Stella escrita por Vic


Capítulo 33
Hannah


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Sim... sei que demorei a postar, mas é porque tive um grande bloqueio criativo e para piorar ainda teve obra na minha casa. Primeiramente queria falar sobre algumas pessoinhas estarem pulando capítulos (todo capítulo é importante para a construção da história, de forma que poderão ser citados futuramente) e também queria agradecer pela paciência de esperar o meu cérebro funcionar akakak.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808498/chapter/33

Stella nunca acreditou que pudesse ter sido feita para ser feliz, e como uma boa grega, era dada a tragédia. Ela não gostava de ser vista como uma vítima e nem flertava com o drama, mas acreditava fielmente em um antigo provérbio grego que dizia que “a melhor de todas as coisas é não nascer”. Durante muitos anos, acreditou que não havia nenhum propósito em sua existência e que ela só poderia dispor de um mau demônio. Agora, olhando para a filha e para o marido que nunca imaginou que teria, finalmente começou a acreditar que talvez dispusesse de um bom demônio.

— Stella... – Will a censurou pela quarta ou quinta vez. Sua esposa era uma mulher muito geniosa e quase nunca aceitava um não como resposta, essa era uma das coisas que ele mais gostava nela... não nesse momento. – Também não queria ter que passar o dia aqui, mas...

— Ah... – Reclamou em um ruído quase inaudível. – A Lily e eu vamos passar o dia no parque. – Pararam em frente a sala de Will, ele abriu sua maleta e começou a procurar a chave que deveria estar guardada em um dos muitos bolsos. – É a nossa próxima parada. – Disse com um sorrisinho triunfante desenhado em seus lábios. – Só viemos deixar o papai no trabalho, não foi, meu amor? – Estava tão animada com o passeio que nem percebeu que havia se agachado próximo ao carrinho da filha para lhe fazer cócegas, arrancando uma gargalhada gostosa da criança.

— Ótimo. – Sorriu de canto quando encontrou a chave no fundo da maleta. – Talvez eu consiga encontrar vocês depois do meu expediente. – Colocou a chave na fechadura e a girou umas duas vezes.

Stella não estava disposta a simplesmente entregar os pontos e definitivamente não ia aceitar um não como resposta. Respirando fundo, levantou-se e ficou de frente para o marido, encarando-o com uma determinação quase animal.

— E por que não encontra outra pessoa para fazer o seu trabalho? – Questionou em um tom suave e quase sedutor. Will conhecia bem aquele truque e sabia que era difícil resistir a ele, então apenas abaixou a cabeça e encarou o chão. – Qual é? – Fechou o semblante em uma falsa expressão de tristeza e segurou sua gravata entre os dedos indicador e médio. – O dia está tão lindo lá fora, nós podíamos aproveitar para ir no balanço com ela. – Fez beicinho, em uma última tentativa de o conquistar. – Vamos. Junte-se a nós.

— Não. – Murmurou engolindo em seco. – Não posso. – Negou com a cabeça, esforçando-se para não ceder à vontade da esposa. – Você sabe que eu adoraria... mas estou ocupado aqui, devo respostas ao povo de Nova York.

— Ah... – Seu semblante sedutor deu lugar a tristeza e ela soltou a gravata do marido. – Isso está acabando com você, não é?

— Sim... – Confessou em um sussurro desesperado. – E o pior é que o tempo está passando... – Suspiraram de frustração e se encararam por alguns segundos. – Quer entrar? Está mais quente aqui dentro. – Deu passagem para a mulher com o carrinho de bebê.

Ela negou com a cabeça e continuou parada no mesmo lugar.

— Não, obrigada. – Sorriu. – Melhor irmos logo, quero pegar um bom lugar no gramado. – Explicou, despedindo-se dele com um singelo beijo nos lábios.

Quando o celular tocou, Will levou um susto tão grande que quase correu para fora da sala. As cobranças para cima dele eram tantas que cada ligação que recebia era um susto diferente, vivia sempre com o coração prestes a sair pela boca.

— Taylor. – Disse com uma certa insegurança, não conhecia o número e esse não era um bom sinal.

— Sim, eu sei. – A outra voz respondeu em um sussurro ofegante. – Sou Olívia Tognoni... – Foi o que a moça conseguiu dizer entre um suspiro e outro. – Pode ser que não se lembre de mim, mas preciso da sua ajuda. Por favor? – Suplicou em desespero. – Vou ficar te devendo uma se vier me encontrar...

