Caminho das Centelhas escrita por Sir Rail Zeppelin


Capítulo 9
Bem-vindos a Port Seanesse parte 1 - Sobre meu valor




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Num súbito reflexo eu me levanto ofegante, levantando guarda e empunhando uma espada que nem existe em mãos. 
  -A serpente, boamerma, onde? 
  -Se acalma, a serpente marinha já era. Você fez questão de eliminar ela 
  -Então eu consegui? Eu derrotei ela 
  -Você desmaiou porque sua fonte exterior de mana se esgotou e você começou a drenar força do núcleo de mana, deu sorte que a garota do seu grupo é uma ótima médica. 
  -Luise? 
  -Não sei ao certo ao nome, mas Luise não é a garota com a espada? 
  -Sim 
  -Então não, a médica é a outra, a loira. 
  -Garrias? Não sabia que ela era médica. 
  -E das boas. Aliás, apesar de todos estarem muito gratos que você matou uma serpente marinha tão rapidamente, alguns querem te enforcar por isso. 
  -Por quê? O que eu fiz? 
  Será que eu fiz de novo aquilo? Aquela coisa tomou conta de mim, eu novamente agi como um “cachorro louco”? 
  -Bom, muitos marujos são apenas pessoas normais viajando por esse mar, nem todos são aventureiros, há aqueles que querem usar monstros como uma serpente marinha como amplificadores de poder, e bom, você pulverizou a serpente, não deixou nada dela para contar história haha 
  -Amplificadores? 
  -Sim, nunca ouviu falar? 
  Balanço a cabeça em sinal negativo 
  -Bom, por onde eu começo... ah sim, claro, eu mesmo. Eu uso o amplificador do polvo destruidor Giantilus, um polvo que muito aterrorizou as águas do país de onde eu vim. Quando o matei, usei seu núcleo de mana para amplificar o meu, bom, as consequências foram, como você consegue ver que ganhei tentáculos e minha aparência não é igual a antes, tive que pedir a uma bruxa que me amaldiçoasse para que eu não morresse ressecado. 
  -Então o fato de você estar sempre molhado é uma maldição? 
  -Isso mesmo, mas em troca de todas essas desvantagens, eu agora sou muito mais forte do que já fui um dia 
  -Então amplificar, nada mais é do que usar o poder de uma criatura para aumentar o seu? 
  -Eu expliquei mal, mas é quase isso. Por exemplo, não adianta fundir o poder de uma criatura fraca ao seu mana, seu mana simplesmente vai absorver o outro e se manter igual ao que era antes. Por exemplo, quando você mistura leite com mel, o que acontece? 
  -O mel se dissolve no leite, apesar de deixar o leite mais doce, ele visivelmente não está mais lá. 
  -Correto, agora o que acontece se você mistura leite com chocolate? 
  -Os dois se unem, se fundem, se tornam um só, não só na aparência mais em todos os aspectos, cheiro, sabor e... agora entendi! 
  -Sim garoto, se for uma criatura fraca e com mana inferior ao seu, seu mana vai apenas devorá-la e não vai adiantar de nada, mas se for algo igual ou maior que o seu, algo incrível pode acontecer 
  -Mas se o da criatura for maior que o meu, o que impede dela me devorar com o mana dela? 
  -Por isso quando fazemos isso, matamos a criatura que desejamos usar como amplificador antes. Afinal, os mortos não têm vontade própria. 
  -Nossa... valeu, aprendi algo novo hoje. 
  -Disponha, bom, eu tenho que ir agora, vou escoltar o capitão, em breve chegaremos à terra firme 
  -Já estamos chegando a Zetsuen? 
  -Zetsuen? Não, vamos nos atrasar, a rota principal para lá foi bloqueada pelo governo da ilha, vamos dar a volta, só chegaremos lá daqui a 8 dias. 
  -8? Era pra ser apenas 3 
  -Contratempos garoto, contratempos. Bom, eu vou indo, boa recuperação para você. 
  Pouco depois que ele sai, nem dando tempo de eu me perder em pensamentos, Luise abre a porta. Ela parece hesitante, quando vejo que é ela, esboço um sorriso, mas seu rosto de repudio logo tira o sorriso da minha cara. Como alguém que nem queria estar ali ela diz: 
  -Reunião, mudanças nos planos. Vem. 
  -Ah...er... ok 
  Com muita dificuldade me levanto e começo a seguir ela, vamos a um quarto na parte mais funda do navio, na sala está Sans que nem olha no meu rosto quando entro, o cara que tocava violão na outra noite, Garrias sentada, mas inquieta, talvez preocupada. 
