Stella escrita por Vic


Capítulo 32
Ninguém é forte sozinho


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Espero que estejam todos bem, porque eu me sinto adorável com essa nova fase ♥️. Esse é oficialmente o maior capítulo da fic... espero que gostem dele igual eu gostei.
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808498/chapter/32

Stella ainda não conseguia acreditar que aquilo tudo estava realmente acontecendo. Ainda não tinha certeza se era mesmo digna de todo o amor que estava recebendo da família e dos amigos, mas sentia que todos aqueles dias de internação tinham realmente valido a pena. Ela se sentia uma vencedora, era como se tivesse acabado de vencer uma batalha, e agora estivesse sendo recompensada por isso. E que recompensa! O privilégio de ter a filha por perto era tão grande, que muitas vezes ela se sentia como se estivesse dando um passeio em meio a um campo florido no auge da primavera. Aquele com certeza era um prêmio e tanto.

— Mas você quer saber o que a mamãe acha? – Stella indagou num tom tão maternal, que se assustou um pouco. Lily estava sentada com um baldinho na boca e rodeada por seus outros brinquedos, que estavam espalhados pelo chão da sala. A mãe se encontrava deitada ao lado dela, usava o braço direito para se apoiar no chão e assim conseguir acompanhar melhor os movimentos da menina. – Eu acho que a minha filhinha é muito inteligente, e também é muito bonita. – Usou a mão livre para fazer carinho nos cabelos da filha, aproveitando para a abraçar e dar um beijo na sua cabeça, sorriu ao pensar que há alguns meses era praticamente impossível fazer isso. – Sabia que eu te amo muito? – O bebê encarou a mãe, como se soubesse que ela estava falando com ela. – Eu senti muito a sua falta, e também senti muito a falta do papai. Eu amo muito o seu pai. – Lily estendeu o baldinho de plástico na direção da mãe, que o pegou. – Mas agora a nossa família está completa outra vez... e é exatamente assim que tem que ser, concorda comigo? – Murmurou, aproveitando a proximidade para dar mais um beijo na sua cabeça. – Então você quer que a mamãe brinque com você? – A menina batia no baldinho que ela tinha nas mãos quando alguém bateu à porta. – Eu não estou esperando ninguém. Você está esperando alguém? – Sentou, devolvendo o baldinho para ela. – Alguém veio te visitar? – Ajoelhou para poder pegá-la no colo. – Vamos dizer "oi". – Pegou o bebê no colo e as duas foram em direção à porta. – Consegue dizer "oi"?

Lindsay tentou dizer alguma coisa, mas as palavras simplesmente não saíam da sua boca enquanto as duas se encaravam.

— Oi. – Começou a esfregar as mãos uma na outra, e a outra mulher abriu um sorriso acolhedor para ela. – Está ocupada? – Olhou para o interior da casa. – Será que podemos conversar um pouquinho?

— Não... – Respondeu, ainda meio entorpecida com a presença da amiga, era a primeira vez que elas conversavam desde o incidente na noite da intervenção. – Entra, por favor. – Abriu espaço para ela entrar, as duas ficaram paradas na porta, nenhuma delas parecia saber qual seria o próximo passo. – Senta. – Lindsay foi até o sofá que ficava de frente para a mesinha de centro e se sentou, colocando as mãos entre as pernas. Lily deu um grito e começou a espernear nos braços da mãe, como se soubesse que o clima na casa havia mudado completamente. – Lily. – Tentou conter as perninhas do bebê. – O que foi, querida? – Segurou o baldinho que ela usava para bater na sua clavícula. – Quer brincar? – Ela parou de espernear e encarou a mãe. – E o que você acha de brincar no cercadinho enquanto a mamãe e a tia Lindsay conversam? – Carregou a filha até o cercadinho e a colocou lá dentro, em seguida, foi pegar alguns brinquedos para distrair a criança enquanto elas conversavam. – Me desculpe por isso. – Sentou ao lado da amiga. – Ela não é assim... eu acho...

— Eu sei... ela só está nervosa... como nós. – Usou um tom tão baixo que a outra quase não ouviu. – Eu fiquei sabendo que você estava de volta e quis...

