Stella escrita por Vic


Capítulo 35
Lucas 12:2


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!
Então... estive pensando em uma coisa e como essa história será muito longa, decidi separá-la em "temporada". Sendo assim, do capítulo 1 ao 29 foi a 1ª temporada, então estamos no 6º capítulo da 2ª temporada.

AVISO: Esse capítulo tem muitos gatilhos!
O nome do capítulo é uma clara referência ao versículo bíblico, e vocês irão descobrir o porquê ao decorrer dele. Espero que gostem!
Boa leitura!



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— Como assim? – Danny praticamente arrancou o celular da mão de sua esposa. – Ele tem certeza disso?

— Era o que eu ia perguntar, antes de você quase arrancar o meu braço fora. – Massageou o braço como se ele realmente estivesse doendo.

— Deixa eu ver. – Jas praticamente pulou da cadeira e foi até eles. – Mentira! – Colocou as mãos na boca após terminar de ler o que estava escrito na mensagem.

— Verdade... está escrito aí.

— Meu Deus... Danny, você está muito ferrado. – Ela tentou não rir da desgraça do amigo enquanto voltava para sua mesa.

— E você acha que eu não sei, Jasmin? – Revirou os olhos, sentindo uma pontada em seu estômago. – Isso só pode ser mentira mesmo. – Murmurou para si mesmo.

Enquanto Danny encarava um difícil dilema, Stella e Will pareciam andar sobre as nuvens de tão leves e sorridentes que estavam, quem os via daquele jeito, nem imaginava que os dois tinham acabado de passar por uma fase difícil em seu curto tempo como marido e mulher. O passeio no parque foi rápido, mas revigorante para todos, até mesmo para a pequena Lily, que dormiu durante todo o trajeto de volta para a creche.

— Estou impressionada, está tudo tão organizado por aqui, mesmo sem estar aqui você ainda coloca ordem nas coisas. – Sorriu carinhosamente para ele e olhou em volta. – Meus parabéns.

— O pessoal tem muito medo de perder o emprego. – Brincou e riu. – Será que está tudo bem com o Danny? – Olhou para seu celular, estranhando a ausência de mensagens ou ligações.

— Se tivesse acontecido alguma coisa, nós já estaríamos sabendo. – O tranquilizou com um sorriso acolhedor. – Uau! Olha só para isso, todo mundo tão comportadinho. – Olhou ao redor, notando que todo mundo estava trabalhando em silêncio.

— Graças ao meu brilhante trabalho como chefe, eu não sou demais? – Disse todo cheio de si.

Stella riu e eles continuaram andando e supervisionando os colegas.

— Olha, está ficando meio apertado aqui. Não tem espaço suficiente para nós três.

— Três? – Franziu a testa.

— Você, eu e o seu ego. – Arqueou as sobrancelhas e comprimiu os lábios em um sorrisinho.

— Está com ciúmes? – Brincou. – Saudades de participar da ação?

— Oh... não. – Negou com a cabeça e riu. – Prefiro te ver em ação, com todo esse estilo, toda essa confiança... – Colocou a mão no peito dele, que acompanhou o gesto com os olhos. – Você é um cara muito sexy. – Mordeu levemente os lábios e sorriu para ele.

— Ah, é mesmo? –  Entrou na brincadeira segurando a mão dela, mantendo-a em seu peito. – Está tentando me seduzir, detetive? – Sussurrou em um tom muito baixo e sedutor.

— De jeito nenhum... não no seu trabalho. – Sorriu de um jeito travesso. – Mas você bem que podia me seduzir... não estou aqui a serviço. – Seu tom de voz estava mais baixo e ainda mais provocante.

Will sorriu de um jeito igualmente provocante e manteve uma distância segura.

— Acha que alguém se incomodaria se eu te desse um beijo agora? – Olhou ao redor, notando que todos ainda estavam concentrados em seus afazeres.

— Não me importo com nada disso. – Os dois sorriram e aproximaram mais seus rostos um do outro, seus lábios estavam quase se tocando, foi quando avistaram Danny saindo de uma das salas com a cara fechada.

Danny os encarou com uma expressão de derrota e foi ao encontro de uma das jovens estagiárias.

— Alguém da família já apareceu? – Indagou com a voz meio trêmula.

— Ainda não.

Danny assentiu.

— Então me avise se alguém vier procurar por ela.

