Stella escrita por Vic


Capítulo 20
Duas tempestades


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Bom, as brigas continuam né...
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



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Para entender esse triste capítulo da vida de Stella, é importante primeiro entender como se forma uma tempestade. O primeiro estágio da formação de uma tempestade é a separação entre as nuvens, nesse caso, as nuvens seriam Stella e Will. Em seguida, as nuvens mais altas são carregadas com cargas negativas enquanto as mais baixas são carregadas com cargas positivas, induzindo a terra a também ter uma carga positiva, criando um campo elétrico entre ambas. Numa tempestade há ventos fortes, chuvas e muitos raios.

No momento, uma tempestade gigantesca assolava a sua vida e ela temia mais do que tudo não conseguir sair ilesa dela.

— Não acredito! – Stella esbravejou pela quarta ou quinta vez e o seu marido se sentou no sofá, aquela seria mesmo uma longa conversa. – Eu não sei nem o que é mais humilhante, você falando sobre a minha vida com a sua mãe ou ela ter mandado uma babá para me ensinar a cuidar da minha filha.

— Não é nada disso. – Tentou argumentar, mas já sabia que a esposa não estava disposta a ouvir nada do que ele tinha a dizer.

— Você nem se deu o trabalho de me perguntar como eu me sentiria com a Millie sabendo que eu tenho depressão pós-parto. – Sua voz estava carregada de ressentimento, e ele conseguia ver isso até na forma em que ela o olhava.

— E você se deu o trabalho de me avisar que estava indo para Redfield? – Retrucou, sentindo a raiva começar a arder em seu interior.

— Então quer dizer que isso é vingança? – Arqueou a sobrancelha. – Foi desabafar com a sua mãe para se vingar de mim? Você sabe que violou a minha privacidade e traiu a minha confiança?

— Stella. – Fez uma pausa para evitar dizer tudo o que estava se passando na sua mente. – Quer mesmo falar sobre traição?

Ela fechou a cara, não era a primeira vez que ele fazia insinuações daquela natureza.

— O que está insinuando?

— Eu não vou continuar fingindo que não está acontecendo nada e nem vou negar a sua doença por mais tempo.

— Ah! – Levou as mãos ao rosto. – Eu não acredito que você foi correndo direto para a mamãe.

— Stella, nós só continuamos uma conversa que tivemos algumas semanas atrás. – Ela deu as costas para ele, estava com tanta raiva que nem conseguia olhar para ele por muito tempo. – Minha mãe estava preocupada...

— Oi?! – Virou para ele. – Tem falado sobre mim com a sua mãe esse tempo todo? – Ele não se deu o trabalho de responder aquilo. – Que ótimo! Ela deve ter amado saber que eu sou uma incompetente. E ainda bem que o meu próprio marido foi lá dizer isso para ela.

— Você só pode estar de brincadeira! – Levantou de uma vez. – Nem tudo é sobre você!

— Se você queria me punir, podia pelo menos ter escolhido um jeito mais inteligente.

Ele odiava que pensassem que ele era o filhinho da mamãe e odiava ainda mais ver a sua própria esposa pensando isso.

— Eu acho que comparado a punição que você me deu, isso não é nada.

Stella respirou fundo e sentou no sofá.

— Eu não sei o que você quer de mim.

— A verdade.

— Mas eu já te falei a verdade. – Deu um longo suspiro. – Eu te contei tudo que aconteceu em Redfield e também já admiti que tenho mesmo um problema. – Encarou o homem. – Eu pensei que isso fosse fazer alguma diferença.

Ele sussurrou muito baixo para que ela não ouvisse:

— E faria... se você mantivesse a sua palavra.

— Talvez eu mantivesse... – Levantou lentamente, estava começando a sentir raiva. – Se você parasse de me julgar por uns dez segundos, ou então pelo menos parasse de ser tão passivo-agressivo. Uma hora você diz: Oh, eu te apoio, e no minuto seguinte você sai correndo para dizer para todo mundo que eu sou uma péssima mãe.

— Eu nunca disse nada disso. – Usou o dedo indicador para apontar para ela enquanto dava alguns passos para se aproximar dela. – Eu só fui pedir a opinião da minha mãe...

— A sua mãe, sua mãe. – Repetiu. – Uma mulher que tem todos os motivos do mundo para me odiar.

— A minha mãe teve depressão pós-parto, tá? – Tentou explicar. – Eu pensei que ela poderia nos dar alguma luz e nos ajudar a manter a nossa família unida.

— Eu não quero nenhuma luz ou conselho vindo dela. – Virou as costas para ele. – Muito obrigada. – Disse num tom irônico. – Esse é um problema meu e eu irei resolvê-lo sozinha. – Colocou a mão no próprio peito.

Ele debochou:

— Ótimo, e quando irá começar?

— Você está fazendo isso de novo! – Acusou, odiava ser tratada daquela forma. – Quer saber... – Pegou a bolsa que estava em cima do sofá e foi em direção à porta.

— Dê um oi para os seus amigos de Redfield. – Foi a última coisa que ela ouviu antes de sair pela porta.

Ele não queria ter tido mais aquela briga com ela, e estava se sentindo cada vez mais desolado e sem esperanças. Estava com medo de não conseguir manter a sua família unida, mas tinha que tentar.

— Me disseram que você estava em casa. – Chad disse assim que ele abriu a porta.

Will deu um longo suspiro e colocou as mãos na cintura, o trabalho não esperaria até que a sua vida se organizasse.

— É.

— É um momento ruim? – Indagou ao notar a expressão no rosto dele.

— Não, o momento é ótimo. – Abriu um sorriso e o convidou para entrar. – No que posso ser útil?

— Eu só queria falar sobre um caso com você, mas se estiver com muita coisa na cabeça...

— Eu vou ver se consigo ir ao laboratório mais tarde.

Houve uma longa pausa até que algum deles resolvesse dizer algo.

— O que está acontecendo? – Indagou ao notar a inquietação do amigo, estava escrito no seu rosto que algo não estava indo muito bem. – Eu posso te ajudar com alguma coisa?

— Eu não sei se devia falar com você sobre isso. – Lembrou-se das palavras da esposa ao passar por ele e ir para perto da janela. – Eu acho que seria muito passivo-agressivo da minha parte e também estaria traindo a confiança de outra pessoa.

Chad virou na mesma direção que ele.

— Essa outra pessoa seria a Stella?

— Ela se parece com a Stella e fala como ela, mas para ser bem sincero... eu não sei se ainda é ela.

O outro franziu as sobrancelhas, não estava entendendo o que ele queria dizer.

— O que eu perdi?

— Ela tem depressão pós-parto e isso está destruindo a minha família.

Stella correu para o lago, estava tão desorientada que acabou deixando a bolsa cair, espalhando todo o seu conteúdo pelo chão. A mulher praguejou na sua língua materna e começou a recolher as coisas. Num dado momento, ela parou o que estava fazendo e levou as mãos à cabeça.

— Você está bem? – Danny vinha descendo as escadas. – Ei. – Agachou, colocando as mãos nas costas dela.

— Eu acho que essa era a hora de eu dizer que sim. – Começou a recolher os seus pertences novamente. – Eu estou em negação e estou tentando ser forte. – Ele abriu a bolsa para que ela colocasse as coisas dentro. – Você sabe, estou cansada de ficar em negação e me sinto tudo menos forte. – Continuou recolhendo as coisas. – Então vou falar a verdade, eu me sinto um fracasso como esposa e como mãe. – Confessou com a voz embargada e jogou o carregador do celular dentro da bolsa. – E não sei porque isso está acontecendo comigo. – Murmurou. – Eu queria um bebê e eu também queria me casar... então por que é que deu tudo tão errado? – Era uma pergunta mais para si mesma do que para ele. – Eu sei que sou a responsável por ter virado as nossas vidas de cabeça para baixo, mas também sei que tenho um distúrbio. E não sei o que veio primeiro, o ovo ou a galinha.

Eles se levantaram.

— O que está tentando dizer?

— Eu acho que estou mesmo com depressão pós-parto, mas sei que esses sintomas fazem parte de mim há muito tempo. – Ele franziu as sobrancelhas. – Eu sempre esperei muito de mim mesma, e sempre fui muito exigente comigo mesma. – Encolheu os ombros. – Eu sei lá, talvez eu só esteja inventando uma desculpa para uma coisa que é muito simples... – Virou as costas para ele, indo até o banco e jogando sua bolsa em cima dele. – Que tipo de monstro não olha para a filha, não quer abraçar, beijar e nem a amar? – Sentou no espaço vazio ao lado da bolsa.

— Você não é um monstro. – Sentou ao lado dela e passou o braço sobre os seus ombros.

Ela fechou a cara e cruzou os braços.

