Stella escrita por Vic


Capítulo 36
Como salvar uma vida?


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Hoje o capítulo estará ainda mais cheio de gatilhos... então peço que se atentem a isso.
Boa leitura!



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Ouso dizer que você nunca passou pela desagradável experiência de usar drogas. Se estou certo, então você não sabe como é estar deitado no chão vendo e ouvindo coisas que não existem, e também não sabe como é a sensação de pensar que seu coração vai explodir a qualquer momento.

Mas Danny já conhecia bem aquela sensação, sabia exatamente como era se encontrar deitado no chão de um lugar totalmente desconhecido, vendo e ouvindo coisas que não existiam. Havia passado tantas noites orando e torcendo para que isso nunca mais voltasse a acontecer... porém o destino reservava algo diferente para ele.

— Relaxa, irmão. Aproveita, nós dois sabemos que é isso que você quer. – A imagem de Evan se agachou ao lado dele, analisando muito bem o seu rosto. – É surreal, não é? – Deu uma risada carregada de maldade. Danny tentou focar seus olhos na imagem do homem acima dele, mas sua aparência estava distorcida e falhava, como a imagem de uma TV muito antiga.

Ele gemeu segurando o braço onde havia sido inserido a agulha e se arrastou até a parede mais próxima.

— O que... – Tentava manter os olhos abertos enquanto conversava com o que ele pensava ser o Evan. – O que... – Nem conseguia pensar direito na frase que queria formular. – O que você me deu?

— Só o que eu tinha de melhor, cara. – Sua voz ecoou na cabeça de Danny, como se duas pessoas estivessem falando ao mesmo tempo. – Como sempre.

— O que quer dizer... com isso? – Murmurou bem baixinho.

— Só quero que aproveite a sensação... – Riu, tirando o frasco do bolso e sacudindo na frente dele. – A brincadeira está só começando. – Continuou sacudindo o frasco. – E se eu te dissesse, acabaria com toda a diversão, não concorda comigo? – Riu. – E essa brincadeirinha é tão divertida.

— Minha... – Apertou os olhos e levou as mãos à cabeça. – Por quê?

— Não seja idiota, cara. – Tirou as mãos dele da cabeça. – Você estava perdido, eu só te trouxe de volta. – Deu alguns petelecos no frasco, fazendo o pózinho se agitar dentro dele. – E você me agradece como? – Seu tom de voz ficou mais raivoso. – Roubando minhas coisas. – Fechou seu semblante. – Mas você vai me dizer onde é que elas estão.

Danny negou, balançando a cabeça freneticamente.

— Não... não... – Tentou escapar das mãos dele, mas elas seguraram seu rosto com força. Ele voltou a abrir o frasco e jogou mais um pouco do pó na boca dele. Danny até tentou cuspir, mas o homem o forçava a ficar com a boca fechada. – Não...

— Anda! Engole logo! – Usava toda a força que tinha nos braços para forçá-lo a ficar de boca fechada.

Danny engasgou e tossiu um pouco, mas acabou engolindo. Não havia outra alternativa.

— Bom menino. – Finalmente soltou seu rosto. – Escuta... – Danny olhou para ele. – Sei que essa apreensão deve constar nos relatórios policiais... nós podemos atacar os policiais.

— Não, não. – Negou com a cabeça.

— Você pode até achar que não queria, mas nós dois sabemos que você queria. Considere isso como um presente de um velho amigo. – Sorriu. – Irmão. – A voz dele ecoou, vindo de várias direções diferentes e sua imagem simplesmente se desfez.

Era difícil manter os olhos abertos, sua mente estava tão bagunçada e tão confusa que tudo parecia ser um castigo para ele.