Will e Stella se encararam, estavam um pouco confusos com o comportamento estranho do amigo. Quando descobriram o que havia acontecido, nenhum dos dois soube exatamente o que fazer, ficaram observando-o andar de um lado para o outro por alguns minutos, até que Stella estufou o peito e decidiu ir falar com ele.

— Ei, quer ajuda com isso aí? – Deu um sorriso amigável, notando que seu amigo lutava para conferir toda a papelada que eles tinham sobre o caso de Hannah.

— Por que a pergunta? – Retrucou sem tirar os olhos dos papéis.

— Porque é o que nós fazemos... – Riu sem graça. – Você sabe... ajudamos uns aos outros. – Danny não esboçou nenhuma reação. – Essa papelada vai te dar uma dor de cabeça terrível.

— É ainda pior quando sei que prejudiquei o caso... – Resmungou para si mesmo.

Stella arqueou as sobrancelhas e tentou pegar um dos papéis que ele tinha nas mãos, mas ele colocou a mão livre em cima, impedindo-a de ter acesso a ele.

— Eu sei como é errar um teste... – Começou, mas Danny não estava prestando atenção nela. – Sei que é difícil ficar analisando tudo o que você fez, cada movimento, cada procedimento... eu te entendo.

— Eu dou conta...

Stella o encarou com um olhar de censura.

— É sério? – Esperou uma resposta que não veio. – Sério que você não quer mesmo falar sobre isso?

Danny levantou a cabeça e deu um longo suspiro.

— Tenho certeza de que fiz o procedimento do jeito certo... mas recebi uma mensagem dizendo que as amostras estavam contaminadas com amostras de outro caso. Não posso nem refazer essas amostras, porque a cadeia de custódia já foi quebrada e o corpo já foi preparado para ser retirado pela família. – Suspirou, passando as mãos no rosto. – É uma merda... mas acontece. – Eles se encararam em silêncio. – Quer me consolar, não é? Então veja o que consegue encontrar nesses relatórios. – Entregou a papelada nas mãos dela e saiu.

— Certo. – Murmurou, franzindo os lábios.

O clima na sala em que Jas estava era de enterro, os semblantes de todos ao redor eram de derrota. Pelos suspiros e olhares constrangidos que recebeu assim que entrou, Will soube que havia uma possibilidade de o caso estar perdido.

— Não era para outra pessoa estar fazendo isso? – Questionou assim que viu Jas fazendo algumas anotações a respeito da vítima.

Jas levantou a cabeça e deu um sorriso simpático.

— Faço isso quando um dos meus amigos erra um procedimento. – Voltou a escrever. – É o meu jeitinho de apoiar a pessoa, sabe?

Will sorriu, abaixou a cabeça e respirou fundo.

— Era para eu ter feito isso. – Deu alguns passos para se aproximar mais dela.

— Não tente carregar o peso do mundo nas costas, Will.

— Acho que fui um pouco egoísta. – Sentou-se na cadeira de frente para ela. – Gostei da ideia de poder passar um tempinho com a minha família...

Jas suspirou pesadamente e voltou a encará-lo.

— O Danny te convenceu a fazer isso... – Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Foi ele quem disse que estava mais do que pronto para fazer isso. Sei disso porque eu o ouvi te dizer isso. – Will balançou a cabeça e franziu os lábios. – Você não é o super-homem... tudo bem ser só um cara normal de vez em quando. – Abriu um sorriso acolhedor para ele. – Você só estava tentando ter uma vida.

— Sim, igual Hannah Knox... – Ambos suspiraram. – Eu sei que nem deveria te perguntar isso... mas o que foi que aconteceu aqui?

Jas desviou o olhar, focando no papel e umedeceu os lábios.

— O Danny fez um bom trabalho... se não acredita em mim, pode perguntar para qualquer um aqui. – Havia uma certa irritação em seu tom de voz. Às vezes parecia que Will estava sempre duvidando de tudo e de todos.

— Mas ele quebrou mesmo a cadeia de custódia?

— Sim... mas essas coisas acontecem o tempo todo... – Encolheu os ombros e evitou olhar diretamente para ele. – É como a minha avó sempre dizia... existem pintores e existem artistas. Se um cara pinta casas para sobreviver, as pessoas irão respeitá-lo por fazer um bom trabalho, mas não irão confundi-lo com o van Gogh ou com o Picasso. – Fez questão de o encarar enquanto continuava o que estava dizendo. – Todo mundo aqui sabe que você é um artista nesta profissão... não estou dizendo que o Danny não é bom no que faz, ele é um ótimo detetive, mas é um pintor. – Will respirou fundo e tentou pensar com mais calma, ia ser difícil descobrir o que realmente havia acontecido.

