“Eu nem lembrava mais quando havia renascido pela primeira vez.

Quando nós demônios fomos selados, nossa memória também se perdeu. Me lembro vagamente do meu primeiro ‘hospedeiro’, uma jovem delicada filha de uma família influente, eles mal deixavam ela sair no jardim, eu na época não tinha tanto rancor e ódio guardado da humanidade, aguentei por muito tempo todos aqueles abusos psicológico e pressão, até o dia em que tiraram minha irmãzinha de mim para casarem-na com uma rica família. Eu tive que estripar todos, meu pai, minha mãe, todos os servos e guardas, aquele foi conhecido como o desastre de Tang-Mu, aquela terra maldita perdeu uma de suas grandes famílias e sua história jamais seria ressarcida novamente.

Eu vaguei pela região das montanhas próximo a montanha de Deus, me alimentando de animais e tentando encontrar algum objetivo naquela miserável vida.

Quando era um demônio eu pensava em conquistar toda essa região, eu não esperava ser reencarnada como demônio do gelo, quando era um dragão celestial eu gostava de passear pelas geleiras de Wushuu, talvez fosse por isso.

Àquela família fez um pacto pedindo ao dragão do vale do vento frio por prosperidade, e eu dei isso pra eles de alguma forma, mas o que eu dou, eu posso tirar.

Apesar de ter apenas 10% da força que eu possuía, era difícil alguém aguentar comigo.

Desafiei todos da seita do gelo e matei todos os seus líderes.

Fiquei alguns anos sendo cultuada como a rainha do vale do vento frio, mas aquilo de nada importou, aquele lugar era um tédio.

Eu não sabia o que desejar.

Eu devia mesmo desejar alguma coisa?

O banimento dos céus de início pareceu uma coisa boa, pois eu estava cansada de brigar por terras e vagar por aí, mas agora eu não estava fazendo nada de diferente, lutando contra os guerreiros que me desafiavam, controlando algumas seitas e vagando em busca de emoção.

Eu precisava de algo... mais.

Me relacionei com vários homens mas nenhum deles me trouxe o prazer verdadeiro.

Talvez eu já estivesse morta por dentro. Eu não vivi nem por um milênio e já estava cansada de tudo, talvez por que não existia alguém a minha altura?

Os demônios estavam proibidos de deixar as regiões em que foram selados.

Todos os dez demônios foram selados em regiões diferentes do murim para evitar que se encontrassem, mas descobri depois que eu podia sair, mas o poder que me restava, conforme a distância que eu fosse, se esvairia e diminuiria.

Se eu resolvesse sair de perto das montanhas de Deus e da região gelada, eu certamente acabaria como um humano normal.

Era isso que eu queria!

O que uma pessoa forte pode querer além de desafios?

Pensei que ao sair daquela região as coisas fossem ficar mais empolgantes, mas o meu erro foi o mesmo da maioria; o amor.

Quando cheguei próximo ao Pico do Vácuo acabei enfrentando o demônio de ferro, aquela sádica miserável acabou comigo, ela, estando em seu território, tinha ampla vantagem, mas até que foi bom, sentir a dor depois de séculos, poder ver meu sangue jorrando. Que sensação!

Eu fui deixada a beira da morte em um córrego, foi quando ele me resgatou.

O grande falcão Hueng-Khuan, o sucessor do trono de Falung.

Eu fui levada até sua cidade e ele cuidou de mim gentilmente. Eu já estava recuperada mas mesmo assim me fingi de doente só para observar as coisas.

Ele era um homem viúvo, sua esposa havia morrido a alguns anos, eles deixaram dois filhos, o mais velho era o menino que herdaria o trono e a garota uma menina ingênua e delicada, me lembrando da minha primeira encarnação.

Eu fiquei com raiva demais daquilo.

Eu não aguentava olhar para ela e ver como eu havia sido um dia, e além disso... Eu havia nutrido sentimentos por aquele homem.

Nos relacionamos algumas vezes, ele nunca soube minha identidade, e apesar de querer ser sua esposa, eu sabia que não poderia.

Aquela garotinha frágil começou a orar por minha ajuda, ela acreditava mesmo em um Deus da montanha gélida, bom, eu passei a fingir um pouco lá, fazendo algumas proezas e trazendo certos desastres, não era tão mal assim.

Enquanto eu vivia na montanha gélida, descia para visitar o grande falcão às vezes.

Aquela menina orava pela minha ajuda para se libertar, parece que afinal, ela era bem igual a mim.

Ela queria apenas ser livre e no fundo, querer uma vida mais emocionante. Eu a salvei diversas vezes e também comecei a provoca-la fazendo-a cair em infortúnio. Aquilo me deixava excitada.

Brincar com a vida de uma pessoa em específico era melhor que controlar uma seita ou um reino!

Poucos naquelas proximidades oravam para mim, mas aquela garota tinha uma enorme fé no ‘Deus da montanha gélida’.

Mal sabia ela que eu havia trepado com seu pai várias vezes, foi então que ela havia me pedido algo um dia... Eu percebi que essa garota era mais demônio do que eu.

Desejar a morte do seu pai para se sentir livre. A única pessoa que eu já senti algo na minha vida mundana.

Quando percebi, o meu QI impulsivamente fazia os desejos dela virarem realidade. Por um tempo mesmo que eu parasse de ajuda-la ou brincar com ela, já existia uma ligação entre nós.