— Muita arrogância, não acha? – A voz distorcida de Daxton chamou sua atenção. – Pegar um caso como esse é bem arriscado. – Sorriu com uma certa melancolia. – Eu te avisei, irmão. Mas não, não. Você nunca me escuta. – Agachou ao lado dele. – Você não tem sorte, não é, irmãozinho? Sempre se autodestruindo. – Sua voz ecoou, como se houvessem vários dele ali. – Mas você sabe que quem paga por isso são os inocentes, não sabe? – Encarou o irmão de perto. – Assim como nós tivemos que pagar pelos pecados do nosso pai. – Se aproximou mais ainda, quase colando seu rosto no dele. – Quer mais? Sei que vai precisar de mais... você sempre precisa. – Balançou o frasco na frente dele.

— Não... não... – Virou a cabeça para o outro lado, recusando-se a olhar para o frasco nas mãos dele. Quando virou a cabeça para olhar novamente para o irmão, o viu saindo pelo mesmo corredor por onde ele próprio havia entrado. Quando pensou que tudo aquilo havia finalmente acabado, o som inconfundível de um salto alto tomou conta do ambiente. E lá estava Lindsay vindo em sua direção, vestindo uma lingerie preta de renda com o mesmo maldito frasco em suas mãos.

— Ei. – A mulher exibia um sorriso simpático. – Você não me parece nada bem. – Agachou na frente dele, que semicerrou os olhos e tentou olhar melhor para o rosto dela. – Deve ser porque é muito cedo. – Sorriu de um jeito sedutor. – Acho que você só vai precisar de mais um pouquinho. – Destampou o frasco e derramou um pouco do pó em sua mão. – Sei que você precisa de mais um pouquinho disso... porque você sempre precisa, para se livrar de toda a sua dor. – Danny tentou focar no rosto dela, mas ele estava estranhamente distorcido. – Você sempre teve medo de tudo, não é? Da dor, das responsabilidades, de ter uma esposa, de ter filhos, das contas... – A frase ecoou na mente de Danny, era como se ela estivesse falando de algum lugar dentro da cabeça dele. – Mas eu sei exatamente do que você precisa. Você não sente a minha falta, sente falta é disso aqui. – Soprou o pó no rosto dele. – Pode ter isso sempre que quiser. – Despejou mais do pó e o soprou no rosto dele mais uma vez. – Tudo tem um preço, mas você pode pagar. – A mulher repetia a última palavra como se fosse um disco arranhado enquanto terminava de derramar o restante do pó na frente dele.

Ao terminar de fazer isso, Lindsay desapareceu completamente. Danny olhou para os pés e notou que seu cadarço estava desamarrado, então focou suas atenções nisso, pelo menos assim não sofreria tanto com aquelas alucinações.

Ele estava enganado, terrivelmente enganado. Assim que Lindsay sumiu, Evan reapareceu em seu lugar.

— Hummm... as coisas simples da vida são tão maravilhosas. – Murmurou em seus ouvidos, o eco que o final da frase fez em sua mente entorpecida produziu um calafrio em sua espinha. – Tipo amarrar o cadarço, ou ir a lugares novos. – Olhou para o sapato que Danny lutava para alcançar. – Cuidado onde pisa. O espaço entre a luz e o escuridão é muito pequeno. – Deu uma risada. – Você já atravessou a barreira, agora não tem mais como voltar. – Sussurrou no ouvido dele. – E você não vai mais conseguir voltar. – Ao dizer isso, Evan se levantou e sumiu.

Danny voltou a prestar atenção em seu sapato e tentou amarrar o cadarço, mas sua coordenação motora não permitiu, então ele o arrancou de seu pé e jogou o mais longe possível. Acabou deitado no chão, pois não tinha mais forças nem para se manter sentado.

