Stella escrita por Vic


Capítulo 18
Carma


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, pessoas! E parece que as coisas não andam nada bem entre eles...
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



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O fato dela ter admitido que estava mesmo com depressão pós-parto não ajudou a melhorar as coisas entre ela e o marido. O homem estava sendo muito duro com ela, causando-lhe a sensação de que era um verdadeiro incômodo e um fardo pesado demais para carregar. Em contrapartida, ele estava muito ressentido com ela, mesmo sabendo que a mulher estava doente e que precisava do seu amor e do seu apoio, ele não conseguia simplesmente perdoá-la por ter beijado outro homem e mentido sobre isso.

Na manhã seguinte, ele ainda estava exausto e as olheiras ao redor dos seus olhos estavam ainda mais evidentes, mas acima de tudo, estava com muita raiva. Ele se levantou por volta das 6h e foi direto até o quarto da filha, mas não a encontrou, então acabou de arrumar as suas coisas e começou a se preparar para o inevitável encontro com a sua esposa, que com certeza devia estar esperando na sala. O seu palpite não poderia estar mais certo, assim que colocou o pé no primeiro degrau, avistou a mulher sentada no sofá. O único jeito foi passar sem falar com ela e ir pegar a chave que infelizmente estava em cima da mesinha na frente dela.

— A Lily está no parque com a Judy. – Informou quase sussurrando, estava retraída e tinha vergonha até mesmo de dirigir a palavra ao marido. – E eu sei exatamente o que você deve estar pensando.

Ele limpou a garganta e respondeu de um jeito muito rude:

— Eu duvido muito que saiba...

Ela ficou de pé.

— Essa sua cara já diz tudo. – O homem se virou para a encarar. – É claro que você acha que eu estou evitando a nossa filha, mas a verdade é que existe um ótimo motivo para ela não estar aqui agora.

— É mesmo? – Ironizou ao colocar as mãos na cintura. – Eu posso saber que motivo é esse?

— O motivo é que a Kristina está chegando...

Kristina era uma das amigas que ela havia feito durante o tempo que ficou internada, e também era uma psiquiatra, então Stella achou que ela era a pessoa perfeita para ajudá-la com esse problema.

— E o que isso significa?

Ela estranhou toda aquela frieza da parte dele.

— Meu Deus! – Exclamou ao levar as mãos à cabeça. – Eu estou fazendo tudo que você quer... ou você já decidiu que agora isso não é mais o suficiente? – Ele continuou a encarando com o mesmo olhar inexpressivo. – Eu achei que você quisesse que eu pedisse ajuda. – Ele simplesmente passou por ela, indo em direção à porta. – O que foi? O que é que você tem?

Will terminou de vestir o sobretudo.

— Me desculpa se estou sendo um incômodo. – Voltou a olhar para ela. – Me desculpa se não estou sendo um amor com você depois de ter sido abandonado com a nossa filha.

Stella deu um longo suspiro.

— Eu sei que eu te magoei muito. – Murmurou bem baixinho. – Me desculpa por ter estragado tudo, mas agora... pelo menos eu admiti que tenho mesmo um problema e estou fazendo de tudo para resolvê-lo.

— Então vamos torcer para que você não decida fazer outra grande fuga.

— Ei, isso não é justo. – Até conseguia entender o lado dele, mas ele também não tinha o direito de usar aquilo contra ela.

— Justo? – Franziu a testa. – É sério, Stella? É sério que você quer mesmo falar sobre o que é e o que não é justo?

— Na minha cabeça, eu não tinha nenhum problema, tá bom? E agora que eu admiti isso para mim mesma, vou procurar ajuda. Eu pensei que você ficaria feliz em saber que tem alguém...

— E ela sabe porque está vindo aqui?! – Interrompeu. Considerando a quantidade de vezes que ela tinha mentido naquela semana, ele não ficaria surpreso se ela tivesse mentido para a psiquiatra também. – Ela sabe que esse é um encontro profissional? Ela sabe que você está completamente fora de controle?! – Stella estava completamente paralisada, não conseguia dizer uma palavra diante daquela situação. – Você quer me contar alguma coisa?

— Tipo o quê?

— Não sei. – Balançou a cabeça. – Você ficou chateada com alguma coisa que eu fiz?

Ela negou com a cabeça.

