Stella escrita por Vic


Capítulo 45
Raposas


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde! Me atrasei um pouquinho na postagem, mas o importante é que ainda estamos a todo vapor!
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808498/chapter/45

O maior poder de um político é justamente a sua habilidade de saber guardar um segredo, outra grande façanha de um político é saber quando e como usar o seu poder de persuasão para obter aquilo que mais deseja. No laboratório, mais especificamente na sala do chefe, a misteriosa mulher do prefeito ainda usava as suas melhores artimanhas na tentativa de atingir um objetivo ainda mais misterioso.

— Acho que você deve estar pensando que não é de bom-tom a mulher do prefeito expressar opiniões de natureza tão pessoais em público. – Umedeceu os lábios, entrelaçando os dedos uns nos outros. – Mas tente se colocar no meu lugar... só fiquei sabendo que o meu marido tinha uma amante porque ela morreu em um quarto de hotel. – Ficou esperando ele dizer alguma coisa, mas isso não aconteceu. – E foi exatamente por isso que coloquei as minhas melhores roupas, as minhas melhores joias, o meu lindo colar de pérolas e o meu melhor sorriso e vim até aqui para tentar entender o que realmente aconteceu naquele dia. – Explicou com um sorriso de canto tão evidente que a única coisa que o homem fez foi franzir os lábios e encará-la com um olhar de reprovação. – Não me olha desse jeito, eu não tenho um coração de pedra.

Ele estalou a língua e franziu as sobrancelhas, tudo naquela mulher delatava uma imensa falta de empatia, isso sem mencionar a evidente falta de amor próprio.

— Acho que você está precisando de um copo de água. – Passou por ela, indo até a jarra que estava sobre a sua mesa.

— Não é surpresa para ninguém quando um político é pego traindo a esposa. – Tentou mudar de assunto, estava obviamente constrangida. – É até muito comum, para ser sincera... com tanto poder assim, acho que qualquer mulher ficaria fascinada. – Ele terminou de encher o copo e virou para ela. – Infelizmente o AJ dormiu com outra mulher e ela morreu... isso está começando a parecer um daqueles clichês de série policial.

Ele entregou o copo para ela e se afastou.

— Acho que não tem nada que eu possa fazer por você, senhora Hubbard. – Cortou o assunto em um tom quase sombrio, não gostava daquele tipo de jogada política. – Imagino que já saiba que estou sendo processado por negligência justamente nesse caso. – Abaixou a cabeça, encarando os próprios pés. – O meu amigo e eu vamos virar réus.

— Réus? – Bebeu a água. – Nem consigo imaginar o que deve estar sentindo agora.

— Acredito que vai dar tudo certo. – Colocou as mãos nos bolsos. – Somos inocentes.

— E eu acredito que ninguém os culpa pelo que aconteceu. – Franziu as sobrancelhas, dava para ver que estava pensando num jeito de inserir mais alguma coisa naquela conversa. – Acho que consigo te ajudar a dar um jeito de tornar tudo isso confidencial, mas isso só vai depender da família dela.

— Acho que eles não vão ficar muito felizes com a ideia. – Arrumou a postura. – Eles ainda querem justiça pelo que aconteceu com ela.

— E não acho que encontrarão isso processando duas pessoas inocentes. – Murmurou usando um tom de cumplicidade. – Isso sem falar que se eles fizerem mesmo isso... ela ficará conhecida como a vagabunda que morreu fazendo sexo no chuveiro com um homem casado. – Bebeu mais um pouco de água. – A reputação dela vai para a lama, a carreira do meu marido vai para o buraco... e eu também vou acabar sendo prejudicada com toda essa história. – Ele colocou a mão no queixo e semicerrou os olhos, agora estava entendendo perfeitamente onde ela queria chegar com tudo aquilo. – Você deve saber o que as pessoas dizem de mulheres como eu. Uma mulher frígida que não consegue nem satisfazer os desejos do próprio marido e que por isso teve exatamente o que merecia, mas a única coisa que eu fiz foi apoiar o meu marido... então por que é que mereço ser punida? – Virou as costas para ele e terminou de beber o restante da água, foi nesse exato momento que Stella abriu a porta.

— O ursinho da guarda está... – Emudeceu ao notar a presença da mulher na sala, os dois se viraram na sua direção ao mesmo tempo.

— Senhora Hubbard. – Apontou para a esposa. – Essa é a minha mulher, a detetive Stella Taylor.

As duas sorriram uma para a outra.

— Muito prazer, senhora Taylor.

