Stella escrita por Vic


Capítulo 46
Carta na manga


Notas iniciais do capítulo

BOM DIA! Sim... eu sei que demorei quase dois meses para postar, mas é que eu estive realmente muito ocupada e até peço desculpas por tanta demora...
Esse capítulo me deu um trabalhão, tive que escolher um diálogo para cortar... mas mesmo assim está tudo bem explicadinho nessas 6058 palavras. Espero que gostem!
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808498/chapter/46

O mais engraçado na morte é que num dia você está fazendo planos para o futuro e sonhando com uma vida que tanto almeja ter num futuro não muito distante, e no outro você é só mais uma pasta em cima da mesa de um detetive que irá se esforçar para tentar te dar um desfecho decente. O dia amanheceu tão rápido, que ele se assustou quando os primeiros raios de sol começaram a invadir a sala e iluminar cada canto escuro do cômodo. Stella ainda estava no andar de cima com a filha enquanto o seu marido gastava todo o seu tempo naquele maldito caso que tinha mesmo conseguido tirar o seu sono e quase toda a sua paz de espírito.

— Neste documento está escrito que a amante do prefeito não estava grávida e os níveis de álcool no sangue dela também estavam normais. – Ele esfregou os olhos com as costas das mãos e virou a cabeça quando ouviu a mulher descendo as escadas. – Mas ainda está faltando saber se ela não estava drogada.

Stella sentou no braço do sofá, sentou a menina nas suas pernas e apoiou o queixo na sua cabeça.

— E você acha mesmo que o prefeito e a amante dele estavam se drogando?

Ele franziu as sobrancelhas ao olhar para ela.

— E quem garante que não estavam? – Encolheu os ombros e continuou lendo o que estava escrito no papel. – Isso sem mencionar que ela é a terceira ou quarta assistente que ele tem num intervalo de dois anos.

A mulher riu com gosto.

— É mesmo? E isso também está escrito no relatório da necropsia dela? – Lily choramingou, reclamando por não estar conseguindo virar a mamadeira para tomar o restante do leite, e sua mãe a ajudou. – O que você acha, meu amorzinho? – Começou a balançar a perna para a acalmar e deu um beijo na sua cabeça. – O papai tem uma mente muito fértil, não tem?

— É isso! – Ainda estava passando os olhos no texto. – Aqui está. – Começou a ler para si mesmo. – Nada de drogas. – Concluiu com uma certa decepção. – Ela estava limpa mesmo.

Ela deu um longo suspiro e comprimiu os lábios.

— E lá se vão as manchetes de amanhã.

— Então isso realmente quer dizer que eles transaram no chuveiro e por acaso ela acabou batendo a cabeça no chão ou até mesmo no próprio chuveiro.

Ela fez uma expressão de falsa tristeza e voltou a sua atenção para o bebê que bocejava no seu colo.

— Acho que ela ainda está com um pouquinho de sono. – Arrumou a criança, deitando-a nos seus braços e se levantou. – Vou colocá-la no berço.

— Não, espera. – Fingiu estar implorando enquanto fazia uma expressão de falsa tristeza. – Ainda vou precisar muito do talento investigativo dela.

Ela riu enquanto embalava o bebê, que ainda estava tentando mamar os últimos resquícios de leite que havia na mamadeira.

— Você consegue. – Incentivou o marido com um sorriso. – Mas tenho que te dizer uma coisa... você está ficando obcecado com isso e nem era mais para estarmos metendo os nossos narizes nessa história.

— Você tem toda a razão... – Abaixou a cabeça. – Estou mesmo começando a ficar obcecado com isso...

— Ei, nada de carinha triste. – Sorriu enquanto estendia a menina na sua direção. – Agora dê um beijo na sua filha.

Ele se inclinou para frente e deu um beijo no topo da cabeça da menina.

— Tchau, princesinha.

Stella se abaixou para ficar da altura dele.

— E agora um na sua rainha.

Ele deu-lhe um selinho.

— Tchau.

— Vamos fazer um acordo? – Indagou com um sorriso no rosto. – Você fica aqui tentando analisar isso como faríamos se estivéssemos no laboratório... do zero, e eu termino de colocar a nossa filha para dormir e desço para te ajudar com toda essa bagunça, combinado?

Ele assentiu, deixando um sorriso discreto se formar nos seus lábios.

— Sim, senhora.

— Examine isso como se a sua vida dependesse exclusivamente disso... – Murmurou num tom manhoso e encolheu os ombros. – Experimente ser um maníaco por controle como eu e eu te garanto que você começará a enxergar a vida com outros olhos. – O som da sua voz foi sumindo à medida que ela subia os degraus.

Ele deu um longo suspiro ao olhar para todos aqueles relatórios e voltou ao que estava fazendo.