Will não gostou nem um pouco da sensação de caminhar por aquele corredor. Era horripilante, e um mau pressentimento causava uma onda de arrepios sinistros em sua pele. Ele não sabia dizer exatamente o que havia acontecido, mas sabia que tinha a ver com morte. Por qual motivo Olívia ligaria?

— Por que demorou tanto? – A mulher quase correu até ele quando o avistou no fim do corredor. Parecia muito calma, mas algo em seu semblante denunciava que ela carregava consigo um fardo pesado demais.

— Desculpe... – Murmurou, colocando as mãos nos bolsos. – Tivemos que deixar a Lily na creche.

— Tivemos? – Fez uma careta, aumentando seu tom de voz. – O que isso quer dizer?

Quando Will abriu a boca para responder à pergunta, Stella saiu detrás da parede, como se estivesse apenas esperando a deixa para entrar em cena. O choque no rosto de Olívia não passou despercebido por nenhum deles, mas não tinha mais como voltar atrás.

— Estavam tão misteriosos ao telefone que decidi vir junto. – Explicou ficando ao lado de Will e cruzando os braços. – Adoro mistérios.

Olívia respirou fundo e usou os dedões para massagear as têmporas.

— Nossa... não dá mesmo para ter um segredo nessa cidade. – Exibiu um sorriso envergonhado para os dois, que retribuíram da mesma forma. – Já vou avisando para esperarem o pior, ainda não entrei lá... mas vindo do meu chefe, eu espero qualquer coisa. – Deu um suspiro cansado. – Quanto menos gente souber disso melhor, ok?

Stella assentiu e deu de ombros, não estava nem um pouco interessada em saber dos detalhes sórdidos. Só conseguia pensar em aproveitar o dia com a sua pequena no parque.

— Ok, vamos logo com isso. Tenho que levar a minha filha ao parque. – Olhou de canto de olho para Will e ambos deram um sorrisinho maroto.

Olívia deu as costas para eles.

— Ok. – Murmurou para si mesma. – Lembrem-se do que eu disse. – Segurou a maçaneta da porta com uma certa força. – Sejam discretos, por favor. – A mulher contou até três mentalmente e girou a maçaneta, fazendo a porta se escancarar.

Não houve tempo para reação de nenhum lado. O chefe de Olívia simplesmente largou o telefone e correu na direção deles, o brilho selvagem de seus olhos deixava claro que ele havia se metido em uma grande enrascada.

— Por que demorou tanto? – Berrou na cara da mulher. Olívia se encolheu e segurou o choro, não era hora e nem lugar para aquilo.

Olívia não teve nem presença de espírito para responder à pergunta. Ninguém teve. Os olhos dos três permaneceram grudados na mulher desacordada sobre a cama. Não sabiam se ela estava morta, mas só podia estar... sua pele estava tão pálida e sua cabeça pendia em um ângulo estranho para fora da cama.

Will foi o primeiro a colocar as luvas e ir ao encontro da vítima.

— Liga para o meu médico legista. – Pediu para Olívia, entregando seu celular para ela. – Qual é o nome dela?

— Não sei... – Apertou o telefone contra o ouvido, olhando atentamente para o celular. – Hannah... eu acho.

— É Hannah mesmo. – O homem confirmou com um ar de desdém, evitando olhar para a mulher que jazia sobre a cama.

Stella demorou apenas alguns minutos para processar o que estava acontecendo e partir para a ação ao lado do marido. O choque que levou ao ver aquela cena a paralisou por algum tempo, mas ela era uma mulher experiente e já havia visto coisas muito piores do que aquilo, então colocou suas luvas, caminhou com passos firmes até a vítima e começou a fazer o que tinha que fazer.

— O que houve? – Stella o encarou com a expressão mais séria que conseguiu fazer. Ao tocar nos braços da mulher, notou que seu corpo já estava frio. – Está fria. – Disse aquilo mais para si mesma do que para o restante das pessoas presentes no quarto. – Sem pulso. – Concluiu ao checar ambos os pulsos.

— O que pensa que está fazendo? – O chefe de Olívia fechou a cara assim que notou que a moça estava mesmo ao telefone.

— Ligando para o médico legista. – Explicou, como se aquela fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Se isso sair daqui, as consequências serão gravíssimas! – Esbravejou.

Stella deu uma risadinha debochada.

— Como vai a sua esposa, senhor prefeito? – Indagou exalando ironia.