— Aqui está você. – Stella sorriu carinhosamente para ele. – E não me parece estar nada bem... como eu temia. – A expressão dela ficou mais triste. – Do que você precisa? Dinheiro? – Tirou o dinheiro da bolsa e jogou em cima dele. – Mas acho que não vai te ajudar muito, porque é tudo falso. Igual as suas promessas. – O final da frase ecoou nos ouvidos dele. – Você é um bom homem, Danny Messer. – Disse ao se agachar para olhar diretamente em seus olhos. – Tem certeza de que é isso mesmo que você quer? Mesmo sabendo que isso pode acabar partindo o seu próprio coração? – A palavra coração ecoava na mente de Danny. – Você é um bom irmão e é um bom amigo. – Sorriu e Danny tentou se levantar novamente. – Você me ajudou no momento em que eu mais precisei... e isso nem era problema seu. Sempre serei grata pelo que você fez por mim. – A imagem de Stella desapareceu.

Danny voltou-se para o sapato que estava há uma pequena distância de seus pés, enquanto lágrimas molhavam o seu rosto, evidenciando ainda mais seu sofrimento. Ele se esforçou, arrastando-se até o sapato, mas seus braços não tinham força o suficiente.

— Tem alguém aí? – A voz de Jas veio da entrada do beco. – Tem alguém aí? – Danny parou o que estava fazendo para olhar na direção que a voz vinha.

Jas chegou tão rápido e tão fantasmagórica quanto os outros, mas ela não era mais uma de suas alucinações. Danny não conseguiu registrar bem a expressão no rosto dela, estava completamente perdido em seus próprios delírios, mas o choque no rosto dela ao vê-lo daquela forma ocuparia um espaço em suas memórias de um jeito ou de outro. Assim que o viu jogado naquele chão sujo, ela soltou a arma que estava empunhando e correu em sua direção.

— O que aconteceu? Você está bem? – O segurou por debaixo dos braços, na tentativa de ajudá-lo a se sentar. – Danny! – Sua voz estava começando a ficar embargada. – Está tudo bem? – Danny gemeu e agarrou a blusa dela como se ela fosse sua salvação. – Consegue ficar de pé? – Passou o braço dele ao redor de seu pescoço. – Vem, vamos ficar de pé. – O esforço não surtiu o efeito esperado, mas pelo menos agora ele estava sentado. – O que aconteceu com você? –  Indagou em um tom choroso e segurou o rosto dele entre as mãos.

— Meu sapato... meu sapato está estragado. – Seu tom de voz era baixo e muito ofegante. – Não consigo...

— Está tudo bem. – Jas foi pegar o sapato que estava jogado no chão.

— Não... não... – Tentou se livrar dela.

— Tudo bem. – Jas insistia. – Danny, olha para mim. Está tudo bem. – Acariciou o rosto dele na tentativa de o acalmar. – Eu conserto o seu sapato. – Tentou colocar um sorriso no rosto. – Eu conserto tudo.

Jas colocou o sapato no pé dele e tentou amarrar o cadarço, mas Danny estava tão agitado que dificultava ao máximo uma tarefa que deveria ser muito simples. Ele ficava tirando as mãos da mulher de seu sapato e gritando com ela como se gritasse com o próprio Evan.

— Danny... – Jas se esforçava para dar ao menos um nó no cadarço enquanto Danny a empurrava para trás.

— Não! – Ele mesmo tentou dar o nó. – Não! – Gritou ainda mais alto quando ela tentou novamente.

— Danny... – Continuava a empurrando. – Certo... para, para, para. – Segurou os braços dele, tentando o manter imóvel. – Me escuta. Me escuta. – Danny parou para olhar para ela. – Preciso saber o que foi que você usou.

Danny arfou pesadamente e olhou ao redor.

— O que eu usei? – Resmungou, falando consigo mesmo. – O que eu usei?

— Ok, ok. – Tentou chamar a atenção dele de volta para si. – Olha para mim. Preciso te levar ao hospital, tudo bem?

— Não, não, não. – Negou com a cabeça.

— Sim. – Tentou convencê-lo. – Isso é muito sério...

— Não. – Continuava sussurrando totalmente apavorado.

— Você precisa de ajuda.

— Não preciso. – Colocou as mãos no rosto dela. – Porque eu tenho você.

