Stella escrita por Vic


Capítulo 15
Destino


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Então, meio que estou perdendo a criatividade, mas o importante é que continuo tentando.
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808498/chapter/15

— Olha só quem acordou, papai. – A menina em seus braços mordia um brinquedo como se estivesse tentando arrancar um pedaço, mas a falta de dentes impossibilitava a tarefa.

— Ei. – Tirou os olhos dos papéis e olhou para as duas. – E acordou com muita fome. – Abriu a boca numa expressão de falso choque, fazendo a amiga rir. Lindsay diminuiu a distância entre eles e se sentou ao lado dele no sofá, sentando a pequena em suas pernas. – Muito obrigado por ter anotado tudo isso para mim, deve ter dado um trabalhão. – Folheou as páginas, notando que tinham quase a mesma espessura de um livro de vinte e cinco páginas. – Consegui identificar cada um dos sintomas da Stella aqui.

— Os especialistas aconselham ambos os pais a procurarem ajuda especializada. – O bebê resmungou e ela a colocou de pé, a menina era exigente e não gostava de ficar muito tempo sentada.

— É... eu sei, mas é muito difícil fazer isso sem ela aqui. – Suspirou ao olhar para a filha, então estendeu a mão e acariciou o rostinho dela. – Imagino que ela esteja sofrendo muito e que deve estar muito confusa... só não sei como ajudar. – Tirou o bebê do colo da madrinha e se levantou, começando a dar voltas com ela pela sala.

— Com muito amor e paciência.

— Já tentei fazer isso. – Abaixou a cabeça e voltou a balançar a criança, que era tão geniosa quanto a mãe e não aceitava ficar muito tempo parada.

Ela se levantou e foi até eles.

— É... – Colocou as mãos nos bolsos. – Mas isso foi antes de ter certeza que ela está com depressão pós-parto.

— Isso é tudo culpa minha, fiquei inventando desculpas para o comportamento esquisito dela... – Murmurou em um suspiro, enquanto segurava o pé direito da filha, que chutava o ar. – Fui um facilitador clássico.

— Não seja tão duro consigo mesmo. – Aconselhou em um sussurro chateado, não acreditava que ele fosse realmente o culpado por toda aquela tragédia. – A Stella está em negação.

— O mais engraçado é que ela sempre tem uma desculpa para tudo... sempre arrumando um jeito de dizer que não há nada de errado. – Respirou fundo. – Sei que ela vai voltar para casa, e quando ela voltar teremos que encarar a realidade, mas ainda não sei como ajudar... porque sempre que falo alguma coisa sobre depressão pós-parto, ela dá um jeito de criar uma barreira entre nós.

— Eu acho que a terapia vai te ajudar muito com isso.

Ele olhou para a menina em seus braços e abriu um sorriso repleto de melancolia, ela ainda era tão pequena e indefesa, não merecia estar passando por tudo isso.

— Vou ser muito honesto com você, Lindsay. – Foi na direção da porta, fazendo a mulher se virar para olhar para ele. – Eu já imaginava que não fosse ser fácil, mas estou muito chateado com tudo isso. – Confessou em um sussurro cansado. – A Stella é a mãe da Lily e querendo ou não, ela tem que arcar com as responsabilidades da maternidade.

— Eu entendo que esteja chateado, mas tenta se colocar no lugar dela... ela acha que é uma péssima mãe. – Segurou a mãozinha da afilhada. – Na cabeça dela, ela está fazendo um favor ficando longe da Lily.

— Eu sei, mas para ser bem honesto... acho que a Stella está sendo muito egoísta e isso é péssimo para o nosso casamento.

— Agora você sabe porque a depressão pós-parto separa tantas famílias. – Acariciou o rosto da menina.

— Quero tentar consertar as coisas antes de chegarmos a esse ponto. – Estava sendo sincero, não queria desistir na primeira crise e além disso... a filha deles estava no meio de tudo aquilo.

— Você vai conseguir.

— Não quero que ela sofra por causa disso. – Beijou o topo da cabeça da menina. – Nem ela e nem a mãe dela, farei o que puder para ajudá-la a superar isso.

— A Stella é uma pessoa boa... com ou sem depressão pós-parto. – Abriu um sorriso melancólico. – Ela ama vocês e sei que ela quer ser uma boa mãe.

Ele levou a criança até o cercadinho no meio da sala, deitando-a dentro dele de barriga para cima e ficou observando a pequena brincar com os próprios pés.

— A Stella tem um problema e é meu dever ajudar.