— Começar do zero...

Naquele momento, outra pessoa também trabalhava exaustivamente para tentar achar um jeito de resolver aquele problema sem causar danos para a própria imagem.

— Você pode tentar resolver isso do seu escritório mesmo, querido. – Explicou num tom muito ácido. – Já te disse que estou de saco cheio dessa sua cara. – Murmurou com muito desgosto. – Como é que você ainda tem a coragem de me dizer que não fez nada? Uma mulher está morta... uma mulher que era a sua assistente e a sua amante ao mesmo tempo. Você não consegue mesmo ficar com as suas calças fechadas, não é? – Estava começando a ficar irritada. – É claro que isso tem tudo a ver comigo. – Esperou ele responder. – O problema é que eu não sei mais quantas vezes vou ser obrigada a te proteger de você mesmo. – Caminhou até o sofá, sentando-se nele. – Não. Eu não quero jantar com você e é óbvio que não vou te ajudar a fazer média para a imprensa.

Ela ainda nem tinha terminado de falar quando a outra entrou no escritório.

— Acho que esqueci de trancar a porta. – Dixie comprimiu os lábios e fechou a porta enquanto a mulher encerrava a ligação.

Diana se levantou e foi até ela.

— Senhorita D’Amico?

— Sem essa, minha querida. – Abriu um sorriso insatisfeito. – Você sabe muito bem quem eu sou.

— É sério mesmo que o seu nome é Dixie? – Fez uma careta. – Como em Dixieland Rock?

A moça revirou os olhos ao ouvir a mesma gracinha de sempre.

— Sim e você está cansada de saber disso. – Evitou o contato visual. – Meu pai era muito fã do Elvis Presley...

— Estou aqui porque precisava muito te ver e não podia esperar nem mais um segundo. – Explicou antes mesmo que a moça abrisse a boca. – Minha vida está por um fio e eu preciso muito que você me ajude a aparar todas as pontas que ficaram soltas.

Dixie respirou fundo e fechou o punho com força.

— Você sabe que eu não te devo mais nada... – Ela tentou relaxar um pouco, não queria perder a cabeça. – E você também sabe que não fizemos nenhum acordo, só concordei com isso porque você me ajudou com a faculdade.

Diana soltou uma risadinha sarcástica.

— E você se beneficiou muito com isso... – Lambeu o lábio superior com a ponta da língua. – E também tem muitas outras coisas que eu ainda posso fazer por você... – Aproximou a boca do ouvido dela e sussurrou. – Ainda sou a mulher do prefeito.

— O seu marido precisa é aprender a ficar com as calças fechadas e começar a se preocupar mais com os problemas dessa cidade. – Foi curta e grossa. – Você acha que os eleitores vão reelegê-lo quando tudo isso virar manchete nos jornais? – Passou por ela e foi se sentar no sofá.

— Estou muito surpresa com esse seu comportamento, Dixie...

— E eu estou muito surpresa com o fato da amante do seu marido estar morta. – Ao ouvir isso, a mulher se virou para olhar a moça nos olhos. – O que você quer de mim?

— Isso não tem sido nada fácil para mim... – Estava com os olhos levemente marejados, mas fez um esforço para não chorar. – Ouvir os outros falando dos casinhos do meu marido e ter que fingir que não sinto nada.

— Tudo bem... – Engoliu em seco. – Eu sinto muito, mas ainda acho que você não devia ter vindo até aqui.

— Eu não aguento mais viver assim... – Confessou num sussurro angustiado. – Tenho que dar um jeito nisso... mas vou precisar muito da sua ajuda.

Aquela conversa estava longe de acabar, e as duas mulheres estavam muito cientes disso. Dixie serviu um copo de água para ela e esperou a mulher se acalmar um pouco para dar continuidade ao assunto.

— Olha... eu acho que não tem como você varrer isso para debaixo do tapete. – Entregou o copo para ela, que agradeceu com um sorriso singelo. – Ela morreu enquanto transava com o seu marido debaixo de um chuveiro... o Even é muito famoso, e foi lá que ela morreu... e ainda tem toda essa confusão com a perícia e tudo mais...

— Isso só aconteceu porque o encarregado era um verdadeiro incompetente. – Bebeu um pouco da água. – Temos que convencê-lo a resolver isso sem ir ao tribunal.

— Eu não sei nada sobre ele, mas sei que o amigo dele não vai cair sem lutar.

Diana respirou fundo e coçou a cabeça, aquela história estava ficando cada vez mais complicada.

— Então temos que começar a pressionar a família dela. – Optou pelo caminho mais arriscado, estava desesperada demais para pensar nas consequências. – Eles sabem que a reputação da filhinha deles vai ser manchada. Uma vagabunda destruidora de lares...

