Stella escrita por Vic


Capítulo 4
Hipnos


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Para o dia começar melhor (ou não), tá aqui mais um capítulo. Espero que gostem!
OBSERVAÇÃO: O título do capítulo é uma referência ao deus do sono na mitologia grega.
Boa leitura!

CAPÍTULO REVISADO



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A situação não era fácil para nenhum deles, mas Stella era quem estava mais desesperada. Se culpava o tempo todo pela possível exposição do seu bebê ao HIV. Will levou Lily de volta para as enfermeiras assim que notaram o machucado no ouvido da menina, a mulher mal conseguia respirar pensando na possibilidade de sua filha ser HIV+. Lutou tanto para evitar que a menina passasse pelo mesmo que ela e agora ela estava em perigo por sua causa. Will voltou para o quarto, Lily estava fazendo alguns exames e testes e em breve eles descobririam se ela era soropositiva ou não.

— Ei, onde ela está?

Will andou até ela em passos muito lentos, a serenidade em seu rosto tirava Stella do sério. Como ele podia estar tão calmo diante da possibilidade da filha deles ser HIV+?

— Estão testando os reflexos dela, são excelentes, e ela é muito forte... ela é perfeita. – Dizia com orgulho, seria um pai babão, com toda a certeza.

— Tudo bem, mas ela foi infectada ou não? – Segurou o braço dele com força, estava com medo da resposta.

— Tenha paciência, eles nos dirão em breve. – A tranquilidade em sua voz era o combustível para que a grega ficasse ainda mais irritada.

— Por que você está tão calmo? Sabendo que ela pode ter sido infectada... – Balançou a cabeça contrariada, ela o olhava como se ele não tivesse consciência do que realmente estava acontecendo.

— Ela vai fazer alguns exames de sangue. Nós vamos saber esta noite se ela é ou não é. – Sorriu com serenidade, ela respirou fundo, era difícil acreditar que ele podia estar tão calmo, quando ela estava a ponto de ter uma crise de pânico.

— Eu sabia que ela podia correr esse risco... por isso queria a adoção. Não pensei que isso realmente fosse acontecer, mas está acontecendo... – Abaixou a cabeça, não queria chorar na frente dele de novo.

— Stella, eu acho que ela não foi infectada. Aquele sangue pode não ser seu, talvez ela tenha se machucado. – Tentava passar segurança em sua voz.

— E se ela tiver?

— Então iremos lidar com isso, somos os pais dela. – Seu tom de voz era mais baixo e mais calmo do que antes.

— Tive que lidar com isso durante todos esses meses... o preconceito, os protocolos. Mas eu sou adulta, consigo lidar com isso... mas uma garotinha...

Will sorriu compreensivo.

— É inacreditável o quão preconceituosas as pessoas ainda podem ser em pleno 2008. Você é uma ótima mãe... – Ela respirou fundo, não conseguia acreditar nas palavras dele. — Não importa o que aconteça. – Ele estava sendo tão paciente e compreensivo com ela.

— Nós temos uma filha, você acredita nisso? – Sorriu ao se lembrar da menina. – Quer dizer... você não queria ter um filho agora.

Ele coçou a nuca e sorriu para ela.

— Quando senti o coração dela batendo... e a aconcheguei no meu colo... pensei: agora ela está aqui, e eu a amo mais do que achei que seria possível.

Stella abaixou a cabeça, sentia o mesmo.

— Eu também. – Sorriu, mas logo o seu sorriso desapareceu. — Só parte o meu coração pensar que ela pode sofrer... por minha causa. – Respirou fundo, prestes a começar a chorar.

— Ei... – Segurou o queixo da mulher a sua frente, a obrigando a olhar para ele.

Ia dizer alguma coisa, quando uma das enfermeiras os interrompeu.

— Aqui estão a mamãe e o papai. – A mulher entrou no quarto com a menina em seus braços.

Will se levantou e foi se sentar mais perto de Stella, segurando sua mão gentilmente. Ambos sorriam para a menina que ainda se encontrava nos braços da enfermeira. A criança murmurava, também parecia feliz por estar com o pai e mãe.

— Ela deu um grito alto, é um bebê saudável e tem um belo pulmão. – Olhou para a menina com carinho. – Ela sabe que é muito amada... não é, pequena? – Apertou a perna da menina, os dois sorriram com tamanha demonstração de carinho.