Lindsay tirou as mãos dos bolsos e se aproximou dele.

— E você não está sozinho nessa. – Ele se levantou e ficou de frente para ela. – Você sabe que tem os seus amigos, a sua mãe... todos nós estamos aqui para te ajudar.

— Eu sei, muito obrigado. – Passou as mãos no rosto. – Mas toda vez que falo sobre isso com alguém... ela fica muito chateada... me desculpa.

Ela franziu as sobrancelhas.

— Pelo quê?

— Você já está sendo tão solidária comigo e em vez de te agradecer, eu fico só reclamando... – Abafou o som da própria voz com as mãos. – Sei que devia estar grato, mas estou tão...

— Já disse que tudo bem estar chateado.

— Sim, mas não devia estar fazendo isso com você. – Abriu um sorriso, estava agradecido por ter uma amiga tão maravilhosa quanto ela. – Nem sei o que seria de mim sem você, muito obrigado.

Lindsay também sorriu.

— Vocês vão conseguir superar isso e eu estarei aqui para dizer que avisei. – Manteve o sorriso no rosto e virou as costas para ele, indo até o sofá para pegar sua bolsa e seu sobretudo. – Se precisar de mim é só ligar, tá bom?

Ele assentiu com um sorriso no rosto.

— Ligo de manhã para te dizer como estamos. – Se abaixou para pegar o brinquedo que a filha jogou para fora do cercadinho.

— Então acho que nos vemos mais tarde. – Se despediu com um sorriso e foi na direção da porta.

Assim que abriu a porta, se deparou com o marido.

— Oi, meu bem. – Sorriu para o marido.

— Oi, querida. – Também sorriu para ela, mas esse sorriso sumiu quando ele viu o homem dentro da casa.

Os dois se encararam e o clima na casa ficou mais pesado, notando isso, a mulher simplesmente fechou a porta e foi embora.

— Oi. – Will o cumprimentou, mas o outro simplesmente o ignorou e foi até o cercadinho onde a afilhada estava. – Ainda estou tentando entender porque a Stella te ligou. – Tentou puxar assunto. – Ela te disse alguma coisa?

O homem se levantou e o encarou, como se os dois fossem boxeadores prestes a começarem uma luta.

— E eu estou tentando entender qual foi a cagada que você fez para ela fugir deixando o bebê dela para trás. – Disse elevando o tom de voz e evidenciando ainda mais a inimizade que crescia entre eles.

— Até onde eu sei, não fiz nada que justifique essa fuga dela. – Manteve o tom uniforme em sua voz. – Eu a amo e quero ajudar, mas ela anda se comportando de um jeito muito esquisito ultimamente.

— Não ouse pôr a culpa na Stella! – Pressionou o dedo no meio do peito dele.

— Danny... – Fechou os olhos. – Ela tem um problema sério, tá bom? – Abriu os olhos. – E o pior é que ela pode estar correndo perigo... porque ela tem depressão pós-parto.

A expressão dele se fechou ao ouvir aquilo, estava indignado com tamanha audácia.

— Isso não é verdade. – Sussurrou cada palavra lentamente. – Estou aqui quase todo dia e posso garantir que a Stella é uma mãe feliz e muito bem ajustada.

— É porque é isso que ela faz parecer quando alguém está por perto, mas quando ela fica sozinha com a nossa filha... as coisas mudam de figura.

Danny fechou o punho.

— Para de tentar culpar a Stella, tá?

— Ninguém aqui está a culpando. – Virou as costas para ele.

— Will... se eu soubesse que ela estava doente... eu mesmo teria feito tudo que eu pudesse para ajudar, mas eu sei que ela ama a Lily. – Abriu a mão bem devagar. – Ela queria essa menina mais do que tudo no mundo.

Will virou para olhar para ele.

— Eu sei disso... – Passou as mãos no rosto. – Só que agora ela não consegue mais nem olhar para a filha dela.

— Será que você não está tentando ser o mocinho dessa história? – Encarou o outro de perto. – Eu a conheço muito melhor do que você e pode ter certeza de que farei alguma coisa para ajudar.

Will franziu as sobrancelhas em uma careta.

— E que merda é essa que você está dizendo?

Alguém bateu à porta, acabando com a discussão entre eles, que olharam para ela quando ela se abriu.

— Oi, recebi a sua mensagem. – Jas entrou. – Já conseguiram encontrar a Stella?

— Ainda não. – Danny respondeu. – Mas o departamento 76 está cuidando do caso, tenho alguns conhecidos por lá. – Olhou para o outro homem e foi até o cercadinho. – Mas enquanto isso não acontece, vou tirar a Lily dessa casa.