— Você sabe que não é assim que a banda toca. – Elevou o seu tom de voz, fazendo questão de interromper a outra. – Mas vai lá, tenta a sorte.

A outra soltou uma risada repleta de ironia.

— Você sabe que eu não posso nem pensar em me aproximar deles... – Levou o copo aos lábios, bebendo mais um pouco do líquido antes de completar. – Mas você pode, minha querida.

Ela nem precisou pensar muito para perceber que era ela a carta na manga naquele jogo.

— Tá bom. – Começou a rir. – Você sabe muito bem que a família dela merece uma explicação... e francamente, eu também mereço uma... – As duas se encararam em completo silêncio por alguns segundos. – Você não quer saber o que realmente aconteceu naquele quarto naquele dia?

— Eu... eu...

Em uma outra residência, outros dois agentes da lei também estavam unindo as suas forças numa tentativa de aparar todas as pontas que ficaram soltas no caso da jovem amante do prefeito.

— Minha amiga sabe que você sai convidando mulheres jovens e atraentes para vir até aqui? – Jas perguntou usando um tom muito cômico quando ele abriu a porta. – E onde ela está?

— Lá em cima com a nossa filha. – Mordiscou os lábios e colocou as mãos nos bolsos enquanto observava a amiga se sentar no seu sofá. – Muito obrigado por ter vindo.

— Isso é muito mais divertido do que ser obrigada a ficar de plantão a madrugada inteira. – Massageou as têmporas. – Mas confesso que eu queria mesmo era estar dormindo agora.

Ele foi ao seu encontro, sentando-se ao seu lado.

— Isso aqui é muito mais importante. – Entregou um dos relatórios para ela. – Você vai gostar de saber.

Ela deu um tapinha no ombro dele.

— Acho bom mesmo. – Tirou os sapatos, aproveitando para massagear os dedos que estavam doloridos. – E o que é tão importante assim?

— O seu irmão disse que o nosso amigo estava trabalhando para a mulher do prefeito...

— E eu pensei que era para você e a sua mulher estarem trabalhando nisso juntos.

— E era mesmo... mas agora ela perde a noção do tempo quando está com a nossa filha... – Explicou com um sorriso satisfeito. – E você sabe que não quero atrapalhar... tem hora que parece que ela não vai conseguir descer nunca e eu ainda tenho um livro todinho para terminar de ler.

Jas abriu um sorrisinho ao pegar o ursinho da guarda que estava jogado entre eles.

— Isso chega a ser até meio engraçado... – Acariciou as orelhas do bichinho. – Alguns meses atrás ninguém conseguia fazê-la nem chegar perto da Lily e agora parece que ninguém consegue mais separá-las uma da outra.

Ele também sorriu ao pensar nisso.

— Pois é. – Sussurrou bem baixinho.

Os amigos ficaram jogando conversa fora até ela descer para ajudar com toda aquela confusão. Mesmo com três pares de olhos atentos e inspecionando cada palavra, eles ainda não tinham conseguido encontrar nenhuma outra evidência que ajudasse a sustentar aquele caso.

— É como eu estava te dizendo... – Jas continuou explicando enquanto seus amigos ainda liam as páginas com muita atenção. – O único fato até agora é que a senhora Hubbard realmente acreditava que o marido dela tinha um caso, isso explica ela ter contratado o nosso amigo para tentar descobrir a verdade.

Ele mordiscou o lábio inferior e virou a página.

— E isso tem quanto tempo?

— Foi uma semana antes da morte da Hannah. – Jogou a franja para o lado. – Ele estava mesmo seguindo o prefeito no dia que ela morreu... – O homem parou tudo o que estava fazendo e começou a prestar mais atenção no que ela estava dizendo. – Ele disse que a ouviu gritando...

— Isso provavelmente foi na hora que ela bateu a cabeça.

— Exatamente. – Umedeceu o lábio superior com a ponta da língua. – Ele disse que o seguiu até o saguão e que ele foi direto para uma lojinha comprar um remédio... eu acho que ela acabou se aproveitando disso para contar para ele que tinha contratado alguém para investigar o que estava acontecendo, isso coincide muito com aquela visitinha que o nosso amigo recebeu...

— Então... – Ele titubeou enquanto colocava a tampa da caneta na boca. – Então quer dizer que o prefeito mandou alguém descobrir o que ele sabia? Mas o que era mesmo que ele sabia?

Jas aproveitou para respirar fundo e uniu as sobrancelhas ao explicar:

— Não sei... – Engoliu em seco ao dar de ombros. – Só sei que ele acha que a mulher do prefeito tem alguma coisa a ver com a morte dela. Ele acha que a Hannah tentou terminar com ele, mas a mulher dele descobriu... ou então ela pode ter tentado chantagear ele para não contar a verdade para a mulher dele... são muitas possibilidades... – Estalou a língua e franziu a testa ao se virar para olhar para a amiga, que ainda não tinha dito uma palavra desde que desceu para ajudar. – Mas ainda não temos nenhuma prova.