Ele passou um tempo conversando com alguns dos colegas que haviam estado na mesma sala com Danny, na tentativa de encontrar alguma pista do que teria acontecido, mas todos foram categóricos ao afirmar que Danny tinha seguido todos os protocolos.

— Conversei com Jas e com os outros e todos dizem a mesma coisa, Danny fez tudo como manda o figurino. – Pegou a garrafinha de água que a máquina havia soltado, abriu e bebeu um bom gole.

— Então como foi que a cadeia de custódia foi quebrada? – Stella vinha logo atrás dele.

— Meu palpite é que alguém pode ter misturado as amostras por acidente, ou... – Sentaram-se nas cadeiras e se encararam, Will não tinha nem coragem de terminar aquela frase. – Eu devia ter ficado para ajudar... devia pelo menos ter ficado para supervisionar. Deixei-o me convencer de que daria tudo certo e agora... agora deu tudo errado. – Ficaram em silêncio. – Ele vai precisar da gente.

— Então... – Coçou a nuca e cruzou as pernas. – Acho que ele ainda não descobriu isso. Ele está agindo como se tudo isso não tivesse o abalado.

— É... – Comprimiu os lábios. – Ainda me lembro do primeiro teste que errei...

— Foi o Danny quem te convenceu a fazer isso, ele queria provar que dava conta de tudo sozinho e isso acabou o prejudicando. – Abriu um sorriso compreensivo. – Ele só precisa de alguém para lembrá-lo de que isso não é culpa de ninguém.

Para o azar deles, Danny estava passando por ali e ouviu tudo.

— Não será necessário. – Disse de um jeito rude.

O casal se levantou e foi ao encontro dele.

— Tem alguma coisa para dizer a respeito do meu trabalho? – Alfinetou.

Will colocou as mãos na cintura e Stella pigarreou.

— Vou deixar vocês dois conversarem a sós. – Ela se retirou.

— Só estava pensando se posso te ajudar de algum jeito. – Explicou-se, desviando o olhar.

— Sim, claro. Porque eu sou um incompetente que não consegue fazer nada sozinho.

Will coçou a orelha e suspirou.

— Mais alguma coisa? – Danny arqueou a sobrancelha.

— Cara, o que foi que aconteceu?

— Eu matei o caso. – Foi bem direto.

— Certo... – Mordeu os lábios para aliviar a tensão. – Talvez eu possa te ajudar a descobrir o que realmente aconteceu.

Danny riu com deboche e coçou a nuca.

— Claro, claro. O super-homem está sempre pronto para salvar os pobres e oprimidos, não é? – O encarou. – Qual é, cara? Eu sei como funciona o seu ego... você acha que se você tivesse ficado as coisas seriam diferentes. Então muito obrigado, mas não preciso da sua ajuda. – Cuspiu as palavras e se virou para ir embora.

— Ei, espera.

— Larga do meu pé. – Ignorou e seguiu em frente.

— Escuta... também já passei por isso. – O acompanhou.

Ao ouvir isso, Danny se virou para encará-lo.

— Não! – Se conteve. – Não faça isso... – Alertou em um tom mais baixo. – Sou tão bom quanto você, só que eu vivo no mundo real onde essas coisas acontecem mesmo. Isso não é o fim do mundo. – Will abaixou a cabeça. – A menos... a menos que esteja me acusando de ter feito algo errado.

Estavam tão envolvidos naquela discussão que nem perceberam quando a mulher de terninho preto chegou por trás deles.

— Detetive Taylor? – Havia constrangimento em seu tom de voz. – Detetive Messer. – Danny passou a mão na nuca e se virou para ela. – Imaginei que os encontraria aqui.

— O que foi dessa vez, Eileen? – Will sabia que sempre que a mulher aparecia era para defender um dos delinquentes que ele estava tentando colocar atrás das grades. – Quem você veio defender dessa vez?

— Hannah Knox.

— Como é? – Fez uma careta.

— Fui contratada pela família dela, eles querem processar o detetive Messer por negligência. – Danny e Will a encararam de boca aberta, não estavam esperando por mais este duro golpe do destino.

— Como... como eles ficaram sabendo? – Foi Will quem questionou.

