Stella escrita por Vic


Capítulo 21
Coisinha


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, pessoas. Bom, as coisas continuam tensas entre eles... só não sei se a terapia vai ajudar ou acabar de piorar as coisas.
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



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Naquela manhã, Stella estava particularmente mais distraída do que o normal. Era a sua primeira semana de volta ao trabalho, então seus amigos tentavam não julgar. Eles sabiam que ela estava passando por muita coisa, então não era de se estranhar que ela parecesse estar meio fora do ar em alguns momentos.

— Oi. – Lindsay a cumprimentou. – Já ficou sabendo que adiaram a reabertura da ala norte? – Stella foi arrancada dos seus devaneios. – Só mais algumas semanas e estaremos de volta. – O tom animado em sua voz era muito similar ao de uma criança.

— É... – Suspirou enquanto olhava para a imensa pilha de relatórios que tinha para terminar. – Mudar tudo isso de lugar é que vai ser um verdadeiro inferno.

— É... – Umedeceu os lábios, estava tão animada que nem tinha parado para pensar nisso. – Mas pelo menos teremos os nossos armários de volta, as costas agradecem. Parece até que eu morri e fui direto para o céu. – Sorriu com um ar sonhador, estava cansada de levar os seus equipamentos de casa para o trabalho e do trabalho para casa.

— E eu estaria no céu se conseguisse ter uma boa noite de sono. – Sussurrou para si mesma, mas pela expressão que a outra fez, tinha dado para ouvir perfeitamente o desabafo.

— Oh... a Lily não tem dormido bem?

Stella fechou a cara imediatamente.

— Só porque eu sou mãe tudo que digo tem que ser sobre a minha filha?

— Desculpa...

Ela percebeu que a amiga havia ficado sem jeito e tratou de tentar se retratar.

— Não, eu é que te devo um pedido de desculpas. – Respirou fundo. – Eu não durmo há dias e... – Levou as mãos à cabeça, não sabia mais o que dizer.

— Então por que não vai para casa e tira um cochilo antes de receber outro chamado?

Will chegou mais perto, entrando na conversa. Ele tinha acabado de dar uma olhadinha na filha, que estava na creche.

— É hoje o dia da sua primeira consulta, lembra?

Lindsay sabia que estava sobrando naquela conversa, então deu um jeitinho de ir embora sem que nenhum dos dois percebesse.

— Eu sei... e não estou tentando fugir da minha consulta. – Ela odiava o olhar julgador que o seu marido lançava sobre ela sempre que achava que ela não estava fazendo a coisa certa. – Eu tenho muito trabalho para fazer aqui.

— Eu sei. – Sorriu como se tivesse a solução perfeita para aquele problema. – Mas eu sou o seu supervisor, e sei que você tem coisas mais importantes para fazer.

— Não. – Colocou a mão na testa, seria muito difícil argumentar com ele. – Estamos com pouco pessoal por conta do incêndio.

— Temos pessoal suficiente para o trabalho, e a sua consulta é prioridade agora.

Ela respirou fundo, odiava quando outra pessoa se sentia no direito de decidir as coisas por ela, mesmo que a pessoa em questão fosse o seu marido e o pai da sua filha.

— E quer dizer que agora você está decidindo quais são as minhas prioridades? – Ela passou por ele, mas ele a seguiu.

— Stella... – Respirou fundo para conseguir manter a calma. – Eu não te ajudei muito quando me recusei a enxergar a sua doença, e se fosse outra doença... você teria procurado ajuda há muito tempo.

— Tudo bem... – Abriu um sorriso forçado, torcendo para que ele não notasse isso. – Eu vou para a consulta.

— Ótimo. – Ele segurou sua mão. – Então vamos, eu te acompanho até lá.

— E por quê? – Puxou a mão. – Tem medo de que eu erre o caminho e vá parar em Redfield? – Ele não respondeu, não queria correr o risco de irritar ainda mais a mulher. – O engraçado é que se eu tento me concentrar no meu trabalho, eu estou errada e se eu disser que vou para a terapia, também estou errada.

Ele ergueu as mãos numa posição defensiva.

— Estou do seu lado.

— Eu sei. – Encolheu os ombros, abaixando o tom de voz. – Eu vou para a terapia, e se você quer tanto me dar uma carona até lá... não vejo problema.