Will também olhou para ela.

— Você está ouvindo?

— É claro. – Stella disse, mas não desviou a sua atenção do seu objetivo. – Tenho que terminar de ler só mais esse parágrafo.

O celular de Jas tocou e ela abriu a bolsa e o pegou para ver do que se tratava, em questão de minutos a jovem estava calçada e pronta para ir embora.

— Odeio ter que acabar com a festinha, mas parece que aqueles tiras não conseguem mais se virar sem mim naquela delegacia. – Ela deu um beijo no rosto da amiga e levantou-se para ir embora. – Então sinto muito, mas tenho que cair fora.

— Tchau.

— Tchau, mamãe.

— Muito obrigado por toda a sua ajuda. – Will agradeceu enquanto a acompanhava até a porta, fechando-a assim que ela saiu. – É... acho que por enquanto só temos teorias mesmo...

Ela respirou fundo antes de olhar para ele.

— Eu acho que não são mais só teorias...

Ele sentou-se ao lado dela e começou a ler o relatório com ela.

— E o que isso quer dizer?

— Leia esse parágrafo aqui. – Ela colocou o dedo sobre um parágrafo específico no texto. – Aqui está dizendo que ela tinha dois machucados na cabeça e exatamente no mesmo lugar.

Ele franziu as sobrancelhas e ponderou sobre o que tinha acabado de ouvir.

— Então isso quer dizer que ela bateu a cabeça duas vezes?

— Ou que alguém a acertou na cabeça duas vezes no mesmo lugar. – Especulou com uma expressão enigmática no seu rosto. – O suficiente para que houvesse um sangramento cerebral.

— Ter batido a cabeça duas vezes já é muita coincidência. – Encarou a esposa. – Mas isso aqui já é demais.

Stella abriu um sorriso vitorioso e estalou os dedos.

— Exatamente! – Exclamou de orgulho. – Então podemos dizer que isso foi intencional. O responsável por isso tudo só teria que saber sobre o incidente no chuveiro... e a gente também acabou achando que o hematoma tinha sido por causa disso, um álibi perfeito.

— E como ele saberia que a vítima não iria contradizer essa história?

— Ela não viveria o bastante para fazer isso. – O sorriso dela se abriu ainda mais, era como se estivesse recebendo os espólios de uma guerra. – Eu acho que isso é o suficiente para derrubar aquele processo.

Will suspirou e passou as mãos no rosto.

— Mas isso ainda é só especulação...

— Não, meu amor. – Colocou a mão na coxa dele. – Isso aqui é assassinato.

Ele segurou a mão dela e deu um beijo.

— Você é mesmo a minha heroína, querida. – Inclinou o corpo na sua direção e deu um beijo demorado em seu rosto. – Você é incrível, amor.

O turno da noite estava muito tranquilo e isso era muito reconfortante para o casal, que ainda estava exausto por conta daquela maldita noite em claro. Eles ainda sentiam um certo peso em cada um dos membros do seu corpo, mas infelizmente, o dever vinha em primeiro lugar.

— Os resultados só chegarão daqui mais ou menos um mês. – Ele explicava para a esposa enquanto os dois voltavam para a sala dele. – Mas também conseguiremos fazer justiça por Marion Gruber.

— Tudo bem. – Stella esfregou os olhos com as costas das mãos e tentou não bocejar. – Tomara que sim.

Lindsay tinha acabado de chegar e foi direto ao encontro deles.

— Ei. – Colocou um sorriso no rosto. – Muito trabalho?

— Nem tanto. – Foi o homem quem respondeu. – Só temos um bebê muito ativo e muito esperto em casa.

Stella abriu um sorriso ao ouvir aquilo.

— Ela é uma verdadeira corujinha. – Riu ao dizer isso. – Ela não chora e nem nada... acho que ela só quer passar um tempinho com o papai e a mamãe... mesmo que eles passem a noite toda lendo um monte de documentos.

Lindsay riu.

— Vocês dois são malucos, sabiam? – Cruzou os braços. – Vocês não dormem não?

— Mas isso rendeu ótimos frutos. – Stella comentou com orgulho e sacudiu a cabeça para tirar os cabelos do rosto.

— É sobre Hannah Knox. – O marido dela completou com o mesmo orgulho na voz. – Encontramos uma coisa que pode ajudar a provar que a morte dela não foi acidental.

— Oh! – Exclamou com orgulho. – Isso é maravilhoso mesmo. E qual vocês acham que foi a causa da morte?

