Stella escrita por Vic


Capítulo 1
E se fôssemos fantasmas?


Notas iniciais do capítulo

Olá, essa é uma história que planejei durante DEZ anos... então espero muito que esteja boa.
Boa leitura!

CAPÍTULO REVISADO



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E se fôssemos fantasmas?

Se fôssemos fantasmas, ela não estaria passando por tudo isso. Não teria que esconder do pai de seu filho que estava esperando um filho dele. Mas não somos fantasmas, e as coisas não são tão fáceis como seriam se fôssemos. Você pode pensar que é pura maldade esconder um filho de seu pai, mas não era isso que Stella estava fazendo. Na verdade, ela estava era se escondendo de Will. Não podia simplesmente chegar e dizer que aquela única noite lhes resultou numa criança que provavelmente seria HIV+ como sua mãe, e que de brinde provavelmente ele próprio também estaria infectado pelo vírus. As coisas não eram tão fáceis assim... mas poderiam ser...

Se fôssemos fantasmas. 

A mulher pensou enquanto acariciava sua barriga que denunciava que o seu filho já estava por volta do segundo mês de gestação. 

Logo saberei o que ele é.

Stella não podia negar, pensava em suicídio desde o dia que descobriu que tinha sido mesmo infectada ao analisar vidros ensanguentados numa das cenas de crime, mas não incluiria o seu filho ainda nascido em seus planos.

Meses atrás — Noite da infecção 

O plantão estava quase acabando, quase em casa, quase na cama. Mais uma última cena do crime e ela iria para casa se deitar na sua cama e se esquecer de todas aquelas pessoas...

— Não inventa, Danny. É a sua vez agora. — Estendeu a maleta para o parceiro, que deu um longo bocejo, ignorando o objeto.

— Sem essa, Stellinha. É o último da noite e você ainda nem está tão cansada assim. — Deu um sorriso travesso e empurrou a maleta de volta para ela. – Por favor, faça essa e eu pago o seu jantar.

— Você é um belo de um folgado, Daniel Messer...

— Ei! É Danny. — Reclamou, aproveitando para sair do local sorrateiramente e antes mesmo que ela se agachasse para começar a examinar todos aqueles vidros e todo aquele sangue.

— Alguém odiava muito esse cara, não acha, Danny? – Ela nem percebeu que o amigo não estava mais por perto, até se virar à sua procura e constatar a sua ausência. – É, acho que somos só eu e vocês. – Deu um longo suspiro e começou a examinar mais de perto os vidros ensanguentados. – Ainda bem que já tiraram o corpo, se dependesse da ajuda do Messer, eu teria que carregar o corpo nas costas. – A imersão em seu monólogo não durou por muito tempo, mas foi o suficiente para que aquele pequeno pedaço de vidro escorregasse da sua destra e cortasse o seu braço, misturando o seu sangue com o da vítima. – Merda! A evidência já era.

A dor de ouvir aquele diagnóstico foi uma das maiores que ela poderia ter experimentado em toda a sua vida, não havia palavras suficientes para descrever o que ela sentiu naquele momento. E ainda tinha que fingir normalidade para os amigos, só Danny sabia do ocorrido e por ela continuaria assim. Não queria eles preocupando-se com ela o tempo inteiro, trabalhar com um segredo entre eles já seria um fardo pesado demais para ela.

— Stella! – Will a chamou, mas ela simplesmente passou por ele apressada, os papéis dos resultados dos exames ainda estavam nas suas mãos. – Stella!

Fim do flashback

— Stella! Stella! – Era a voz de Lindsay do outro lado da porta. – Stella, por favor... estamos muito preocupados com você. – Nenhuma resposta veio por parte da outra mulher.

Lágrimas escorriam do seu rosto abundantemente, nem dava para ela própria ver o que estava fazendo, mas a dor do contato da lâmina com a sua pele era um lembrete constante e muito real. A mulher estava se cortando há cerca de uma hora, lembrar daquela noite tinha esse efeito sobre ela. O impulso de ter algo rasgando a sua pele novamente era quase irresistível, os cortes não eram profundos, mas eram tantos que a água da banheira estava com um leve tom avermelhado.

— Stella, não me faça arrombar esta porta. – A amiga insistia, mas a detetive não respondia. – Tudo bem, se é assim que você quer. – Em poucos segundos a porta da frente do apartamento estava no chão. – O que aconteceu? – Olhou para a porta do banheiro e viu que a amiga estava de joelhos e curvada sobre a banheira.

— Não. Não se aproxime, não é seguro. – Ao se virar para alertar a amiga, deixou que ela visse a gilete na sua mão e os seus pulsos cortados.

Lindsay a olhou espantada e correu na sua direção.

— Stella, o que...

— Estou grávida...

