Kurosaki corria de um lado para o outro, a fim de evitar cada movimento e ataque de Ixchel, olhando ao longe, se assemelhava a uma serpente rastejando e se preparando para o bote. Algo estava mudando, Kurosaki estava tão silencioso, se movendo exatamente como uma víbora. Seus passos eram silenciosos, uma serpente que, mesmo na escuridão, sentia a presença de sua presa. 
   Ixchel, ainda com às "Palmas da Criação" de Tameemon ativadas, tentava aproximar suas mãos novamente para privar Kurosaki de mais um sentido. No entanto, Kurosaki, com sua língua constantemente em movimento, captava as partículas no ar, antecipando os movimentos de Ixchel. Golpe atrás de golpe, todos eles eram blefes, quando Kurosaki iria acertar um chute, ele recuava e reposicionava para então fazer tudo de novo. Nem Ixchel e nem quem estava assistindo estava entendendo o que ele estava fazendo. Até que quando Ixchel decidiu atacar, agora com as habilidades de Kurosaki absorvidas, Ixchel, sabia como atacar e onde iria doer... o mesmo soco que antes despedaçou o golem é preparado e impulsionado para acertar Kurosaki. 

   Ajusta sua postura diante de Kurosaki que avançava como louco. O ambiente ecoa com os sons abafados, Ichel visualizando o alvo. Ele começa a se movimentar, os pés afastados na largura dos ombros, os joelhos levemente flexionados. Os músculos de suas pernas e costas se contraem, preparando-se para a explosão iminente. Seu olhar está concentrado, determinado. Com um giro sutil, Ixchel inicia a rotação do quadril. A energia se acumula, e ele transfere o peso do corpo para o pé traseiro, formando uma base sólida. Seu quadril e ombro se movem em harmonia, preparando-se para liberar a potência concentrada. O momento chega, e ele estende seu braço em direção a Kurosaki que já está com o rosto quase colado no punho de Ixchel. O punho, cerrado com firmeza, viaja rápido e controlado, alinhado perfeitamente com o antebraço. A rotação do quadril e do ombro se traduz em uma força concentrada no braço, e o punho atinge... atinge a parede de vento que se formou e então o som oco ressoa enquanto Ixchel mantém o punho no ar por um instante, concentrando toda a força no ponto de impacto. Os nós dos dedos atingem com precisão, e a energia é transferida de maneira eficaz. É como se o ar tivesse se quebrado! Mas o alvo, o rosto de Kurosaki não foi atingido. 

   Ixchel sentiu um frio correndo sua espinha. Um arrepio. Ele se imaginou numa floresta densa, e úmida, e o que ele havia tentado socar não era Kurosaki e sim uma serpente! Sua visão o engana por instantes, o que ele vê é uma serpente, com escamas cintilantes e olhos fendados brilhantes. Enrolada em seu braço que deferiu o soco. Quando Ixchel volta a si, ele vê Kurosaki segurando seu braço contra o chão, uma chave de braço que imita o movimento de uma serpente.  

   Ixchel, agora totalmente consciente, sente a pressão na articulação do braço. Kurosaki, com sua perícia em artes marciais, aplicou a chave de braço com maestria. A dor aguda e a sensação de restrição lembram Ixchel da eficácia surpreendente de seu oponente. 

—DESGRAÇADO, PORQUE NÃO DESISTE LOGO, ME SOLTA!!!!! 
—Meu pai sempre repetiu várias frases pra mim. E eu levo cada uma delas como um legado de vida! A frase que tenho para você agora é Shoshin kantetsu ( 初志貫徹  - Ir até o fim com seus planos e objetivos.) 

