— Como assim ilusão? Estamos em algum tipo de feitiço de alguém?

Yuan-Shui começou a se mover para os lados com sua espada empunhada em mãos.

— Não sei ainda, mas estamos presos nessa cidade.

Os dois rapazes tentaram por três vezes sair da cidade por caminhos diferentes mas sempre voltavam para o mesmo ponto. Não havia nada por lá, exceto o gato preto que haviam visto antes, mas ele havia desaparecido.

— Mas como fomos parar aqui? Será que no momento que entramos na cidade?

Yuan-Shui perguntou enquanto subia em uma árvore para tentar encontrar algum sinal.

— Não, se fosse isso, a Jia-Li estaria aqui também, certamente isso ocorreu no quarto, mas nós fechamos bem a porta, eu consigo acordar quando ouço passos próximos, treinei minha audição pra isso, ninguém pode me pegar enquanto durmo, ao menos que...

— A comida!

Yuan-Shui desceu da árvore em um salto.

— Pode ser mesmo, é a única explicação.

— Mas você já ouviu falar em algo do tipo?

— Não, mas existem feitiços poderosos que até um alquimista lendário desconhece no murim.

Huo-Lei e Yuan-Shui decidiram voltar para a pensão e ver se encontravam alguma pista lá, e ao entrarem em seu quarto, viram uma ampulheta quase na metade.

— Irmão Huo... Você se lembra disso aqui?

— Certamente não estava aqui.

"Se essa ampulheta foi colocada aqui quando saímos, então certamente tem mais alguém 'preso' aqui. Não, não posso pensar de forma tão simples, primeiro que eu sentiria se tivesse alguém, o irmão Yuan também, rodamos a cidade com afinco e eu aumentei minha percepção focando meu QI nas linhas neurais, não existe chance de alguém ter passado despercebido, eu ao menos sentiria uma fraca pressão espiritual. Então isso..."

Huo-Lei abriu seus olhos e se virou para Yuan-Shui.

— Irmão Yuan, você se lembra quando pegamos no sono?

— Hã? Ah, não... Eu dormi primeiro, você ainda estava acordado lendo aquele livro de técnicas do endurecimento corporal.

— Eu não me lembro também quando dormi, mas eu sei que dormi. Quando você me acordou eu estava sonolento aquela hora.

— Acha que dormimos instantaneamente então?

— Eu não sei, mas as coisas aqui não parecem estranhas? A cidade mudou repentinamente, o que significa uma coisa.

Huo-Lei abriu a janela e olhou para o céu.

— Um dos dois lugares é um sonho.

Yuan-Shui ficou sem entender e pegou a ampulheta.

— Como assim? Dois lugares?

— O que estávamos e aqui. Não sabemos se essa é a realidade e estamos presos em uma barreira ou se onde estávamos era um sonho ou ilusão.

— E como é que acordamos disso?

— Precisamos testar pra saber. Quero que você me bata com toda força irmão, ao ponto de me desacordar. Tente acertar no pescoço.

Yuan-Shui ficou encarando Huo-Lei sem entender.

— O que foi? Me bata logo.

— Não... é que, por que isso? Quer começar uma briga do nada?

— Seu idiota, vamos, se eu estiver certo, isso vai nos ajudar a sair daqui.

Yuan-Shui se sentiu receoso, mas ao ver o pedido sério de Huo-Lei, ele lhe desferiu um forte corte com suas mãos na direção do pescoço de rapaz que fechou seus olhos enquanto caía desacordado.

— HÃ?

Huo-Lei havia caído da cama e batido a cabeça na penteadeira que estava ao lado.

— "Então aquele era um sonho..."

Ele rapidamente se levantou e olhou para os lados, Yuan-Shui ainda estava dormindo, Huo-Lei tentou acordá-lo mas ele não respondia mesmo após vários tapas no rosto.

— Talvez só consigamos acordar do outro lado..

"Mas se for isso, como ele vai acordar? Espera, Jia-Li!"

Huo-Lei correu até o quarto onde sua irmã estava mas foi interrompido no trajeto com uma lança passando de raspão em sua barriga e sendo cravada na parede.

— Era melhor ter ficado dormindo, moleque.

Huo-Lei olhou para baixo e viu um homem que era um dos seguranças da pensão no momento em que entraram na cidade.

— Eu devia saber que era uma armadilha.

Huo-Lei ignorou o homem e correu até o corredor do quarto de sua irmã, mas com um salto, o homem parou em sua frente.

— Se a senhorita descobrir que eu não estava vigiando o quarto eu certamente irei morrer.

O homem brutamontes, usando outra lança de madeira com uma ponta fina e bem prateada começou a desferir golpes retos na direção de Huo-Lei, o rapaz desviava com rápidas contorções do seu abdômen dando passos para trás.

— Saia do meu caminho.

Huo-Lei usou a palma de sua mão para bloquear a ponta da lança, ele havia aprendido a técnica de endurecimento de corpo na noite passada, por mais que ainda consiga apenas endurecer um membro por vez, isso foi o suficiente para fazer com que a lança parasse na sua palma, aproveitando a surpresa do homem, com a outra mão, Huo-Lei usou um movimento de garra de águia, agarrou o cabo da lança e a puxou com precisão para ele, e em um rápido giro de 360 graus usando os dedos dessa mesma mão ele cravou a lança na testa do homem grande que caiu de costas morto no chão fazendo um estrondo pelo local.

Huo deu um salto e parou na frente do quarto de Jia-Li, mas ao entrar, tudo que encontrou foi a velha Gao olhando pela janela quadrada.

— Ora, você tem o sono leve, pelo visto.

— Onde está minha irmã!?

Huo-Lei se aproximou sacando sua espada, a velha Gao se virou sorrindo.

— Se quiser, pode me matar, mas eu faço isso apenas pelo bem de todos, na verdade, é o mínimo que posso fazer pela senhorita, depois de tudo...

— O que você quer dizer? Quem levou a Jia-Li!??

— Sei que é doloroso dizer isso mas, se você e seu amigo quiserem 'sair' dessa cidade, eu sinto que só há uma opção.

A velha tirou uma fita de encantamento do bolso de sua calça e estendeu para Huo-Lei, nele estava o nome de Jia-Li envolto do caractere 'morte'.

— Você terá que matar sua irmã.