Jas não estava esperando ouvir aquilo. A surpresa do momento acalmou um pouco o homem, dando a chance perfeita para que Jas conseguisse dar um único nó em seu cadarço.

Com um gemido, Danny se deitou de bruços no chão, sendo amparado por Jas, que o segurava pelo braço esquerdo na tentativa de fazê-lo se sentar novamente.

— O que foi que aconteceu, Danny? – Ela lutava para entender o porquê de ele estar naquele estado. – Tem que me dizer o que foi que aconteceu.

O homem ofegava tanto entre uma palavra e outra que Jas quase não conseguia entender o que ele estava tentando dizer.

— Eles... eles me encontraram.

— Eles? – Encostou o amigo numa caixa de madeira que havia ali. – Quem são eles?

— Ele. – Sua voz saía como um mero sussurro. – Ele. – Continuou repetindo e olhando para todos os lados.

— Tudo bem. – Tentou não ficar ainda mais desesperada do que já estava. – Danny, foca. – Tentou fazê-lo olhar para ela. – Por favor, foca. – Danny resistiu, segurando o braço onde haviam inserido a agulha. – Você tem que me dizer o que foi que aconteceu para que eu possa te ajudar. – Jas tentou, mas ele não parecia estar muito disposto a cooperar. Foi aí que percebeu que ele segurava com força um de seus braços. – Me deixa ver o seu braço. – Pediu, tentando tirar a mão dele de cima. – Vai ficar tudo bem. – Prometeu a fim de ganhar sua confiança. Seu truque funcionou, logo Danny relaxou os músculos e a deixou esticar seu braço para dar uma boa olhada.

— Eles estão vindo me pegar... – Murmurou. – Meu Deus.

— Danny... – Sua voz estava embargada. – Quem foi que fez isso com você?

— Eles me encontraram. – Sua respiração ficou ainda mais irregular.

Jas estava começando a ficar realmente desesperada com aquela situação.

— O que eles te deram? – Insistiu mais uma vez. – Você sabe o que foi que eles te deram? – Fez com que ele a olhasse nos olhos.

— Jas? – Foi a primeira vez que ele a reconheceu. – Você está bem? – Segurou as mãos dela. – Você está bem?

— Claro. – Respondeu com um misto de confusão e medo.

— Sinto muito. – Segurou os ombros dela. – Só queria saber se você está bem.

— Não. – Tentou se livrar das mãos dele. – Eu estou bem.

— Só queria ter certeza de que você está bem. – Repetiu mais uma vez.

— Danny... – Segurou as mãos dele, tirando-as de seus ombros. – Para. – Arfou. – Eu estou ótima.

Ele a abraçou com tanta força que chegou a doer um pouco. Parecia até que estava com medo dela também desaparecer, como se fosse apenas mais uma de suas alucinações.

— O único aqui que não está bem é você. – Tentou o arrumar em uma posição minimamente confortável em seu colo.

Ele se esforçou para respirar fundo e aceitou de bom grado o colo que a amiga estava lhe oferecendo.

— Estou tão cansado. – Admitiu em um tom exausto e se agarrou mais a ela.

— Certo... – Seu tom transparecia preocupação. – Mas não durma, por favor. – Começou a se levantar, sentindo a mão dele agarrar a barra de sua calça. – Vamos, você precisa ficar acordado. – Tentou o levantar, mas Danny apenas se sentou novamente.

— Não consigo... – Murmurou bem baixinho e voltou a encarar a entrada do beco. – Você tem que ir. – Aconselhou, mas não largou a calça da amiga. – Eles ainda podem estar por perto.

Jas olhou ao redor, na tentativa de encontrar o que estava deixando-o tão assustado, mas não viu nada e nem ninguém.

— Eles não podem te pegar também.

— Fica bem aqui. – Tirou a mão dele de sua calça e se afastou. – Vou dar uma olhadinha e já volto.