— A senhora Taylor é a minha sogra. – Fez questão de explicar com um sorriso muito simpático. – Pode me chamar só de Stella.

O homem olhou para ela novamente e negou com a cabeça.

— Não. – Franziu os lábios. – O ursinho da guarda não está aqui.

— Ursinho da guarda?

Stella riu.

— É o ursinho de pelúcia da nossa filha.

— Ah...

— Então acho que deve estar no meu armário. – Concluiu. – Me desculpem por ter interrompido a conversa... tchauzinho, meu amor. – Fechou a porta, indo embora.

Ele coçou a nuca e ficou em silêncio.

— Você tem uma esposa muito simpática. – Tamborilou os dedos sobre o vidro do copo. – Tenho certeza que a sua bebê é tudo para você. – Ele conseguiu sentir toda a sugestividade empregada naquela afirmação. – E pensando nisso... acho que seria muito melhor se resolvêssemos tudo isso fora dos tribunais.

— Essa é uma oferta muito generosa, mas ainda prefiro cuidar disso sozinho. – Afirmou com muita confiança. – Sei que sou inocente.

A mulher ponderou sobre o que tinha acabado de ouvir enquanto tentava pensar em mais alguma coisa.

— Mas não acha que seria melhor tentar evitar todo esse transtorno? – Arqueou a sobrancelha, estava sendo muito difícil dobrar aquele homem. – Mas como não foi você que supervisionou o caso, acho que tudo isso não irá te afetar tanto assim, mas, por outro lado... – Ele voltou a encarar os próprios pés. – Isso afetará muito a imagem do prefeito... e vamos concordar que nós fizemos um ótimo trabalho por essa cidade.

Ele passou as mãos no rosto.

— Lamento por tudo, senhora Hubbard. – Andou até a própria mesa e se sentou em sua cadeira. – Mas não tem muito o que eu possa fazer.

Ela virou na direção dele.

— Me chame de Diana, por favor.

— Não tem motivo nenhum para tentarmos resolver isso de outra forma. – Argumentou, não sentia medo do que estava por vir. – Todo mundo sabe que não fizemos nada de errado... só fomos burros e no máximo irresponsáveis.

— E mesmo assim isso ainda se tornará público. – Retrucou, sentindo um gosto amargo na sua boca. – E eu também serei afetada por isso. – Eles se encararam em completo silêncio por alguns segundos. – Eu sei que você não me conhece... então não tem nenhum motivo para você se importar comigo, mas eu consideraria isso um favor. Então me diga exatamente o que é que eu posso fazer por você.

Will coçou a testa e esticou os braços sobre a mesa, evitando encarar a mulher.

— Não tem nada que você possa fazer por mim.

— Eu não teria tanta certeza. – Fez questão de o encarar. – Se todo esse escândalo acabar e a carreira do meu marido continuar intacta... estarei em posição de retribuir alguns favores, e pode ter certeza que sempre pago as minhas dívidas, detetive. – Dito isso, ela entregou o copo nas mãos dele e saiu da sala.

Naquele exato momento, outra pessoa que também guardava consigo um grande segredo também estava sendo obrigada a colocar as cartas na mesa. Ouso dizer que aquela tinha mesmo sido a maior virada no destino da misteriosa mulher.

— Vamos deixar as brincadeiras de lado. – Michelle pigarreou, chamando toda a atenção para si. – Você sabe muito bem que ele só está aqui para me dar atualizações do arquivamento do caso. – Levantou da cadeira, deixando a sua falta de confiança muito evidente através da sua postura. – Muito obrigada, mas acho que já tomei muito do seu tempo.

— Ah... por mim tudo bem. – O homem ficou sem reação enquanto encarava a namorada, que permanecia com uma expressão de desgosto estampada em seu rosto. – Te vejo mais tarde.

Eileen o segurou pela manga da sua camisa.

— Não tão rápido. – Censurou o namorado com os olhos. – Já te conheço o bastante para saber que essa cara que você está fazendo é porque sabe de alguma coisa que não quer que eu saiba. – Arqueou a sobrancelha enquanto se virava para a amiga. – E se eu não te conhecesse muito bem, diria que está tentando colocar as suas mãos no meu homem.

Michelle franziu as sobrancelhas e abriu a boca para rebater, mas foi o homem quem falou:

— Pelo amor de Deus, Eileen! – Franziu os lábios e fechou a cara. – Juro que nunca enxerguei a senhorita O’Rourke com esses olhos.

— Muito obrigada, Santiago...

As duas se encararam por alguns segundos.