— Eu sinto muito por tudo aquilo... – O pedido de desculpas parecia ser bem sincero pela expressão que ela tinha no rosto. – Aquela não era eu... e... sinto muito mesmo. E eu juro que vou entender se não quiser me perdoar, mas eu quero que saiba que eu realmente sinto muitíssimo mesmo.

— Stella... – Colocou a mão direita sobre as dela. – Eu te perdoaria mesmo que você não tivesse me pedido desculpas. – Abriu um sorriso, vendo outro surgir no rosto da amiga. – Você é a minha melhor amiga e eu sei que aquela não era você, então não há motivos para se sentir culpada por algo que não é culpa sua.

Stella abriu um sorriso muito sincero.

— Você nem imagina o quanto eu senti a sua falta...

— Eu também. – Apertou as mãos dela com um pouco mais de força. – Aquele laboratório fica meio morto sem você.

— Eu senti muita falta desse seu bom humor.

Stella puxou a amiga para um abraço apertado e ambas suspiraram enquanto relaxavam nos braços uma da outra. A única coisa que quebrou o momento foi o toque do celular de Lindsay, a outra mulher não conseguiu identificar a música, mas sabia que ela combinava perfeitamente com a personalidade da amiga. Lindsay atendeu a ligação rapidamente e a encerrou ainda mais rápido, em questão de minutos estava pronta para se despedir da amiga e voltar ao trabalho.

— A cidade que nunca dorme está dando bom dia.

— É... – Respirou fundo, levantando do sofá e guardando o celular no bolso das calças. – O dever me chama... – Olhou para a mulher que permanecia sentada no sofá. – Então... até mais tarde?

— É claro.

— Até mais, Lily. – Acenou para a criança, que continuava distraída com um dos seus baldinhos na boca, estava naquela fase em que tudo que pega é para colocar na boca.

A mãe dela foi até o cercadinho e a pegou nos braços.

— Vamos levar a tia Lindsay até a porta? – A menina deu uma risadinha, exibindo os seus quatro dentinhos para elas. – Sabe dizer tchau? – Brincou com ela enquanto conduzia a amiga até a porta, despedindo-se com um breve e afetuoso abraço. – Diz tchau. – Incentivou a filha a falar. – Tchau. – Usou a mãozinha da menina para acenar para a amiga. – Tchauzinho. – Concluiu dando mais um beijinho na bochecha do bebê e fechando a porta.

Stella tinha todos os motivos do mundo para ostentar um sorriso quando chegou ao laboratório naquela tarde, mas esse sorriso foi sumindo, ainda era quase impossível lidar com as pessoas naquele ramo. Ainda não havia sido completamente inserida na rotina do laboratório, mas tinha ficado responsável por interrogar alguns suspeitos. Ela praguejou alguma coisa na sua língua materna quando uma cadeira voou por cima da sua cabeça pela terceira ou quarta vez, e então saiu da sala.

— Eu não sei porque esses caras sempre bancam os machões. – Revirou os olhos enquanto desabafava com Jas.

— É o que a maioria dos homens faz. – Abriu um sorriso compreensivo para ela, dando um tapinha nas suas costas.

— E eles só se crescem para cima da gente. – Saiu.

Jas respirou fundo e entrou na sala, tinha mesmo sobrado para ela.

— O que você está fazendo aqui? – Stella indagou ao encontrar o marido na sua sala, era para ele estar em casa com a filha deles. – Onde a Lily está?

— Eu recebi um chamado... – Olhou diretamente para ela. – E como nenhuma das meninas estava livre... eu a deixei na creche aqui perto.

— Oh! – Exclamou, assustada com a possibilidade da menina estar assustada com aquele monte de estranhos ao seu redor. – Então eu vou lá buscá-la. Ela deve estar muito assustada com aquele monte de estranhos ao redor dela.

— Stella... – Censurou a mulher com os olhos. – A nossa filha não tem medo de nada.

Ela arqueou a sobrancelha e colocou as mãos na cintura.

— Essa é só uma das muitas coisas sobre ela que você sabe e eu não...