— Não, isso não. – Will segurou o braço dele, impedindo que ele tirasse a criança do cercadinho. – Ninguém vai tirar a minha filha de mim. – Encarou o outro de igual para igual, seria capaz de fazer qualquer coisa para manter o bebê em casa. – Concentre-se só em conseguir ajuda médica para a Stella.

— Não tem nada de errado com a Stella!

— O Will tem razão... – Jas interrompeu, fazendo ambos olharem para ela. – Tem alguma coisa errada com a Stella. – Ontem, na hora do almoço, percebi que tinha alguma coisa errada com ela, mas foi quando a Lindsay me contou o que aconteceu no dia do lockdown que tive certeza. – Sentou no sofá. – Você também estava lá, Danny... – Danny sentou ao lado dela e Will se ajoelhou ao lado da filha. – Você e a Lindsay encontraram o carro dela quebrado e depois a encontraram no meio da neve e para piorar, ela nem sabia onde era que a filha dela estava. Na verdade... parecia que ela nem sabia que tinha uma filha.

Danny coçou a nuca, não era assim que ele enxergava as coisas.

— Acho que ela fez a coisa certa. – Argumentou. – Ela ficou com medo do bebê morrer de frio, então enrolou ela em um cobertor e a colocou em um lugar seguro.

— Danny... – Colocou a mão no rosto. – Ela não se lembrava nem de onde a Lily estava... um bebê doente que é filha dela.

— Mas ela estava desorientada e perturbada. – Ele fez questão de retrucar.

— Vocês foram para o Mercy e ela pediu para vocês levaram a Lily para o Mount Sinai. – Ainda tentava fazê-lo enxergar a verdade. – Você e a Lindsay... e a Lily estava queimando de febre.

— Jas... – Engoliu em seco. – A Stella queria ajudar na evacuação do laboratório e ela sabia que a Lily estava segura com a gente.

A mulher passou as mãos no rosto em pura angústia, era impossível fazer aquele homem enxergar a verdade.

— Todas as vezes que vim aqui, a Lily estava morrendo de chorar e a Stella não fazia a menor questão nem de tocar nela. – Murmurou o fim da frase. – E uma vez ela me obrigou a segurar a menina... e eu nem queria, mas alguém precisava fazer isso.

— Ela só queria que você se entrosasse mais com a Lily!

— Cara, eu te amo, mas você tem que tirar essa venda dos seus olhos.

— Eu só não quero tirar conclusões precipitadas!

— Certo... mas você sabia que ela foi até a minha mesa um dia, querendo me levar para almoçar e quando fiz uma pergunta sobre a Lily, ela me interpretou da forma mais errada possível e começou a dizer que era mais do que uma mãe, que também era uma excelente detetive com uma carreira maravilhosa?

— Ela só está sobrecarregada, que mãe que não está? – Aproveitou que o pai da menina saiu de perto dela para se ajoelhar ao lado do cercadinho.

— É exatamente isso que ela diria... – Jas ficou observando o amigo brincar com a menina. – Eu tentei ajudar e guardei as minhas suspeitas para mim, mas agora ela foi embora... – Os dois homens se encararam. – Isso não é sobre o marido dela... é sobre ela. – Levantou. – E quando ela voltar... a única maneira de ajudar e fazê-la encarar os fatos. – Ficou ao lado do amigo, que permanecia agachado ao lado do cercadinho. – Ela precisa da nossa ajuda.

— É muito difícil acreditar nisso.

— Foi difícil para mim também. – Confessou em um sussurro. – Também fiquei tentando arrumar uma desculpa que justificasse esse comportamento dela... porque pensei que ela fosse melhorar com o tempo, mas isso não aconteceu. – Ele se levantou e encarou a amiga com uma certa mágoa no olhar. – A verdade é que ela tem mesmo depressão pós-parto e temos que tomar providências antes que seja tarde demais.

Os três ficaram tão quietos que o único barulho que era possível ouvir na sala eram dos murmúrios da criança dentro do cercadinho. O celular de Danny tocou e enquanto ele atendia, o pai da menina aproveitou a oportunidade para se agachar mais uma vez ao lado dela.

— Isso é ótimo. – Um sorriso contido surgiu em seus lábios. – Me mantenha informado. – Encerrou a chamada e guardou o celular no bolso.

— Acabaram de emitir um alerta para a Stella. – Explicou aos dois.

