Stella escrita por Vic


Capítulo 2
Quer que ele cresça como você?


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas. Dessa vez nem demorei muito para postar, estamos evoluindo.
OBS: Adicionei uma nova cena neste capítulo.
Boa leitura!

CAPÍTULO REVISADO



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— Quer que ele cresça como você?

Aquela pergunta ecoava na mente dela. De todas as coisas que ele poderia ter dito, aquela foi a mais cruel. Stella cresceu em um orfanato, nunca conheceu o seu pai, e a sua mãe morreu em um acidente de carro quando ela ainda era muito jovem, jamais desejaria uma infância dessas para a sua própria filha.

— Você não está sendo justo comigo... você sabe tudo o que passei...

— E você foi justa comigo? – O seu tom de voz fazia com que a sua raiva ficasse ainda mais evidente. – Você escondeu o meu filho de mim, isso é justo?

— Entre, não precisamos dar um show para o laboratório inteiro. — Abriu a porta, dando espaço para que ele passasse primeiro e em seguida ela entrou, fechando a porta atrás de si.

— Por quanto tempo pretendia esconder isso de mim? — Ele a olhou nos olhos, como se procurasse a verdade no fundo de sua alma.

— Você sabe que o que menos quero é que a minha filha cresça como eu...

— Filha? – Sorriu ao pensar em como sua filhinha seria. – É uma menina?

— É só um pressentimento que eu tenho... enfim, não queria que você achasse que tem que ficar comigo só por causa dessa criança...

— Stella, por favor! Você me insulta dizendo isso, você sabe dos meus sentimentos por você. Mesmo que o nosso filho não existisse, eu ainda iria querer ficar com você, porque você é a mulher que eu amo. Só preciso que você confie em mim para contar o que quer que seja. Do que você tem tanto medo? — Os olhos dela estavam marejados. Sempre foi durona, jamais demonstrava os seus sentimentos tão claramente, mas a criança que crescia dentro dela, de certa forma havia a amolecido. — Por favor, confie em mim. – Encostou a sua testa na dela, segurando o seu rosto para que não fugisse.

— Você se lembra daquela noite? — A voz dela era quase inaudível, mas ele sabia exatamente do que ela estava falando.

— Nunca esquecerei... — Disse aproveitando a abertura que ela deu para dar-lhe um leve beijo. A sensação dos lábios dele nos seus reavivaram as memórias que ela tinha daquela noite. 

Há cerca de 2 meses – Após o funeral da Alyssa

Os pingos de chuva em contato com a sua pele pareciam algum tipo de castigo dos deuses para ela. Stella chorava e tremia tanto que nem conseguia distinguir se os tremores eram por conta do frio ou do choro. Estava parada em frente à porta há alguns minutos, a sua falta de coragem a impedia de bater e pedir para entrar. Eles nem eram tão íntimos assim, o que ela diria a ele?

A chuva aumentou e uma grande onda de frio atravessou seu corpo como um raio, e então ela finalmente tomou coragem e deu duas batidas fortes na porta. Will abriu quase que imediatamente, a encarou com um olhar de pena ao ver o estado em que ela se encontrava e a puxou pelo braço para dentro da casa.

— Stella, o que está fazendo aqui? – Indagou assim que a ajudou a se sentar no sofá. Não se importava com a possibilidade de encharcar seu estofamento. – O que houve?

— Alys... Aly... a Alyssa. – O queixo da mulher batia tanto que ela mal conseguia falar.

Will abriu um sorriso compreensivo e deu alguns tapinhas em suas costas, ele também lamentava muito o ocorrido com Alyssa. Ter que ficar de pé ao lado do seu caixão não foi nada fácil, sabia exatamente como Stella estava se sentindo.

— Vou preparar um chocolate quente e ver se encontro uma roupa seca para você. – Saiu, indo direto para a cozinha. Ela não protestou e nem nada do tipo, só ficou sentada lá, tremendo e chorando.

— Desculpa incomodar. – Ela falava enquanto tentava não tremer tanto. – Meus amigos estão... estão todos ocupados. – E o choro recomeçou.

