Caminho das Centelhas escrita por Sir Rail Zeppelin


Capítulo 2
Um Gênio chamado Pidoux




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—CORRE!!! 
  É a última coisa que eu ouço Ania dizer, antes que uma figura totalmente escura a cobrisse e com movimentos que eu nem conseguia ver, aquilo quebra o pescoço dela. Mais que diabos é isso? Que coisa é essa que consegue acabar com uma maga de nível 3 tão rápido? Aquela coisa começa a vir na minha direção. Por que simplesmente não corro? Estou paralisado! Não consigo mover minhas pernas, essa adrenalina subindo, esse medo, eu vou morrer? Acabei de sair vivo de uma luta contra uma assassina e vou morrer para essa coisa. 
  A criatura começa a revelar sua forma, as sombras nela se dispersam, quadrupede, era enorme, aproximadamente uns 95 centímetros. Sua mandíbula parecia se quebrar para ficar maior, dentes que mais pareciam pontas de adagas, olhos alaranjados com tons de vermelho flamejando como brasa, sua pelagem curta, porém negra que só de olhar sua própria visão se perde e some neste mar sombrio... um cachorro? Mas grande demais. Num só pulo ele já estava diante de mim, seus dentes cravaram no meu braço, como um palito crava no isopor. A dor que sinto chega a ser atordoante! Ele me arremessou com força de encontro a uma parede, da qual senti minhas costelas se quebrarem. Eu vou morrer, eu vou morrer, eu com toda certeza vou....  
—SOBREVIVER! Eu não vou fazer a morte da Ania ser em vão, eu tenho que correr, só correr! 
  Eu não olho nem para trás. Não posso morrer aqui, ainda não, eu preciso sobreviver. Mas todas as casas estão trancadas, como essas pessoas sabiam que essa coisa estaria aqui? Merda, eu não consigo pensar direito, perdi muito sangue e isso tá afetando minha visão. Droga, preciso me esconder!  
  Subo pelas escadas de incêndio de um prédio e saltando de um para o outro já desço por outra escada de incêndio, me escondo atrás de um muto de beco. Minha respiração tá muito ofegante, eu estou com um medo absurdo daquela coisa. Da pra ouvir ela, rondando cada canto desse lugar, me procurando, mas porque eu sinto que ela sabe onde eu estou? Ela sabe, ela só está jogando comigo. Como eu imaginei, ela surge calmamente a minha frente, dobrando uma esquina, olhando fixamente pra mim, não dá pra fugir disso, não dá pra fugir dessa coisa, maldito cão!  
  Olhar a própria morte é como contemplar um espelho quebrado, você sabe que é você, mas tem algo errado. Parte por parte, aquele maldito cão arrancou, minhas pernas, meus braços, tripas e órgãos, tudo, sem exceções e no fim eu já não tinha mais voz para gritar e nem lágrimas para derramar, o cão me encarou até o último segundo, até que enfim, eu fechasse meus olhos. 
 
  -AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH 
  -Que isso cara? Para de gritar seu louco – Disse Curt, um colega de quarto 
  -Eu não morri? 
  -Até onde eu sei, não. Que merda você tá usando? 
  -Desculpa, foi só um sonho ruim. Desculpa mesmo Curt 
  -Idiota, se não aguenta não usa... 
Não Curt, não tem drogas que me façam sentir e ver o que aconteceu, não pode ter sido só um sonho. 
 
—E foi isso que aconteceu doutora Bradford 
—Me chama de Leen enquanto estivermos conversando amigavelmente Sword. 
—Ah sim, desculpa, eu me esqueço. 
—Bom, Sword, seu sonho, quando ele começou exatamente? 
—No mesmo dia em que eu lutei com a irmã do Enkiu, a Erina. Naquela noite eu já comecei a ter os sonhos. 
—E são todos iguais? 
—Não, sempre muda, sempre tem algo diferente, a única coisa que é igual é a morte da Ania 
—Então eu já tenho algo para te dizer Sword 
—Rápido assim? 
—Sword, a besta que você vê é o seu medo de ficar sozinho Sword, ela sempre mata a Ania porque a Ania é a sua única amiga em toda Thunderbird. Minha única recomendação para você é... FAÇA AMIGOS. 
—Mas o que isso tem a ver com meu combate com a Erina? 
—Você mesmo me disse que não queria morrer ali com sua vida do jeito que estava, queria mudar, fazer as coisas direito. Tá aí sua explicação. 
—Pra mim você tá com preguiça de fazer meu diagnostico Dr. Bradford. 
—Sword, você tá bem, tá saudável, só precisa de amigos, agora sai do meu consultório que eu quero fumar. 
—Eu vou voltar hein 
—Se possível, não volte. 
Porcaria de psicóloga, só quer fumar e me dar diagnósticos imprecisos. Melhor eu me apressar, se não vou perder a aula de alquimia. 
 