— Não. – Sussurrou. – Nem sei do que você está falando.

— Estou falando de tudo. – Abaixou o tom de voz, mas o ressentimento permanecia em seu peito. – Tudo que você sentiu e passou. Você não sente que está tudo fora de controle?

— Fora de controle... tipo do meu controle?

— É. – Assentiu. – Fora do seu controle.

— Não sei. – Encolheu os ombros. – Acho que isso faz parte da depressão pós-parto.

— Esquece isso. – Desviou o olhar. – Você precisa melhorar.

— E será que algum dia você vai me perdoar por ter te abandonado com a Lily? – Ele a encarou, para ser bem sincero, ainda era muito difícil para ele pensar na ideia de perdoá-la, pois não conseguia se esquecer de tudo que havia acontecido naquele curto espaço de tempo em que estiveram separados. A sua salvação foram as batidas na porta, que colocaram um fim naquela discussão. – É a Kristina. – Limpou a garganta e foi abrir a porta.

— Oi. – Elas se abraçaram.

— Eu amei o convite! – Abriu um sorriso radiante, estava com saudades de conversar com alguém sem estar desempenhando o papel de uma psiquiatra. – Há quanto tempo não saímos para almoçar? – Entrou na casa, nem se deu conta do clima que estava entre eles. – Tem um restaurante novo no centro da cidade, estou morrendo... – Interrompeu sua fala ao notar a expressão no rosto da amiga. – O que está acontecendo?

— Não se preocupe comigo, você tem que ir trabalhar e eu sei exatamente o que eu tenho que fazer. – Disse ao marido, que pegou a maleta e saiu sem olhar para trás.

— Então... – Encarou a porta. – Do que se trata?

— Me desculpa por não ter sido sincera com você. – Caminhou até ela. – Eu não quero almoçar com você, quer dizer, podemos ir almoçar, mas o que eu queria mesmo era conversar com você.

— Certo. – Elas se sentaram no sofá e Stella deu um longo suspiro, era muito difícil ter que falar sobre aquilo depois de tudo que havia acontecido naqueles últimos dias.

— Já tem um tempo que o Will acha que eu tenho depressão pós-parto e... – Abaixou a cabeça quando sentiu que os seus olhos estavam começando a marejar. – Eu fiquei em negação por muito tempo. – Balançou a cabeça e tentou se recompor. – Mas eu preciso mesmo de ajuda.

O retorno ao laboratório trouxe uma infinidade de outros novos problemas para Will, mas o seu maior problema ainda o aguardava em casa. Foi pensando justamente nisso que ele jogou aquelas pastas na mesa e colocou as mãos na cabeça. Como aguentaria mais essa provação?

— Eu até iria perguntar como estão indo as coisas, mas pelo visto não estão indo nada bem. – Ele levou um susto ao ouvir a voz de Dante, que estava parado na porta da sua sala.

— Eu te devo um pedido de desculpas.

Dante entrou na sala e fechou a porta.

— Oh... – Fez uma expressão de falsa surpresa. – Isso explica essa sua cara de quem comeu e não gostou.

— É sério. – Reprendeu o outro. – Eu fui muito injusto com você e você estava certo sobre tudo. Sobre tudo que estava acontecendo na minha casa e na minha família. A Stella está mesmo com depressão pós-parto e agora não há nenhuma dúvida sobre isso. – Respirou fundo. – Eu até tinha algumas dúvidas, mas acho que era só porque eu não queria aceitar... e você tinha razão sobre isso.

O outro assentiu, estava concentrado em cada palavra que saía da sua boca.

— Olha... – Comprimiu os lábios. – Se serve de consolo... eu não estou nem um pouco feliz em ouvir isso.

Will abriu um sorriso fraco.

— Ela está conversando com a Kristina agora, e para ser bem sincero... eu não sei se essa é a escolha certa, mas no momento... esse é o único passo que ela consegue dar. – Suspirou. – E eu espero que esse seja um passo na direção certa.

— Eu sei que estou te colocando em uma situação muito delicada. – Stella riu de nervoso. – E eu sei que psiquiatras não podem tratar amigos. Eu não... – Respirou fundo. – Eu só não sei se conseguiria admitir o que fiz para um estranho.

Kristina segurou a mão direita da amiga.

— Eu acho que nós temos que começar do início.