— Espero que não pensem que ela está armada e que é perigosa. – Will murmurou ao ficar de pé.

— O que foi que ela te disse naquela mensagem?

— Ela disse que estava bem e que precisava de um tempo. – Respondeu. – Mas se ela está mesmo doente... então por que nenhum de vocês tentou ajudar?

— Você já tentou dizer para ela algo que ela não queira ouvir? – Jas cruzou os braços.

— Toda vez que alguém tocava no assunto depressão pós-parto ou pedia para ela procurar um médico, ela ficava chateada e nos ignorava.

— E por que ninguém me disse nada?

Ela deu de ombros, a resposta era óbvia.

— Porque sabíamos que ela se sentiria traída.

— Então decidiram que ignorar seria melhor?

Will abaixou a cabeça e respirou fundo.

— Estou cansado de ser o vilão da história. – Confessou. – Eu tentei cuidar de tudo... e até me certifiquei de que quando eu não estivesse por perto outra pessoa estivesse... o meu único erro foi achar que com o tempo isso passaria.

Ele levou as mãos ao rosto.

— Meu Deus! Isso não faz nenhum sentido. – Olhou para a afilhada no cercadinho. – Ela ama a Lily... você sabe que ela queria ter um filho mais do que tudo nesse mundo.

— Olha... pode acreditar que eu sei disso, eu sei que ela ama a nossa filha. – Umedeceu os lábios. – Mas sempre que tento falar com ela sobre qualquer coisa, ela me acusa de estar dizendo que ela é uma péssima mãe.

— E você estava? – Encarou o outro com um ar intimidador.

— Danny! – Ela se meteu no meio. – Ele está tentando te dizer que é impossível falar com a Stella. – Danny olhou para ela de canto de olho. – Quando a encontrarmos, ela não vai ter uma epifania e aceitar que tem depressão pós-parto. Ela terá uma explicação perfeita do porquê abandonou o marido e a filha.

Enquanto a família e os amigos de Stella redobravam seus esforços na tentativa de encontrá-la, ela tinha uma conversa muito animada com Scott, o carpinteiro.

— O meu chefe me pediu para passar mais alguns dias em Redfield.

— Isso é maravilhoso. – Abriu um sorriso encantado para ela.

— Sim... – Umedeceu os lábios. – E já que fui embora daquele jeito tão rude, pensei em voltar aqui para pelo menos me desculpar com você e de quebra aproveitar para ver se aquele convite para sair ainda está de pé.

— Claro. – Coçou a nuca. – Só preciso fazer algumas ligações.

— Oh... – Usou a mão para tapar a boca. – Você já tem planos, me senti a pior pessoa do mundo agora.

— Não, você está me fazendo um favor. – Franziu a testa. – Não quero ter que passar mais uma noite no bar com os caras. – Ela gargalhou. – Você fica muito bonita quando sorri.

Ela fez uma careta, mas manteve o sorriso no rosto.

— Eu não quero estragar a noite dos garotos. – Abaixou a cabeça.

— Eles vão entender. – Riu. – Agora vamos começar do zero, Georgie, você quer sair comigo essa noite?

— Sim. – Assentiu. – Com certeza.

— Assim que conseguirem a localização da Stella, irei até lá buscá-la. – Os dois observavam as estrelas pela janela da sala.

— Já disse que vou atrás dela sozinho. – Will se opôs.

— Sem chances. – Danny retrucou.

— Eu sou o marido dela.

— E também é o homem de quem ela está fugindo.

— Eu sei que é muito mais fácil colocar a culpa em mim do que assumir que ela tem um problema. – A menina resmungou como se fosse chorar e seu pai foi ao seu encontro.

— E quando é que você vai admitir a sua parcela de culpa nisso tudo? – Virou para olhar para o outro homem. – Foi você que arrastou ela para esse relacionamento ruim, depois a engravidou e a arrastou para um casamento contra a vontade dela. – Contou os eventos nos dedos. – Não espere que ela seja a mãe perfeita de uma hora para a outra!

Jas se colocou entre os dois.

— Para com isso! – Gritou. – Primeiro que não foi assim que as coisas aconteceram e segundo... ninguém sai por aí causando depressão pós-parto nos outros, então para de o culpar por isso.

— Ainda acho que ele poderia ter lidado com isso de outro jeito.

Ela se virou para Will.

— Will, me desculpa. – Abriu um sorriso constrangido. – O Messer aqui ainda acha que a Stella ainda é aquela garota que ele conheceu anos atrás.

— O que você quer dizer com isso, