Stella escrita por Vic


Capítulo 19
Decepção


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Já que acabei o capítulo anterior com uma bomba, vou começar esse com outra.
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



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— Oi, Lindsay. – Stella estava genuinamente surpresa em vê-la, pelo horário a mulher deveria estar no laboratório. – Que surpresa te ver aqui. – Entrou e fechou a porta.

— A Judy teve que sair mais cedo e eu vim para casa. Mas como não posso ficar por muito tempo e você não estava em casa, eu chamei a Lindsay para ficar com a Lily. – Explicou antes que Lindsay pudesse explicar que aquele era o seu dia de folga. Will ainda possuía aquele mesmo olhar indiferente em seu rosto, e Stella sentiu um calafrio ao encará-lo.

— Oh, então nesse caso me desculpe pelo incômodo. – Tentou abrir um sorriso para a amiga, mas estava tão tensa que nem isso conseguia fazer. Na tentativa de amenizar o clima ruim que havia tomado conta da sala, ela foi até a amiga e deu-lhe um abraço.

— Não é incômodo nenhum. – Retribuiu o abraço, sentia a tensão da amiga. – Eu adoro apertar aquela coisinha linda. – Sorriu, liberando-a do abraço.

— As coisas com a Kristina estão indo super bem. – Dirigiu-se ao marido, tentando ser o mais natural possível, mas a postura séria dele a deixava intimidada.

— Sei, falei com ela no laboratório. – Manteve o tom sério em sua voz. Ele não acreditava em nenhuma palavra que saía da boca dela, mas não queria começar uma discussão na frente da amiga deles.

— Será que nós podemos conversar? – Murmurou, fazendo a amiga entender que era a hora de ir embora.

— Opa, essa é a minha deixa. Estou indo para casa, me liguem...

— Lindsay, sem querer abusar, mas você pode ficar? – Coçou a nuca. – Tenho que voltar para o laboratório, mas quero que você fique aqui até eu voltar.

— Você não confia em deixar a Lily sozinha comigo? – Estava incrédula, sabia que tinha errado muito com os dois, mas não achava que merecia toda aquela desconfiança da parte dele.

— Não quero brigar agora. – Arrumou a gola do sobretudo e abotoou os cinco primeiros botões. – Voltarei o mais rápido possível. – Abriu um sorriso singelo para a amiga e saiu pela porta.

Stella fechou os olhos e deu um longo suspiro, a decepção estava a corroendo por dentro.

— Ele está muito bravo comigo. – Sentou no sofá mais próximo de si. – E eu não o culpo, sei que sou um fracasso como mãe. – Lindsay a observou com pena, era muito difícil estar no meio daquilo, pois ela amava os dois.

— Stella. – Afastou alguns papéis que estavam em cima da mesinha de centro e sentou sobre ela, ficando de frente para ela. – Você tem uma doença muito séria e está resistindo ao tratamento. – O tom que ela estava usando era o mais cordial possível, não queria que a amiga pensasse que ela estava a julgando. – Isso está machucando todo mundo, especialmente você.

No fundo ela sabia que a amiga estava certa, mas ainda era difícil aceitar que não estava conseguindo ser a mãe que sonhava ser. E era ainda mais difícil aceitar que falar com uma amiga, mesmo que essa amiga fosse uma psiquiatra, não resolveria as coisas.

— Isso está ótimo, muito obrigada. – Lindsay elogiou o serviço da amiga do alto da escada. Stella estava acabando de arrumar as fraldas da filha numa pequena pilha enquanto a outra mulher estava voltando do andar de cima, havia acabado de colocar a pequena para dormir.

— De nada, isso é o mínimo que eu posso fazer. – Levantou a cabeça e sorriu para a amiga que estava indo até ela. – Eu estou muito grata pela sua ajuda.

— Estou feliz por estar aqui, lá fora está muito frio. – Brincou, colocando a babá eletrônica em cima da mesinha antes das duas se sentarem no sofá.

— A Lily dormiu rapidinho com você. – Comentou com um tom de ressentimento na voz, era difícil aceitar que não era capaz de acalmar a própria filha.

— Ela estava exausta. – Justificou, pegando uma das fraldas que Stella tinha arrumado.

— Eu me divertia tanto na Grécia. – Sorriu com um ar saudoso. – Sempre tinha um bom vinho à minha disposição no meu antigo AP.

— E sente falta de lá?

— Eu sinto falta da vida que eu tinha. – Abaixou a cabeça e ficou em silêncio por alguns segundos. – Você também é mãe e trabalha em tempo integral. – Balançou a cabeça negativamente. – Eu não sei como faz isso.

— Não é nada fácil. – Sorriu enquanto colocava uma mecha do cabelo atrás da orelha. – Mas sei que seria impossível se eu tivesse depressão pós-parto.

— Isso não faz o menor sentido. – Reclamou. – Eu queria tanto um bebê e sou tão grata por ela estar saudável... – Desviou o olhar. – Eu tenho um trabalho incrível, um marido incrível... acho que pensei que eu seria como você. – Soltou uma risadinha.