— Tudo bem. – Respirou fundo. – Eu acho que tudo isso começou no dia que a Lily nasceu. Ela chorava e eu a segurava, e isso só acabava de piorar as coisas. O Will nunca teve nenhum problema com isso. Ele sempre foi ótimo com ela, toda vez que ele entrava no quarto, ela começava a resmungar e a chutar o ar com aquelas perninhas.

Ela apertou um pouco a mão dela.

— E isso deve ter sido muito difícil para você.

— É, foi... – Admitiu, sentindo um nó se formar em sua garganta. – Mas também foi um alívio, porque se ele cuidasse dela... significava que eu não precisaria fazer isso e nem precisaria fingir estar sentindo algo que eu não sentia.

Kristina se acomodou melhor no sofá.

— E o que você acha que deveria sentir?

— Eu sei lá. – Comprimiu os lábios. – Eu achei que me sentiria magicamente ligada a ela, que saberia exatamente como mantê-la calma e feliz, mas a verdade é que não senti nada disso. – Passou a mão no rosto, era como se um enorme peso tivesse sido retirado de suas costas. – Eu não senti nada que todas as mães dizem sentir quando seguram o bebê pela primeira vez.

Ela passou a mão nas costas da amiga, dava para sentir a angústia dela em cada palavra.

— E como você se sente?

— Eu não sei. – Desviou o olhar. – Oprimida, miserável, incompetente. É como se... como se eu tivesse cometido um grande...

— Erro?

— Me desculpa, eu não consigo fazer isso... – Levantou rapidamente do sofá. – Eu não consigo... – Pegou o casaco que estava em cima do sofá e saiu, deixando-a sozinha na casa.

— Oi, Kristina. – Will correu até a entrada, onde a mulher o aguardava. – Como foi?

— Olha... eu não sabia que ela queria a minha ajuda profissional. – Colocou as mãos nos bolsos. – E se eu soubesse, teria a indicado para outra pessoa.

— Eu sei e eu entendo. – Desviou o olhar. – Você pode me dizer alguma coisa sem violar o sigilo entre médico e paciente?

— Ela precisa de ajuda e ela sabe disso, mas há um longo caminho entre saber e aceitar.

— Então quer dizer que ela não te contou tudo?

— Ela começou, mas de repente parou e saiu correndo. – Deu um longo suspiro. – Mas eu vou ser muito sincera com você, Will. Eu acho que a Stella está muito encrencada.

Stella estava começando a achar que havia mesmo cometido um grande erro ao chamar Kristina para conversar. E se ela contasse tudo para Will? As coisas entre eles ficariam piores do que já estavam. E foi pensando numa forma de amenizar aquilo, que ela foi até o seu lugar favorito na cidade, o lago que ficava atrás do laboratório. Era para lá que ela fugia sempre que precisava pensar em alguma coisa.

— Stella? – Danny a chamou.

Ela correu até ele e o abraçou com força.

— Desculpa. – Soltou o amigo e tentou se recompor. – Acho que estou mesmo ficando maluca.

Ele abriu um sorriso fraco.

— Eu duvido.

— Não, mas é verdade. – Fungou, limpando o nariz em seguida. – E agora é oficial, eu tenho mesmo depressão pós-parto. – A expressão estampada no rosto da mulher dizia que aquilo era um verdadeiro castigo para ela. – Lembra de como eu julguei a mãe do Will quando soube que ela teve depressão pós-parto? Lembra de como eu a olhava torto e me perguntava como alguém poderia abandonar o próprio filho? Eu acho que eu mereço isso... talvez esse seja o meu carma. – Soltou uma risada nervosa. – A verdade é que pelo menos a Millie teve a coragem de desistir de tentar, em vez de fingir que estava tudo bem. – Respirou fundo. – Enquanto eu simplesmente acabei com a minha vida. – Ele segurou sua mão e a conduziu até as escadas, onde os dois se sentaram. – Meu Deus! Eu não contei para ele. – Colocou as mãos na cabeça. – Eu não contei que um dia eu recebi um chamado e simplesmente saí deixando a Lily sozinha no restaurante do James. – Danny a encarou alarmado e também levou as mãos à cabeça. – Ela ficou sentada lá por horas, e se tivesse acontecido alguma coisa com ela? E se alguém tivesse levado ela embora? – O homem continuou calado, ainda estava tentando processar a informação que tinha acabado de receber. – Graças a Deus que está tudo bem, mas o que mais me assusta é que eu coloquei o meu ego acima da segurança da minha filha. – Disse para si mesma e ele acariciou suas costas mais uma vez. – O Will queria só me levar para um jantar romântico, para ficarmos um pouquinho a sós. E dava para ver que ele estava se esforçando muito para fazer isso dar certo, então eu fui para casa, me arrumei e cheguei até a ficar ansiosa com a ideia de passar a noite fora com o meu marido. – Colocou um sorriso no rosto. – Mas aí cheguei em um cruzamento e decidi virar à direita em vez de à esquerda e simplesmente fui embora. E o pior é que eu não planejei nada disso... eu só parei no primeiro bar que encontrei e comecei a conversar com a bartender. E de repente eu nem conseguia mais acreditar nas coisas que estavam saindo da minha boca, eu disse para ela que o meu nome era Georgie, que eu era representante de vendas de produtos farmacêuticos da Grécia. E que eu não era casada, que não tinha filhos. Eu criei uma identidade totalmente nova assim que entrei naquele bar. Que tipo de pessoa faz uma coisa dessa?