— Stella... – Começou a enrolar algumas toalhas nos pulsos dela para ajudar a conter o sangramento. – Isso é maravilhoso! Meus parabéns.

— Não tem nada de maravilhoso nisso. Eu descobri que sou soropositiva alguns meses atrás e estou grávida... o bebê pode ser soropositivo também.

— Mas pode não ser também. Você é uma mulher inteligente, sabe das probabilidades. – Tirou a gilete das mãos dela. – Como está a sua carga viral?

— Não está baixa o suficiente, mas estou tomando os remédios e fazendo tudo que o médico mandou. – Sua voz era um mero sussurro. – Não sei se é o bastante para livrar o bebê. – Começou a chorar novamente e a amiga a abraçou.

— Está grávida de quantas semanas?

— Seis semanas.

— Isso explica a mudança repentina no guarda-roupa. – Sorriu carinhosamente. – Escuta, quem é o pai da sua criança? – Buscou a resposta no fundo dos olhos verdes da amiga. – É o Will, não é? – Essa pergunta nem precisava de resposta, a proximidade entre os dois indicava que só poderia ser ele. – Ele sabe? Ele sabe que vai ser pai?

— Não sabe e nem precisa saber. Não quero que ele ache que deve ficar comigo só por causa dessa criança. Você sabe como ele é certinho.

— Mas...

— Sem mas. — As toalhas em seus pulsos ganharam um leve tom rosado. – Eu sei me cuidar, tá bem?

— Eu acho que não vai precisar de pontos. — Desenrolou as toalhas dos pulsos dela e viu que os machucados não eram tão graves. – Já pensou em um nome para seu filho?

Ela sorriu ao pensar no bebê.

— Vou chamá-la de Lily.

— Eu achei que você fosse preferir um nome grego...

— Stella também não é um nome grego... e acho que já é o bastante ter Katsaros como sobrenome. – Deu uma gargalha alta, fazendo a outra mulher rir também. – Ela não precisa de mais um trauma na vida dela.

— E se for um menino?

— Não, eu sei que será uma menina...

— Então muito bem, senhorita Katsaros. – Ficaram de pé. – E o que você quer fazer agora? Eu acho que devia ficar em casa, só por hoje.

— Não na cidade que nunca dorme. – Naquele curto espaço de tempo em que falavam sobre o futuro bebê, Stella vestiu as roupas mais longas e folgadas que tinha em seu guarda-roupa e passou pela porta caída de seu apartamento. – Me deve uma porta nova.

Os crimes em Nova York nunca deixaram de surpreendê-la, por mais acostumada que estivesse com toda a selvageria e barbaridade que encontrava em suas cenas do crime, aquela mexeu com seu coração, com sua alma e até com a criança que gerava em seu ventre.

— Estava grávida de seis semanas... – Will dizia atrás dela enquanto ambos observavam o corpo sem vida da jovem mulher. – Era soropositiva, acho que não aguentou o medo do filho ser também. – Aquelas palavras a atingiram como um raio, era exatamente esse o sentimento que ela estava experimentando nas últimas seis semanas, até mesmo o suicídio dela se parecia com o método que ela havia tentado naquela manhã. Pulsos cortados, tão fundos quanto a dor e o desespero que carregava dentro de si. No fundo, ela sabia que sua carga viral não abria margens para que seu bebê se infectasse, mas o medo é um sentimento irracional que nos atinge de uma maneira inexplicável e surpreendente. Ela temia pela vida de sua filha... como aquela pobre mulher temeu pela vida do seu, mas agora ela não sentia mais nada, porém... Stella ainda sentia tudo.

— Stella? Você está bem? – Lindsay a encarou. – Stella? – Os pensamentos dela ainda estavam com aquela pobre mulher e o seu bebê. Poderia ter sido ela. — Uma moeda por seus pensamentos.

Ela sorriu com a brincadeira da amiga.

— Tudo bem, Lindsay. Eu só... só preciso descansar um pouco...

Era isso, só precisava dormir por algumas horas e ficaria tudo bem. Algumas horas inconsciente consertariam tudo.

— Stella. – Estava quase entrando na sua sala, quando ouviu a voz do pai de seu bebê. – Podemos conversar? – Tentou ignorar, mas o que ele disse em seguida a paralisou. – Eu sou o pai do seu bebê?

— Qu...

— Eu não sou cego, Stella. Vi como você ficou quando vimos aquela mulher grávida hoje mais cedo. Isso e a mudança no guarda-roupa... não foi tão difícil ligar os pontos. Essa criança é minha, não é? Está grávida de seis semanas, isso seriam dois meses.

— Você é o pai, mas eu não queria que fosse...

— Quer que ele cresça como você?

Ouvir aquilo a fez pensar que as coisas seriam bem mais fáceis... se fôssemos fantasmas.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado... comentem aí e muito obrigada!
Até o próximo!



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