A Jornada Para o Último Céu escrita por Kamihate


Capítulo 125
Capítulo 121 - Não Humana




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“Eu sei que não tem como eu ser mais humana.

Já me conformei com esse fato há muito tempo.

Na verdade, eu não lembrava mais o que era ser um ser humano.

Eu nasci em uma família pobre e desde cedo tive que trabalhar ajudando minha mãe para cuidar dos dois irmãozinhos, meu pai foi um soldado da seita do gelo que acabou morrendo em uma das guerras contra o império demoníaco. Que ironia.

Eu comecei a odiar os demônios e prometi treinar artes marciais para vingá-lo, mas como uma mera filha de uma cortesã faria isso?

Enquanto minha mãe dava pra velhos gordos mercadores e donos de terras, eu vendia pêssegos na frente da minha casa, era assediada por esses mesmos cretinos mesmo com 8 anos de idade, mas não tinha o que ser feito.

Meus irmãos viviam desnutridos, o império do gelo era vivia em um regime ditatorial fechado, onde apenas membros da realeza e dos guardas oficiais recebiam benefícios e dinheiro.

A maioria das pessoas vivia na miséria em situações até piores do que a minha, portanto, eu não podia reclamar.

Já vi várias crianças morrerem nos colos de suas mães no meio das ruas enquanto suplicavam por migalhas de comida.

Qual era a diferença de um demônio para um ser humano?

Aos poucos minha mãe começou a ir menos pra casa, e quando ia, ela se afundava em bebida e me batia para descontar suas frustrações.

Mas tudo bem, eu ‘aguentaria’.

Por quê eu tinha que aguentar mesmo?

Talvez por falta de opções, o que uma garotinha podia fazer em uma sociedade maligna e injusta como essa?

Eu tentei aprender artes marciais, mas nenhum dojo da cidade me queria como aluna, quase fui molestada ao implorar para um dos professores da seita do gelo.

Eu apenas queria deixar aquele lugar…

Me perguntava se existiam terras quentes e calmas além daquelas muralhas de gelo, e se as pessoas de outros lugares eram menos maldosas.

É óbvio que não.

Meu pai quando era vivo me contava todos os tipos de histórias de outros povos e das guerras que participou.

A seita do sangue fazia rituais malignos com crianças vivas, as jogavam em fogueiras e caldeirões para as ferverem tentando invocar demônios e criaturas de outros mundos.

Eu rezava para que algum maldito Deus aparecesse mesmo e devorasse todos de uma vez, por quê acho que ninguém ali tinha mais salvação.

Eu aguentei até então, mesmo após ver minha mãe degolar meus dois irmãozinhos e depois enfiar a faca em seu peito e se debater no chão feito uma galinha, eu aguentei.

Por quê eu aguentava?

Por que não havia nada que eu pudesse fazer para lutar contra a realidade infernal.

Inferno…é?

Eu ouvi histórias do meu pai sobre isso também, um local que você é enviado ao morrer, de tortura eterna onde o fogo lhe consumiria dia e noite, haviam várias criaturas horripilantes que devorariam sua carne e ossos e depois te ressucitariam para fazer as mesmas torturas de novo e de novo.

Minha mãe e meus irmãozinhos haviam ido para lá?

 

O que eles fizeram para merecer isso? 

Ninguém podia me responder essa questão.

Depois que fiquei sozinha, aos 12 anos passei a me prostituir para sobreviver. Vivia em casas de magnatas, vivendo como escrava, sendo humilhada e ferida, até o dia em que eu fui ‘convocada’ pelo ‘Deus’ que tanto esperei.

Então minhas orações foram ouvidas? Que piada hahahahhahaahahaaaaaaaaaaaaaaaaa.

Cuidado com o que você deseja, onde eu tinha ouvido essa frase?

Aquele Criador que todos louvavam, que era quem havia criado o murim, que intercedia por todos, que poupava os fracos e oprimidos…Ele me chamou para o seu lado!

Como eu não podia ficar feliz?

Havia sido recompensada por todos esses anos de dor.