Alquimico, sala de processos de alquimia 
 
—Alguém sabe me dizer como fazer uma poção de cura? Humm.. Você senhor Magnoon 
—Com musgo alboredo? 
—Ele não disse qual – sussurro baixo para Enkiu que está sentado ao meu lado 
—Como assim? – ele sussurra de volta 
—Não está de tudo errado senhor Magnoon, mas não é a resposta que eu quero, que tal um dos dois que está cochichando me responder? Senhor Enkiu, poderia me dizer como fazer uma poção de cura? 
—Err... a – Dava para ver o nervosismo no rosto do Enkiu – Qual? 
—Perdão senhor Black, como? 
—Qual poção? 
—Muito bem, me diga como fazer uma poção de cura de vitalidade, as famosas curas gerais 
—Bom, se usa musgo alboredo, pó de eletrolume, algas bioluminescentes do tipo luciferina de pirilampo e água alcalina 
—Modo de preparo? 
—É preciso desidratar o musgo, esmagar as algas até elas perderem a luz, depois mistura-se o pó de eletrolume a água alcalina e espera que ambos virem um só voltando o tom da água ao transparente, depois é só misturar com o musgo e as algas e beber. 
—Muito bem senhor Black! 
—Mandou bem – sussurrei para o Enkiu 
—Eu só disse o que achei que você iria dizer – ele sussurrou de volta 
—Hã? 
—Ele não tinha dito qual tipo de poção de cura era, por isso imaginei que o qual que você disse fosse isso 
—Entendi. 
—Como vocês bem sabem alunos, existem diversos tipos de poções de cura, de cura geral, cura parcial, cura focada, cura de venenos líquidos, cura de venenos de esporos e etc. O importante não é saber o que fazer e sim como vai fazer e quais ingredientes vai usar. Nas aventuras em dungeons, 2% das mortes são por mau preparo de poções. Não é a métrica mais assustadora que verão, mas já são números significativos de mortes, então, eu vou ensinar vocês a fazerem as melhores poções na aula de hoje. E somente hoje, pois não quero ficar preso a algo tão simples como poções. Abram o livro na página 1459, vamos falar sobre as poções olho do solstício e suas propriedades que deixam causadores de dano no patamar de um berserker. 
 
As aulas de alquimia são legais, mas não são minha praia, ainda bem que acabou. Bom, vamos para a próxima. 
—Você vai para onde agora? – pergunta Enkiu 
—Tenho aula de combate teórico agora 
—Ah, eu tenho de introdução a magia, bom, até mais tarde 
—Nos vemos depois. 