— Não. – Implorou, se arrastando pelo chão. – Não.

Jas foi até sua arma, pegando-a do chão e depois voltou para perto dele.

— Danny. Danny... – Se agachou para segurar seu rosto. – Estou bem aqui, ok? – Sorriu carinhosamente. – Não vou desaparecer. – O ajudou a se sentar mais uma vez. – Entendeu?

— Não... não... – Segurou seu braço e continuou murmurando isso bem baixinho.

— Me deixa... – Tentou não deixar o medo transparecer em sua voz. – Me deixa te levar para casa?

— Não. – Voltou a se deitar no colo dela. – Não.

— Posso te levar para a minha casa? – Começou a passar a mão nas costas dele.

— Não.

— Temos que ir até a delegacia.

— Não, não, não, não...

— Podemos pedir ajuda...

— Não. – Negou. – Não! – Gritou, encarando-a. – Não, não.

Jas mordeu o lábio inferior por conta do nervosismo que estava sentindo. Entregando os pontos, a mulher se sentou encostando-se na caixa de madeira e deixou que Danny deitasse a cabeça sobre suas pernas. Estavam no mesmo barco e não conseguiam entrar em um consenso a respeito de uma saída.

— Como se sente? – Indagou alguns minutos depois.

— Frio. – Tremia da cabeça aos pés, esfregando as mãos nos braços na tentativa de se aquecer.

Jas levou a mão até a testa dele.

— Está um pouquinho quente.

Danny gemeu e continuou o que estava fazendo.

— Temos que sair daqui, ok? – Seu tom de voz era muito sereno, não queria deixá-lo ainda mais assustado. – Entendeu? – Olhou bem para o rosto dele, procurando algum sinal de concordância. – Temos que ir. Consegue ficar de pé? – Nem esperou a resposta e já passou o braço dele ao redor de seu pescoço.

— Uhum. – Confirmou com a cabeça.

— Ótimo, então vamos ficar de pé. – Fez força para aguentar seu próprio peso junto com o peso do amigo. – Um, dois, três. – Fez ainda mais força e abraçou o amigo quando ele deu sinais de que não tinha capacidade para se manter de pé. – Conseguimos... – Tentou soltá-lo.

— Não consigo sentir minhas pernas.

— Tudo bem, só estique suas pernas. – Tentou segurá-lo, mas ele era mais pesado do que ela. – Vamos, você consegue... – Antes que ela terminasse sua frase, Danny foi ao chão, levando-a junto com ele.

— Desculpa. – Disse com voz de choro.

— Tudo bem... – Ofegou. – Não precisa se desculpar. – Tentou arrumar o próprio cabelo. – Está tudo bem.

Danny levantou a cabeça para olhá-la.

— Eu não queria te machucar. – Acariciou o braço dela enquanto ela segurava seu rosto entre as mãos. – Sinto muito. – Murmurou.

A mulher aproveitou a vulnerabilidade do homem e o aninhou em seu colo, apoiando o queixo em sua cabeça e acariciando seus cabelos.

— Tudo bem. – Sussurrou bem baixinho. – Sei que você não queria nada disso.

Ambos suspiraram de alívio e Jas fechou os olhos, tentando relaxar um pouco.

— Sim, sim... – Levantou a cabeça para olhá-la. – Você acredita em mim?

— É claro que eu acredito em você. – Sussurrou com as mãos no rosto dele.

— Mas eles não vão. – Desviou o olhar. – Ninguém vai acreditar em mim.

— Então... então irei convencê-los. – Garantiu.

— Não, não...

— Tudo bem, está tudo bem.

Danny se encostou na caixa de madeira e arregalou os olhos, olhando para todos os lados como se estivesse prestes a ser atacado.

— Tudo bem. – Ia murmurando com muita calma. – Você consegue superar isso. Querido, olha para mim. – Puxou seu rosto, fazendo-o olhar para ela. – Você consegue. – Assentia enquanto falava. – Você consegue.