— As notícias voam, detetive. A família dela tem amigos aqui neste laboratório, ficaram sabendo de tudo há algumas horas. – Explicou muito brevemente e saiu andando, sendo acompanhada por eles. – Como o acidente aconteceu nas dependências do hotel vou ter que intimar os funcionários e qualquer pessoa que possa ter testemunhado ou ouvido alguma coisa. – Parou perto do elevador e se virou para eles. – E isso inclui o prefeito Hubbard.

Stella os viu parados ali e foi ao encontro deles, ficando atrás de Eileen.

— Parece que ele estava envolvido nisso também e...

— Desculpa... – Pediu uma pausa com a mão. – Mas o que o prefeito Hubbard tem a ver com isso?

— Se ele estava lá quando o acidente aconteceu, pode ser que tenha algo relevante para dizer ao júri. – Esclareceu. – Mas o importante aqui é que graças a incompetência do detetive Messer... – Apontou para o homem em questão. – Talvez não consigamos mais solucionar esse caso.

— Isso é loucura.

— O detetive Messer fez um excelente trabalho. – Will o defendeu.

— O Danny não fez nada de errado. – Stella também o defendeu.

Eileen se virou para olhar para Stella.

— Não é o que a família dela acha. – Comprimiu os lábios em uma expressão desafiadora. – Ele misturou amostras, sei que vocês acham que isso é normal, mas o que fariam se fosse com alguém da família de vocês?

— Deve ter algum jeito de resolvermos isso sem termos que ir para os tribunais. – Stella apelou.

— A família acha que esse caso seria facilmente solucionado se não houvesse a contaminação das provas, e eu acredito que eles têm razão. – Virou-se para os outros dois detetives. – Não é nada pessoal.

— Certo, Eileen, mas você é uma advogada ocupada não precisa pegar esse caso. – Will sugeriu.

— A família dela não vai desistir. Se eu abandonar o caso, eles irão atrás de outra pessoa.

— O Danny é um profissional excelente, e eu tenho certeza de que ele fez um ótimo trabalho com aquelas amostras. – Usou um tom de voz incisivo e duro.

— E se o júri concordar, não se fala mais nisso.

— Nem todos os casos são um sucesso. – Tentou argumentar, mas Eileen fez uma careta para ele.

— A cadeia de custódia do caso da Hannah foi quebrada e tudo aponta para uma falha por parte do detetive Messer. Em outras palavras, negligência.  – Explicou. – Entrarei em contato. – Disse ao sair.

Will e Stella morderam os lábios.

— Sinto muito, Danny. – Colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.

— Vamos lutar. – Will ficou de frente para ele. – Não vamos nos dar por vencidos.

— Sim. – Assentiu meio a contragosto. – Claro, mas você tem mesmo certeza de que confia em mim? Tem certeza de que não acredita na possibilidade de eu ter mesmo quebrado a cadeia de custódia?

Ele não respondeu nenhuma das perguntas. Danny assentiu meio desapontado e saiu. Will suspirou pesadamente e olhou para a esposa que estava com a mesma expressão de quem havia acabado de perder uma batalha.

Stella esperou o amigo se acalmar um pouco e decidiu que tentaria conversar com ele mais uma vez.

— Ei. – Tocou no ombro dele, oferecendo-lhe um sorriso gentil. – Não quer mesmo ir falar com um advogado? Situações como estas exigem medidas desesperadas.

— Obrigado pela dica jurídica. – Respondeu sem nem se dar o trabalho de olhar para ela. – Por que você não vai na frente?

— Ela só está tentando te ajudar, Danny. – Will defendeu a esposa.

— É? – Danny largou o que estava fazendo e se virou para encará-lo. – Então por que simplesmente não me dizem que sou um bom detetive?

— Porque nem é preciso dizer isso. – Tomou a frente dele.

— Não é?

— Ela tem razão, cara. – Murmurou. – Casos como esses são delicados mesmo.

— Sim. – Assentiu com ironia. – E como é que você sabe disso, Will Taylor? – Cruzou os braços. – Você já foi processado por negligência alguma vez nessa sua gloriosa carreira?

Will suspirou e tentou encontrar as palavras certas.

— Olha... irei fazer o que for preciso para te ajudar com tudo isso.

— Ótimo. – Debochou. – Mas só para você saber, eu não preciso da sua ajuda. Não precisei antes e não vou precisar agora. – Ao terminar de dizer isso, saiu sem olhar para trás.

Stella comprimiu os lábios e arqueou as sobrancelhas quando encarou o marido, não ia ser nada fácil tentar ajudá-lo.