— AJ? – Will arregalou os olhos e olhou para o homem como se ele fosse um fantasma. Bem que teve a impressão de que o conhecia de algum lugar, agora tudo fazia sentido, inclusive o nervosismo do homem. – Bem... – Franziu a testa. – Deve estar bem melhor do que essa pobre coitada aqui.

— Alô. – Olívia disse em um tom exasperado assim que Chad atendeu. – Aqui é Olívia Tognoni. Estou no Hotel Even e preciso que venha até o quarto 104. – A moça mal respirava entre uma frase e outra. – Temos uma mulher... – Tirou o telefone do ouvido por um segundo e olhou para os dois detetives. – O que eu digo?

— Temos uma mulher de uns 30 anos, não sabemos a causa da morte ainda, mas suspeitamos de uma possível lesão na cabeça. – Will disse o mais alto possível para que Chad pudesse ouvir do outro lado da linha.

— Quer falar mais baixo? – O homem gritou com Will, que o ignorou completamente.

— Ouviu isso? – Tapou o ouvido esquerdo com o dedo, a fim de amenizar o barulho para que pudesse ser ouvida e ouvir com clareza. – Sim, vão te deixar subir, é só apresentar suas credenciais na recepção. Rápido, por favor. – Pediu uma última vez antes de colocar o telefone de volta no gancho.

O prefeito fechou a cara, fazendo um ruído de insatisfação.

— Pelo visto vocês não sabem mesmo o que significa a palavra discrição. – Cruzou os braços, olhando para sua secretária e depois para os dois detetives.

— Nem você... – Stella disparou sem nem pensar. – Porque se soubesse não teria trazido sua amante para um dos hotéis mais famosos da cidade. – Cuspiu o restante da frase em um tom mais ácido. – Que estranho. – Franziu a testa ao examinar as pupilas da vítima.

— O quê? – Olívia se curvou sobre a mulher para olhar também.

— As pupilas dela estão levemente dilatadas. – Apontou a luz diretamente para as pupilas da mulher e notou que não houve nenhuma mudança.

Will também tinha suas próprias desconfianças e para saná-las precisaria da ajuda do prefeito, mas não tinha muitas esperanças de que ele fosse ser útil.

— Quando foi que ela desmaiou? – Perguntou olhando diretamente para o prefeito.

AJ colocou a mão na boca e franziu a testa em uma expressão de angústia, escolheu ignorar a pergunta de Will e foi até Olívia, segurando-a pelo braço direito.

— Escuta. – Olhou no fundo de seus olhos. – Ninguém mais pode saber disso.

Stella se levantou e refez a pergunta por Will.

— Prefeito Hubbard. – Chamou a atenção do homem para si. – Quando foi que ela desmaiou?

Ele se virou para ela de uma vez.

— Não sei. – Disse pausadamente.

Olívia tocou seu ombro.

— Senhor prefeito... – Umedeceu os lábios, colocando as mãos na cintura em uma postura confiante. – Se não começar a cooperar agora, irei ligar para a sua esposa. A escolha é sua.

AJ assentiu e virou de volta para Stella.

— Acho que foi há uma hora... escuta, não tenho...

— Ela andou bebendo? – Will interrompeu.

— Bebemos só uma garrafa de vinho. – Explicou, aumentando o volume de sua voz.

— Nenhuma droga? – Stella olhou no fundo de seus olhos.

— Não! – Colocou as mãos na cabeça. – É claro que não! – Garantiu em um tom indignado. – Você deve saber que sou um defensor ferrenho da lei e da ordem... – Stella fechou os olhos e respirou fundo, odiava esse tipo de discurso político e odiava ainda mais vindo de um cara que tinha a amante morta em cima de uma cama de hotel. – Sou até responsável por algumas das leis antidrogas desse estado.

— Tem um galo atrás da cabeça dela, sabe como isso aconteceu? – Indagou, segurando delicadamente a cabeça da jovem.

O prefeito se virou em sua direção e manteve o silêncio.

— Preciso de uma resposta. – Will insistiu, colocando a cabeça da mulher na posição original. – Como foi que isso aconteceu?

Stella foi até ele e o ajudou a arrumá-la.

— E que diferença isso faz? – Retrucou de forma grosseira. – Ela está morta, não tem mais o que fazer.

— Tenho certeza de que a imprensa vai adorar saber que você estava em um quarto de hotel com uma mulher que não é a sua esposa, e vão adorar mais ainda saber que essa mulher morreu. – Stella usou um tom suave, mas todos ali sabiam que isso era uma ameaça.