Torres superiores, sala de combate teórico 

—Fui notificada que os imbecis dos alunos não estão sabendo diferenciar a merda do próprio mana, então acho que vou ter que explicar do zero para vocês como funciona o mana! E não adianta me olhar torto, porque se os acéfalos quisessem aprender sobre técnicas melhor hoje, saberiam pelo menos diferenciar os manas! Então nossa aula de técnicas teóricas de combate fica pra outro dia. Todos vocês venham até aqui na frente e peguem um livro 
A professora Galliardos não é ruim, ela só é muito ocupada e cansada, dá pra ver as olheiras profundas daquela mulher, ela parece ter uns 40 anos, mas só tem 21 anos. Ela é recém-formada em especialização de combate. Suas notas são impressionantes, e ela publicou um artigo sobre armas para causadores de dano que no outro dia já era considerado uma grande descoberta e na outra semana empresas que produziam em massa armas para causadores de dano ao redor do mundo se adequaram a este artigo. Ela é brilhante, mas parece não ter tempo nem pra ela. 
—Muito bem, agora que todos estão com seus livros, notaram algo estranho neles? 
—Não parecem ser um livro – um aluno disse com olhar de desconfiança para o que estava em sua mão 
—Exatamente, são placas de reconhecimento! Elas são usadas para conseguirmos medir a classificação de aventureiros e cavaleiros. Senhorita Pidoux, o que está fazendo na minha aula? Você é uma healer até onde eu sei, não deveria estar em introdução a magia? 
—Senhora Galliardos – a garota se põe de pé – Eu tenho permissão da diretora Irons para assistir as aulas que eu acredito ser melhor para meu crescimento como healer, por isso deduzi que combate teórico era melhor do que introdução a magia, se eu souber como estão atacando eu sei como vou curá-los, fora que posso conhecer melhor tipos de lutadores para assim saber exatamente como agir em determinadas situações. 
—Primeiro, não me chama de senhora, eu sou apenas alguns poucos anos mais velha que você. E segundo... eu odeio prodígios. Tudo bem, pode se sentar, na verdade, se mantenha de pé e me responda quais as classificações de cada categoria de aventureiro e dos cavaleiros, 
—Começando pelos aventureiros, todos são classificados por níveis de 1 a 7, quando ultrapassam os 7 níveis eles se tornam mestres em suas respectivas categorias. Magos, Bruxos e Feiticeiros existem variados tipos, eu por exemplo sou uma feiticeira healer, mas existem vários outros, quando um mago ultrapassa o nível 7 ele se torna um arquimago, quando um bruxo o faz ele se torna um covenant, quando um feiticeiro o faz ele se torna um alvo-feiticeiro.  
Caramba, parece que os boatos sobre Luthien Pidoux ser um prodígio realmente eram verdade. Dizem que ela faz isso pra agradar a família. Deve ser meio complicado quando ser é meio elfo, principalmente quando é a única meio elfo da família. 
  -Para causadores de danos é um pouco mais fácil, já que eles não possuem ramificações. Quando ultrapassam o nível 7 se tornam hypercarry. Tankers após o 7 se tornam paladinos ou destrutores.  
—Muito bem, agora me fala sobre os cavaleiros senhorita Pidoux. 
—Cavaleiros não são medidos por níveis e sim por estrelas, quanto maior o nível de estrelas, mais poderoso é o cavaleiro. 
—E como se chama o líder dos cavaleiros? 
—Só pode existir um líder de cavaleiros por período, nunca mais de um e ele só está abaixo do governante máximo de Aúdases, o líder dos cavaleiros é nomeado de Cavaleiro Arcanjo. 
—Obrigado por especificar para mim senhorita Pidoux. Bom, vamos focar nos causadores de dano, afinal, essa aula é para vocês. Como vocês já estão cansados de saber, é impossível para um causador de dano usar magia, mas causadores de dano manipulam o mana de outra forma. Transformamos isso em aura! A aura nada mais é que o revestimento de combate que nós fazemos para entrar em combate, expondo o mana para fora e então criando técnicas, movimentos e qualquer outra coisa com a aura para poder se igualar com os tankers e os magos. A aura pode ser manipulada de diversas formas, você pode criar formas com a aura, criar clones de si mesmo, fortalecer seu corpo ou fortalecer armas que esteja usando, usar para ficar mais rápido, mais resistente a algo e etc. Existem os excepcionais casos em que alguns conseguem transformar aura em elemento, muito difícil, mas possível. Causadores de dano no geral, são mais fracos que todas as outras classes, então por que é a classe considerada com maior potencial de crescimento? Poderia me dizer senhor Knight. 