— E você está cansada de saber que fiquei mais de dois anos trabalhando de frente para ela, sei de muitos detalhes da vida dela... alguns eu nem gosto de lembrar. – As duas mulheres fizeram careta. – Mas o nosso relacionamento nunca passou disso e fico muito chateado por você pensar o contrário.

Eileen balançou a cabeça, tentando evitar pensar naquilo.

— Sinto muito, meu querido. – Abriu um sorriso irônico e cruzou os braços. – Mas por favor, me ajude a enxergar outro cenário para essa situação e me diga logo o que é que você está fazendo aqui.

— Oh, pelo amor de Deus, Eileen! – Michelle interrompeu, fazendo os dois se virarem para ela. – Isso aqui não é um tribunal, para de tentar interrogar o coitado.

Ela virou para o namorado.

— Mas essa é a pergunta mais fácil do mundo.

— Só estamos preocupados com você...

— Uhum. – Riu. – E por quê?

— É que... – Hesitou. – Você tem trabalhado tanto e também tem sofrido tanta pressão ultimamente...

Ela olhou rapidamente para a amiga e voltou a olhar para ele.

— Isso não é verdade. – Negou com a cabeça. – O fato aqui é que eu tenho estado muito entediada nesses últimos meses, mas isso mudou quando essa família apareceu me pedindo ajuda. – Os olhos dela tinham um brilho misterioso. – E você sabe que estou mais do que pronta para fazer isso, não sabe?

Ele negou com a cabeça.

— Não.

— Mas eu te disse...

— Você só mencionou. – O homem corrigiu. – Você sabe que o processo de recuperação de um câncer é muito delicado.

— Você está tentando me dizer que está preocupado por eu estar assumindo um caso durante a minha recuperação? – Semicerrou os olhos.

— Não é bem isso... – Engoliu em seco. – Mas é quase isso... você sabe que esse é o meu jeitinho de mostrar que estou preocupado com você e com toda essa sua...

Eileen fechou a cara.

— Essa minha o quê?

Ele olhou para a amiga e voltou a encarar a namorada.

— Essa sua obsessão.

Os olhos dela se arregalaram e ela gritou com ele:

— Minha obsessão?!

Ele deu um passo para trás, usando as mãos para aumentar a distância entre eles.

— Calma, minha querida. – Colocou a mão no ombro dela. – Não estou tentando te insultar e nem nada do tipo, tá bom? – Ela semicerrou os olhos, esperando-o terminar de falar. – Sua amiga me disse que... que se você continuar insistindo nesse caso, sua carreira vai por água abaixo.

Eileen se virou para Michelle e colocou a mão na cintura.

— É sério isso, Michelle? – Indagou enquanto diminuía a distância entre elas. – Você era uma advogada excelente e os nossos embates nos tribunais eram de tirar o fôlego, mas tentar manipular a minha vida pessoal é outra história. – Estalou a língua. – Pensei que fôssemos amigas.

— E nós somos amigas, Eileen. – Olhou para o amigo. – Eu me importo muito com você... – Murmurou enquanto abaixava a cabeça. – E comigo... conosco.

— Mas tudo na vida tem limites, Michelle. – Retrucou. – Nunca gostei dos seus namoradinhos, mas também nunca me meti com nenhum deles e muito menos marquei um encontro com algum deles pelas suas costas.

— Essa é uma péssima comparação...

— Mas tenho certeza que você entendeu muito bem o que eu quis dizer.

— Concordo com a senhorita O’Rourke. – O homem interrompeu, recebendo um olhar raivoso da namorada. – Você sabe que ficar insistindo nesse processo é um grande erro.

— Meu querido... – Suspirou, indo ao encontro dele. – Você é um homem maravilhoso, mas escuta bem o que eu vou te dizer agora... para de tentar me dar conselhos sobre a minha vida profissional.

Ele deu de ombros.

— Já percebi que a minha opinião aqui não importa, porque parece que sou só mais um troféuzinho nas suas mãos. – Rebateu com a voz cheia de desgosto. – Mas quer saber de uma coisa? Vou pegar toda essa minha insignificância e ir para casa esquentar um macarrão com queijo. – Ele foi embora.

Michelle pigarreou e apontou para a porta.

— Vai atrás dele. – Aconselhou, indo até o outro lado da sala pegar um pouco de água.

— Nem pense que vai se livrar de mim assim tão fácil. – Foi atrás dela. – Eu te conheço, minha querida... mas nunca imaginei que você fosse se rebaixar tanto ao ponto de tentar usar o meu relacionamento com o Santiago para tentar enterrar um processo que pode prejudicar o prefeito. – Terminou a frase com um ar de desgosto. – Só me diz o motivo...