— Eu acho que sou sim. – Murmurou. – O meu marido é o homem mais sensível que eu já conheci, mas ao mesmo tempo ele também é tão pé no chão e tão realista. – Encarou o amigo. – Eu sei que parece muito contraditório, mas é a verdade. – Abriu um sorrisinho. – Ele conseguiu enxergar isso desde o início... e ele tentou abrir os meus olhos, mas eu me sentia muito julgada. – O homem continuou em silêncio. – Mas isso é passado, certo? – Ele assentiu. – Já admiti que tenho mesmo um problema, e pensei que pudéssemos trabalhar nisso juntos, mas ao invés disso, ele... – Respirou fundo. – Ele quer uma explicação ou alguma coisa do tipo... e acabei me sentindo ainda mais julgada.

— Eu sei exatamente como é isso. – Tinha propriedade para falar sobre aquilo, pois já esteve numa situação muito parecida. – É muito ruim. – Olhou em seus olhos. – É um verdadeiro inferno ver alguém que você ama doente e não conseguir fazer nada para ajudar. – Essas eram exatamente as mesmas palavras que sua mulher havia dito a ele há alguns anos, e agora ele entendia perfeitamente aquele sentimento.

— Mas então você vai lá e acaba de piorar tudo? – Murmurou. – Porque foi exatamente isso que ele fez quando decidiu contar para todo mundo sobre isso.

— Onde é que estávamos? – Will pegou a babá eletrônica de cima da mesa e deu uma última olhada, o bebê não estava mais chorando. – Ela está mesmo em negação e eu acho que acabei enfiando os pés pelas mãos na tentativa de ajudá-la, e agora nenhum de nós dois está fazendo nada para resolver o problema.

— Eu acho que ela pode estar esperando o momento certo.

— Ou o estranho certo.

Chad franziu a testa.

— Do que está falando? – Indagou. – Eu acho que não entendi.

— Algumas noites atrás... – Sentou no sofá e colocou as mãos na cabeça. – Algumas noites atrás, nós combinamos de sair de casa para jantar no nosso restaurante favorito. – Olhou para ele. – Ela estava muito ansiosa por isso, mas eu acabei ficando preso no trabalho e pedi para a Lindsay entrar em contato com ela para dizer isso, mas ela não estava atendendo o celular e também não estava no restaurante. Isso não é do feitio dela. Ela não abandonaria o marido e a filha, certo?

— Certo.

— Mas foi exatamente isso que ela fez. – Os dois respiraram fundo. – Ela foi parar num hotel em Redfield e assumiu uma nova identidade. Ela simplesmente disse para todo mundo que se chamava Georgie, uma mulher que não tinha marido e nem filhos.

— Mas parece que não deu muito certo.

— É, ela me disse que chegou ao fundo do poço. – Desviou o olhar. – Ela voltou para casa e me disse que precisava de ajuda.

— Isso é ótimo. – Sorriu. – Eu sei exatamente como é negar um distúrbio, demorei muito para aceitar o fato de que eu sou bipolar. Eu sei que pedir ajuda é um passo enorme na direção certa.

Will abaixou a cabeça.

— Sim, mas estou com medo de que isso seja só da boca para fora. – Acomodou-se no sofá. – Tratamento para ela é chamar a Kristina para almoçar.

— Ela é uma ótima psiquiatra, eu fiz o meu tratamento com ela.

— Ela é ótima mesmo, mas ela também é amiga da Stella. – Umedeceu os lábios. – Mas seria ótimo se ela ao menos conversasse mesmo com ela, mas foram só uns dez minutos de conversa e ela saiu correndo. E foi nesse momento que eu cometi o meu maior erro e fui falar com uma pessoa que eu sabia que já tinha passado por isso.

Chad entrelaçou os dedos uns nos outros.

— E essa pessoa seria a sua mãe?

Ele coçou o nariz.

— Sim, ela mesmo.

— Ela não é a pessoa favorita da Stella.

— Mas ela é a única mulher que eu conheço que poderia me dar alguma luz.

— E a Stella foi embora por causa disso?

Ele deu um longo suspiro e passou as mãos no rosto, odiava ter aquela sensação de que estava sempre fazendo a coisas errada.

— E mais uma vez, eu sou o vilão da história.

— Eu sei que isso está sendo um verdadeiro inferno para você... – Danny estava usando um tom mais calmo, não tinha a intenção de piorar ainda mais as coisas. – Mas deve estar sendo um inferno para ele também. – Stella abaixou a cabeça ao pensar no desespero que o marido devia estar sentindo. – Ele me contou sobre a depressão pós-parto da mãe dele, deve ser um inferno perceber que não consegue nem tocar no seu próprio filho.

— Eu imagino que isso também esteja sendo muito difícil para ele. – Sussurrou bem baixinho ao perceber que não era só ela que estava sendo afetada por tudo aquilo. – Mas por que falar com a Millie?