Stella umedeceu os lábios.

— O nosso palpite é que foi um assassinato.

Lindsay olhou para a entrada do laboratório e sua expressão mudou.

— É a mulher do prefeito. – Revirou os olhos, indo embora no mesmo instante. – É com vocês.

Os dois respiraram fundo e se viraram para ouvir o que a agitada mulher tinha para dizer.

— Foi só falar no diabo para ele se materializar em pessoa na nossa frente. – Stella cobriu a boca com a mão direita e murmurou para o marido. – Eu aposto vinte dólares que ela já tem alguma carta na manga.

— Você tem um tempinho para conversar? – Indagou com uma mistura do que parecia ser tristeza e nervosismo em sua voz. – Eu prometo que não vou tomar muito do seu tempo.

O homem pigarreou e colocou as mãos nos bolsos do jaleco.

— Eu acho que é uma péssima ideia conversarmos sem a presença do seu advogado.

— Mas eu estou aqui quase implorando. – Fechou os olhos e respirou fundo. – Tenho que confessar uma coisa e não posso mais esperar nem um segundo.

Ele olhou para a sua mulher, que deu uma espécie de sinal verde com um simples aceno de cabeça.

— Tudo bem...

— Essa é a coisa mais dolorosa que poderia me acontecer e ter que vir até aqui é muito humilhante... – Explicou, aproveitando para dar um longo suspiro. – Mas vamos arrancar logo esse curativo e acabar com essa história de uma vez por todas. – Fechou os olhos e respirou fundo. – Eu contratei o amigo de vocês para investigar o meu marido... eu desconfiava da possibilidade de ele estar tendo um caso com a Hannah, mas eu ainda precisava de uma prova concreta.

— Eu imagino que tenha sido uma verdadeira tortura ter que vir até aqui, mas não estou entendendo porque decidiu contar isso agora.

— Todo mundo está sabendo que eu contratei o seu amigo para investigar o meu marido, mas ninguém sabe que ele estava seguindo o AJ no dia... no dia em que a Hannah morreu. – O final da frase virou um mero sussurro em seus lábios. – Eu só estou com medo desse processo ganhar força, e do senhor Lamont acabar sendo intimado... e de que toda essa história acabe explodindo de uma vez. – Continuou usando o mesmo tom sussurrado e melancólico. – O meu marido é candidato à reeleição e não tem como a carreira dele sobreviver a um escândalo dessa natureza.

Stella chegou a sentir um pouco de pena dela, mas ela sabia que havia algum interesse obscuro por trás de toda aquela aparente preocupação.

— É muita... é muita gentileza da sua parte, a maioria das mulheres diria que... – Umedeceu os lábios e deu de ombros. – É exatamente isso que ele merece.

— Meu marido e eu somos uma equipe. – Afirmou com um sorriso ainda mais melancólico. – Eu tinha sonhos, mas abri mão de todos eles para dar todo o meu apoio ao meu marido. – Os olhos da mulher tinham mesmo começado a marejar. – Os sonhos dele são os meus, a carreira dele é a minha. Esse incidente não pode acabar com a carreira dele ou... ou... vocês entenderam. – Stella assentiu enquanto o homem ao seu lado tentava não rir de toda aquela conversinha. – Estou implorando, por favor... vamos tentar resolver isso sem envolver a justiça nisso.

O homem arrumou a postura e deu um longo suspiro.

— Olha... eu não quero ser rude, mas no momento estou mais preocupado com o meu amigo do que com o seu marido.

Diana abaixou a cabeça e foi embora sem dizer mais nada.

Ele ainda estava tentando não rir quando se virou para ela e perguntou:

— Você ouviu o que ela disse?

— A única coisa que eu ouvi foi que ela é a maior corna mansa que essa cidade já viu. – Estendeu a mão. – E que você me deve vinte dólares.

O último mês do ano passou tão rápido que quando o casal se deu conta havia chegado na penúltima terça-feira do ano e também no dia do primeiro aniversário da pessoa mais importante no mundo para eles. Stella amanheceu olhando para o rostinho da filha, estava tão ansiosa para a chegada daquele momento que nem conseguiu dormir direito.

— Oi, meu amor. – Cumprimentou a menina enquanto a erguia para fora do berço, dando um beijo na sua bochecha. – Você sabe que dia é hoje? – Indagou, sentindo-se meio boba por estar perguntando aquilo para uma criança que nem sabia falar direito.

— Je! – O bebê ergueu os bracinhos para cima e deu uma gargalhada.