— Tudo bem. – Assentiu. – Então podemos sair do serviço mais cedo e almoçar em algum lugar.

A mulher se animou com a ideia.

— E também podemos caminhar no parque?

— É claro. – Sorriu. – O que você quiser.

Lindsay estava saindo do laboratório de microbiologia e foi ao encontro do casal.

— O Sage está te chamando na microbiologia. – Ela ficou esperando uma resposta enquanto via a expressão no rosto do amigo mudar. – Ele disse que é inacreditável.

— Pode ir. – Stella o encorajou. – Vai lá. Eu prometo que vou para a terapia.

Ele a encarou com uma certa incerteza, e então finalmente cedeu.

— Tudo bem. – Ensaiou um sorriso, mas estava muito nervoso. – Mas se precisar de alguma coisa, é só me ligar.

— Vai lá. – Abriu um sorriso. – Eu vou ficar bem.

Ele acompanhou a amiga, mas não pôde evitar aquele impulso de olhar para trás.

Stella tinha concordado em fazer o tratamento, mas a verdade era que ela ainda estava se acostumando com a ideia de contar os seus problemas para um completo desconhecido. O passo mais complicado até então era pensar no que iria dizer ao psiquiatra, e foi justamente isso que a levou direto ao seu local favorito.

— Stella? – Chad vinha descendo as escadas. – Tudo bem?

Ela respirou fundo, ensaiou um sorriso simpático e disse com a voz trêmula:

— Eu acho que estou progredindo.

— Algum problema?

Ela riu da pergunta.

— Estou indo para a minha primeira consulta com o psiquiatra.

— Eu fiquei sabendo. – Sorriu. – E isso é ótimo.

— Eu... eu... – O seu lábio inferior tremia, era muito difícil colocar em palavras tudo o que estava sentindo naquele momento. – Eu não entendo porque simplesmente não consigo seguir em frente. O meu bebê é uma verdadeira bênção para mim, eu sou casada com um homem que me ama e moro numa casa linda... – Encolheu os ombros, não conseguia mesmo entender porque estava sempre tão triste. – Eu não consigo entender o que aconteceu...

— Você precisa de ajuda. – Concluiu. – E o mais rápido possível.

— Eu conheço mães que têm empregos tão ruins que nem conseguem ter acesso a um plano de saúde... e mesmo assim, elas ainda amam os seus bebês. – Abaixou a cabeça. – O sonho delas é chegar em casa para ficar com eles. – Mordiscou o lábio inferior enquanto jogava a bolsa no banco e se sentava. – Eu só queria entender porque eu não posso ser assim.

— Eu vou te dizer o motivo. – Ele sentou no espaço ao seu lado. – É porque elas não lidam com o que você tem que lidar.

— Mas eu não consigo nem segurar o meu próprio bebê. – Os olhos dela começaram a marejar e a sua voz tremeu. – Eu não quero alimentá-la, não quero tocá-la... e nem olhar para ela eu quero. Isso é horrível. – Cobriu o rosto com as mãos. – Eu sou um tremendo fracasso como mãe. – Engoliu em seco. – E como esposa eu sou pior ainda. – Engoliu o choro e limpou o rosto. – E trabalhei tanto para ter uma vida perfeita e agora eu mesma estou destruindo tudo.

Ele deu um longo suspiro e a encarou.

— Eu sei exatamente como está se sentindo.

— Eu sei. – Abriu um sorriso triste. – Mas como vou dizer isso ao psiquiatra?

— Stella, me escuta. – Segurou as mãos dela entre as suas. – Eu também já passei por uma época em que eu não queria lidar com o fato de ser bipolar. Eu também não queria ir a um consultório médico para ficar encarando um cara que me diria como eu estava me sentindo e o que eu estava pensando, tá? – Olhou diretamente no fundo de seus olhos, procurando um entendimento. – E a minha primeira sessão também foi um verdadeiro inferno para mim.

Ela sussurrou baixinho:

— Mas você foi.