Lindsay também riu.

— Uau!

— Você é tão calma e tão organizada. – Elogiou, fazendo a amiga arquear a sobrancelha. – É sério. Você trabalha tanto, mas mesmo assim a sua filha vem sempre em primeiro lugar. – Mudou de posição, sentando-se de lado. – Isso é incrível.

— Bom... – Tapou a boca para abafar a risada. – Mas se você fosse como eu, deixe-me ver... – Virou-se totalmente para ela. – Você seria mãe aos dezenove anos e se casaria com o pai da sua filha depois do seu pai ameaçar ele com uma machadinha. – Soltou uma gargalhada. – O seu marido ficaria viciado em cocaína na tentativa de superar a morte da família e a sua filha ficaria exposta a um estilo de vida muito perigoso.

— Tudo bem. – Riu. – Não precisa mais continuar.

— O que eu estou tentando dizer é que ninguém é perfeito, e é muito mais fácil julgar a si mesmo. Você não é uma péssima mãe, e ficar pensando isso não vai te fazer nada bem. – Umedeceu os lábios, fazendo uma pausa antes de continuar. – Você tem depressão pós-parto e se culpar por isso é a mesma coisa de se culpar por ter câncer.

Ela desviou o olhar.

— Eu nunca tinha pensado por esse lado.

— Você deixaria de tratar um câncer? – Elas se encararam. – Por que não procura um médico que saiba lidar com isso?

A angústia no peito de Will crescia como uma mancha de sangue cresce no chão de uma cena de crime. Era difícil dizer o que ele sentia, simplesmente porque é difícil colocar em palavras todo o desespero que o consumia. Vendo-se sem nenhuma outra alternativa, decidiu ir ao encontro da única pessoa que ele achava que podia estender-lhe a mão, sua mãe.

— Oi, eu preciso falar com você. – Cumprimentou a mãe com um beijo no rosto e entrou na casa.

— Oi, querido. – Notou o desespero no semblante do filho. – O que foi? Aconteceu alguma coisa com a minha neta?

— Não. Minha filha está ótima, não aconteceu nada com ela. – Respirou fundo e tentou abrir um sorriso. – Eu queria falar sobre outra coisa, se não for muito doloroso para você.

— Me diga logo o que é. – Estava começando a ficar nervosa com todo aquele suspense.

— Lembra que algumas semanas atrás conversamos sobre a possibilidade de a Stella ter depressão pós-parto? – Coçou a nuca. – Você tinha razão.

— Sinto muito. – Murmurou. – Ela deve estar se sentindo péssima. – Passou as mãos no rosto, sabia o quanto aquilo era desesperador. – Imagino que não deve estar sendo nada fácil para você também e sinto muitíssimo por isso.

Ele deu um longo suspiro.

— Acho que você não tem nenhum problema com esse assunto. – Abriu um sorriso triste. – Mas não quero forçar a barra, sei que foi difícil passar por isso.

— Oh! – Abriu um sorriso. – Pode me dizer do que precisa.

— Eu acho que preciso de perspectiva. – Confessou. – Eu não consigo falar disso com ela sem começar uma briga. Mas também não consigo parar de pensar que se eu soubesse como ela se sente... talvez conseguisse ajudar ou algo do tipo.

— Você pode me perguntar o que você quiser. – Segurou a mão dele e o levou até o sofá, onde ambos se sentaram.

— Certo. – Respirou fundo antes de começar o seu pequeno interrogatório. – Quando você soube que tinha depressão pós-parto?

— Muito cedo, eu acho que ainda estava no hospital. – Começou a tentar puxar as memórias que possuía. – Meu Deus... a minha vida estava um verdadeiro caos... – Murmurou. – Eu pensei que você fosse me ajudar de alguma forma, isso só mostra o quão doente eu estava. – Ele assentiu. – Eu pensei que você me amaria tanto que instintivamente eu saberia como cuidar de você. – Fez uma pausa, desviando o olhar do filho. – Eu queria tanto uma família, pensei que você preencheria aquele espaço, mas isso não aconteceu. – O seu semblante mudou, no fundo ainda doía tocar naquele assunto. – Quando você nasceu, eu tive tantas complicações que mal pude te tocar.

— E como você se sentiu? – Ele tinha medo da resposta, mas precisava saber.

— Eu fiquei muito assustada e me senti um fracasso... como se eu fosse a pior mãe do mundo. E foi por isso que eu abandonei você e o seu pai.

Ele passou as mãos no rosto e então fez a pergunta que o havia levado até ali.

— E como conseguiu se recuperar? O que foi que te ajudou?

— Eu acho que não teria conseguido sem o apoio do seu pai. – Abriu um sorriso melancólico. – Eu sabia que no momento o seu pai era a melhor opção para você e também sabia que seria amado, que seria feliz, e foi.

— Mas você foi hospitalizada?