— Isso mesmo, meu bebê. – Também começou a rir, dando uma sequência de beijinhos em seu rosto. – Hoje é o dia do seu aniversário. – O bebê choramingou, tentando se livrar dos beijos da mãe.  – Você está com fome, não é? – Apoiou a menina no quadril, tomando o cuidado de passar uma perninha para cada lado e pegou a mamadeira que havia deixado em cima da cômoda. – Vamos falar com o papai? – Entregou a mamadeira para ela, que segurou com as duas mãos e abocanhou o bico.

Os dois não tinham nem conseguido parar para pensar no que fariam para comemorar o primeiro ano de vida da menina. O ano tinha sido muito conturbado para realizar um evento daquela natureza, mas eles também não queriam que uma data tão importante quanto aquela passasse em branco. Então chamaram os amigos mais próximos e fizeram um bolo para cantar parabéns, uma coisa simples, mas que com certeza ficaria gravado em um lugar especial entre as suas memórias.

O primeiro natal em família também foi comemorado com muita simplicidade, mas os pais da garotinha jamais esqueceriam o enorme sorriso que ela abriu ao desembrulhar aquele que seria o seu primeiro presente de natal. O casal fez questão de registrar tudo aquilo através de vídeos e de fotos, quando a estrelinha colocada pela menina no topo da árvore iluminou a sala, eles sorriram como se fossem as pessoas mais felizes desse universo.

Nas semanas seguintes, eles continuaram trabalhando no infame assassinato da amante do prefeito. Os maiores problemas ainda eram a imensa ausência de provas e o fato deles estarem proibidos de investigar o caso mais a fundo, mas agora solucionar aquele caso havia se tornado uma questão de honra tanto para um quanto para o outro.

— Estou começando a achar que isso aqui vai levar um tempão. – O homem deu um longo suspiro de pura frustração e esperou a mulher bater na porta pela segunda ou terceira vez. – Não podemos simplesmente ir embora e voltar mais tarde?

Stella negou estalando a língua.

— Não mesmo. – Ela segurou a maçaneta, talvez aquele fosse o seu dia de sorte e a porta estivesse aberta. Ao girar, ela mentalizou exatamente isso, e como em um passe de mágica, aquela porta simplesmente se abriu. – Aberta.

Will arregaçou as mangas da camiseta e seguiu a mulher para dentro do escritório.

— O assistente disse que podíamos entrar, então...

Ela fechou a porta e os dois foram até as duas cadeiras que ficavam de frente para luxuosa cadeira do prefeito.

— E agora só temos que aguardar. – Enfatizou com um sorriso satisfeito e se sentou em uma das cadeiras. – Essa é a nossa chance de aperfeiçoar ainda mais o nosso roteiro. – Cutucou o ombro do marido, que virou para a encarar. – E então... o que é mesmo que você vai dizer?

Ele olhou para os lados e se sentou na ponta da mesa, ficando cara a cara com ela.

— Eu acho melhor tentarmos usar as provas contra ele. – Opinou ao inclinar o corpo um pouco mais para frente. – E também podemos citar a reconstituição que fizemos e dizer o que achamos que aconteceu naquele dia naquele quarto de hotel.

Ela ainda achava que aquela ideia era arriscada, mas tentou pensar positivo.

— E você acha que ele vai cair nessa? – Arqueou as sobrancelhas. – Eu acho que ele é esperto demais...

O homem cobriu o rosto com as mãos e tentou pensar melhor.

— Você tem razão. – Concordou ao olhar novamente para ela. – Então... vamos tentar fazê-lo acreditar que estamos do lado dele e que só estamos tentando amarrar o restante das pontas que ainda estão soltas.

— E ele vai perguntar que pontas são essas.

Ele abriu os braços e riu.

— Meu amor... – Segurou o rosto dela entre as mãos. – Você está de que lado?

Ela abriu a boca, mas não saiu nenhum som.

— Eu só quero que tudo dê certo.

Ele murmurou:

— Vai dar tudo...

E antes que ele terminasse a frase, o prefeito abriu a porta e entrou.

— Eu tenho uma agenda muito cheia hoje... – Informou diretamente ao outro homem. – E vocês nem se deram o trabalho de marcar um horário, então acho que não...

— Isso aqui nem vai demorar muito. – O outro interrompeu enquanto ele e a esposa levantavam. – Só queremos que responda algumas perguntas sobre como foi que a senhorita Knox conseguiu aquelas lesões na cabeça.

Stella se apressou em acrescentar:

— Mas se estiver muito ocupado agora, tudo bem. – Colocou um sorrisinho atrevido nos lábios. – Mas iremos atrás de um mandado e então interrogaremos o senhor lá no laboratório mesmo.

O homem simplesmente foi até sua cadeira e se sentou, estava pronto para ouvir.