A outra mulher olhou para ela e permaneceu de boca fechada, ainda estava escolhendo as palavras que iria usar.

— O que aconteceu com o caso da senhorita Knox foi muito triste e muito ruim... – Parou o que estava dizendo para beber água. – Mas com certeza isso não foi negligência e tentar tirar proveito de uma família enlutada é mais triste ainda. Eles não têm ideia do que estão fazendo e vão acabar prejudicando pessoas inocentes com isso. Eles podem até achar que vão conseguir fazer justiça com esse processo, mas não vão.

— Esse é um discurso muito impressionante, mas não vou cair nessa. Você não está preocupada comigo, Michelle.

— Você...

— Você está passando dos limites para proteger o safado do prefeito. – Afirmou, seguindo a amiga de volta para a mesa dela. – Um homem que você jura desprezar... então me diz por que está fazendo isso? – Encarou a amiga quando ela se sentou. – Ele tem alguma coisa contra você?

Ela respirou fundo e abaixou a cabeça.

— Eileen... se você estiver entediada... pega outro caso, vai pescar... – Eileen cruzou os braços e semicerrou os olhos como se estivesse tentando ver através da alma da outra. – Vai comprar sapatos... só desista desse processo, por favor.

— Já entendi. – Assentiu. – Você ainda não está pronta para me contar... – Elas se encararam. – Mas quando estiver, estarei aqui para te ouvir e também para te ajudar no que você precisar. – Ao dizer isso, virou as costas e saiu, deixando a mulher consternada para trás.

O homem ainda pensava na conversa que tinha acabado de ter com a senhora Hubbard, quando ouviu o barulho da porta se abrindo e levantou a cabeça, dando de cara com a sua própria esposa, que trazia consigo dois copos de café.

— Oi, meu amorzinho. – Abriu um sorriso, fechando a porta atrás de si. – Aonde a sua amiga foi?

Ele deu uma risada desprovida de humor.

— Muito engraçada. – Largou a pasta em cima da mesa. – Você e o ursinho da guarda se divertiram muito enquanto eu estava aqui com a mulher do prefeito?

— Olha... – Um sorriso brincalhão ainda permanecia nos seus lábios. – Em minha defesa, parecia que você tinha tudo sob controle. – Colocou um dos copos em cima da mesa.

— Mas eu não tinha...

Ela fez beicinho.

— E um beijinho ajuda a melhorar? – Colou seus lábios nos dele.

— Ajuda muito. – Ele continuou com os olhos fechados por mais algum tempo.

— E o que era que ela queria?

Ele pegou o copo de café.

— Ela queria dar um jeito de resolver esse assunto fora dos tribunais.

Ela franziu a testa.

— E por quê?

— Acho que ela está tentando proteger aquele marido traidor dela. – Umedeceu os lábios. – Ela sabe que se isso for parar nos tribunais todo mundo vai ficar sabendo que ele estava naquele quarto com a Hannah e também vai ficar muito óbvio o que eles estavam fazendo lá.

Stella mordiscou os lábios.

— E ela também te contou que ela já sabia que o marido dela tinha uma amante? – Indagou ao se sentar em cima da mesa dele. – Ela contratou o Sage para seguir ele.

— Não... – Franziu a testa, por ironia do destino uma pessoa de interesse tinha vindo voluntariamente ao seu encontro. – Ela me disse que só descobriu depois que a Hannah morreu. – Eles se entreolharam. – Você sabe o que isso significa, querida?

Ela comprimiu os lábios e encolheu os ombros.

— Que estamos lidando com raposas e...

— E como diria Thomas Fuller, com raposas devemos brincar de raposa.

— Já mandei você parar com isso. – O prefeito repreendeu a mulher em um sussurro. – A Hannah está morta.

— E agora temos que lidar com as consequências disso. – Inclinou-se um pouco para frente e sussurrou de volta. – Se a imprensa descobrir que você estava dormindo com a sua secretária... eles irão acabar conosco.

— Ela era minha assistente.

— Ela era uma vagabunda. – Retrucou. – Era isso que ela era, só mais uma das suas indiscrições que podem acabar destruindo a sua carreira. Mas você vai calar a boca e me deixar resolver isso.

Ele se levantou.

— Ainda tenho que ir falar com o...

Ela o puxou pelo braço, o obrigando a continuar sentado.

— Já está pronto para renunciar? – Indagou em um tom ameaçador. – Se quiser continuar no cargo... acho melhor calar essa sua boca e me deixar ser a raposa dessa vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Essas raposas vão dar um trabalho...
Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stella" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.