— Jas... Jas, me ajuda. – Pediu em um sussurro apavorado. – Me ajuda, por favor. – Puxou-a pela nuca, fazendo-a o abraçar.

— Claro que sim. – O apertou mais forte.

O tempo passava e a mulher não conseguia convencê-lo a procurar ajuda, parecia até que ele não queria ser visto por ninguém. Jas entregou os pontos e decidiu esperar os efeitos da substância desconhecida passarem.

— Isso não para. – Danny esfregava a perna como se alguma coisa estivesse subindo nela.

— O quê?

— Essas coisas... subindo em mim. – Ofegou tentando tirar alguma coisa das pernas. – Eles colocaram alguma coisa em mim. – Esfregou a perna com mais violência.

— Não. – Tentou conter as mãos dele. – Não tem nada.

— Eles colocaram alguma coisa em mim! – Berrou.

— Não tem nada. – Tentou explicar, mas ele não parava. – Para, para. – Tentou segurar as mãos dele. – Por favor.

— Não...

— Para, para, por favor. – Continuou tentando o acalmar.

— Jas, me ajuda. – Puxou a calça para cima, mostrando a perna para ela. – Por favor, me ajuda a tirar isso de mim.

— Tudo bem, tudo bem. – Começou a esfregar as pernas dele na esperança de que ele se convencesse de que os bichos haviam ido embora.

— Por favor, tira isso de mim!

— Já tirei. – Continuou passando as mãos nas pernas dele. – Já tirei.

— Tira! – Disse em desespero. – Tira!

— Tudo bem. – Ela o segurou. – Tudo bem.

— Tira de mim!

— Para. – Segurou as mãos dele. – Eles já se foram. – Passou mais uma vez as mãos nas pernas dele. – Você está bem? – Ele a abraçou. – Eles se foram. – Suspirou de alívio. – Eles se foram. – Apoiou o queixo em sua cabeça. – Eles se foram.

— Obrigado. – Murmurou. – Obrigado. – Se desvencilhou dos braços dela. – Não, não. – Negava com a cabeça.

— Não o quê? – Indagou confusa com a mudança repentina.

— Não era para eu ter seguido os passos do meu pai. – Reclamou em um tom choroso.

— Por favor, não faz mais isso comigo. – Sussurrou no limite de seu desespero. – Olha para mim. – Pediu. – Olha para mim. – Segurou o rosto dele, obrigando-o a olhá-la. – Confia em mim? – Ele ofegou de cansaço. – Confia em mim? – Repetiu a pergunta mais baixo.

— Só em você. – Respondeu muito ofegante.

— Então me deixa pedir ajuda. – Seus olhos castanhos marejaram.

Ele negou com a cabeça.

— Não. – Murmurou.

— Por favor...

— Não.

— Você precisa de uma ajuda que eu não posso te dar. – Fez mais um apelo desesperado.

— Não, não, não... – Repetia com uma expressão de medo.

— Ei. – Era a voz de Axton. A chegada repentina do rapaz deu um susto enorme nos dois, Danny apertou mais forte o braço da amiga e encarou o jovem com um misto de medo e desconfiança em seus olhos.

Jas o segurou mais próximo de seu corpo, tinha medo do que ele poderia ser capaz de fazer.

— O que está fazendo aqui? – Perguntou em um tom de censura. – Disse para me esperar no carro. – Se levantou e os dois se afastaram para conversarem a sós.

— Você estava demorando muito, então resolvi vir ver o que estava acontecendo. – Explicou sucintamente. – O que ele tem?

— Não tenho certeza... – Mordeu o lábio inferior. – Mas seja lá o que for, ainda está fazendo efeito. Precisamos encontrar alguma coisa que neutralize isso.

— Temos que levá-lo ao hospital.

— Ele não vai. – Olhou na direção de Danny e então tornou a olhar para Axton. – Ele não quer que o vejam.