— O senhor sabia que a sua mulher foi atrás de mim duas vezes? – Will começou o interrogatório. Ele andava de um lado para o outro enquanto esfregava as mãos uma na outra. – Ela me implorou para tentarmos resolver isso fora dos tribunais e ainda jurou que se não fizéssemos isso... a sua carreira seria muito prejudicada.

AJ comprimiu os lábios e assentiu.

— E ela está coberta de razão. – Continuou balançando a cabeça. – Ela está certíssima. Eu sou candidato à reeleição e um escândalo como esse acabaria com a minha imagem. O fato de eu ter traído a minha mulher com a minha assistente... que morreu... vai só acabar de martelar o último prego no meu caixão. Então, é claro que sim. Isso acabaria com a minha carreira.

Will umedeceu os lábios.

— Isso é muito trágico, mas não tão trágico quanto a morte de uma jovem mulher que estava tendo um caso com um homem influente e poderoso. – Usou um tom passivo-agressivo. – Mas seria muito pior se a morte dela não tivesse sido um acidente. – Stella cutucou a perna dele com o pé e ele a encarou.

O prefeito franziu as sobrancelhas.

— O que está querendo dizer com isso?

Ele colocou as mãos nos bolsos e voltou a olhar para o outro homem.

— Estou falando como um cientista e também como um homem que já transou muito debaixo do chuveiro... – Stella cobriu o rosto com as mãos e desviou o olhar, ainda era meio constrangedor saber das coisas que seu o marido havia feito no passado. – É por isso que eu sei que aqueles machucados não batem com a história que você contou e o relatório da necropsia também não bate com essa história. – O homem agora estava muito surpreso. – Ela tinha não uma, mas duas lesões exatamente no mesmo lugar.

AJ arregalou os olhos.

— Duas?! – Colocou as mãos na cabeça. – Mas como isso é possível?

— É exatamente isso que estamos nos perguntando... – Ele respondeu, olhando rapidamente para a esposa e depois voltando a encarar o prefeito. – E então concluímos que talvez... ela estivesse fazendo exigências demais e você não gostou. – O outro homem ainda estava de queixo caído. – Ela podia estar pensando em ganhar alguma coisa expondo o relacionamento de vocês ao público... e você teve... que dar um jeitinho nisso. – Umedeceu os lábios. – E nem é tão difícil assim fazer isso parecer um acidente.

AJ estava tão surpreso, que as palavras quase não saíram de sua boca:

— Então quer dizer que o seu principal suspeito sou eu? – Ele fechou os olhos e respirou fundo. – É isso mesmo que você pensa de mim, detetive? – Inclinou o corpo sobre a mesa, colocando as mãos sobre ela. – Eu juro que não matei a Hannah. Eu estava apaixonado por ela. – O outro homem cruzou os braços e semicerrou os olhos ao olhar para a esposa, que tinha a mesma expressão estampada em seu rosto. – Olha... eu sei que é muito difícil acreditar nisso, mas eu entrei no mundo da política justamente porque eu acreditava que eu podia fazer alguma diferença. Eu era um sonhador que não sabia da realidade da vida, mas mesmo assim, eu ainda estava disposto a aprender. – Ele fez uma pausa para respirar. – E depois que eu fui eleito... eu gastei todo o meu tempo tentando fazer todo esse poder ser usado do jeito certo. Vocês devem saber que sem isso, nada vai para frente, mas a verdade é que nada disso importa. – Ele se levantou e foi até a jarra com água que estava em cima da outra mesa. – Você passa tanto tempo nessa luta sem fim... – Colocou um pouco de água no copo e tomou um gole, antes de suspirar e continuar o que estava dizendo. – E simplesmente acaba perdendo todas as suas... esperanças. – Terminou de beber o restante da água e se virou para olhá-los nos olhos. – Escuta... a minha... a minha mulher... o nosso relacionamento sempre foi baseado nos nossos interesses comuns e sem isso não somos nada. – O detetive ainda tinha a mesma expressão de incredulidade no rosto. – Mas quando a Hannah entrou neste escritório... foi como se a minha vida tivesse voltado a fazer sentido e quando ela olhou para mim... eu acho que ela enxergou aquele homem que eu costumava ser. – Stella arrumou sua postura, estava começando a ficar surpresa com as coisas que estavam saindo da boca daquele homem ardiloso. – Eu até ia pedir o divórcio para a minha mulher, e começaríamos uma nova vida juntos... eu a amava muito, e se vocês têm tanta certeza que ela foi mesmo assassinada... – Engoliu em seco. – Então eu também quero saber quem foi que fez isso.

O detetive encarou a mulher por alguns instantes e ambos abaixaram a cabeça, se aquele homem estivesse mesmo atuando, então ele merecia ser o próximo ganhador do Oscar. Enquanto isso, uma mulher muito ardilosa tentava usar as suas melhores artimanhas na tentativa de persuadir uma jovem advogada a ajudá-la com seu plano.

