A Jornada Para o Último Céu escrita por Kamihate


Capítulo 19
Capítulo 18 - Caminho Tortuoso




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Eu...tinha feito o suficiente, não é? Já não precisava mais trilhar por esse caminho tortuoso cheio de espinhos por mais tempo, certo?

Quando eu fiz o selo em Jia-Li, senti que meu fardo havia acabado. Me ajoelhei e comecei a chorar enquanto via o sangue escorrer do corpo daquela garota inocente.

Não me culpe, eu não tinha escolha!

Há 10 anos eu fui jogada no inferno e não pude mais sair, desde então eu venho mantendo a vida de mais de 3 mil pessoas, eu decidi não soltar a corda, por mais que eu dissesse pra mim mesma que o próximo dia seria o último.

Eu era filha de um grande guerreiro da cidade de Falung, desde que eu tenho memórias da infância, meu pai me protegeu e não deixou que o caminho marcial da família Khuan chegassem até a mim, meu irmão era quem herdaria as técnicas e o peso de ser um descendente do grande falcão Hueng-Khuan, mas depois daquele dia em que meu pai e meu irmão saíram para a batalha contra os 'imigrantes negros', eu não tive escolha a não ser tomar conta do clã, tendo em vista que ambos foram encontrados mortos empalados em estacadas na montanha perto da seita do céu prateado.

Eu me tornei a única sobrevivente dos Khuan e não podia mais deixar aquela cidade.

Meu sonho sempre foi conseguir viajar pelo mundo e encontrar o 'começo de tudo', as lendas que eu ouvia do meu avô sobre a fênix que morava na última montanha do Murim, e quando uma pessoa ao olhar em seus olhos podia ver todo passado e o futuro ao mesmo tempo.

Eu estava presa em um destino que não havia escolhido, mas justamente por isso fui amaldiçoada com essa chaga que não se cura.

O erro que cometi foi desejar deixar esse lugar.

Desde pequena eu sentia que tudo que eu desejava, de alguma forma, acabava acontecendo.

Meu pai havia ficado doente e pedi fervorosamente a deusa da montanha gélida de Falung para que o curasse. No dia seguinte meu pai amanheceu tão bem que já foi caçar javalis.

Quando eu me perdi na floresta dos sanguessugas eu me ajoelhei e pedi novamente, uma andorinha apareceu e me guiou para fora.

Quando eu tinha 13 anos e acabei sendo sequestrada por dois maníacos, eu orei fortemente para a deusa e os dois acabaram me deixando ir, mesmo já tendo tirado minha roupa e estando prestes a me estuprarem.

Como eu poderia amaldiçoar minha sorte?

Mas como meu avô disse, tudo tem um preço.

Ele me disse de uma certa lei da troca equivalente que ouviu em algum lugar, eu sempre achei que era besteira, mas agora eu estava pagando por toda aquela sorte que tive antes.

Se fosse esse o pagamento eu preferiria ter morrido naquela floresta! Eu não queria ficar mais sozinha, mas depois que a tarefa foi me dada, tudo que eu podia fazer era agarrar aquela responsabilidade sem hesitar.

Todas as pessoas de Falung estavam sob meus cuidados!

Eu olhava para a montanha gélida com lamentação, meu coração tremia ao imaginar como se parecia o mundo real.

Foi então que aquele dia maldito acabou com tudo que ainda restava.

Uma escuridão enorme tomou conta de Falung, em menos de três horas todos os habitantes, exceto a mim, foram mortos por uma doença misteriosa que deixaram manchas negras em seus corpos.

Eu corri de casa em casa procurando sobreviventes.

Velho Xang, a vovô da pousada... Tio Neng, irmã Lian. Todos estavam mortos.

Estaria eu tão amaldiçoada assim?

Por que eu estava viva? O que diabos aconteceu para que eu fosse poupava tantas vezes?

Foi então que a deusa da montanha me disse em um sonho. "Se você quer se redimir pelo que aconteceu, então aprenda o caminho da ilusão."