— Sim, eu fui e sabe por que eu fui? – Esperou ela responder, mas ela continuou calada. – Porque eu disse a mim mesmo que os meus filhos precisavam de um pai mais do que eu precisava fingir que não estava doente. – Ele era o membro mais velho da equipe e sabia exatamente como era ser um jovem cheio de medo. – Eu passei anos na fase da depressão. Eu nem ... eu nem conseguia dar um nome para o que eu estava sentindo, mas na minha cabeça estava tudo ótimo. Eu não sabia mais o que estava acontecendo, porque na minha cabeça tudo estava perfeitamente normal, você mesma viu como eu estava.

Ela concordou.

— Você parecia estar bem. – O som da sua voz saiu meio abafado. – Eu achei que estava só um pouco mal humorado.

— Pois é. – Segurou a vontade de rir. – E falando nisso, eu meio que sinto a falta daquele brilho que você tinha nos olhos, sabia disso? – O fim da frase foi um mero sussurro. – E também sinto falta de toda aquela adrenalina da minha juventude, da sensação de ser invencível e de sair gastando todo o meu dinheiro como se não houvesse amanhã... fazendo coisas estúpidas, como todo jovem. – Ela riu. – Mas quer saber do que eu não sinto falta? – Colocou a mão nas costas dela. – Do que vinha depois de tudo isso. – Ficou em silêncio por alguns segundos. – O estado depressivo é horrível... é por isso que eu continuo tomando os meus remédios e indo a um psiquiatra de vez em quando. – Respirou fundo. – Eu não quero mais ter que passar por nada daquilo.

— Os dias para mim são exatamente iguais. – Soltou uma risada desanimada. – Eu estou sempre errada, a Lily está sempre chorando e o meu marido está sempre insinuando que eu deveria ser uma boa mãe. – Tentou se acomodar no banco enquanto dava um longo suspiro. – Ele foi falar com a mãe dele pelas minhas costas, acredita? E agora temos uma babá na nossa casa três vezes na semana para me ensinar a como cuidar da minha própria filha e... – Balançou a cabeça enquanto puxava um pouco de ar para os pulmões. – O que foi? – Franziu as sobrancelhas. – Por que está sorrindo?

— Eu não estou sorrindo. – Negou enquanto ela se inclinava para olhar melhor para o seu rosto. – O que foi?

— Ele te contou, não foi? – Revirou os olhos. – Isso é maravilhoso. – Levantou, colocando as mãos na cabeça. – Agora todo mundo sabe que eu sou uma inútil.

— Ei, querida. – Também levantou. – Eu quero que você escute muito bem o que eu vou te dizer agora, tá? – Colocou as mãos nos bolsos. – A Lily precisa de uma mãe, e você não pode continuar colocando toda a culpa nos outros. – Diminuiu a distância que existia entre eles. – Você tem que ser a melhor mãe que puder ser para a sua filha.

— Eu sei. – Murmurou. – Mas me sinto tão humilhada...

— E por quê?

— Eu sempre encontrei um jeito de lidar com os meus problemas. – Explicou num tom quase inaudível. – E sempre consegui superar tudo sozinha, mas agora o que está me impedindo... é justamente o fato de eu ter tudo o que eu sempre quis.

— Você só tem que fazer o que é certo. – Continuou explicando. – Ou você vai piorar mais ainda, e eu sei que não é isso que você quer. Eu sei que você não quer ir parar num lugar aonde vão te medicar tanto que você não vai mais nem se lembrar de quem você é. – Ela mordeu os lábios, segurando o choro. – Eu já passei por isso e não desejo isso para ninguém... muito menos se esse alguém for uma pessoa que eu amo tanto.

Stella demorou alguns segundos para se virar para ele e o abraçar com força, era hora de partir para a sua primeira consulta com o psiquiatra.

— Olá, eu me chamo Giovanni Falco. – O homem estendeu a mão assim que ela entrou na sala.

— Eu sou a Stella. – Se aproximou com passos vacilantes. – Stella Taylor. – Abriu um sorriso desajeitado e apertou a mão dele.

O homem sorriu.

— Estou vendo que é uma detetive.

— Sim, eu amo esse trabalho.

— Então sente-se. – Indicou o sofá a sua frente e ela se sentou.

— Eu... não queria estar aqui.

Ele riu enquanto ela abaixava a cabeça.

— Eu ouço muito isso.

— Eu queria mesmo era ir para casa dormir.