Danny umedeceu os lábios.

— Uma mulher com depressão pós-parto.

Ela levantou e encarou o lago a sua frente.

— Essa só pode ser a única explicação...

— Eu sei que você deve estar muito assustada. – Foi atrás dela. – Mas a Millie melhorou.

— Mas eu não sou a Millie. – Cruzou os braços, encolhendo os ombros. – E talvez fosse melhor eu admitir que sou uma péssima mãe e sair logo da vida dela antes que eu cause danos irreversíveis.

Ele se aproximou mais um pouco.

— É isso mesmo que você quer? – Colocou a mão no seu ombro direito. – Você quer mesmo desistir da sua filha?

— Não. – Respondeu com a voz embargada. – Não, eu não quero. – Ficou de frente para ele. – Eu quero melhorar. Eu tenho que melhorar. – O seu tom de voz estava mais firme. – Eu devo isso a minha família. – Abriu um sorriso fraco, antes de ser puxada para os braços do amigo.

— Oi, me desculpa por ter te ligado tão cedo. – Will disse ao abrir a porta para Lindsay, aquilo estava mesmo virando rotina entre eles. – A Judy teve que dar uma saidinha e como sempre a Stella não está em casa.

Ela nem esperou para ouvir o resto e já entrou na casa.

— Vocês brigaram?

— Não... – Fechou a porta e virou para encarar a amiga. – Nós meio que conversamos. Ela me contou o motivo dela ter fugido, ela me disse que se sentia pressionada e... – Fechou os olhos. – É claro que ela não disse que dormiu com outro cara, mas ela concordou com a ideia de procurar ajuda... só que na cabeça dela procurar ajuda significa convidar a Kristina para almoçar. – Lindsay franziu a testa. – Mas em defesa da Kristina, ela não contou para ela o porquê do convite. – Abaixou a cabeça. – E elas conversaram por uns dez minutos e a Stella fugiu de novo. – Os dois respiraram fundo. – Eu acho que deve ser muito legal fugir sempre que se sentir sobrecarregado. – O tom de sua voz entregava o seu ressentimento. – Eu também queria poder fazer isso, e para ser bem sincero, eu não consigo mais nem pensar numa boa razão para não fazer.

— Eu sei que você está magoado, mas eu também sei que você nunca cogitaria a ideia de abandonar a sua família. – Usou o tom mais acolhedor que podia.

Will suspirou.

— Eu nunca abandonaria a Lily, mas eu não sei mais se posso dizer o mesmo da Stella. – Umedeceu os lábios. – Lindsay, o que você acha que eu deveria fazer? – Era uma pergunta retórica. – Ela não quer ficar com a nossa filha e está cada vez mais claro que ela também não quer ficar comigo.

— Ok, certo. – Pediu uma pausa. – Mas vamos tentar esfriar um pouco a cabeça. O mais importante agora é entender que ela está doente, tente não se prender ao ciúme que você sente por tê-la visto beijando outro homem.

Nesse exato momento a porta se abriu e Stella os encarou. Os dois também a encararam de volta e toda a casa foi mergulhada num completo silêncio.


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Notas finais do capítulo

E agora hein??
Até o próximo!



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