— Não é incômodo algum. – Sua voz veio da cozinha.

— Vou parar de chorar... prometo. – Fungou e tentou se recompor, mas voltou a chorar outra vez.

— Pode chorar, Stella, eu te entendo. – Ele voltou alguns minutos depois e entregou uma caneca de chocolate quente para ela. – Beba, vai te fazer bem.

— Não consigo. – As mãos dela tremeram e a caneca quase foi ao chão, mas Will a ajudou, segurando suas mãos com firmeza.

— Se continuar assim... quem vai morrer é você. – Só notou o quão indelicado estava sendo depois que fechou a boca. Os olhos de Stella marejaram e ela voltou a chorar e a tremer novamente. – Ah não, me desculpe. – A envolveu em um abraço apertado, sem se importar em estar molhando a sua própria roupa.

Nos minutos que se sucederam, ele tentou convencê-la a tomar um banho e trocar de roupa, mas ela estava irredutível quanto a isso. Will contentou-se apenas em vê-la tomar toda a caneca de chocolate quente. Passaram parte da noite conversando, já estava tarde quando ele decidiu que era hora de levá-la para casa.

— Stella, ei. – Tocou levemente o seu ombro. – Vamos, vou te deixar em casa.

Ela esfregou os olhos inchados e olhou para ele como se não estivesse entendendo o que ele estava falando.

— Casa? – A confusão em seu olhar era nítida. – Não quero...

— Temos que ir...

— Não... – Recusou com um aceno de mão. – Quero ficar aqui...

— Stella, por favor... você vai ficar doente se não tirar essas roupas...

— Por que não tira para mim? – Ela nem acreditou que aquilo havia mesmo saído de sua boca, sempre foi atraída por ele, mas nunca tinha tido tanta coragem assim.

— O quê? O que você disse?

— Tire para mim... – Nem deu tempo de Will reagir, ela enlaçou seu pescoço e deu-lhe um beijo.

Nenhum dos dois sabe dizer exatamente como foram parar na cama, mas lá estavam.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Sussurrou, sentindo a respiração dele em seu rosto. — Não precisa ter pena de mim. — Os lábios dele passeavam por seu pescoço, tão levemente que parecia que ele tinha medo de tocá-la.

— Espero por isso desde que você entrou na minha sala há três anos. — A beijou novamente, dessa vez com um pouco mais de força.

— Espera. — Ela segurou as mãos dele. — Você tem camisinha?

Ele sorriu.

Fim do flashback

— Espera. — Stella colocou suas mãos sobre as mãos dele, que estavam em sua barriga. A emoção de sentir o bebê pela primeira vez fez com que ele ficasse trêmulo. — Insisti para usar camisinha por um motivo. A gravidez não é um problema para mim, sempre quis ter um bebê, esse bebê é o meu sonho. Mas há cinco meses estava analisando uma cena do crime, me cortei com vidros com o sangue da vítima e mais tarde descobri que ela era soropositiva... fiz testes para HIV e descobri que tenho o vírus. — Ela começou a chorar copiosamente, nem os amorosos beijos e abraços de Will eram capazes de a acalmar.

— Stella... por que não me disse antes? Você não precisava estar passando por isso sozinha, se isso aconteceu... não é sua culpa, você me perguntou se eu queria e eu aceitei...

— Mas você não sabia... teria aceitado... se soubesse?

— Stella, eu esperava por aquele dia desde que você entrou na minha sala dizendo que seria a minha segunda no comando desse laboratório. Se isso te tranquiliza, não me infectei com HIV, alguns meses atrás o laboratório me pediu alguns exames de rotina e estou perfeitamente bem. – Ele lhe deu um delicado beijo na testa e passou os polegares sob seus olhos para secá-los. – Qual nome você escolheu para nossa filha? – Sorriu e voltou a acariciar sua barriga.

— Pensei em Lily, acho que é o nome perfeito para uma garotinha. – Sorriu ao notar o brilho nos olhos dele, seria um ótimo pai e ela não tinha o direito de tirar isso dele e nem de sua filha.

