A Jornada Para o Último Céu escrita por Kamihate


Capítulo 32
Capítulo 30 - Abandonado




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“Eu era um dos melhores discípulos do templo, ao menos era isso o que todos diziam.

‘Tsc, aquele cretino só subiu porque é puxa saco do mestre!’

‘Ele está se escorando na alta patente pra ter uma posição boa.’

‘Não falem com ele, ele pode ser uma má influência pros monges’

Sempre fui renegado e visto como um parasita, e não posso negar que eles tinham motivo pra isso, afinal, eu era um dos alunos mais dedicados ao mestre. Ele havia me acolhido quando eu ainda tinha 8 anos, depois que meus pais me abandonaram no portão do templo dizendo pra eu esperar que eles já voltavam. Esperei durante dois dias mas eles nunca retornaram.

Thaozan-Feng me pedia para entrar, mas eu neguei, ainda crendo que meus pais voltariam.

Eu esperei mais dois dias sem comer ou beber água, outros membros do templo me pediam para entrar e me ofereciam comida, mas eu negava. Eu estava com sede, com fome, mas via aquilo como um teste, talvez esse fosse os portões do nirvana e Buda queria testar minha paciência, mas no quinto dia eu já estava ao ponto de desmaiar, foi quando Thaozan-Feng me mostrou a cruel realidade.

‘Garoto, seus pais não vão voltar, eles te abandonar.’

Aqueles palavras eram a pura verdade mas aquilo havia me irritado profundamente, eu queria negar a realidade e me apegar a falsas esperanças até meu corpo sucumbir e eu cair de boca no chão frio, o tempo iria mudar em breve e começar a nevar, eu não aguentaria muito mais tempo.

‘Não! Não tem como isso!!!’

Eu berrava tentando negar o que era evidente.

Eu nunca havia dado motivos para meus pais me abandonarem, eles cuidaram bem de mim até o dia em que começaram a ficar sem recursos.

Meu pai cuidava de uma pequena plantação de trigo e repentinamente houve uma seca em toda península fazendo com que todos ali fossem obrigados a saírem.

Ouvi dizer que foi graças ao demônio do veneno que passou naquele local, como uma maldição, todos os campos e plantações nunca mais voltariam a prosperar.

‘Entre, você vai morrer essa noite se não entrar.’

Thaozan-Feng tinha uma expressão rígida e um rosto duro, mas ele vinha três vezes ao dia para me ver e me convencer a entrar, eu apenas permanecia na escada teimosamente.

‘Você está com raiva não é? Quer negar a realidade, mas esse não é o caminho.

‘Para que você aquiete seu coração, é preciso lutar contra o ódio, esse ódio de ser abandonado pelas pessoas que mais ama, eu senti isso também.’

Naquele instante eu olhei para os olhos negros de Thaozan e vi nele um espírito inabalável.

— Você...foi abandonado também?

‘Eu não tinha nem cinco anos. Fui deixado em uma floresta cheia de ursos e lobos, eu lutei contra um filhote de lobo e consegui mata-lo, mas fiquei muito ferido. Foi graças a um monge daqui que pude sobreviver, e agora eu apenas quero eliminar todo ódio e ressentimento que ainda ficaram dentro de mim, e estou dando a você essa oportunidade.’

Eu não queria odiar meus pais, mas no fundo como eu não poderia? Eles me deixaram!

Eu queria apenas gritar e descontar a minha raiva.

— Eu não tenho mais nada!!!

Eu comecei a chorar, finalmente, depois de dias, eu havia aberto meus olhos.

‘Então procure algo.’

Thaozan-Feng segurou em minha mão e me ajudou a se levantar.

‘Seja o meu discípulo. Você tem a força de vontade necessária, pra aguentar cinco dias aqui negando água e comida, eu admiro sua astúcia, jovem.’

As palavras do mestre me fizeram ter um último suspiro da vida que ainda me restaram.

Queria continuar caminhando e ao longo dos anos, segui os seus passos.

Eu me dediquei ao máximo para pertencer àquele lugar.

Era o templo Tan-Mei, conhecido por muitos, foi o local onde um dos selos foi criado e várias técnicas de lutas passadas para anciões e grandes mestres.

Apenas monges viviam lá, mas eventualmente vários mestres iam lá para aprender artes marciais e buscar libertação espiritual.

Ao longo do tempo que permaneci lá aprendi tudo que eu deveria com meu mestre, vi inúmeros mestres espadachins angustiados por suas derrotas ou pelas cabeças que haviam cortado.

Eu aprendi a controlar minha raiva e viver sem lamentações.