O caminho da ilusão era um caminho oposto ao da seita que meu pai pertencia, os Khuan nunca podiam entrar em contato com ninguém desse caminho ou do selo do cosmo, se isso acontecesse essa pessoa seria amaldiçoada para sempre.

Mas o que diabos? Eu já estava amaldiçoada!

Nada mais podia importar, então eu apenas segui até o pico da montanha e quebrei o túmulo do demônio e aprendi a técnica da ilusão no dia seguinte do desastre.

Desde esse dia eu passei a enxergar o mundo preto e branco, um selo havia surgido em meu ventre, eu senti que havia uma linha vermelha em meu coração ligada a montanha.

Quando voltei pra cidade, todos os moradores estavam vivos, mas eu sabia... Eles eram apenas uma ilusão. Cadáveres ambulantes.

Eles estavam de volta à vida mas apenas em uma realidade que a ilusão me deixava ver.

A cidade de Falung foi isolada do mundo e sobreposta em uma espaço realidade criado enquanto eu estivesse viva com o selo da ilusão infinita.

Lá tudo permanecia normal. A vovô cuidava da pousada, todos viviam pacificamente, a irmã Lian vendia seus bolinhos na sua barraca, tudo parecia nunca ter chegado a um fim, e me dispus a acreditar nisso, tanto que depois de um tempo eu nem me lembrava mais de que apenas vivia em uma ilusão, até o dia em que eu comecei a cuspir sangue e me sentir mal.

O médico Luong me disse que me restava apenas um ano de vida, eu tinha sido envenenada pela maldição do selo do cosmo...

Essa vida era uma grande mentira.

Tudo que eu havia feito até agora era em vão!?

Parecia que alguém estava brincando comigo, todo esse tempo nada valeu a pena!

Se eu morresse, todos da vila iriam morrer também. Eu não podia... A única coisa que eu fiz de boa nessa merda de vida foi manter todos ali, manter a cidade de Falung era meu dever como herdeira!

Se eu morresse o selo seria desfeito, ao menos que eu encontrasse alguém pra ficar em meu lugar... foi quando aquele demônio apareceu.

Um homem com o olhar mais frio que já presenciei em meus 30 anos, mas mesmo assim, eu ouvi seus conselhos. Meu desespero não me fazia mais julgar nada nem ninguém. Ele me disse que em breve uma garota do selo do cosmo iria aparecer da seita do céu prateado.

Eu já havia raptado vários viajantes por aí, eu era a única que podia sair da cidade, afinal, mas nunca podia ir além da montanha. Eu precisava de alguém do selo do cosmo para ficar em meu lugar.

Mesmo sacrificando mais de 30 pessoas, nenhuma delas conseguiu suportar o selo. Era uma total ironia pois eu mesma não tinha resistência ao selo do cosmo, então por que esse selo exigia uma pessoa assim?

Quando eu vi Jia-Li na estrada eu senti que ainda tinha uma chance, mesmo que aquilo fosse me custar novamente algo muito importante.

Eu já tinha dominado todos os caminhos da ilusão, eu traí meu clã e todos os princípios dos Khuan, mas não me importava mais.

Quando levei aqueles 3 até a pousada e os fiz entrarem em meu mundo, eu já sabia que ou eu seria liberta ou morta.

Eu precisava apenas que alguém ficasse em meu lugar suportando o selo da ilusão. Aquelas pessoas sabiam que estavam mortas, mas continuavam a viver apenas pelo meu esforço, todos me pediam para desistir, mas eu não poderia! A única maneira de alguém se desfazer do selo é morrendo ou passando pra outra pessoa, aquele selo jamais podia ser desfeito se não fosse por essas condições, eu não devia ter mais nem duas semanas de vida, eu iria persistir até o último suspiro.

Mas então porque... por que esse desgraçado conseguiu acabar com o selo!?

Jia-Li chorava com a espada ensanguentada em suas mãos após matar seu irmão. Como ele saberia? Como!?

Eu gritei sabendo que a corda que eu estava segurando durante muito tempo finalmente... havia sido cortada.

 


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