   Kurosaki, decidindo encerrar definitivamente o confronto, aplica uma força devastadora na chave de braço. Um estalo angustiante ecoa no ar, indicando que algo deu errado. A dor que Ixchel sente vai muito além de uma simples pressão na articulação; é uma agonia insuportável. Em um movimento cruel, Kurosaki não apenas mantém o controle, mas também rompe deliberadamente todos os ligamentos do braço de Ixchel. O grito de Ixchel corta o ambiente, expressando não apenas a dor física, mas também a derrota inevitável. O braço, agora praticamente inutilizado, pende de forma desajeitada ao lado do corpo de Ixchel. Kurosaki, impassível diante do resultado, solta o braço machucado de Ixchel, permitindo que ele colapse no chão. 

— Às vezes, a derrota é mais do que uma lição; é a manifestação de nossos limites. Eu não aceito perder, pois reconheço o meu limite e tenho plena certeza de que você não tem a convicção necessária para vencer minha motivação. 

 
Capital Real de Aúdases, Vinceres 
Em algum lugar onde está sendo transmitido o torneio 

—A força da motivação. Tão clichê, mas tão precisa. Uma pessoa sem motivação, é uma pessoa sem alma, mas esse garoto. Kurosaki, ele tem mais do que qualquer outra pessoa. – diz Irons se reclinando na cadeira, pouco “orgulhosa” 
—Acha que acabou? Se Encerrou a luta aqui? Ainda penso que aquele tal de Ixchel da academia Yata tem alguma carata na manga – Joana diz quase praguejando  
—Bom, se ele realmente tiver algo assim... então acabou para Kurosaki, o garoto está no limite, ele está exausto, ferido e sem dois de seus sentidos. Qualquer coisa a mais que Ixchel demonstre agora é o fim para Kurosaki. 

—Então considere que seu aluno perdeu diretora Irons – diz andando em vagarosos passos, Kamui Kogo – Se acha que o que foi mostrado é toda a capacidade de Ixchel, você está enganada Irons. 
—Bom, então o primeiro duelo entre nossas academias, parece que você venceu, pois Kurosaki está no limite! 
—Assumindo derrota tão facilmente assim? Você não é assim Irons.  
—Não assumi derrota. Perdemos uma batalha, não quer dizer que perderemos o torneio. 
—Vai ser incrível poder ter a vitória sob a academia Thunderbird, provar que a academia Yata é melhor que você e seus novos aventureiros.  

  Irons se ergue de sua cadeira, abandonando o assento onde ela e Joana estavam assistindo os eventos do torneio. No que parecia ser um pub exclusivo para a comissão escolar das instituições participantes. Seu caminhar é uma dança de determinação, cada passo ressoando com a confiança que é inerente à sua presença imponente. Ela se apoia, rígida, no balcão onde Kogo está posicionado, sua postura revelando a autoridade que ela exala. 
   Com um olhar firme, Irons solicita uma bebida ao barman, sua voz ecoando no ambiente carregada de comando. "Um copo de Noz Veneno", é a ordem pronunciada por Irons. Enquanto aguarda, ela permanece ali, observando com olhos penetrantes, como se o próprio ar ao seu redor estivesse à espera de suas próximas instruções. 
   A bebida é servida e Irons, com uma elegância calculada, leva o copo aos lábios. O líquido toca sua língua, e instantaneamente um sorriso sutil ilumina seu rosto. É um sorriso que carrega uma mistura intrigante de prazer e segredos, uma expressão que revela que, por trás da fachada imponente, há camadas mais profundas de complexidade... o que ela realmente quer acaba por ser pronunciado. 

—Vamos deixar isso mais interessante, diretor Kogo – diz Irons levando seu copo de volta ao balcão a – Vamos apostar! Quem você acha que será o último aluno de pé no final do Torneio Fronteira? 

   Kogo termina sua bebida, ele se levanta. E prepara-se para sair. Antes ele se vira para Irons com um sorriso no rosto e então responde 

—Sword Knight-Stemma! 

   Joana que testemunhou a situação fica surpresa, pois o diretor apostou contra a própria academia, ele aposto no aluno da academia que era sua maior rival. Por anos a rivalidade entre Yata e Thunderbird era tão intensa, que imaginar que o diretor Kogo, o diretor mais bem sucedido que Yata já teve, iria apostar contra sua própria academia era inconcebível a imaginação de qualquer um.  