  -Err... oi pessoal 
  -Confirma a conferência – diz Sans cortando minha fala 
  A tela de conferência se inicia e aparece o Diretora Irons, um outro homem com o símbolo da Ilha de Zetsuen, talvez algum dos governantes. 
  -Equipe B, como você já bem sabem, Zetsuen teve que fechar suas fronteiras principais para evitar propagação do que está acontecendo na ilha, somente a fronteira leste está aberta, por isso vocês irão demorar um tempinho a mais para chegar no local. Por mais que evitemos a vazão de informações, alguns governos já sabem da situação. Então resta a vocês terminarem a tarefa de vocês o mais rápido possível assim que chegarem à ilha. Vocês irão se encontrar com a equipe A na ilha da alegria. A partir de lá vocês vão seguir viagens juntos, vai ser um bom exercício pra aprenderem a trabalhar em grupo. Outra coisa que devo dizer é sobre o ventre maldito, antes havia dúvidas sobre a causa do que está acontecendo em Zetsuen ser culpa de um ventre amaldiçoado, agora temos certeza! Eliminem o ventre antes que o sétimus venha a nascer... isso é tudo 
  -Espera – Sans a interrompe – E quanto a ele? 
  Eu já esperava por isso, ele pergunta apontando pra mim, eles realmente não me querem na equipe 
  -Vamos mesmo levar ele? E se aquilo que aconteceu com ele nos aquedutos acontecer novamente? O que impede aquele cão raivoso de matar seus aliados? 
  -Senhor Knight-Stemma 
  -Sim – respondo um pouco receoso 
  -Acha que consegue controlar aquela coisa que o senhor se tornou em Thunderbird? 
  Claro que não, eu nem sei o que é aquela coisa..., mas não posso responder apenas isso. 
  -Não senhora. 
  -Viu só, ele é um descontrolado que pode acabar com a missão – diz Sans em tom de repúdio a mim 
  -Mas, eu sei que posso controlar para não me transformar naquilo. Enquanto eu estive nessa forma que me reportaram, eu não me lembro de nada do que fiz ou como fiz. Mas sei que em minha forma humana eu posso barrar essa transformação de algum jeito. 
  -E me deixa adivinhar, você não conhece esse jeito – novamente Sans em repudio 
  -Não Sans, mas conheço meus limites. 
  -Diretora, com todo respeito. Não dá para levar uma bomba relógio para a batalha! 
  -Senhor Katheos, não gosto de remoer o passado, mas se me lembro bem, o que salvou vocês naquele aqueduto de morrer foi justamente a pessoa que você está julgando ser uma bomba relógio. Nenhum de vocês presentes nesta sala teve força para subjugar a ameaça não é mesmo? Isso até me deixou em dúvida se vocês eram realmente as pessoas que eu queria para essa missão que é de um risco muito maior. Por isso decidi que a missão de vocês será apenas terminada caso o sétimus ainda não tiver nascido. Caso o sétimus já tenha vindo a este mundo, abortem a missão e voltem imediatamente e abandonem Zetsuen! Senhorita Mazenta, você está no comando da equipe B, quando se encontrarem com a equipe A, decidam entre vocês quem vai comandar as duas equipes. 
  Depois do que a diretora disse ninguém nem se atreveu a questioná-la, um silêncio se manteve até que a tela foi desligada. 
  -Tenta não estragar tudo – diz Sans esbarrando com força no meu ombro 
  Depois do esbarrão, instantaneamente caio no chão, mal tinha forças para ficar de pé e ainda levo um empurrão de surpresa. 
  -Nem consegue se manter de pé, o que tá fazendo — diz Luise enquanto passa com olhar de repressão 
  -Hey amigo estas bien?  
  O cara de chapéu, sobretudo e botas de couro me pergunta. Eu já o vi antes... claro, o garoto daquela noite 
  -Você é o do violão? - pergunto com quase certeza da resposta 
  -Si, soy yo. Thomaz Vicenzo, o humilde bardo, ao seu dispor caballero 
 -Um bardo, isso explica o violão. 
  Também chegando, Garrias me ajuda a levantar. 
  -Não liga para os dois, eles estão com medo do que viram aquele dia – Garrias diz me colocando de pé junto a Thomaz 
  -E você não está? 
  -Não é que eu não esteja com medo – ela começa - É só que eu sei diferenciar quem quer me salvar de quem quer me matar e naquele dia, por mais carniçal que você tenha se tornado, você queria me salvar. 
  -Obrigado pelo voto de confiança Garrias 
  Ela dá leves risadinhas 
  -Disse algo errado? 