Os dias passaram e a situação de Danny parecia piorar cada vez mais, os amigos até tentaram ajudar, mas ele era muito orgulhoso e recusava toda e qualquer tipo de ajuda. Queria provar para todos que dava conta de caminhar com suas próprias pernas. O orgulho do homem refletia de forma muito negativa no comportamento e no psicológico de sua esposa, que andava sempre nervosa e angustiada.

— Lindsay. – Will chamou a mulher, que levou um grande susto e se virou para ele com uma expressão de pavor em seu rosto. – Ei, calma. – Fez uma leve carícia no ombro da amiga. – Só queria saber se você pode interrogar o Nicholas, estamos com pouco pessoal. Quase todo mundo está fazendo trabalho externo hoje.

— Não... – Murmurou bem baixinho. – Claro, Will... já estou indo.

Will deu um tapinha gentil no ombro dela e saiu.

Apesar de Danny fazer de tudo para esconder de seus colegas a má fase que estava vivendo em sua carreira, todos percebiam e teciam comentários a respeito de sua falta de sorte.

— Lindsay. – Danny chamou a esposa da porta do laboratório.

— Danny? – Fez uma careta, estranhando a presença do marido no local. – O que veio fazer aqui? – Foi ao encontro dele. – Pensei que fosse seu dia de folga.

— E é. – Cumprimentou-a com um beijo. – Só passei para te ver, estava com saudades. – Tentou sorrir.

— Que fofo. – Também sorriu. – Sinto muito, mas não posso ficar com você, tenho que ir interrogar um cara.

— Tudo bem, não quero te atrapalhar. – Deu um beijinho de despedida em sua testa. – Te vejo mais tarde.

— Até mais. – Despediu-se.

Esperou que Danny sumisse de vista e deu passos lentos rumo ao corredor que dava acesso as salas de interrogatório. Ficou de frente para a porta, segurou a maçaneta por algum tempo e então girou, abrindo-a e revelando o homem que já a aguardava no interior da sala.

Danny estava mentindo, não pretendia ir para casa. Sem pensar muito para onde iria, dirigiu pela cidade como se fosse apenas mais um turista qualquer. Quando estava cansado demais até para enxergar um palmo à frente do próprio nariz, decidiu que era hora de parar. O local escolhido não era muito apresentável, mas ele não se importava com isso. O lugar emanava um cheiro de coisa podre misturado com bebida. Era horrível e chegava a fazer seus olhos arderem, mas mesmo assim ele saiu do carro e adentrou o beco deserto.

Ele não sabia exatamente o que fazer, é difícil fazer escolhas desta natureza sabendo que há grandes chances de magoar as pessoas que ama, mas ele sentia que precisava daquilo.  Danny segurou o frasco com força e passou longos minutos o encarando, como se esperasse que ele lhe desse a resposta e então o largou e seguiu em frente.

— Acho que você deixou alguma coisa cair. – Uma voz veio das costas dele.

Danny se virou para ver quem era e deu de cara com um homem esguio e alto segurando o frasco que ele havia jogado fora, ele devia ter cerca de um metro e noventa. Danny o conhecia bem.

— Evan? – Foi a única coisa que saiu de sua boca. – Ei, cara. – Tentou ser amigável para disfarçar o medo que sentia. – É... não sei como foi que isso aconteceu.

— Acho que você não gostou muito do meu produto. – O homem arqueou as sobrancelhas de um jeito muito ameaçador.

— Sou um cliente muito satisfeito.

Evan riu com desdém.

— Eu até acreditaria em você, se não soubesse que você ainda não usou. – Retrucou em um tom mais rouco. – Qual é o problema?

— Não tem problema nenhum.

— Prove. – Destampou o frasco. – Vou pegar um pouquinho e você vai usar agora. – Abriu a mão oferecendo a droga para ele.

O nervosismo de Danny era quase palpável, ele não queria fazer aquilo, mas estava sem saída.

— Vamos nessa. – Insistiu.

— Não posso, cara. Vou me ferrar muito se fizer isso. – Passou as mãos no rosto.

— E então por que comprou? – Deu alguns passos para se aproximar dele. – Por que comprou se não queria usar? – Continuou se aproximando, até estar a poucos centímetros dele. – Eu sei que você quer... você gostava tanto.

— É, mas as coisas mudaram. – Umedeceu os lábios e tentou conter seu nervosismo. – Tenho que ser mais cuidadoso agora.

— Mas você quer, não quer? – Aproximou mais seu rosto do dele. – Dá para ver na sua cara. Por que lutar contra si mesmo?

— Me devolva e usarei quando estiver pronto. – Esticou a mão e o encarou.