— Sim, mas só depois que atirei em Peter Santora. – Murmurou o fim da frase. – Passei um tempo no Vanderbilt e depois no Sanford, e então eles me diagnosticaram com depressão pós-parto. – Abaixou a cabeça. – Eles me disseram que eu não era responsável pelos meus atos.

— Eu fico muito feliz por ter ficado tudo bem. – Sorriu.

— O seu pai me ajudou muito enquanto estive hospitalizada, ele cuidou de você. – Acariciou o rosto do filho.

— Mãe... – Umedeceu os lábios para fazer a sua última pergunta. – O que foi que mais te ajudou durante a sua recuperação?

— Eu acho que foi o fato do seu pai nunca ter me julgado. – Ouvir aquilo doeu no peito dele, pois era exatamente isso que ele estava fazendo com a esposa. – Eu sei que ele queria que eu desse o meu melhor, mas ele nunca apontou o dedo para mim quando eu cometia um erro. – Ele desviou o olhar. – Ele me deu o tempo que eu precisava para me curar e me garantiu que estaria lá para me apoiar o tempo todo. – Agora ele estava decepcionado por não ter sido o homem que seu pai foi. – E se eu pudesse te dar um conselho, seria esse. Não fique apontando o dedo para ela. Ela precisa saber que você está do lado dela e você tem que conseguir ajuda para ela. – Ele assentiu. – E mesmo que o mundo aponte o dedo para ela, não faça o mesmo.

— Você tem toda a razão. – Sussurrou. – Só tenho que cuidar da Lily primeiro.

Millie piscou para ele.

— Eu acho que posso te ajudar com isso.

— É... acho que vocês estão certos. – Stella concluiu com muito desgosto. – Eu sou mesmo uma pessoa muito difícil de lidar. – Ajeitou sua postura, estava ficando um pouco incomodada com aquela posição. – Acho que é por isso que demorei tanto para admitir que tinha alguma coisa de errado comigo, mas... – Respirou fundo. – Eu não consigo nem acreditar nas coisas que eu fiz nesses últimos dias. – Sorriu para a amiga. – Mas ainda bem que tenho amigos maravilhosos.

Lindsay sorriu de volta.

— Eu não quero parecer clichê, mas amigos não são o bastante. – Comprimiu os lábios. – Você precisa da ajuda de um profissional e precisa logo.

A porta se abriu e elas se levantaram, o homem da casa havia retornado.

— Muito obrigado por ter me esperado, Lindsay. – Sorriu para ela.

— Foi um prazer. – Sorriu de volta. – Me liguem se precisarem de alguma coisa. – Pegou a bolsa que estava em cima do sofá e saiu.

— Eu sei que eu estraguei tudo... – Ela disse assim que eles ficaram a sós. – Adorei a companhia da minha amiga e estou pronta para admitir que tenho mesmo depressão pós-parto, vou procurar ajuda. – Ele abriu um sorriso singelo para a esposa. – Sinto muito por ter te magoado e por ter magoado a nossa filha. Eu prometo que farei de tudo para ficar bem.

Ele assentiu.

— Vamos ter que conversar um pouco sobre isso e talvez até briguemos, mas eu quero que saiba que eu te amo. – Stella abriu um sorriso lindo ao ouvir aquilo. – Você vai superar isso e terá todo o meu apoio e todo o meu amor.

Eles conversaram por algumas horas e esbarraram em alguns obstáculos, mas não brigaram e nem gritaram, o que deixou a mulher muito mais aliviada.

— É tão bom ter uma conversa de verdade. – Confessou enquanto acariciava a nuca do marido, que estava sentado ao seu lado no sofá.

— Querida... eu sempre vou te amar... – Ela sorriu ao ouvir aquilo. – Eu tenho certeza que vamos superar isso.

Batidas na porta interromperam o momento. Ele usou a perna dela para se apoiar e levantou para ir atender.

— Está esperando alguém?

— Sim, acho que sim. – Abriu a porta. – Oi. – Cumprimentou a mulher com um sorriso.

— Oi. – Ela respondeu. – Sou a Kate, a Millie me mandou para ajudar com a Lily.

Will coçou a nuca.

— Sim, eu sei.

— Ela te falou que eu vinha?

— Sim, ela me falou. – Deixou-a entrar. – Kate, essa é a Stella. – Stella ficou de pé, mas sua cara não estava muito boa. – O quarto da Lily é lá em cima.

— Oi, Stella. – Kate a cumprimentou e seguiu em direção as escadas. Assim que a mulher sumiu de vista ele se aproximou da esposa e suspirou.

— Você falou com a sua mãe pelas minhas costas? Contou para ela que eu tenho depressão pós-parto?

A decepção deixou um gosto amargo em sua boca, ela não conseguia acreditar que o seu marido ainda estava a tratando como uma criança.


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Notas finais do capítulo

É, na hora que pensamos que tá tudo certo, alguma coisa acontece...
Até o próximo!



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