— Escuta... você quer um conselho? – Dixie deu um longo suspiro ao perguntar, estava cansada demais para tentar enfiar algum juízo na cabeça dela. – Isso tem tudo para dar errado, então deixa esse processo seguir, e mesmo que a verdade sobre o caso do AJ com a Hannah venha à tona... ou se descobrirem que ele a matou... – Ela deu de ombros. – Então que assim seja.

Diana riu.

— Mas é muito fácil para você dizer isso, não é a sua vida que vai por água abaixo junto com tudo isso. – Balançou a cabeça, contrariada com o conselho da moça. – O AJ pode muito bem ser o próximo governador desse estado, mas isso só vai acontecer se ele ganhar a eleição mais uma vez. Você não entende? O céu é o limite e eu não vou recuar por causa da porcaria de um acidente!

Jas havia acabado de chegar ao laboratório quando escutou o irmão discutindo com Axton. O motivo da discussão era o fato de o rapaz estar impedindo que ele entrasse em uma das salas de arquivos do laboratório. O jovem tinha recebido ordens para não o deixar entrar naquela sala até que o seu processo fosse resolvido, algo que o detetive considerou um absurdo e um grande insulto, mas acabou se dando por vencido e indo embora dali. Ela esperou o amigo se distanciar da porta para ir até ela e começar a colocar em prática alguns dos truques que aprendeu com seu padrasto para tentar abri-la, mas enquanto estava distraída com a fechadura, o rapaz voltou e a pegou no flagra. Ela foi obrigada a pensar rápido numa desculpa para justificar ter sido pega numa situação daquelas, a desculpa usada por ela foi que precisava pegar alguns documentos naquela sala.

— Tem algum problema com a minha querida irmã? – Danny surgiu para defender a irmã. – Ela fez alguma coisa errada?

— Imagina, mas... – Axton virou para ele. – Ela podia ter me pedido para abrir a porta, não precisava ter tentado arrombar.

Danny deu um tapinha no ombro da irmã.

— Sinto muito, irmãzinha. – Ele passou o braço pelos ombros dela. – Mas essa sala ficará fechada por um tempo.

— É só até acabar toda essa coisa do processo...

— Eu entendo. – Ela sorriu para eles. – Eu posso pelo menos conversar com o Danny?

— É claro. – Axton sorriu e se retirou. – Fiquem à vontade, irmãos encrenca.

Ela franziu as sobrancelhas.

— Ei, que negócio é esse de irmãos encrenca?

Danny riu.

— Isso com certeza foi invenção da Stella. – Balançou a cabeça enquanto ainda ria. – Mas agora eu quero saber porque você tentou invadir aquela sala.

Ela suspirou.

— Eu acho que você não merece perder tudo desse jeito, aquilo nem foi culpa sua...

Ele franziu as sobrancelhas.

— Você está falando do processo por negligência?

Ela abriu um sorriso confuso.

— Esse é o seu único problema com a justiça, não é? – Ele não respondeu. – É por isso que estou aqui para te ajudar.

— Como?

— O meu marido e eu estamos trabalhando no caso e percebemos que algumas coisas simplesmente não batem. – Ela sacudiu a cabeça para tirar algumas mechas de cabelo dos olhos. – Estamos começando a achar que você só estava no lugar errado na hora errada, e não é justo que você leve a culpa por isso.

Danny abriu um sorriso orgulhoso.

— Então quer dizer que você ainda acredita em mim?

— É claro, sempre acreditei. – Também abriu um sorriso. – Mas você ainda está em dívida comigo... eu ainda quero a minha correntinha de volta.

Ele abaixou a cabeça

— Eu sei...

— Então é isso... – Umedeceu os lábios. – Até mais. – Acenou para ele ao ir embora.

Stella e o marido ainda falavam sobre o depoimento do prefeito quando chegaram ao trabalho.

— Eu acho que essa foi a primeira vez que ele disse a verdade. – Will comentou.

— É sério? – Colocou as mãos na cintura. – Você acreditou nele?

— É claro... – Lambeu os lábios. – Você não?

— Eu ainda acho que essa história está muito mal contada...

O seu raciocínio se perdeu quando eles ouviram alguém gritando.

— Isso é tudo culpa sua! – Diana estava com o dedo na cara de Danny. – Esse caso foi arruinado porque você é um incompetente! E você é tão covarde que não tem nem a decência de admitir isso, e agora o meu marido vai pagar por um erro seu! – O tapa que ela deu em seu rosto foi tão inesperado, que ele não conseguiu nem reagir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É eita em cima de vixe!
Até o próximo! (Vou tentar não demorar tanto dessa vez)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stella" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.