— Eu sei que você não gosta muito dela, mas se ela puder dar alguns conselhos... por que você não aceita?

Stella fechou a cara.

— Eu não sei. – Balançou a cabeça. – Eu queria que o Will fosse igual a você. Um pouco menos rígido e um pouco mais solidário.

— O Will é um cara legal. – Ela concordou. – Ele só não está fazendo a coisa certa no momento, mas eu tenho certeza de que ele também quer que você fique bem.

— Eu a conheço o bastante para saber como ela pensa. – Chad cruzou as pernas. O outro homem tinha passado para o sofá maior e ele se encontrava sentado no menor. – Eu não a conheço tão bem quanto o Danny, mas sei que ela já passou por muita coisa nessa vida. – Will concordou. – Ela foi criada num orfanato, veio para cá com uns vinte anos e no ano passado foi diagnosticada com HIV, e mesmo assim tem conseguido conviver com isso. – Os dois ficaram em silêncio enquanto Chad pensava em mais alguma coisa. – Eu acho que é por isso que ela teve que aprender a ser tão forte... ela tem esse lado extremamente teimoso, intenso e independente, mas é porque ela quer fazer tudo sozinha, quer ser independente, é assim que ela é.

Will riu.

— Você conhece mesmo a minha mulher.

— Conheço. – Também riu. – Ela é tão forte, tão confiante e tão responsável... mas nesse momento ela está muito decepcionada consigo mesma, e eu acho que tudo isso é que está deixando-a emocionalmente instável. Eu sei exatamente como é querer ser outra pessoa por um tempo.

— Isso faz todo o sentido, mas o que eu deveria fazer?

— O principal agora é amar a sua filha. – Explicou com muita simplicidade. – Não importa o que você e a mãe dela irão enfrentar, isso só vai deixar vocês mais fortes, mas a Lily não sabe o que está acontecendo e talvez ela sinta que a mãe dela não está cem por cento disponível emocionalmente. – Apontou para ele. – E você precisa achar um jeito de compensar isso.

— Eu entendo.

— Eu sei que não vai ser fácil, mas você precisa facilitar as coisas para a sua mulher. Você tem que dar o espaço de que ela precisa para lidar com tudo que ela tem que lidar. – Will coçou a cabeça. – Você não precisa adivinhar o que ela está pensando, só não pode duvidar dela, e também tente ter um pouco de fé. – O outro assentiu. – Eu tenho certeza que irão superar isso.

Após a conversa com Chad, ele decidiu que era hora de procurar a esposa para ter uma conversa decente com ela. Não foi muito difícil adivinhar onde ela poderia estar, o seu local favorito era o lago que ficava atrás do laboratório, e como esperado, era exatamente lá que ela estava. Ele olhou para ela do topo da escada e respirou fundo, não queria começar uma outra briga. Então desceu as escadas com passos curtos.

— Eu imaginei que estaria aqui.

Stella levou um susto e em seguida respirou fundo.

— Eu sinto muito por ter explodido daquele jeito. – Olhou para ele.

— Eu também... – Sussurrou. – Stella, eu acho que precisamos conversar... – Sentou ao lado dela.

— Eu não consigo. – Admitiu. – Agora não, eu estou... estou... – Liberou o ar que estava prendendo desde que ele se sentou ao seu lado. – Eu não estou sendo evasiva e nem nada do tipo. – Olhou para ele. – Você quer a verdade, não é?

— Você já desabafou com alguém...

— Me desculpa, o Danny estava aqui e ele é um ótimo ouvinte. – Ele abaixou a cabeça, também queria ser um bom ouvinte para ela. – Eu consegui tirar algumas das coisas que estavam presas no meu peito... – O homem ao seu lado deu um longo suspiro. – Me desculpa, eu não vou mais fazer isso... tenho que aprender a lidar com os meus próprios sentimentos.

— Stella, eu sou o seu marido. – Encarou a mulher, mas ela desviou o olhar. – Essa conversa deveria ser entre você e eu.

— Eu sei. – Respirou fundo. – Mas para ser honesta, estou fazendo o melhor que posso.

— Tudo bem. – Ensaiou um sorriso. – Eu espero que quando você estiver pronta... espero que consiga desabafar comigo igual faz com o Danny. – Ela continuou calada. – Eu sei que tem coisas que você não me disse. – Ela se encolheu no banco e deu um longo suspiro, ainda não tinha certeza se estava pronta para enfrentar mais uma tempestade.


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Notas finais do capítulo

Se vocês acham que as coisas vão melhorar... estão errados kakak.
Até o próximo!



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