— O seu bebê tem chorado muito durante a noite?

Ela deu um longo suspiro.

— Você também está fazendo isso. – Passou as mãos no rosto. – Toda vez que eu digo alguma coisa, os outros acham que tem alguma coisa a ver com o meu bebê. – Tentou se acomodar mais no sofá. – Mas respondendo a sua pergunta... ela está ótima, ela dorme muito bem, ela é perfeita. – Respondeu de um jeito muito ríspido. – Mas agora me faça uma pergunta de verdade.

— Mas eu já fiz.

— Então faça outra.

— Você acha que tem depressão pós-parto?

Ela desviou o olhar, encolheu os ombros e riu.

— É o que dizem.

— Como assim?

— O meu marido e os meus amigos...

— Mas o que você acha, Stella? Você está feliz com a sua vida?

— Eu acho que não. – Negou com a cabeça. – Eu não tenho nada disso.

— Então quer dizer que já sabe o motivo de estar se sentindo assim?

— Claro. – Riu como se aquela fosse uma pergunta retórica. – É porque eu sou uma péssima mãe.

— Isso é uma coisa horrível de se dizer.

— A minha filha chora e eu sinto muita vontade de jogá-la direto pela janela. – Deu de ombros. – E quando tento segurar, ela começa a chorar mais. – Mordiscou o lábio inferior. – Eu nunca me senti tão só em toda a minha vida... e parece que todo mundo acha que tem alguma coisa errada comigo.

— E você acha que tem?

Ela deu de ombros.

— Eu acabei num quarto de hotel com um completo estranho em cima de mim.

— É só manter isso gelado até chegarmos ao laboratório. – Will entregou a maleta para um dos técnicos e ficou observando a tentativa de Lindsay de se livrar de toda aquela lama que parecia estar impregnada em sua calça. – A Stella te deu alguma notícia?

Ela desistiu de tentar limpar a barra da calça e ensaiou um sorriso para ele.

— Não, ainda não.

— Certo, então vou presumir que é porque ela foi para a terapia, não que está indo embora da cidade outra vez.

— Oh, não. – Tentou não rir. – Ela não vai mais fazer isso.

— Nunca se sabe... – Entrou no carro. – Eu também nunca pensei que ela fosse abandonar a nossa família ou me trair, mas foi exatamente isso que ela fez.

— Eu entendo. – Entrou do lado do passageiro. – Mas tecnicamente tudo o que você viu foi um beijo. – Ele deu partida no carro. – Você não sabe o que realmente aconteceu.

— Lindsay. – Deixou escapar uma risada. – Eu aprecio muito isso que você está tentando fazer, mas eu sei exatamente o que eu vi. Eu também já fui do tipo de cara que ficava com mulheres nos bares.

— Eu sei como é, também já passei pelo mesmo com o Danny e foi muito ruim. Mas o mais importante foi que eu entendi que tudo aquilo fazia parte do vício dele.

— Eu sei que ela está fazendo umas escolhas malucas e que tudo isso faz parte da depressão pós-parto. – Ela assentiu. – Mas ela não foi a única que abriu mão de algumas coisas por esse casamento, eu também fiz isso... e agora parece que eu nem sei mais com quem eu me casei. – Eles continuaram aquela conversa ao chegarem ao laboratório. – Eu concordo com você. – Eles se sentaram lado a lado. – Mas as escolhas que ela faz também me afetam.

— É... – Ele assentiu. – E não é errado querer que ela vá as consultas, mas você também está precisando de ajuda.

— Mas eu não estou doente.

— E eu não era uma viciada. – Retrucou, olhando direto para ele. – Mas o meu marido era.

— Entendi, mas quem é que vai cuidar da minha filha? – Indagou, coçando a cabeça. – Ela precisa da mãe dela. Era para elas estarem criando laços.

— E elas irão. – Murmurou. – Elas irão.

— Outra coisa que está me deixando maluco... – Engoliu em seco. – Por que ela está tão triste?

— Ela está acostumada a controlar tudo, e dar à luz a deixou muito confusa. – Passou a mão nas costas dele. – Mas eu sei que ela vai superar isso e conseguir se reerguer mais uma vez.

Will passou as mãos nos cabelos.