— Era o nome que minha mãe teria me dado, se eu fosse uma menina.

— Sério? – Estava surpresa com tamanha coincidência.

— Sim, é a flor favorita dela, lírio. Ela vai amar saber que vai ser vovó... meu pai também gostaria, é uma pena ele não estar aqui para conhecê-la. – O azul dos olhos dele ficou mais escuro, como se estivesse nublado por uma lembrança que ele gostaria de apagar da sua memória.

Anos atrás – Retorno para casa

— Como ele está? – Os olhos de sua mãe estavam inchados, as noites em claro e o choro incessante eram o motivo óbvio para isso.

— Mal, muito mal. É melhor você ir vê-lo, querido. – Millie deu um beijo na bochecha de seu filho e o observou caminhar até a porta do quarto onde seu pai estava.

— William Taylor Junior, que honra recebê-lo depois de dois honrados anos de serviço ao Corpo de Fuzileiros Navais. – O velho Will tossiu, seu peito subia e descia freneticamente, a dificuldade de respirar era perceptível. – Que bom vê-lo, filho... – Sua voz era um sussurro, devido ao avanço de seu câncer no pulmão.

— Oi, papai. – Ele se sentou na cadeira que sua mãe vinha usando para dormir. – Quero que me desculpe por ter demorado tanto para vir.

— Você não demorou, tudo acontece no tempo certo. Você veio agora porque era a hora de você vir... tudo acontece exatamente como tem que acontecer, Will.

Will conseguiu ver a luz sumindo dos olhos de seu velho pai, a sua hora havia chegado. Ele tinha só esperado para ver seu filho pela última vez, agora era hora de partir... e assim ele se foi.

Fim do flashback

— Will? Tudo bem? – Os olhos verdes da mulher a sua frente chamaram sua atenção para a realidade. – Pareceu que você tinha viajado para longe...

— Lembrei do meu pai... do dia que ele morreu...

— Não podemos ficar presos ao passado, a vida continua. – Ensaiou um sorriso. – A sua vida continua, aqui. – Segurou as mãos dele, colocando-as em sua barriga mais uma vez. – Tudo acontece exatamente como tem que acontecer. – Stella nem sabia se ela própria acreditava no que estava dizendo, visto que ela mesma estava presa à acontecimentos do passado.

Ela o abraçou.

— Podemos criar nossa filha, mas não precisamos fazer isso juntos... guarde o pedido de casamento que eu sei que você está louco para fazer e vamos criar nossa filha separados, tudo bem? – Deu um beijo na bochecha dele, procurando fechar aquele acordo.

— Sei que seu instinto é fugir, você nunca teve uma família e tem medo de que as coisas deem errado, mas saiba que não vou desistir de você. Cuide bem da nossa garotinha. – Will se abaixou na altura da barriga de Stella e disse: — Cuide bem da sua mamãe, princesinha.

Os meses passaram com ele se fazendo o mais presente possível, se interessava por tudo, desde os cuidados pré-natais à data em que finalmente veria o rostinho de sua filha pela primeira vez. Estava lá quando eles descobriram que seu bebê seria mesmo uma menina, mas no momento mais importante para os dois, Stella estava sozinha em seu quarto.

— Ai, dessa vez doeu muito. – Colocou a mão em sua barriga, na intenção de que sua filha se acalmasse. – Talvez você esteja com saudades do seu papai, não é? – Um sorriso se formou em seu rosto quando ela se lembrou das horas que ele gastava cantando para a menina no ventre. – O que acha de ouvir a voz dele um pouquinho? Mas depois vamos dormir, princesinha. – Pegou o celular para discar o número dele e sentiu mais uma pontada, dessa vez quase em suas costelas.

— Will... – Respirou fundo, tentando aguentar a dor que sentia.

— Stella, tudo bem? – A respiração irregular dela o deixou preocupado, ainda não estava nem perto do dia da cesárea.

— Acho que tem alguma coisa errada com o bebê...


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Notas finais do capítulo

Por hoje é isso...
Até o próximo!



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