— Ei... – Levantou, indo ao seu encontro. – Você está indo muito bem... – Usou as pontas dos dedos para erguer o seu queixo. – E a Lily também... e ela estava se divertindo tanto com as outras crianças que eu a deixei lá.

A mulher abriu um sorriso triste.

— Mas eu sinto muita saudade dela.

— Eu sei... – Abriu um sorriso compreensivo, também queria passar mais tempo com ela. – Mas primeiro me conta como foi com o Nicholas. – Colocou as mãos nos ombros dela. – E eu prometo que te deixo ir vê-la na creche.

— Olha... – Respirou fundo, levando as mãos ao rosto. – Aquele cara é um psicopata da pior espécie. Ele é muito doido... fica jogando coisas nas pessoas. Na minha opinião esse cara não tem nenhum respeito pela vida.

Ele arqueou a sobrancelha, incrédulo com a situação.

— Mas ele jogou alguma coisa em você? – Apertou os ombros dela com mais força. – Você está bem?

— Eu estou ótima. – Abriu um sorriso. – Mas... isso foi muito inesperado... e se eu não tivesse conseguido desviar... nem sei o que teria acontecido. – Ambos suspiraram. – Eu acho que aquele cara devia estar internado. – Ele abriu um sorriso sem graça e ela fez uma careta. – Opa! Eu acho que já assistimos esse filme antes. – O homem tirou as mãos dos ombros dela, mas continuou a encarando. – Eu fiquei fora por algumas semanas... nem imaginei que seria tão difícil assim me realocar. – Ele franziu os lábios. – O que foi? Também vai discordar disso?

Ele negou com a cabeça, deixando uma risada escapar dos seus lábios.

— Eu não estou discordando de você, mas notei que... existe alguma coisa muito familiar na forma com que lidou com tudo isso.

Ela riu.

— Mas você sempre discorda de mim nessa parte.

— Então você quer que eu discorde de você, detetive?

— Mas o que está acontecendo com você, cara?

— Não tem nada acontecendo comigo. – Riu. – Eu só estou feliz em te ver fazendo o seu trabalho... interrogando suspeitos.

— Mas é claro que irei interrogar os suspeitos, eu sou uma detetive. – Verbalizou como se aquela fosse a coisa mais óbvia do mundo. – É isso que eu faço. – O sorriso que ela tinha no rosto cresceu ainda mais quando o seu marido colocou as mãos na sua cintura e a puxou para mais perto do seu corpo. – Eu acho que era isso que eu costumava fazer. Eu não sei se... se... caralho. – O fim da frase foi um sussurro. – Eu sei lá... eu não sei mais se quero continuar fazendo isso...

— Certo... – Limpou a garganta, indo em direção à porta. – Muito obrigado por tudo, até mais tarde.

— Mas por que você me colocou nesse caso?

— É porque você é uma detetive maravilhosa com uma mente extraordinária, e também porque eu precisava muito da sua ajuda.

Ela deu alguns passos na direção dele.

— Uhum. – Lançou um olhar desconfiado na direção dele. – Me engana que eu gosto... tem certeza que isso não foi um teste?

Ele virou levemente a cabeça para o lado direito, vislumbrando apenas parte do rosto da mulher.

— Não.

— Então você não estava me testando? – Arqueou a sobrancelha enquanto ele se virava para a encarar. – E nem se certificando de que eu estou mesmo pronta para voltar... ao trabalho?

— Olha... – Engoliu em seco. – Eu já te testei antes e não faria isso outra vez. – Engrossou a voz. – Eu aprendi a lição.

— Oh! Eu aposto que sim. – Mordeu o lábio inferior, vendo-o virar as costas outra vez. – Qual é? – Esperou uma resposta, mas ele não disse nada. – Will?

O homem coçou a nuca e tornou a olhar para ela.

— Então tá bom... você tem razão sobre a coisa do trabalho. – Admitiu, coçando a orelha como forma de amenizar aquele frio que sentia na barriga. – Eu só queria ver se... – Encolheu os ombros. – Você ainda consegue se concentrar no seu trabalho e... – Ela assentiu. – Eu sinto a sua falta, tá? Eu sinto muita falta de te ter aqui no trabalho, e também sinto falta de ter uma esposa que é uma detetive como eu. – Olhou para o chão. – É muito difícil não ter ninguém me dizendo o que é certo e errado... e você fazia isso tão bem... – Ela riu, também sentia falta de ser o braço direito dele. – Eu só queria ver se você ainda consegue fazer isso e... você consegue.