— Eu sei, mas é muito difícil ficar tendo que me lembrar que isso também está sendo um inferno para ela. – Deu um longo suspiro e voltou a olhar para a amiga. – Eu sei que no fundo ela quer ser uma boa mãe.

— E ela será. – Afirmou. – Só vai demorar um pouco.

— Eu sei que é uma questão de tempo para ela ficar igual a você.

— Eu convivo com o HIV desde o ano passado. – Stella andava de um lado para o outro dentro do consultório médico. – E houve um momento em que eu realmente achei que não poderia ter filhos... e então descobri que na verdade já estava grávida... e eu quase morri quando a minha filha nasceu. – Passou as mãos no rosto, tirando os cabelos da frente. – Eu acho... eu... eu achei que me recuperaria mais rápido.

— Está parecendo que você está tentando arrumar uma justificativa para o fato de estar doente.

— Eu sei que quando ela chora... eu tenho que ir até ela, mas eu... – Tentou respirar fundo. – Eu não consigo... eu só quero que ela pare... eu só quero que ela fique quieta! Eu quero que ela pare de chorar pelo menos por um segundo, só para eu conseguir pensar, para eu conseguir ler um pouco, para que eu consiga... eu nunca imaginei que perderia tanta coisa para aquela... para aquela coisinha. – Corrigiu a própria postura quando percebeu que estava desumanizando a própria filha. – Para aquela pessoa. A Lily é uma pessoa e também é a minha filha e eu a amo, mas... – Fechou os olhos. – Eu acho que não quero ser mãe de jeito nenhum.

— Eu sei que não é fácil, mas pelo menos ela começou a terapia. – Os dois estavam com a cara enfiada nos relatórios que era para Stella ter terminado. – E eu acho que as coisas vão melhorar.

Jas surgiu na porta.

— E então, o que temos aqui?

Lindsay folheou as páginas.

— Uma mulher de vinte anos com traumatismo craniano e costelas quebradas, e parece que ela também não estava usando o cinto.

Will ergueu a cabeça.

— Mais alguma coisa?

— Sim. – Lindsay respondeu. – Ela deu à luz alguns meses atrás. – Comprimiu os lábios. – O marido disse que o bebê tem uns três meses. – Notou a expressão no rosto do amigo, mas preferiu não comentar. – E as testemunhas disseram que parecia que ela queria mesmo bater naquele pilar.

— Então vamos fazer alguns exames de sangue para verificar os níveis de álcool no sangue dela. – Will sugeriu. – E então depois tentaremos entender o que leva uma jovem mãe a fazer isso. – Respirou fundo e virou para Jas. – Você pode pedir para o Chad fazer isso?

Em pouco tempo os exames de sangue estavam prontos, e Lindsay voltou com os resultados.

— Os níveis de álcool no sangue dela estavam normais, não há nenhum indício de drogas no sangue e o histórico médico dela também está normal. – Informou enquanto mostrava os papéis para ele. – Ela nunca teve nenhuma crise convulsiva e nem nada que pudesse tê-la feito desmaiar ao volante. – Continuou lendo suas anotações. – E a última vez que ela esteve internada foi há três meses quando deu à luz, mas tudo ocorreu muito bem.

Will estava incrédulo com aquilo.

— Então tem que haver alguma outra explicação. – Passou as mãos no rosto. – Me disseram que a estrada estava ótima. – Colocou o dedo sobre a foto da vítima. – Alguma coisa aconteceu com ela e eu quero saber o que foi.

Lindsay assentiu, entendendo que aquela era a deixa para que ela fosse verificar o restante dos exames.

— O senhor Ames está te esperando. – Voltou para informar o chefe. – Ele quer saber se alguém consegue explicar o que foi que aconteceu com a mulher dele.

— Certo, então vamos lá.

Os dois foram ao encontro do marido da vítima.

— Senhor Ames, esse é o detetive Taylor.

O homem deu-lhe um aperto de mão.

— Oi, você pode me dizer o que foi que aconteceu?

— A sua mulher sofreu um traumatismo craniano e quebrou algumas costelas.

O homem franziu as sobrancelhas.

— Como assim?

— Ainda estamos fazendo alguns exames para saber.