  -É que você é o primeiro que me chama de Garrias, meu nome. Todos os outros se referem a mim como majestade ou princesa 
  -Ou dulce heredera— o bardo diz em forma de cantada 
  -Só você me chama assim bardo. 
  -Desculpa, vou chamá-la pelo seu título de agora em diante, não vou cometer este erro mais – digo a ela me retratando 
  -Não, não. Pode ser Garrias, fica melhor assim. Então, vamos? O navio atracou na nossa primeira parada. 
  Assinto com a cabeça. Ela sobe as escadas na frente. 
—Hey cabron, creio que a princesita tem, como é que eu vou dizer, fuego por ti! 
—O que cê tá dizendo cara? 
—Acredite em mim manito, eu sei quando una mujer está embelesada  
—Está o que? 
—Embelesada, sabe... como tu dices, ah si gamada né? 
—Garrias Crowngold? Gamada em mim? Conta outra. 
—Tenías que ver como te curaba las heridas, ela estava fixada em tu 
—Meninos, vocês vêm? – Garrias diz da parte superior do navio 
—Sim – respondo – Vamos logo Thomaz. 
—Claro mi amigo, mas pense bien no que te dije. 
Chegando lá fora, dá para se ver uma ilha bastante movimentada, casas feitas de tijolos cinzas, a fumaça toma conta do lugar, ratos por toda parte, o cais todo cheio de merda de pássaros e alguns outros dejetos que prefiro acreditar que não sejam de humanos. Não sei se é minha mente pregando peças, mas o rastro, aquele mesmo rastro vermelho. Eu consigo o ver em toda parte! 
—Que lugar de mierda, donde estamos? 
—Port Seanesse, a pior ilha deste lado do mar dos 7 – fala carregando um barril pra fora do navio o homem do braço de polvo 
—O que hacemos aqui entonces? – pergunta Thomaz 
—Suprimentos bardo, apesar de ser um lixo de lugar, eles têm muito gás e muitas outras coisas para abastecermos o navio 
Agora que reparei, o navio apesar de ter velas, estão todas recolhidas, na popa do enorme navio havia algum tipo de maquinário que estava fazendo ele navegar pelas águas. Talvez o gás que ele disse seja para abastecer aquilo. 
—Bom, o que vamos fazer enquanto isso? – pergunta Garrias confusa e tentando manter sua capa tática vermelha limpa da fuligem que caia como neve nesse lugar 
—Vamos a un bar tu y yo— Thomaz diz olhando para mim – y por supuesto mi amada princesa – ele diz beijando a mão de Garrias que rapidamente tira as mãos antes que os lábios dele a toquem 
—Não sei onde vão, mas segurem esse maldito bardo, quase fomos mortos em uma ilha por culpa dele 
—O que ele fez? – indago curioso ao homem de braço de polvo 
—Dormiu com a mulher de um chefe de crime organizado 
Tanto eu quanto Garrias paramos e olhando fixamente para o bardo o pensamento e a fala é a mesma 
—TOMA JEITO THOMAZ. 
— Esta história está muy mal contada, estoy siendo crucificado injustamente – ele diz enquanto segue caminhando rumo a cidade 
Desço no cais e começo a seguir o bardo, quando sou pego pelo braço por Garrias 
—Ei, você está bem mesmo? 
—Bom, eu acho que não tenho mais costelas, dói só de piscar o olho, mal consigo ficar de pé e acho que estou vendo tudo dobrado. Tirando isso, eu estou pronto para outra. 
Ela dá uma risada tímida, acho que entendeu minha piada sem graça. 
—Quase me esqueci Sword. 
—Esqueceu o que? 
Eu já estava indo em direção ao bardo, quando me viro novamente para ela, seus olhos azuis da cor do oceano mais límpido brilharam, mas nada que se compare a cor dourada de seus cabelos refletidos a luz do sol. Ela estava se preparando para dizer algo, e numa súbita tomada de folego ela finalmente diz 
—MUITO OBRIGADA POR SALVAR MINHA VIDA SWORD KNIGHT-STEMMA! 
—Ririri— não consigo me controlar em relação a rir – Rirariariri 
Em meio a tanto seriedade, ainda sim seu jeito de falar era tão fofo e puro, não consigo me conter de rir, ela ficou toda vermelha. 
—Vou salvar a vida de todos que precisarem. E não hesite em me chamar se precisar de mim, eu sempre vou te ajudar Garrias 
Ela expressa um singelo sorriso, acho que isso é um sim. 
—Bom, temos um bardo para encontrar, porque eu já o perdi de vista


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