O sorriso que ela tinha estampado em seu rosto cresceu ainda mais.

— Então quer dizer que passei no seu teste?

— Até agora sim.

Ela soltou uma boa gargalhada.

— Oh! É mesmo? – Continuou rindo. – E o que mais você tem para mim, senhor Taylor?

— Eu acho que esse não é o lugar certo para termos essa conversa. – Arqueou a sobrancelha, lançando um olhar muito sugestivo para ela.

— Então estamos em maus lençóis?

— Não, Stella. – Segurou as mãos dela. – Está tudo bem e estamos bem. – Concluiu dando um beijo na testa dela. – Agora eu tenho mesmo que ir.

Stella ficou parada no meio do corredor com uma expressão confusa, enquanto tentava processar tudo o que havia acabado de acontecer. Mesmo assim não conseguiu entender muita coisa, então decidiu fazer exatamente o que o seu marido havia dito, ver a filha na creche. Will chegou a abrir a boca para dizer alguma coisa quando avistou a mulher chegando com a menina dentro do carrinho, mas ela colocou o dedo sobre os lábios e apontou para o carrinho, o bebê dormia como um anjinho.

— Você tinha toda a razão, ela estava mesmo se divertindo muito com as outras crianças.

Ele colocou a caneta no bolso do jaleco e se aproximou delas.

— Eu te disse que ela era uma aventureira.

— É, igualzinho o pai dela. – Exibiu um sorriso de canto. – Eu soube que é ótimo para a criança estar perto de outras crianças. – Soltou o carrinho, indo até o computador que ele estava usando quando elas chegaram. – Principalmente das mais velhas, porque elas podem ensinar coisas muito importantes para ela. Como socializar e coisas do tipo. – Explicou, mas estava mais interessada no que estava escrito na tela do computador. – E você vai ter que me lembrar disso toda vez que eu quiser arrancá-la de lá. – Riu. – Eu acho que não é tão ruim assim deixá-la perto das outras crianças... – Olhou para ele, deixando o computador totalmente de lado. – Tirando a possibilidade delas passarem alguma doença para ela.

— Mas a parte boa é que tem um hospital aqui do lado...

A mulher desviou o olhar, voltando a olhar para o computador.

— Você está terminando?

— Estou quase. – Comprimiu os lábios, procurando entender o motivo de tanta pressa. – Por quê?

Ela respirou fundo, colocando uma mecha do próprio cabelo atrás da orelha.

— É que eu queria levar a Lily para casa... – Explicou com uma certa urgência na voz. – Mas como você ainda não terminou, então vamos andando mesmo.

O homem a encarou incrédulo, ainda não entendia o motivo de toda aquela pressa, mas com certeza não a deixaria ir andando para casa naquele escuro.

— Eu não vou te deixar ir andando para casa. – Negou com a cabeça. – Está ficando muito escuro lá fora, é perigoso.

Ela riu.

— Então eu vou pegar o seu carro.

— Então você quer mesmo ir para casa?

— Sim... – Respondeu com a voz quase sumindo. – Eu... eu... – Perdeu a voz. – Eu não quero que a minha filha se acostume muito com a creche. – Explicou, indo até o bebê. – E você sabe que não gosto muito da ideia de deixá-la lá.

— Mas... espera... – Passou as mãos no rosto. – Mas esse é um dos muitos benefícios de ter uma creche aqui perto. – A mulher não parecia querer ouvir nada daquilo. – Você vai voltar a trabalhar, não vai? – Ela o encarou com muita dúvida nos olhos. – Você ainda quer voltar ao trabalho?

Ela deixou um longo suspiro escapar dos seus lábios e encolheu os ombros.

— Eu não sei...

O homem ficou chocado.

— Você não sabe?

Ela abriu um sorriso sem graça.

— Eu acho que... – Abaixou a cabeça. – Me desculpa... eu...