— Eu não consigo entender o que foi que deu nela. – Murmurou baixinho. – Me disseram que a minha mulher tinha sofrido um acidente e que eu deveria vir até aqui.

Lindsay entrou na conversa.

— As testemunhas disseram que a sua mulher bateu em um dos pilares do viaduto.

— O senhor sabe dizer se a sua esposa sofria com desmaios ou alguma coisa do tipo?

— Não. – Sacudiu a cabeça. – Não que eu saiba. – Respirou fundo. – A Kelly não tem sido mais a mesma desde que o nosso filho nasceu, mas nunca aconteceu nada desse tipo.

Will engoliu em seco e assentiu.

— E nenhuma convulsão ou dor de cabeça muito forte?

— Nada. – Negou. – Mas o que foi que aconteceu?

— Uma pessoa não joga um carro contra toneladas de concreto puro sem nenhum motivo. – Ele continuou explicando enquanto via a expressão do outro homem mudar aos poucos. – Tem certeza de que ela não tinha nada? Pressão baixa, hemorragia cerebral.

O homem levou as mãos à boca.

— Hemorragia cerebral?

— É uma possibilidade...

— Eu posso vê-la? – O seu lábio inferior tremeu. – O corpo dela?

— Claro. – Lindsay colocou a mão em suas costas. – É na segunda sala à direita.

O homem seguiu rumo ao fim do corredor.

— Eu quero que você peça ao Chad para terminar a autópsia o mais rápido possível.

— E quer que eu te chame?

— Sim, quando estiver tudo pronto. – Saiu apressado rumo à sua sala. – Eu vou ligar para a Stella.

Ele não conseguiu falar com a mulher, então ligou para Danny e pediu para que ele fosse até o laboratório urgente.

— Oi. – Danny colocou as mãos nos bolsos traseiros da calça. – O que foi? Aconteceu alguma coisa?

— Não, está tudo bem. – Colocou as mãos na cintura. – Eu só quero falar sobre a Stella.

— Ela está bem?

Will respirou fundo.

— Ela me disse que te contou uma coisa. – Danny abaixou a cabeça. – Então é óbvio que você sabe que tem alguma coisa acontecendo com ela.

— Sim, eu sei. – Murmurou. – É que muitas vezes é mais fácil desabafar com um amigo... e ela e eu nos conhecemos há muito tempo.

— E você sabia que ela começou o tratamento hoje?

— Isso é maravilhoso.

— Olha... ela me disse que depois da consulta viria direto para cá, mas até agora ela não apareceu. – Umedeceu os lábios. – E eu já liguei para ela, mas ela não atende e nem retorna as ligações.

Danny fechou a cara.

— Entendi, mas o que você quer de mim?

— Eu quero saber o que foi que ela te contou.

— Mas eu não falei com ela hoje. – Coçou a nuca. – Então nem saberia te dizer aonde ela foi. Tem medo de que ela tenha fugido outra vez?

— Escuta... se eu soubesse o que está acontecendo com ela, eu não estaria aqui te perguntando.

— Beleza. – Passou a mão na nuca. – Mas ela voltou da última vez, então por que agora seria diferente?

— Eu só quero saber o que foi que ela te disse.

— Ela me pediu segredo.

— Danny. – Fechou o punho e os olhos. – Minha mulher está doente, ela não está raciocinando direito... e eu sou o marido dela, é o meu dever mantê-la segura. – Estava quase implorando. – Então por favor, me diz o que foi que ela te disse. – Lindsay estava com uma expressão esquisita em seu rosto quando voltou e ele virou para ela. – O que foi?

A mulher respirou fundo e tirou algumas mechas de cabelo do rosto enquanto pensava em como iria dizer aquilo para ele.

— Eu consegui mais algumas informações sobre Kelly Ames. – Encarou o papel que estava nas suas mãos. – E eu acho que aquilo não foi um acidente... dei uma apertada no marido dela e ele me disse que ela estava sofrendo de depressão pós-parto.

Ouvir aquilo foi o mesmo que levar um soco direto no estômago, ele perdeu o chão ao imaginar que poderia muito bem ser a sua esposa em cima daquela mesa no necrotério.


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Notas finais do capítulo

O pobi do Will não tem um dia de paz...
Até o próximo!



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