— Obrigada por cuidar dela. – Stella sorriu, como se por meio daquele sorriso pudesse demonstrar para a moça o quanto era grata.

— O prazer é meu... essa pequena conquistou o coração de todas as enfermeiras e técnicos de enfermagem nesse hospital. – Lily começou a chorar, e a mulher procurou algo em sua roupa. – É hora da primeira mamadeira dela... – Entregou a menina para o pai e a mamadeira para a mãe. – Não se preocupem, caso ela não beba tudo. – Sorriu.

— Ok. – Stella assentiu.

— Vou dar um pouco de espaço para vocês. – Disse, saindo do quarto.

— Ei, querida. Está com fome? – Aconchegou o bebê em seus braços e a mulher deu uma gargalhada atrás dele.

— Ela parece tão pequena nos seus braços. – O sorriso dela era espontâneo, com os um metro e oitenta que Will tinha, a criança parecia um pequeno embrulho branco em seus braços.

— Oh, não se preocupe, muito em breve ela será mais alta do que eu. – Pegou a mamadeira que ela entregou para ele e a colocou na boca da menina, prestando atenção na criança que se alimentava vagarosamente.

— Ou mais alta que eu.

Dessa vez foi ele quem riu.

— Certamente. – Disse, passando Lily para os braços da mãe.

— Do que está rindo? Sou apenas dez centímetros menor que você. – Arqueou a sobrancelha. – Você é um verdadeiro milagre, princesinha. O seu pai nem consegue acreditar. – Observou a filha se alimentar. – Você é tão perfeita, com todos os seus dez dedinhos nas mãos e nos pés. – Trouxe a menina para mais perto do seu rosto.

— Tudo ficou diferente agora... parece que o mundo tem mais cor, mais significado. – Sorriu, observando o momento entre mãe e filha.

— Você vai terminar essa mamadeira e vai dormir. – Stella sussurrou.

— Será que ela vai conseguir dormir rápido? – Sussurrou próximo da filha.

— Ou vai demorar para pegar no sono como você. – Tirou os olhos da filha e o olhou com um sorriso irônico.

— Só demoro a pegar no sono porque fico muito tempo acordado, ser chefe não é um trabalho fácil. – A mulher riu. – Ela vai ter a nossa personalidade forte.

— Isso é verdade. – A mamadeira estava vazia, Stella a entregou para Will. O sorriso em seu rosto sumiu gradativamente, dando lugar à preocupação de instantes atrás. – Sinto muito... leve-a daqui. – Ofereceu a criança para que o pai a segurasse.

— Não... tenho que falar uma coisa para ela. – Stella voltou a aconchegar a criança em seus braços. – Lily, a sua mãe passou por uma situação difícil há alguns meses, e ela ficou com muito medo, ficou apavorada, estava triste e sozinha... mas ela sempre estará aqui... ela é a pessoa mais forte que eu conheço, ela convive com o HIV há alguns meses e agora ela está tentando ser corajosa e ter esperanças, algum dia ela vai te contar tudo o que aconteceu. – Alternava olhando de uma para a outra, os olhos da mulher estavam quase marejados.

— Lily, eu não sou tão forte quanto o seu pai pensa que eu sou... às vezes eu vacilo e falho... mas você é minha inspiração agora, você é o melhor presente que eu poderia ganhar. – Limpou algumas lágrimas que escorriam de seus olhos. – A vida com os seus pais não vai ser das mais fáceis, mas nós prometemos que não importa o que aconteça, iremos te dar uma vida cheia de amor e alegria. – Sorriu para Will, e ele aproveitou o momento para dar-lhe um singelo beijo na testa.

Era quase noite quando Stella conseguiu dormir, ao acordar, notou que nem Will e nem Lily estavam ao seu lado. Se virou na cama, tentando se levantar para procurá-los, mas nem foi necessário, a porta se abriu e os dois entraram no quarto.

— Aonde estava indo? – Will sussurrou.

— Estava indo procurar vocês, oras. – Se aconchegou novamente na cama, ele se sentou próximo a seus pés.

— Só fomos dar uma voltinha. – Ofereceu a menina para ela segurar.

— Cadê a minha afilhadinha linda? – Lindsay entrou falando muito alto.