— Eu queria muito que você conversasse comigo sobre esse tipo de coisa.

— Mas essa escolha é minha...

— Ótimo... mas isso não afeta só você... – Aquilo saiu num tom muito mais rude do que ele gostaria. – Eu sinto muito... – Passou as mãos no rosto. – Me desculpa, eu não queria ter reagido desse jeito.

— Não... – Murmurou. – Isso é mesmo muito a sua cara... então para de fugir e diga logo o que você quer dizer.

Ele mordiscou os lábios.

— Eu realmente sinto muito a sua falta, e não estou dizendo isso da boca para fora. – Olhou no fundo de seus olhos. – É uma coisa que realmente sinto dentro de mim. Eu gosto tanto de te ver aqui, gosto tanto de poder trabalhar com você e ainda mais quando me ajuda a solucionar os casos. Meu Deus! É tão bom! É tão bom estar perto da mulher por quem eu me apaixonei. É tão bom estar perto dessa detetive brilhante. – Ela abriu um sorriso sincero. – Eu sei que tenho que te dar um tempo para processar tudo que aconteceu, mas eu realmente sinto muito a sua falta, e eu não queria que você desperdiçasse a sua vida trancada dentro de casa. Eu quero muito que você viva, quero te abraçar, te beijar, fazer amor com você, rir com você... só que não sei se é isso que você quer... você não me diz.

Stella deixou o carrinho onde estava e se aproximou dele, colocando as duas mãos no seu rosto.

— Eu só quero ir para casa... – Abriu um sorriso lindo para ele, que sorriu de volta. – Com você.

O homem terminou tudo que tinha para fazer e os dois pegaram a filha e foram para casa, a cidade estava coberta por uma linda névoa. A mulher planejou um lindo jantar para eles, assim poderiam passar algum tempo como marido e mulher.

— Muito bom. – Will abriu um sorriso orgulhoso para ela enquanto eles olhavam para a mesa muito bem arrumada.

— Muito obrigada. – Sorriu. – Eu acho que está perfeita. – Cruzou os braços, sentindo falta de alguma coisa. – Mas acho que eu não devia estar pensando nisso.

— No quê?

— Esperando a perfeição. – Fechou os olhos, deixando um suspiro escapar de seus lábios. – Os meus problemas começaram justamente por causa disso. – Foi até o vinho que estava do outro lado da mesa. – Elevei tanto as minhas expectativas, que ninguém conseguiu alcançar.

— Eu não espero que esteja perfeito. – Foi atrás dela. – Mas está ótimo. – Segurou as mãos dela, fazendo-a virar para olhar em seus olhos. – Ótimo mesmo.

Ela abriu um sorriso radiante.

— Então não está desapontado com o fato de não termos mais nenhum prato?

— Não. – Abriu um sorriso cheio de segundas intenções. – Mas eu acho que isso significa que podemos comer em qualquer lugar...

Os dois se beijaram.

— Quando?

Ele a apertou mais contra o seu corpo.

— Eu acho que depende da sua fome.

Eles se beijaram mais uma vez, um beijo lotado de segundas intenções e repleto de desejo e saudade. O homem ainda chegou a puxar a blusa dela para cima, quando o choro da filha deles irrompeu de dentro da babá eletrônica, causando uma onda de suspiros nos pais.

— Papa. – A menina disse com uma voz de quem tinha acabado de acordar. – Papa.

— Oh! – A mãe dela o deixou dar-lhe mais um beijo. – É a Lily.

— Ela vai dormir outra vez.

— É só um minutinho. – Ele a calou com outro beijo. – É melhor eu ir lá dá uma olhadinha, só para ter certeza. – O marido dela colocou as mãos nos bolsos e ficou parado no meio da sala ouvindo a filha resmungar. – Ela está bem. – Anunciou enquanto descia o último degrau.

— Eu te disse...

— E por que você ainda não tomou um pouco do vinho? – Pegou a garrafa de vinho que estava em cima da mesa. – Eu ainda não posso, porque ainda estou tomando os antidepressivos...

— Eu não achei muito justo beber vinho, sendo que você só vai beber água.