Eu emprestei meus poderes de ilusão pra ela mas o seu desejo fez a maior tragédia acontecer. Eu perdi a única coisa que me importava, mas agora eu havia encontrado outro objetivo: Acabar com a vida daquela maldita da pior maneira possível.

Eu fiz ela sentir apego àquela vila e se sentir a sucessora.

Quando ela pensou que poderia criar um lugar de paz e ser algum tipo de rainha, eu acabei obliterando todos daquele lugar.

Ela já sabia que era eu, mas mesmo assim continuou dependendo dos meus poderes.

Ela criou uma ilusão revivendo todos aqueles moradores, e pensar que essa putinha frágil seria tão audaciosa e cruel.

Por um tempo deixei que ela vivesse nessa ilusão, mas aí que eu coloquei o desespero.

Eu sabia desde o início que ela não podia se misturar com o selo da lótus, minha linhagem é associada com esse selo, desde que ela fizesse um pacto comigo, apesar de ganhar meus poderes, ela morreria aos poucos, e quando ela morresse, toda sua vila também iria pro saco.

Foi prazeroso ve-la desesperada matando aquelas garotas tentando colocar o selo nelas, mas apenas alguém do cosmo poderia suportar, não era fácil encontrar alguém assim...até aquele dia.

Quando ouvi aquelas palavras, eu sabia que devia finalizar esse meu objetivo. Algo maior havia aparecido. Eu tinha me lembrado o que mais me importava naquela merda. Eu iria me vingar do criador que me fez cair, para tanto, eu precisava chegar até o último céu.

— Você... é louca mesmo, né?

Yuan-Shui ficou sobreolhando a mulher que não parecia ser irônica.

— Estou falando sério! Eu quero ir com vocês!

— Só se eu cortar sua cabeça e carrega-la comigo.

Jia-Li sorriu e se abaixou encarando o demônio do gelo.

— Aiai, não precisa ser assim, hein.

— Muito bem.

Huo-Lei surpreendeu a todos falando.

— Eu aceito isso mas, com uma condição.

— Condições, condições, bla bla bla. Pode dizer aí, quer que eu dê pra você todos os dias?

— Ora sua...

Jia-Li havia sacado sua espada e seu corpo havia ficado com uma aura prateada.

— Calma irmã, não tem porque cair na provocação dela.

Yuan-Shui segurava novamente Jia-Li.

— Eu vou fazer um pacto com você, criarei um selo em meu coração e no seu, à partir do momento em que eu morrer, você morre também, e caso tente alguma gracinha com a Jia-Li, eu vou esfaquear meu coração e você vai morrer na hora. Eu já ‘voltei’ a vida antes, você viu, não vai ser tão difícil pra mim.

— EI, por que eu também não!?

Yuan-Shui chorou.

— Há, só isso!? Não queria te matar mesmo desde o início! Eu te disse... você é alguém que tenho interesse. Aliás, eu vou te ajudar a ir pro último céu, você pode pegar minha força emprestada.

A demônio do gelo lambeu seus lábios olhando provocantemente para Huo-Lei.

— Aliás, se querem saber quem disse sobre vocês.... Fui eu! Eu mesma! HAHAHAHAHA, eu me fiz passar por um cara qualquer e enganei aquela tontinha. Feliz agora?

— Você...

Jia-Li não podia mais aguentar, ela estava prestes a picotar o corpo da mulher amarrada.

— Entendo. Você fez tudo desde o começo, brincou com a vida daquela garota e com todos da vila, não pense que pode ser perdoada por isso. Temos interesses em comum, não sei porque quer ir pro último céu, mas se você nos ajudar a chegar lá, posso te matar no fim da jornada.

— AI! Gosto assim, você sabe como tratar uma mulher.

— Irmão! Como pode concordar com isso!?

Jia-Li havia ficado abismada.

— Não tem porque temer, o selo não deixará ela fazer nada, além do que, vimos que ela é forte, com tudo que está vindo por aí, precisaremos de ajuda.

— Mesmo que seja... ajuda de um demônio!?

Yuan-Shui também não conseguia entender.

—Ei que porra de preconceito é esse? Eu sou bem útil sabe, e sou sexy, posso seduzir algumas pessoas se preciso (?)

Depois de alguma conversa, os três concordaram em deixar a demônio do gelo de juntar.

Huo-Lei fez o selo e o pacto entre eles, além de eles ficarem de acordo entre ela também não machucar Yuan-Shui, para sua alegria.

— Aliás, meu nome é Yi-Fang, é muito rude ficarem me chamando de demônio.

— Mas você é um!

Yuan-Shui não conseguia entender o comportamente daquela pessoa.

Yuan-Shui e Jia-Li foram pegar algumas sobras de comida daquela cidade fantasma, Huo-Lei ficou para trás e parou Yi-Fang.

— Agora que estamos sozinhos, você pode me dizer a verdade.

A mulher olhou com espanto para o rapaz e sorriu em seguida.

— Então você já sabe, é? É claro que sim.

— Me diga... Quem realmente te disse sobre mim e a Jia-Li.

Huo-Lei olhou friamente e com ferocidade para os olhos rosados da mulher que não desviou seu olhar.

— Você está mesmo me perguntando isso?

— Não vai me dizer?

— E por que eu preciso? Você já sabe... a pessoa que disse aquilo para Mei-Khuan, foi você.