— Lindsay! Não precisa gritar. – Stella a repreendeu em um tom de voz mais baixo. – O que está fazendo aqui?

— Foi mal! Minha querida Stella, ainda são 18h, o horário de visitas vai até às 19h. – Se sentou perto de Will. – Acabei de sair de um plantão infernal, por que as pessoas morrem tanto? – Perguntou aquilo com uma cara de decepção.

— Bem, elas não escolhem serem assassinadas... – Stella revirou os olhos.

— As pessoas são tão inconvenientes... – A mulher voltou a sua atenção para o pequeno embrulho que estava nos braços do pai. – Oi, meu amor, eu sou sua madrinha e tenho soluções para todos os seus problemas. Sou tão jovem quanto você.

Stella e Will riram.

— Deixa de palhaçada, Lindsay. Você tem vinte e três anos. – Tentou abafar sua risada.

— Quer segurar ela um pouquinho? – Perguntou, já passando a menina para os braços da madrinha.

— Will, você pode me dar um pouquinho de água? – Pediu, ele levantou-se e saiu do quarto para procurar água.

— Ela é tão linda, acho que estamos um pouco em desvantagem. – Brincou com a menina.

— Concordo.

Lindsay mudou a posição da menina, para que assim conseguisse olhar melhor para seu rosto.

— Eu te amo muito! Luz, você e eu vamos nos divertir muito e vamos ser grandes amigas. Já passei por muita coisa... e vou te dar um conselho, não tem que fazer tudo o que os outros te dizem... especialmente o que os seus pais te dizem. – Deu uma risada ao dizer a última parte.

— Ei! – Protestou.

— Não vou ficar brava se você não seguir meus conselhos. – Sussurrou para a afilhada.

— Você tem muitas ideias nessa cabecinha... muitas.

A outra exibiu um sorriso travesso.

— Estou me divertindo. – Gargalhou. – Brincadeira... ela é a melhor mãe que você poderia ter. – Aconchegou a menina em seus braços novamente.

— Não sei... quase tive uma crise de pânico com a possibilidade de ela ter sido infectada.

— Se isso ajuda... você estava radiante quando entrei nesse quarto. – Sorriu. – Bom, estava caindo aos pedaços, mas radiantemente. – Deu uma risada.

— Não tenho muitas opções no momento. – Tentou arrumar os cabelos. – Mas eu disse que não importa o que aconteça tudo ia ficar bem, ainda acredito em mim... e nós não podemos viver com medo.

— Se der positivo... ou não, não é culpa sua, mas você vai se preocupar com ela o resto da sua vida. Quando ela cair pela primeira vez de uma bicicleta e começar a gritar, você vai ficar preocupada. E a cada dia vai ter algo novo para te preocupar... a vida é assim... e com uma criança, é ainda mais surpreendente. – Sorriu para a amiga e para a criança em seus braços.

— Olá, mais visitas para a senhorita. – Jas e Dante disseram em uníssono.

— Ela não é perfeita? – Lindsay mostrou a menina para os amigos. – Quer pegar um pouco? – Ofereceu a menina para Jas segurar.

— Oh, o que é isso? Alguma celebridade está nesse quarto? – Will brincou. – Esse hospital é enorme. – Entregou a garrafa de água para Stella, que bebeu três goles imediatamente.

Jas ainda estava imóvel ao lado do marido, tinha medo de acabar derrubando a criança no chão.

— Vai lá. – Dante a incentivou.

— Não, não... não sou boa com bebês. Você é quem deveria fazer isso, Dante. – Ela deu tapinhas no ombro do marido. – Não quero quebrá-la ou fazê-la chorar. – Olhou aflita para Lily.

— Não se preocupe, eles são muito resistentes. – Stella disse, fazendo todos rirem.

— Isso é o que você diz. – Empurrou o marido para que ele pegasse Lily em seu lugar.

— Ela vai ficar muito feliz sabendo que você não quer pegá-la. – Dante brincou, pegando a criança no colo com a ajuda de Lindsay. – Não sou como a Jas, querida... não tenho medo de segurar você. – Olhou diretamente para o rosto do bebê.

Jas sorriu e se aproximou dos dois.