— Não. – Passou o braço por cima dos ombros dele. – Eu não acho justo você se privar por minha causa. – Acariciou suas costas. – E eu estou muito feliz com a minha água com gás. Então podemos brindar comemorando que estou tomando os meus remédios, que estou melhorando e principalmente por não precisar tomar pelo resto da minha vida.

Ele riu.

— Então vamos nessa. – Pegou a garrafa das mãos dela, colocando o saca-rolhas. – Um brinde aos recomeços?

Ela também terminou de destampar a garrafinha.

— Isso aí! – Um barulho veio da entrada da casa, assustando a mulher. – O que foi isso?

— Eu acho que esqueci uma janela aberta. – Explicou, tentando tranquilizar a mulher, que continuava meio tensa enquanto respirava fundo. – Stella? Ei... a Lily te ama.

Ela abriu um sorrisinho melancólico.

— Eu sei... só que... só que... sinto que devo alguma coisa para ela. – Passou as mãos no rosto. – Eu acho que ela não tem ideia do que está acontecendo... ela não me julga. – O peso da culpa ainda pesava em seus ombros como um caso não resolvido. – Eu acho que ela me ama de qualquer jeito.

— E você acha que eu não? – Aquela era uma pergunta sincera. – Eu sei que você estava doente e isso não é nenhuma falha de caráter, e também não é menos preocupante do que o HIV.

— Mas o HIV eu meio que consigo controlar... é só tomar o remédio e fica tudo certo, mas com a depressão pós-parto era diferente... eu dizia e fazia coisas que eu não queria. – Ele colocou um pouco de vinho na taça. – Eu simplesmente começava a pensar: Quem é você?— Balançou a cabeça. – Mas vamos deixar isso para lá, pelo menos agora eu sei exatamente o que está acontecendo, e estou tentando aceitar que é difícil me perdoar.

— Você não precisa se preocupar comigo.

— Eu juro que não sei como você ainda confia em mim. – Murmurou. – Meu Deus, eu te afastei tanto de mim.

— Mas só teremos problemas se continuar me afastando de você. – Abriu um sorriso compreensivo. – Mas eu acho que não é bem isso que você quer...

— Não. – Agarrou o braço dele. – Eu quero ser a mulher que você merece ter, e também quero ser a mãe que a Lily merece ter.

— Você é a única mulher que eu quero. E a Lily... ela vai ter que lutar um pouquinho. – Brincou, fazendo a mulher dar uma gargalhada. – Mas o que me diz? – Ergueu a taça. – Vamos recomeçar?

Ela colocou um pouco de água na outra taça.

— Aos recomeços. – Os dois brindaram e beberam. – Uma delícia.

Ele aproveitou a proximidade e deu mais um beijo nela.

— Eu estou do seu lado, tá? – Sorriu. – Mas você precisa me dizer o que está acontecendo.

Ela abriu um sorriso e assentiu.

— E eu quero que você me sente no sofá e me diga para parar, se eu começar a exagerar com a nossa filha.

O homem assentiu.

— Beleza. – Abriu um sorriso sensual. – E o que acha de deitarmos nesse sofá maravilhoso? Ele parece ser tão confortável.

A mulher sorriu com a proposta e ele a beijou enquanto eles se abraçavam e se deitavam no sofá.

— Eu não quero mais te desapontar.

— Você nunca me desaponta. – Umedeceu os lábios, dando outro beijo apaixonado na esposa. O toque do seu celular acabou com todo o clima, e os dois suspiraram de pura frustração quando se separaram. – Não é possível.

Ela deixou uma risada escapar quando notou a expressão que ele tinha no rosto.

— Eu acho que estão conspirando contra nós.

Ele levantou, indo pegar o celular.

— É nisso que dá querer ser detetive...

— Eu espero que alguém tenha morrido... – O homem disse ao atender o celular. – Me diz que alguém acabou de morrer.

— Eu... Eu.... estou interrompendo alguma coisa?

— Mas é claro que você está interrompendo alguma coisa, Lindsay. – Olhou para a mulher no sofá. – Eu sei que você não se importa... – Stella riu ao imaginar o que a amiga poderia ter dito.