— Ele não pode dormir. – Disse olhando para o amigo.

— Ele sabe. – Retrucou com uma certa tensão na voz. – Ele ficou arrasado com aquele erro no caso Hannah Knox.

— É... – Coçou a nuca. – Eu sei. Acha que existe alguma possibilidade de ele ter voltado a se drogar por conta disso?

Jas o encarou incrédula.

— Você não acredita nele?

— Considerando a forma como ele costuma lidar com as coisas...

— Mas é verdade.

— Então vamos ajudá-lo. – Se prontificou. – O que quer que eu faça?

Jas suspirou ao olhar para Danny.

— Preciso ir ao laboratório ver se encontro alguma coisa que neutralize o que ele usou.

— Usamos isso nos suspeitos...

Jas deu as costas para ele e foi na direção de Danny.

— Você pode ficar com ele?

— Claro.

— Escuta, Danny... – Se agachou para falar com ele. – Eu vou para o laboratório... – Segurou o rosto dele.

— Não, não... – Se desesperou, segurando as mãos dela.

— Sim, sim.

— Você fica. – Puxou as mãos dela.

— Não, não. – Negou com a cabeça. – Eu preciso ir.

— Por favor, não vá. – Continuou se agarrando a ela.

— Escuta, sei que...

— Por favor, por favor...

— Eu vou voltar. – Levou sua destra ao rosto dele. – Prometo que vou voltar para você. – Garantiu antes de se levantar e ir embora. Ela não sabia como salvar uma vida, mas ia dar um jeito de descobrir.

Assim que Jas saiu, Danny começou a ficar ainda mais agitado, não conseguia se levantar, mas não parava de encarar Axton com muita desconfiança. De repente o homem puxou um dos sapatos do pé e jogou longe, fazendo o mesmo com o outro.

— Não me olha desse jeito. – Ofegou tentando puxar ar.

— Não estou fazendo nada. – Garantiu, fazendo um gesto apaziguador com as mãos.

— Então vá embora.

— Só estou tentando te ajudar.

Danny ofegou mais ainda.

— Está me encarando.

— Te vigiando.

— Você está... me julgando.

— É isso que você acha? – Tentou manter o tom neutro em sua voz. – Acha que eu estou achando que você se drogou por vontade própria?

— É... você acha. – Voltou a olhar para todos os lados.

Axton se agachou ao lado dele.

— Danny. Danny. – Tentou chamar a atenção dele. – Eu não disse nada disso. – Danny olhou para ele. – Nós dois sabemos que se você fizesse algo assim você perderia o seu distintivo ou seria suspenso.

— O que você quer?

— Escuta, a Jas foi buscar...

— Não quero perder... meu distintivo.

— Ela foi buscar o remédio e vai voltar daqui a pouco. – Garantiu em um tom muito baixo.

O celular de Axton tocou e Danny ficou ainda mais apavorado.

— Não. – Olhou para o celular nas mãos dele. – Não atende.

— Eu preciso atender. – Danny negou com a cabeça. – Eu preciso.

— Não.

— Vão suspeitar se eu não atender. – Tentou mantê-lo calmo. – Espera só um pouquinho. – Levou o celular ao ouvido e se distanciou dele.

— Sim. – Respondeu tirando os olhos dele. – Não. Não ainda não encontrei nada. – Mentiu. – Vou mantê-lo informado de tudo, certo? – Encerrou a ligação e guardou o celular no bolso.

— Viu? – Respirou aliviado. – Está tudo bem.

Quando Axton se virou, se surpreendeu ao encontrar Danny em pé. O homem estava de costas para ele e estava ainda mais ofegante.

— Você não devia ter atendido essa ligação. – Segurou alguma coisa que Axton não conseguiu identificar o que era. – Eu avisei.

