A Jornada Para o Último Céu escrita por Kamihate


Capítulo 112
Capítulo 108 - Fique Mais Forte




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Eu sempre fui uma pessoa covarde, não posso negar.

 

Desde pequeno evitava grandes desafios

 

Meu pai era um instrutor de esgrima, ele me ensinava tudo que sabia e me incentivava a me tornar o herdeiro do seu dojo, mas aquilo era um saco.

 

Eu era forçado a treinar todos os dias por algo que eu nem me interessava, não via sentido em ser mais forte, sendo que alguém mais forte ainda poderia aparecer e me matar.

 

Por qual razão esses mestres marciais ficam mais fortes? Para o prazer de lutarem? De se sobreporem a alguém?

 

Eu não ligava pra isso, apenas queria passar os dias lendo meus livros e cantando, mas obviamente meu pai não me permitiria ter tais luxos, tanto que ele queimou todos os meus livros em determinado momento, tudo para que eu seguisse o caminho da esgrima

 

Vendo que nem isso adiantou pra me ‘motivar’, ele acabou me trancando em um templo abandonado e o selou até que eu conseguisse por si só imitar seus dois golpes mais fortes.

 

Isso durou semanas, pois eu nem mesmo tentava.

 

Ele me levava comida mas em certo momento começou a se irritar pela minha falta de zelo e perseverança e começou apenas a me dar água.

 

Eu tentei ser mais teimoso ainda e fiquei oito dias sem comer, mesmo com o corpo fraco e a cabeça sonsa, eu iria mostrar pra ele que não seguiria esse caminho, mas foi então que, no décimo dia, ele parou de vir.

 

Achei que isso havia chegado longe demais, ele pode ser um cara frio e duro, mas ainda era meu pai

 

Ele havia me batido algumas vezes, mas nunca pra me machucar, sempre foi no intuito de ensinar algo, mas me abandonar em um local assim enquanto eu morria de fome…

 

Talvez ele queresse que eu desistisse e aprendesse as técnicas não importava como? Mesmo que ele tivesse que se rebaixar a um demônio e deixar seu filho a beira da morte.

 

Pra família Tian, o importante sempre foi a honra e manter a tradição.

 

Eu era seu filho único, minha mãe ficou infértil depois do meu nascimento, foi dito que eu peguei muito do seu QI e tirei sua capacidade de engravidar, por conta disso, eu era sempre excluído pelos demais na vila, meu pai me odiava e talvez por isso tentava impôr essa sua ‘disciplina’, querendo que eu me tornasse forte por compensar a deficiência que causei em minha mãe.

 

Ela havia ficado depressiva mas sempre me tratou com amor e carinho, diferente do meu pai, ela dizia que eu não tinha culpa. E afinal, eu tinha? Eu não escolhi isso, pode-se dizer que foi apenas azar dela, então por que eu tinha que sofrer com isso?

 

Mas graças a esse repúdio que sofri das demais crianças, eu me isolei e me tornei alguém que sabia mais coisas que ele devido aos livros que lia, todos os dias chegava a ler mais de três, eu pegava emprestado do velho Lisan e da vovó Minjing, eu lia qualquer livro que me dessem, fazia tudo pra me afastar da arte da espada.

 

Todos na vila cresciam visando ser lutadores, até mesmo as mulheres, mas eu era o filho anômalo que só queria ler e ficar isolado do mundo.

 

Me tratavam como se eu fosse doente, meu pai chegou até a pensar em me colocar em um templo ou retiro quando eu era menor, mas ele não desistiu de tentar me fazer seu sucessor.

 

Será que ele chegaria até o ponto de me abandonar?

 

Eu não queria morrer, mas também não queria obedecê-lo.

 

No 13º dia eu não aguentei mais de fome, já havia desmaiado duas vezes, foi então que peguei a espada e comecei a treinar, mas meu pai não aparecia.

 

Vinte dias se passaram, eu já mal conseguia ficar em pé, mas o selo naquele lugar continuava e nem sinais do meu pai. 

 

Eu havia tentado o mesmo golpe várias vezes, será que nenhum havia sido suficiente?

 

Comecei a chorar e pedir por perdão, implorei pra que meu pai me tirasse de lá, mas ninguém me respondia.

 

Eu não sabia quantos dias a mais iria durar, naquele ritmo eu poderia morrer a qualquer instante.

 

Eu comecei a vomitar líquidos do meu estômago, talvez pela fome, cuspia sangue e tentava comer até mesmo madeira dos cômodos para saciar a fome, mas nada adiantava. Bebi minha urina e até mesmo cogitei em comer partes do meu corpo, todo inseto que via eu devorava sem pensar, eu sentia dores em todas as regiões do corpo, meu coração batia lentamente, eu não tinha forças nem pra manter os olhos abertos.

 

Me arrastava no chão para ir atrás de alguma barata que via.

 

Minhas mãos secas e que podiam ter os ossos quebrados com qualquer movimento mal conseguia se aproximar do inseto, eu emitia sons aleatórios com a boca pois minha voz não saía.

 

Meu pai havia me deixado pra morrer.

 

Foi isso que pensei, e talvez fosse a dura realidade. A culpa foi minha por ser teimoso e não querer treinar?

 

Por quê eu tenho que pagar com a vida por isso? Esse mundo ao menos me deu escolhas?

 

Queria amaldiçoar aquele desgraçado com todas as minhas forças, mas não conseguia, eu não tinha força nem pra manter o mesmo raciocínio por alguns segundos, eu sabia que morreria a qualquer momento.

 

Foi quando algo entrou por aquela barreira, eu senti uma presença poderosa como nunca havia sentido anteriormente, alguém que podia destruir minha vila toda balançando sua espada.