Mesmo após cinco anos sendo estuprada, usada e servindo apenas como uma boneca sem vida para compartilhar o QI infinito do ‘Criador’, eu ainda acreditava que algo ia mudar.

Eu só preciso…esperar.

 

Quanto eu devia esperar?

Foi então que eu percebi; Eu já estava morta e tudo aquilo era o inferno.

A cada nova esperança que tu alimentava, uma nova besta me esquartejava. Não tinha o que fazer, não havia libertação.

Eu iria apenas…aguentar?

MAIS?

Me tornei um dragão e comecei a apenas apreciar a dor humana.

Eu cuidava da região da seita do gelo, o continente ‘perdido’ do norte, todos os dias eu via o sofrimento e a dor daqueles menos afortunados, eu ria e ansiava por mais, aquilo me fazia desejar mais a destruição desse mundo.

No final, eu não era a única que vivia presa no inferno. 

Ao viver como dragão eu percebi que minha vida como humana não era tão ruim como eu imaginava, ao ver tantas pessoas morrendo de forma fria, sendo torturadas, passando por todos os tipos de atrocidades…Mas de que adiantava? Agora eu tinha o PODER. O poder para mudar alguma coisa.

O velhote me deixou com a região do norte, mas aquilo começou a me cansar. Eu queria ver se o mundo era mesmo totalmente podre, se aquelas tragédias se espalhavam como um vírus, eu queria encontrar um sentido pra tudo isso.

Por quê eu aguentava?

Não, eu não aguentava mais.

Se eu pudesse voltar a ser humana…Eu ao menos teria o que é necessário para destruir esse mundo.

Eu e minhas irmãs não podíamos pensar em se opor contra o criador, ele podia nos matar apenas retirando nossos poderes, eu era uma das regentes daquele mundo, eu devia estar satisfeita, mas por que eu só ficaria satisfeita ao destruir tudo?

Depois que destruí uma vila toda de bandidos por capricho eu fui punida em uma sala de tortura por uma semana, eu era apenas um fantoche do criador, a cada destino que eu alcançava, o nível do inferno aumentava.

Será que alguém virá para me tirar daqui?

Foi quando menos esperei, eu estava de volta à terra, eu havia caído.

A queda dos dragões ocorreu em um momento que eu já estava aceitando meu destino, mas minhas memórias foram perdidas, eu comecei apenas como um ‘demônio’ qualquer. 

Depois de ter matado minha família por terem obrigado minha irmã a se casar com um velho gordo pedófilo, eu finalmente me dei conta que não podia fugir do meu destino, não importa quantas vezes eu renascesse… Eu era um demônio.

Decidi me tornar a rainha do vale do vento frio por um tempo, o ancião Fang decidiu me consagrar e dar um lugar em seu império depois que matei os principais líderes da seita do gelo.

Ele não ficou ressentido, pelo contrário, se animou por ter uma ‘deusa’ ao seu lado.

Uma deusa, é? Hahahahaha

O grande engano dos humanos é cultuar demônios achando que são deuses.

Até fui prometida em casamento para um de seus filhos, mas aquelas eram pessoas deploráveis, vivendo vidas apenas buscando poder e riquezas, iguais a todos os humanos.

Eu queria ver o mundo.

Algo que me fizesse viver!

Foi então que eu finalmente conheci Huo-Lei, ele foi o primeiro a me fazer me sentir viva, por mais que eu sentia que ainda estava sendo usada por ele, não importava mais, depois de conviver com tantos humanos insignificantes, comuns e deploráveis, eu havia achado alguém que valesse a pena, e era por isso que não me importava em destruir essa maldita seita que me acolheu há alguns anos.

 

Você quer mesmo lutar contra nós dois, demônio?

Na minha frente estavam Hsiu-Lan e Xao-Mei, eu poderia dizer que eles eram tão fortes como o Huo-Huo, mas naquele momento, eu não iria perder.

Eu esperei até demais sabe… É HORA DE FODER COM ESSA SEITA DE MERDA DE UMA VEZ.


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