos matar.


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