 

Você quer viver, jovem?

 

Eu ouvi uma voz rouca que me deu um pouco de esperança, mas não conseguia abrir meus olhos nem me mover, muito menos falar, mas o homem tornou a me questionar.

 

Você quer viver?

 

Eu ouvi isso e queria responder com todas as forças, queria dizer que sim, mas eu não conseguia, foi então que eu ouvi algo cair do meu lado. Tentei abrir os olhos lentamente e só enxergava vultos. Vi uma vasilha com alguns pedaços de carne seca e uma combuca com água, eu orei para Deus para ter forças para pegar aquilo, e depois de muito esforço eu consegui usar minhas últimas energias pra tomar a água toda de uma vez, eu comecei a chorar sem saber quem estava lá, mas era grato.

 

Mas pra viver, você precisa ficar mais forte.

 

A voz de quem pareceria ser uma pessoa idosa foi ficando mais distante, até que eu percebi que ele havia saído da sala. 

 

Depois de alguns minutos eu consegui criar um pouco mais de força para comer a carne que fora jogada, eu a devorei engolindo sem mastigar e senti uma enorme dor em meu estômago, mas com aquilo, um pouco de QI foi reconstruído dentro de minhas vias, eu finalmente consegui ficar em pé e percebi que aquela cabana ainda estava selada.

 

Pensei por um momento que podia ser meu pai, mas aquela voz e aquela aura não eram dele, era alguém que nunca vi antes.

 

Eu gritei e tentei quebrar a barreira, várias placas azuis brilhantes sobrepostas em todas as saídas, do lado de fora eu não conseguia ver quase nada por conta da mata que rodeava o local, mas eu sabia que não havia ninguém.

 

Eu nasci com uma capacidade de QI muito maior do que toda minha família, conseguia sentir alguém mesmo distante, e não havia ninguém ali há pelo menos uns mil metros.

 

Meu pai havia me levado distante justamente para isso, para que eu não pudesse pedir ajudar.

 

“Você precisa ficar mais forte”

 

Por quê todos me diziam isso? Que merda importa ser mais forte seus bastardos?

 

Eu ainda sentia fome, aos poucos meu corpo foi ficando fraco novamente, eu desisti de tentar quebrar a barreira e apenas esperei, talvez o velho retornasse, mas dois dias se passaram e ele não voltou.

 

Tornei a ficar sonso e com o QI esgotado, eu meditava mas a fome não permitia o QI se condensar nem fluir, nem um cultivar de nível mais alto conseguia vencer a fome.

 

Pensei que se eu começasse a treinar e ficar mais forte, aquele velho poderia voltar, mesmo zombando de mim mesmo por ter tal pensamento, resolvi começar a treinar com a espada.

 

Repeti todos os movimentos que meu pai me ensinou, até que, depois de mais um dia, o velho entrou na cabana novamente ignorando completamente o selo, ele carregava um saco de mantimentos e um pouco de água.

 

Acha que vai ficar mais forte com isso? Duas técnicas? Você precisa aprender todas as técnicas que já leu sobre, de que adianta ter apenas conhecimento?

 

Ele era um velho de barba grisalha longa e cabelos finos que pareciam penas, seus olhos murchos e suas costas curvadas já mostravam que ele tinha uma certa idade, apesar do seu nível de cultivo ser muito mais alto de todos os lutadores que vi até agora.

 

Quem é você?

 

Eu questionei mas o velho ficou me provocando ainda.

 

Ele apenas me deixaria sair quando eu atingisse cinquenta técnicas do clã Tian.

 

Aquilo era impossível! Mesmo que eu me esforçasse…

 

Mas ele disse que a cada cinco técnicas aprendidas ele me traria comida, então treinei todos os dias incansavelmente naquela cabana mofada e escura, um templo maltrapado e sem vida, longe de tudo.

 

Depois de cinco meses eu havia finalmente consegui dominar todas as técnicas.

 

Eu não havia descoberto quase nada sobre aquele velho, ele apenas me trazia comida, me dava broncas e dizia para eu melhorar, mas isso me motivou a finalmente me esforçar um pouco mais.



Chegou o dia então em que ele me libertaria daquele lugar, mas inesperadamente, ele não veio, eu vi apenas a barreira sendo desfeita.

 

Corri para longe indo em direção a minha casa amaldiçoando meus pais.

 

Por quê eles não foram atrás de mim? Se passaram quase seis meses! Minha mãe podia não saber onde eu estava, mas meu pai…

 

Eu queria matá-lo, como ele pôde fazer isso?

 

Mas ao chegar na minha vila, minhas pernas começaram a tremer ao ver uma cena que nunca mais esquecerei.

 

Todas as pessoas estavam mortas, seus cadáveres putrefatos espalhados por todos os cantos da vila, mutilados, dilacerados, alguns decapitados e com os membros arrancados. Foi um verdadeiro massacre.

 

Sem esperanças, corri pra minha casa mas já sabia o doloroso destino que me aguardava.

 

Minha mãe estava morta pendurada em suas próprias tripas no meio da cozinha, meu pai estava com um rasgo em seu crânio, seu cérebro sendo devorado por vermes, todos os corpos estavam pretos e com um cheiro horrível, como ninguém pode ter visto aquilo depois de tanto tempo!? Calculei que já estavam mortos a meses, mas eu não conseguia mais realmente pensar em nada, apenas queria me vingar de quem havia matado minha mãe, e apesar do ódio que sentia pelo meu pai, eu também fiquei triste, no final, talvez ele não tivesse me deixado naquela cabana.




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