— Ah, você vai usar sim, Danny. – Sussurrou bem baixinho. – Querendo ou não. – Olhou para trás, dando um sinal para os outros dois homens que estavam escondidos em meio a sujeira.

Danny tentou fugir, mas estava encurralado, os homens partiram para cima dele e o seguraram contra a parede.

— Que porra é essa, cara? – Esperneou, tentando escapar de algum jeito. – Sei que não quer fazer isso. – Um dos homens segurou o braço esquerdo dele, subindo a manga de sua camiseta.

— Não, isso não é verdade. – Debochou, se aproximando mais deles. – Facilite as coisas.

O rosto de Danny estava vermelho e seus olhos estavam arregalados, já havia desistido de lutar.

— Escuta, escuta. Não vou contar nada para ninguém, só vá embora e eu prometo que não vou dizer nada. – Implorou atropelando as palavras. – Eu prometo.

Os homens o seguraram com mais força, fazendo-o expor o braço.

— Não vai rolar, irmão. – Riu ao mostrar a seringa para ele. – Você vai usar isso, gostando ou não. Então relaxa.

— Não! – Forçou o corpo para tentar escapar das mãos dos homens, mas foi em vão. – Merda!

Um dos homens segurou o braço dele e amarrou um garrote uns dois dedos acima da curva de seu braço.

— Aproveite a viagem. – Exibiu os dentes em um sorriso insano e aproximou a agulha do braço dele.

— Espera, espera. – Tentou puxar o braço, mas os homens eram mais fortes do que ele. – Qual é, cara? Qual é, cara? – Arfou de desespero. – Você não precisa fazer isso, por favor, por favor!

Evan riu do desespero dele.

— Qual é, cara? – Implorou mais uma vez, mas não adiantou. Evan simplesmente inseriu a agulha no braço dele e pressionou o êmbolo enquanto ele esperneava e implorava aos gritos para que ele parasse.

— Soltem ele. – Ordenou assim que percebeu que a droga estava começando a fazer efeito.

Assim que o soltaram, ele foi ao chão, seu peito subia e descia por conta de sua respiração irregular. Seus olhos estavam abertos, mas ele já não conseguia mais distinguir o que era real do que era imaginário. As alucinações estavam só começando e ficariam ainda piores.

— Relaxa, irmão. – Tirou o garrote do braço dele. – Você vai adorar a viagem. – Saiu.

— Olha... – Lindsay passou as mãos pelo rosto e pelos cabelos. – Vou te perguntar só mais uma vezinha. – Puxou uma cadeira e se sentou bem de frente para ele. – Por que você fez isso?

— Ela estava me traindo. – Disse rangendo os dentes.

— Ela estava grávida! – Gritou na cara dele.

— Aquela... criança não era minha. – Fez cara de nojo.

— Foi por isso que a arrancou do útero da mãe? Sabe qual é o meu problema com gente da sua laia? – Era uma pergunta retórica. – É que vocês leem só os versículos que convêm a vocês e ignoram todo o resto. – Pegou as fotos que estavam sobre a mesa e esfregou no rosto dele. – Olha! – Parou de esfregá-las em seu rosto, mas continuou obrigando-o a olhar. – Olha o que você fez! Você acha que Deus se agrada desse tipo de monstruosidade? – Colocou as fotos de volta na mesa. – Por que tem tanta certeza de que esse filho não era seu?

— Fiz vasectomia. – Desviou o olhar das fotos que estavam sobre a mesa.

— E por acaso você matou às aulas de biologia? Sabia que vasectomia não torna ninguém estéril? – Retrucou com raiva. – Temos uma surpresinha para você. – Pegou um outro papel que estava sobre a mesa. – Fizemos um exame de DNA e descobrimos que você era o pai de um lindo garotinho que você mesmo matou com as suas próprias mãos. – Mostrou a folha para ele, que ficou pálido ao ver o resultado positivo. – Parabéns, papai. – Murmurou em um tom raivoso.

— Eu... eu...

— Me diz só mais uma coisinha... – Levantou, aproximando-se do ouvido dele para sussurrar a pergunta. – O seu filho chorou muito quando você o matou?

— Só... só... – Gaguejou com a voz embargada. – Só um pouquinho.

 

“Não há nada escondido que não venha

a ser descoberto, ou oculto que não

venha a ser conhecido.”

— Lucas 12:2


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Notas finais do capítulo

Não tenho nem o que dizer sobre...
Até o próximo!



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