— Eu não queria ter atrapalhado nada, mas já que atrapalhei... tem um cara aqui fazendo um verdadeiro escândalo e exigindo falar com você...

— Ok, então segura ele que eu estou chegando.

— É só mais um pequeno imprevisto. – Explicou para a mulher, indo até lá para dar mais um beijo nela. – Eu prometo que não vou demorar muito.

— Tchau.

O humor dele não era dos melhores quando chegou ao laboratório, odiava ser obrigado a sair de casa no meio da noite, e começou a odiar ainda mais quando viu aquela expressão de tristeza estampada no rosto de sua amada esposa.

— Boa noite. – Colocou um sorriso no rosto ao se aproximar dos dois, que discutiam quase aos gritos. – Como eu posso ajudar?

O outro homem o olhou da cabeça aos pés.

— É você o superior?

— Sim, sou eu mesmo.

— Então eu quero que você me dê um bom motivo para o homem que matou a minha filha ainda estar livre, leve e solto. – Will tentou falar, mas ele o interrompeu com um único gesto. – Não me venha com as mesmas desculpas de sempre! O meu maior sonho é ver aquele monstro apodrecendo atrás das grades, mas mesmo assim vocês não fazem nada! Nada! Como é que você se sentiria se fosse obrigado a enterrar a sua princesinha?! – O homem ainda o encarou por alguns segundos, então virou as costas e foi embora com passadas furiosas.

Ele respirou fundo, tentando ignorar o nó que se formava na sua garganta. As palavras daquele pobre homem o atingiram em cheio. Agora ele também era pai, e a última coisa que queria nesse mundo era se imaginar no lugar daquele pobre pai, mas simplesmente não conseguia parar de pensar na resposta daquela pergunta. Ele seria capaz de mover céus e terras se acontecesse alguma coisa com a sua filha, e gostaria de fazer o mesmo no caso daquela garotinha...

— É... – Passou as mãos no rosto. – Será que eu joguei pedra na cruz?

— Eu acho que é muito mais fácil termos sido um dos caras que açoitou Jesus.

—  Só sendo... – Abriu um sorriso forçado. – Então até amanhã.

O coração dele voltou a bater mais forte quando abriu a porta de casa e vislumbrou a mulher deitada no sofá, lendo o que parecia ser um artigo.

— Você tinha toda a razão. – Abriu um sorriso sapeca. – Esse sofá é muito confortável.

— O que está lendo?

— Um artigo sobre assassinos em série.

Ela deu espaço para que ele se sentasse ao seu lado.

— Você não se cansa disso, não é?

— Mas é muito interessante.

Ele estranhou encontrar a mesa vazia.

— Você jantou sem mim?

— Não. – Levou a mão ao peito, fingindo mágoa. – Eu jamais jantaria sem o meu maridinho. – Riu. – Mas como foi lá?

— O cara está revoltado, e eu nem tiro a razão dele. – Abaixou a cabeça, apertando a perna da esposa com um pouco mais de força. – Eu... eu... eu nem sei o que faria se uma coisa dessas acontecesse com a Lily.

A mulher levou a mão ao peito sentindo seus batimentos cardíacos acelerarem.

— É melhor nem pensar numa coisa dessa, credo. – Uma careta surgiu no seu rosto e um gosto amargo tomou conta da sua boca. – Eu sei que você vai conseguir dar um jeito nisso.

— Muito obrigado por dizer isso. – Abriu um sorriso carinhoso para ela. – E muito obrigado por ter me esperado para o jantar.

— Não foi nada. – Murmurou com um sorrisinho de canto. – Mas por que achou que eu usaria o seu chamado para te evitar? – Ele não respondeu. – Eu até pensei nisso, mas cheguei à conclusão de que merecíamos coisa muito melhor... e eu te amo muito.

— E também descobriu isso na terapia? – Usou um tom quase incrédulo. – Eu acho que não era bem isso que você sentia por mim nesses últimos nove meses.

Ela deu um tapinha no peito dele.

— Eu sempre te amei, tá? – Os dois riram. – Só não fui muito legal com você.

— É porque aquela não era você...