Olívia arqueou a sobrancelha e o encarou.

— Aí a sua discrição.... – Usou os dedos para fazer as aspas. – Vai por água abaixo.

Ele suspirou de frustração quando entregou os pontos.

— Ela escorregou no chuveiro. – Comprimiu os lábios em desgosto.

— A queda deve ter sido feia. – Stella resmungou, olhando-o com desconfiança.

— E ela estava sozinha? – Will questionou.

— E que diferença isso faz? – Gritou.

Stella respirou fundo e refez a pergunta.

— Onde você estava quando ela estava no chuveiro?

AJ tapou o rosto com as mãos e respirou fundo.

— Tudo bem... – Murmurou. – Nós estávamos fazendo sexo no chuveiro e ela bateu a cabeça.

Will se levantou e foi até o banheiro.

— Onde ela bateu a cabeça? Na lateral da banheira? No chão? Onde? – Sua voz ecoou de dentro do banheiro.

— No... no... no chão. – Explicou com um certo desespero. – Pensei que não fosse nada demais... nós até rimos disso. – Apontou para a mulher sobre a cama e virou as costas. – Ela... ela nem desmaiou... nós terminamos... o banho e viemos para cá para relaxar um pouco.

Stella semicerrou os olhos.

— Ela bebeu vinho ou algum outro tipo de bebida alcoólica depois que bateu a cabeça? – Colocou uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.

— Não. – O homem abafou sua voz usando as mãos. – Ela me disse que a cabeça dela estava começando a doer, aí eu fui procurar uma loja para comprar um paracetamol para ela.

Will voltou de sua inspeção e ficou de pé ao lado da cama.

— Ela é alérgica?

— Não faço ideia. – Disse em voz alta.

— Quantos ela tomou? – Stella perguntou.

— Escu... – O homem ficou ainda mais indignado. – Ela não tomou nem um! – Praticamente gritou. – Você não está me ouvindo? Eu fui até a loja para comprar um remédio para ela e quando voltei... a Hannah já tinha desmaiado. – Explicou detalhadamente em um tom mais calmo. – Tentei reanimá-la, mas não consegui... aí te liguei. – Disse o final da frase olhando diretamente para sua secretária.

— Mas você não me disse que havia uma mulher morta no seu quarto! – Foi a vez de Olívia gritar enquanto apontava para a mulher. – Só me disse que havia se metido em uma situação delicada e que precisava de um detetive que pudesse ser discreto.

AJ não tinha respostas para isso, então tratou de mudar de assunto.

— Olha... dediquei a minha vida toda ao serviço público e trouxe uma série de coisas maravilhosas para essa cidade... – Stella parou o que estava fazendo para prestar atenção nele. – Não quero que uma pequena indiscrição...

O telefone tocou, interrompendo o discurso do prefeito.

— Não atenda. – Ordenou apontando o dedo para a moça.

Olívia fez cara feia para ele e pegou o telefone.

— Olívia Tognoni. Sim, obrigada. – Colocou o telefone de volta no gancho.

— O médico legista está subindo. – Anunciou para os demais com um sorriso no rosto.

AJ foi até a poltrona e pegou seu sobretudo.

— Não posso ficar aqui. – Disse.

Will e Stella o encararam com um ponto de interrogação em seus rostos.

— Você tem que responder algumas perguntas. – Will tentou persuadi-lo a ficar por vontade própria, pois não possuía nenhuma evidência que pudesse usar para detê-lo.

— Sei que vão dar um jeito. – Respondeu com um sorrisinho sem graça.

— Mas nós nem sabemos o nome completo dela. – Stella argumentou, incrédula com a situação.

— Hannah. Hannah Knox. – Respondeu. – Onde ficam as escadas? – Perguntou diretamente para Olívia.

— Ficam do lado direito da porta, mas tenho certeza de que conseguiria descobrir isso sozinho. – Antes de Olívia terminar a frase o homem já havia saído pela porta.

Stella revirou os olhos e o xingou em grego.

— Filho da puta, acertei? – Will arqueou a sobrancelha e a encarou.

— Como sabia? – Sorriu.

— Não sabia... só estava pensando a mesma coisa. – Riram. – Essa história dele não bate. – Se encararam.

Stella umedeceu os lábios.

— Bom... vamos levá-la ao laboratório e ver o que descobrimos. – Sugeriu quase em um sussurro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vixe, era melhor ter ido passear no parque mesmo...
Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stella" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.