— Oi, querida é a tia Jas e eu não tenho medo de segurar você. Não gosto muito de segurar bebês de outras pessoas, mas acho que posso abrir uma exceção para você... nós gostamos de você assim que sua mãe nos contou sobre você, acompanhamos a sua mãe em quase todas as fases da gravidez e agora você está aqui e é tão perfeita... nós ficamos muito surpresos quando você nasceu, comprei muitas roupas bonitinhas e estou tão feliz de finalmente ter você aqui. – Sorriu para o marido.

— Ela está ouvindo você e ela adora você. – Deu um beijo na bochecha da esposa. – Veja, ela está tentando abrir os olhos. Oh, ela está sorrindo. – Ele parecia genuinamente surpreso com os movimentos da criança.

— Ela é um anjinho. Você vai ter o seu próprio anjo da guarda... a sua tia Alyssa, ela teria amado te conhecer, ela sempre estará com você... ela te ama muito. – Jas ainda ficava muito emocionada ao falar da velha amiga, ao terminar de dizer isso, deu um beijo na testa do bebê.

O amor de todos pela menina preenchia o ambiente, todos estavam muito felizes com seu nascimento.

— Cuidado para não a deixar cair, Dante! – Jas o alertou, enquanto ele a devolvia para o pai.

— Já fiz muito isso, não vou deixá-la cair. – Dante sorriu.

— Pessoal, a pequenininha tem mais uma visita. – Lindsay puxou Axton pelo braço.

O rapaz estava muito tímido, mas com Lindsay por perto, isso não duraria muito.

— Oi, Axton. – Stella se inclinou para enxergá-lo melhor.

— Não quero me intrometer em uma reunião familiar... – Disse ainda meio desconfiado.

— Nada disso, todos vão participar. Quero que Lily fique com todos nesse momento maravilhoso. – Fez uma careta para ele, Axton pareceu entender que ela tinha ficado chateada e acabou entrando no quarto.

— Vamos! – Jas foi até ele e o puxou para que se aproximasse mais da menina.

— Olha só como ela é uma gracinha. – Dante encorajou o amigo a se aproximar mais da criança.

O rapaz estava mais à vontade. Sempre fora muito tímido e desengonçado para os seus vinte e três anos, mas era muito divertido, a seu modo.

— Bem-vinda, Lily. Vou te ensinar tudo que sei sobre computadores, e todas aquelas coisas brilhantes que você ainda nem sabe o que são. – Axton sorriu.

— É uma boa ideia, o Axton deveria ser seu professor de informática. – Dante entrou na brincadeira.

— Dante, você também pode ensinar isso a ela. – Jas deu um tapinha no ombro do marido.

— Sim, mas o Axton é quem deve fazer isso. – Piscou para o amigo.

— Obrigado. – Sorriu agradecido.

— Você sabe como fazer uma boa pirataria. – Dante o olhou com muita seriedade. – Não ensine isso a ela, ok?

— Acho que alguém vai ser super protetor. – Will sorriu.

— Com certeza. – Stella concordou.

— É isso mesmo. – Garantiu.

— Vocês sabem que podemos ajudar com a educação dela. – Danny disse.

— Vou ensinar uns golpes de karatê para ela. – Jas imitou os movimentos com as mãos.

— Tem que esperar ela andar primeiro. – Lindsay fez uma careta.

— Ainda vai demorar muito. – A enfermeira os interrompeu. – Como ela está? – Olhou para a menina.

— Ela está bem. – Stella respondeu.

— Você está com o resultado? – Will questionou.

— Sim, seu bebê é HIV-. O sangue era dela.

Stella respirou aliviada, toda a tensão que estava sentindo se dissipou.

Will a abraçou, dando um beijo em seu rosto. O sentimento de alívio era indescritível, era um misto de felicidade com alívio, felicidade por saber que sua filha não sofreria com nada daquilo e alivio porque Stella podia parar de se sentir tão culpada.

— Ouviu? Você é invencível. – Lindsay brincou com a menina. – Parabéns. – Abraçou pai e filha.

— Obrigado.

Os outros amigos os abraçaram. Não demorou muito para que Hipnos retomasse seu controle sobre o corpo de Stella, o monitor cardíaco ligado à grega começou a apitar tão repentinamente, que a única coisa que foram capazes de ouvir além do barulho da máquina, foi Lindsay dizendo:

— A Stella desmaiou!


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Notas finais do capítulo

Sempre terminando com uma tensão...
Até o próximo!



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