Era outra manhã cinzenta na cidade que nunca dorme e Harry Osborn mal tinha dormido também. Além de detectar hematomas no corpo quando chegou em casa, a ausência de memórias claras o alfinetava. Sem nunca saber lidar com questões inacabadas, sobrou-lhe apenas pesquisar mais sobre o líquido naquele vidro quebrado. Até o momento, tinha três certezas: 

1) A mídia noticiava uma invasão estranha no depósito da Big Pharma.

2) Seu planador foi apreendido.

3) O máximo que a amostra indicava é que o líquido era um estabilizante.

Havia um eco no fundo de sua cabeça, tanto que o movimento de sua mão sobre o papel lhe parecia familiar enquanto esboçava uma possível fórmula para aquele composto. Fora isso, não havia lista do que havia planejado fazer ao leste da metrópole na noite passada, nem porque Felicia estava com ele.

“Bom dia, senhor Osborn”, ela ronronou, adentrando o escritório como fazia todos os dias antes dele saber que era uma criminosa, “Descobriu algo interessante essa manhã?”

Mulher dissimulada.

“Eu planejava um roubo.”

“Veja só, eu também.”

“E não tenho memória dos últimos nove dias.”

“Outra coincidência. Acho que fomos drogados.”

“E por quem? Não faz sentido. Por que eu roubaria algo da Big Pharma? É a Oscorp que vende insumos para eles. Essa empresa até foi a leilão há pouco tempo.”

“Valor do seguro dos insumos?”

“Nada tão patético.”

Silêncio. Agora que conheciam um ao outro com e sem máscaras, não sustentavam mais formalidades. Era hora da trégua e ela foi sinalizada com uma notificação no celular de ambos. Era um alarme programado.

“Alguma observação no alarme?”

“Confie na Duende. Hoffmann”, ela irritou-se com o limite de caracteres, “Alguma no seu?”

“Confie na Gata. Hoffmann.”

“Quem é Hoffman?”

“O novo dono da Big Pharma.”

Harry não imaginava que a empresa tivesse algo a ver com isso, já que dependia da matriz Oscorp. Quem sabe o alerta programado por eles próprios no celular fosse mais que um aviso, mas sim uma indicação sucinta de quem pedir ajuda. Uma medida inteligente de deixar um aviso sem registros. Ele lembrou-se de uma festa programada há meses, na qual diretores das indústrias farmacêuticas estariam — incluindo o provável aliado Hoffman e o principal concorrente da Oscorp: Arthur Lennox.

“Arranje um vestido bonito, Felicia.”