—Imaginei que diria isso, não te culpo, Sword é um prodígio, mas ele não é o melhor que temos. Por tanto, não vou apostar em nenhum outro, mas vou apostar que Sword, não será o último de pé! 
—Se eu vencer, eu quero a transferência imediata de Sword para a academia Yata. Vai ser um prazer ter aquele garoto no meu arsenal bélico  
—Já que você vê Sword como uma arma, vou lhe pedir outra em troca. Se eu vencer, eu quero a espada da tempestade que você tem no seu arsenal. Totsuka! 

   Kogo engole em seco, pois aquela espada não era somente uma espada comum. Mas ele ergue a mão para cumprimentar e firmar o acordo da aposta. 

—Temos um trato! 
—Vai ser uma honra ter céu e mar no meu arsenal. 
 
  Ambos retornam a seus lugares, ainda um pouco tensos com o resultado da luta que ainda estava por acontecer 

Capital Real de Aúdases, Vinceres 
Local do Torneio – Area de morada antes da floresta 

—Lição? Que porra de lição você acha que pode ensinar pra alguém se você não for superior a essa pessoa? Você não é melhor que eu e nunca vai ser – diz com um ódio genuíno Ixchel – Não tenho a convicção necessária para te vencer? Eu ouvi isso minha vida toda, não vai ser agora que vou aceitar. Que tudo se exploda, eu não ligo mais! Eu vou acabar com você!  

A expressão no rosto de Ixchel muda. Seu semblante se torna sombrio, enquanto às rochas que antes estavam fundidas a seu corpo começam a cair. Mas a energia, o mana ao redor só aumentou. Ixchel junta às duas mãos e se coloca de joelhos, como se fosse fazer uma prece, uma oração a algum deus... sim, se trata de uma prece. Uma prece a Tamaemon! Ele pousa a mão sob o solo onde às rochas que estavam em seu corpo caíram. 

—Neste depósito mineral inexplorado, onde se prevê que seus gritos serão capturados e seu corpo trespassado por um tormento implacável, o miserável transgressor será condenado a suplicar aos céus com seus gritos agonizantes, um tributo sacrificial ao divino em meio a seus lamentos angustiados.  
Ixchel após suplicar em sua oração sussurra para si “devore tudo, ó serpente do mundo”. O chão começa a tremer, o rosto de Tamaemon pode ser visto se formar em cada rachadura feita no chão. Até que esse mesmo rosto abre a boca e o chão cede! Do chão, uma serpente enorme se ergue e ataca Kurosaki. 
A serpente ergue-se brutalmente do chão, suas escamas brilhando em minério bruto de ouro à luz que a refletia. Ela é uma entidade imponente, uma manifestação da vontade de Tamaemon convocada por Ixchel. Seus olhos, profundos e penetrantes, focam-se diretamente em Kurosaki, enquanto sua boca se abre revelando presas afiadas como lâminas de pedra. A serpente do mundo o abocanha, mas Kurosaki ainda luta. Dentro da boca da serpente ele luta para mantê-la aberta, pois se essa boca se fechar, é o fim para ele. 
O corpo da serpente ondula no ar, uma dança sinuosa. Porém, mesmo tão alto já no céu, o corpo da serpente não para de sair do chão, é como se fosse infinito!  

—O Bote da Víbora, é certeiro e não falha! É seu fim, Kurosaki Tin... 

 
Capital Real de Aúdases, Vinceres 
Em algum lugar onde está sendo transmitido o torneio 

—Parece que Ixchel é realmente forte como Kogo disse que era – diz Joana a Irons. 
—Sim, Ixchel é realmente forte, mas isso não é tudo que Kurosaki tem, não acho que Kurosaki ainda tenha chances reais de vencer, mas ele tem mais a mostrar. 
—Como assim? 
—A regra dos 40% 
—Que regra é essa? 
—Quando estamos sentindo que chegamos no nosso limite, na verdade só demos 40% do nosso potencial. A nossa mente que nos prega uma peça quando chegamos nesse platô de 40%. Que nos sabotamos buscando conforto, quando na verdade podemos muito, muito mais.  