— Pois é. – Sorriu. – Mas quantos caras continuariam ao meu lado? O cara que eu conheci alguns anos atrás teria saído correndo.

— É... mas isso foi antes dele perceber que te amava muito.

O semblante dela se fechou.

— Eu acho que você merece um prêmio por ter ficado...

— Não. – Negou com a cabeça. – Eu poderia ter feito muito melhor. Eu poderia ter sido mais paciente e menos passivo-agressivo.

— Eu quero que você pare com isso, por favor...

Ele assentiu e abriu um sorriso.

— Então tá bom. – Os dois suspiraram, aproveitando toda aquela paz. – Mas você tem algum biscoitinho com você?

Ela riu com vontade.

— Sempre.

O homem olhou para ela com um brilho misterioso nos olhos, inclinando o corpo na direção dela para roubar mais um beijo dos seus lábios. Stella aproveitou para abraçar o pescoço do marido com o braço esquerdo, puxando-o para mais perto enquanto ele usava a mão direita para segurar seu rosto e o polegar para acariciá-lo. Ele olhou no fundo de seus olhos, pedindo a sua permissão para seguir em frente.

— Tem certeza que é isso mesmo que você quer? – Indagou com um sussurro rouco contra os seus lábios. – Você é tudo para mim e... eu não quero apressar as coisas... – O desejo estava quase falando mais alto, mas ele queria ter certeza de que não haveria arrependimentos. – E se você me disser para parar, eu paro.

— Eu quero muito passar no seu teste, detetive. – Aquilo saiu tão baixo, que ele quase não ouviu. – Eu não quero que você pare. – Concluiu, puxando-o para outro beijo profundo e apaixonado.

Os dois estavam sentados no tapete da sala quando terminaram. Ele encostado no sofá e ela encostada nele, ambos cobertos apenas pelo lençol que ela usava quando o homem chegou em casa. Os sorrisos em seus rostos anunciavam que estava tudo perfeitamente bem entre eles quando ele beijou-lhe a cabeça.

— Eu nem sabia que ainda conseguia me sentir assim...

— Eu acho que agora você pode mesmo me chamar de detetive do amor.

— Mas até que é engraçado. – Riu. – Eu acho que conseguimos mesmo encontrar um jeito de nos curarmos.

— É... – Os lábios dele passearam pelos seus cabelos. – E eu acho que devíamos fazer isso mais uma... – Encheu o seu rosto de beijinhos, arrancando risadas dela. – Ou duas vezes... e mais uma vez amanhã de manhã. – Concluiu, dando um último beijinho no canto da sua boca.

— Não... – Riu enquanto se aconchegava mais nos braços dele. – Isso pode acabar virando um vício. – Levantou a cabeça para olhar para o rosto dele. – Eu senti tanta a sua falta, e... nem acredito que quase estraguei tudo...

— Mas não estragou. – Sussurrou com muita simplicidade. – E a parte boa foi que descobrimos que queríamos muito lutar por isso.

A mulher inclinou a cabeça, capturando os lábios dele num beijo calmo e cheio de afeto.

— Obrigada.

A risada de Lily ecoou pela sala, fazendo os seus pais rirem também.

— Acha que é bom ir lá dar uma olhadinha?

— Não. – Colocou a cabeça no peito do marido e fechou os olhos. – Ela está feliz.

Will a envolveu em um abraço aconchegante para os dois e também deixou um sorriso surgir no seu rosto, estava muito feliz por ter compartilhado o seu corpo com a mulher por quem ele havia se apaixonado.

Foi quando estava quase dormindo nos braços do homem que amava, que ela se lembrou de uma frase que alguém muito querido lhe disse há muito tempo.

— Stella, ninguém é forte sozinho.

Na época aquilo não fez muito sentido na sua mente infantil, mas ela sabia que muitas vezes uma coisa que não faz sentido é apenas parte de um plano maior. Tudo acontece exatamente como deveria acontecer, porque a vida é como um quebra-cabeças. E pela primeira vez aquilo fez todo o sentido. Ela era mais forte na companhia dos seus amigos e da sua família, e seria ao lado deles que ela permaneceria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aiiiii que fofinhos!
Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stella" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.