Não houve tempo para reação, ele usou a barra de ferro para golpear o rapaz na cabeça, que desmaiou imediatamente por conta da pancada. O ato também levou Danny ao chão, o homem gemeu de dor e permaneceu no chão. Assim que se recuperou, levantou e foi embora.

— Já acabou o papo furado? – Os olhos castanhos de Lindsay faiscaram de ódio. – Os outros presos vão te adorar. – Deu um risinho de deboche.

Ela o segurou pelos braços e o conduziu para fora da sala.

— Tenha uma boa vida com seus novos amiguinhos. – Debochou pela última vez antes de passar o homem para as mãos de Dante.

O homem não estava usando algemas, Dante achou que daria conta de dominá-lo sem o auxílio delas. Um ato impensado, pois assim que os três passaram pela porta de Will, o preso aproveitou a oportunidade para esbarrar em um dos policiais que passava por eles e pegar a arma do coldre em sua cintura. Sua vítima foi a pessoa que estava mais próxima dele, Lindsay. Ele apontou a arma para a cabeça da mulher, prendendo-a com bastante força. Foi quando Dante sacou sua própria arma e apontou para ele.

— Você não vai sair vivo daqui. – Prometeu com os dentes cerrados de raiva.

— E nem ela! – Gritou de volta.

— Abaixa a arma. – Will ordenou, apontando sua arma para ele.

— Pede para eles abaixarem as deles, ou ela morre! – Indicou os outros policiais e detetives com um aceno de cabeça.

— Abaixem! – Mandou.

Todos abaixaram as armas imediatamente.

— Entra aí dentro! – Referiu-se à sala de Will.

Will e Dante entraram na sala, nenhum dos dois dispostos a abaixar as armas.

— Agora você vai me arranjar um acordo. – Ordenou, fazendo questão de encostar a boca do cano da arma na lateral da cabeça dela.

Stella estava verdadeiramente feliz, mas mais do que feliz, ela estava radiante. Seus dias eram repletos de amor e carinho, nunca havia se sentido tão amada quanto estava se sentindo naquelas últimas semanas. Lily era uma garotinha muito doce e esperta, ansiava por aprender. Cada balbucio da menina enchia o coração de sua mãe de alegria. Seu casamento também era perfeito, nada poderia ser melhor do que o que ela tinha agora. Era como estar vivendo em um daqueles contos de fadas que ela lia quando era uma garotinha.

Naquela manhã ela havia decidido deixar a filha um pouco na creche e passear pela cidade. Era bom poder andar pelas ruas sem ficar pensando que sua vida era uma droga. Era bom poder apreciar as coisas boas da vida. Quando se cansou de passear, decidiu dar uma passadinha no laboratório, só para conversar com seus amigos um pouquinho, seria uma visita rápida, precisava ir buscar Lily na creche.

Ao entrar no laboratório estranhou o silêncio e o clima estranho que dominava o ambiente. Todos estavam quietos, parados e olhando para dentro da sala de Will. Stella se aproximou sorrateiramente e também olhou através da porta de vidro, foi quando visualizou a cena responsável por todo aquele silêncio. Sem nem parar para pensar duas vezes, tirou sua arma do coldre e a destravou fazendo o mínimo de barulho possível.

Stella não era do tipo que sentia uma onda de poder se apoderar de seu corpo toda vez que empunhava uma arma, muito pelo contrário, ela não apreciava muito aquele ato. Mas em situações como aquela, tudo em que conseguia pensar era em como salvar uma vida, senão daquele modo?

Além do mais, ela tinha ciência de que nem Will e nem Dante tinham uma mira limpa do homem, por isso não ousavam fazer nada. Mas ao contrário deles, ela podia fazer alguma coisa para salvar a vida de sua amiga. Então apontou a arma para ele e mirou bem. Como se pressentisse o que estava por vir, Nicholas virou a cabeça para trás, os olhares se cruzaram e então... um tiro.


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Notas finais do capítulo

As coisas estão ficando cada vez mais tensas...
Até o próximo!



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