“Após atingir os 40%, o cérebro consegue desbloquear capacidades latentes do corpo humano. Essas capacidades incluem força sobre-humana, velocidade aprimorada, resistência extraordinária e habilidades sensoriais aumentadas. Imagine poder acessar conhecimentos e habilidades armazenados profundamente na mente, desbloqueando talentos e conhecimentos que estavam adormecidos. Além dos 40%, o cérebro entra em estados mentais avançados, proporcionando clareza de pensamento, intuição aguçada e criatividade ampliada.” 

—Mas se Kurosaki atingir isso, o corpo dele não vai começar a ter múltiplas falências? Até porque ele já está com algo ativado, não está? 
—Sim, ele está no ESTADO DE FLOW. E conseguiu quebrar os 40%... O corpo desse garoto é uma bomba relógio nesse exato momento. Esse é o “Fim do Juízo”. 

“O Fim do Juízo representa um estado mental extraordinário alcançado quando uma pessoa transcende as limitações autoimpostas e atinge um nível excepcional de consciência e desempenho. Essa condição é baseada na interseção entre a barreira dos 40%, e o Estado de Flow, que é caracterizado por uma profunda imersão em uma atividade. A quebra dos 40% é vista como um ponto de virada crucial, onde a mente supera as barreiras autoimpostas de autopreservação e conforto, permitindo que o indivíduo acesse reservas internas de habilidades e conhecimentos que antes eram inexploradas. O grande problema é que sem limites, seu corpo começa a quebrar às defesas impostas a ele mesmo e acaba se machucando. Ao atingir esse novo patamar, a pessoa experimenta uma fusão intensificada com a atividade em questão, entrando em um Estado de Flow aprimorado, no qual os limites convencionais entre o eu e a tarefa desaparecem. O Fim do Juízo não é apenas uma questão de desempenho excepcional, mas também envolve uma transformação profunda na percepção e na experiência. Há uma consciência expandida que transcende os limites do pensamento convencional, proporcionando insights mais profundos e uma conexão mais íntima consigo mesmo.” 

—Então basicamente, esse tal “Fim do Juízo” é o Estado de Flow aprimorado? Um nível acima? 
—Quase. Não pense nele apenas como uma evolução, pense nele como o limite que o corpo humano aguenta – responde Irons com um sorriso no rosto 

Capital Real de Aúdases, Vinceres 
Local do Torneio – Area de morada antes da floresta 

A boca da serpente se fecha... o silencio percorre o ar. Até que em instantes a cabeça por inteiro da cobra explode. Da pra ver Kurosaki caindo, como um tiro em direção ao chão, quando ele colide com o que sobrou do chão, uma nuvem de poeira e detritos é levantada. Quando a poeira baixa, Ixchel observa Kurosaki, de pé, seu corpo está exalando vapor, o corpo de Kurosaki está tão quente que o suor que saí evapora instantaneamente e ele está em um nível de utilização corporal tão grande que ele não para de suar. Seu corpo não está parado mesmo quando parado. O nível máximo conhecido de utilização corporal. 

—Eu usei meu golem, não adiantou. Eu usei Tamaemon o deva de pedra, não adiantou. Eu usei a invocação de Tamaemon, a serpente do mundo. E NÃO ADIANTOU. MAS DE QUE INFERNOS VOCÊ SAIU?!!  

Antes de Ixchel perceber, Kurosaki vai ao chão. O corpo dele estava exausto, não aguentava mais. Como uma pedra que cai sob a areia, Kurosaki cai sob o solo destruído abaixo dele. Por mais que não parece, a vitória é de Ixchel Kamanu.