Nada podia me frustrar ou irritar, o caminho do Tan-Mei, eu era considerado o discípulo mais apto a herdar as técnicas de Thaozan.

Thaozan-Feng era o mestre conhecido no Murim todo por possuir habilidades que ultrapassam de vários mestres marciais, o seu cultivo era algo almejado por muitas seitas.

Eu não havia aprendido tudo com ele, mas por minha vontade própria. Apenas quando eu estivesse preparado eu poderia me colocar no seu mesmo patamar.

Eu pensava que aqueles dias de paz iriam durar, até aquela tragédia ocorrer.

7 discípulos foram brutalmente mortos no salão principal de meditação, e apenas eu sobrevivi e estava no local.

Fui considerado culpado por quase todos os monges, mesmo que Thaozan-Feng quisesse me proteger, era quase unanimidade.

O que eu supostamente havia feito não podia ser perdoado se não com pena de morte.

Thaozan-Feng também foi manchado por ter trazido um assassino ao templo.

‘Você tem que ir hoje. Eu não consigo fazer mais do que isso, me desculpe, Jin.’

Ele surgiu naquela noite quando eu estava preso e com dor por conta das torturas que havia recebido.

‘Mestre, eu não vou! Eu não fiz nada! Eu não irei sucumbir, você me ensinou isso!’

‘Tolo!!! Todos pensam que você é o culpado! Eles querem e vão te executar amanhã, eu já tentei tudo que podia, não tem nada que eu possa fazer a não ser te libertar aqui e lidar com as consequências depois. Por ser um mestre famoso eu não irei ser sentenciado, apenas vá logo!’

Thaozan-Feng quebrou as correntes que me prendiam pela segunda vez, eu hesitei mas sabia que esse era o seu último pedido.

‘Vá e procure o seu caminho. Você é meu melhor discípulo e sempre vai ser, sei que irá conseguir me alcançar e até mais do que isso. Eu irei descobrir a verdade do que aconteceu aqui e te trazer de volta, vá, Jin!’

Eu chorei mais do que o dia em que meus pais me abandonaram, mas mesmo assim, eu parti.

Deixei a minha nova vida, mais uma vez, eu estava só.

A estrada havia mudado novamente, mas dessa vez eu estava preparado para trilha-la. Eu havia aprendido com meu mestre como sobreviver.

Durante esses anos eu apenas vivi tentando encontrar uma maneira de ficar mais forte e superar meu mestre, por mais que eu tenha ficado com a fama de mercenário, eu apenas ajudava quem me pedia, não distinguia se eram pessoas boas ou más, eu faria o possível.

Sabia que retornaria para o Tan-Mei, eu faria isso mas não antes de superar a todos.

Todos que me julgaram e conspiraram contra mim...Eu acabarei com todos eles e honrarei meu mestre.

“Droga, eu quase infartei, aquele demônio maldito iria me matar! Eu ainda não acredito que ela caiu nesse blefe, foi meu último recurso, acho que Buda não vai me dar mais tanta sorte assim daqui pra frente.”

Quando corria feito louco depois de perder Yi-Fang de vista, Jin se deparou com uma figura meio a bambus maduros.

— Você conseguiu, Jin.

— M-mestre!

Thaozan-Feng estava parado com um olhar firme, o mesmo que Jin havia visto quando o conheceu em frente a um pequeno templo de pedra com uma imagem de Buda na frente.

— Mestre, eu consegui o pergaminho! Eu finalmente posso ficar mais forte, eu irei certamente chegar ao seu nível!

— Haha, sim, eu vi, você fez muito bem Jin. Esperei todos esses anos pra isso, de todos os membros que entraram naquela caverna, você foi o único capaz.

“Bom, ok que eu meio que usei aquelas pessoas... mas eu tenho certeza que Buda entenderá meus motivos, eu trabalhei muito pra isso!”

— Mestre, o templo...

— Hm? Você quer voltar pra lá? Tenho certeza que com esse pergaminho ninguém mais lembrará do que ocorreu.

— Você não descobriu a verdade? Se passaram 4 anos.

— A verdade? Isso não importa, eu acredito em você, Jin! Aqueles ratos velhos não acreditariam no contrário, mesmo se eu provasse, mas agora você é superior a todos, é quase superior a mim! Não ligue pra o que disserem.

— Mestre...

“Finalmente valeu a pena essa jornada, eu vou reconquistar o meu lugar, Buda sempre faz as coisas certas pra quem tem paciência!”

Quando Jin colocou a mão em seu robe para pegar o pergaminho, ele sentiu uma lâmina afiada perfurar o seu peito.

— Obrigado Jin, você realmente foi o meu melhor discípulo.


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