—Por causa do despertar da aura professora Galliardos. 
—Consegue me explicar o despertar da aura? 
—Não existem maneiras cravadas de como isso acontece, e nem em qual estágio de estrelas. É espontâneo, mas dizem que são em condições extremas, podem ser extremamente boas ou ruins. E quando acontece, diz que o causador de dano despertado tem 5 vezes mais seu poder máximo. 
—Correto. O despertar é o que todos os causadores de dano almejam e como o senhor Knight bem nos disse, não existe uma fórmula concreta para se despertar, pode acontecer de várias maneiras, mas existe algo a mais. Alguém conhece a teoria dos espíritos de aura? 
Eu com toda certeza já ouvi falar sobre, só não me lembro onde. 
—Bom, deixe-me explicar. Dizem que algumas pessoas, não todas, possuem espíritos de aura, esses espíritos podem ser objetos, pessoas ou animais. Existem algumas escalas feitas de acordo com os espíritos de aura que foram encontrados ao longo dos anos. Quem possuem espíritos como objetos, são considerados os mais fracos entre os três, normalmente são pessoas que não tem muita cobiça na vida e estão satisfeitos com a posição que se encontram. Aqueles que tem pessoas, normalmente é um reflexo seu que aparece na sua mente como seu espírito, pode acontecer de ser outra coisa, mas quase sempre é você mesmo! Essas pessoas são consideradas medianas na escala de poder, normalmente são pessoas que são indecisas. E temos os mais fortes, aqueles que tem animais, não se sabe nada deles. 
—Professora Galliardos, como se sabe se você tem ou não um espírito de aura? – pergunto curioso 
—Os de objetos relatam que começaram a ver o objeto espírito deles em todo lugar, não como miragem e sim atraídos, era como se o objeto ia até eles. Aqueles que não conseguem mais ver seu reflexo no espelho ou veem seu reflexo distorcido são os que tem espíritos pessoas. Bom, sobre os animais, não se tem muita informação, mas dizem que normalmente o que precede essas pessoas que são aptas ao espírito de aura animal é a morte, angústia, dor, solidão. Dizem que o animal em você atrai tudo isso, além dos claros pesadelos. 
—Pesadelos? 
—Sim, normalmente os espíritos de aura animais entram em contato através do mundo dos sonhos. 
Tá de sacanagem! Será que o cão que eu vi? Não... Não pode ser, esses pesadelos devem para em breve. 
—Agora vamos usar as placas de reconhecimento! Pousem suas mãos sobre elas e concentrem suas auras, menos você senhorita Pidoux, já que não é uma causadora de dano. Sente-se com alguém que preferir para poder ter uma noção de como é. 
Dava pra ver nos olhos da maioria que eles não gostavam da Luthien, existiam N motivos para eles a odiarem, ser meio elfo, ser um gênio insuportável, ser rica, já ser uma pré-aventureira. Nenhum plausível, mas as pessoas são cruéis quando querem ser. 
—Posso observá-lo Knight? 
—Ahn? Eu?  
—Tudo bem se não quiser, posso pedir a professora para me ensinar. Não vou incomodá-lo. 
Por que ela deduziu que eu iria rejeitá-la? Talvez já esteja acostumada com a rejeição instantânea.  
—Ei, eu não disse isso, só fiquei surpreso, pode sim. Só não sou muito bom hehe 
—Obrigada, e bom, sobre seu desempenho, não é o que a Ania fala de você por aí. 
—A Ania fala de mim? 
—Ela diz algo sobre você ter correntes. 
A Ania também acha que eu estou me autossabotando, assim como o professor Barbatos. 
—Sem enrolação, comecem a despejar suas auras sob as placas, assim vamos saber o nível de vocês e se são aptos a terem elemento. 
Eu até tento usar a aura, eu não sou muito bom nisso, mas consigo me virar. Só que tem um empecilho... normalmente não tem uma meia elfo linda me observando! Seus longos cabelos castanhos, as mãos delicadas, a pele nem muito bronzeada e nem muito pálida, as sardas no rosto, os olhos cor de mel. Agora que notei, suas orelhas são menores que o da maioria dos elfos, bem pequenininhas e delicadas, mas ainda pontudas. Droga, para com isso Sword, se concentra, vai, se concentra! 
—Olha, acho que deu certo 
—Deu? Eu consegui? 
—Acho que sim, branco? Que cor é essa? 
A professora Galliardos se aproxima com uma cara de alegria perto de mim  
—Branco quer dizer uma tela que vai ser pintada, você tem potencial elementar Sword Knight – Galliardos diz entre risos. 


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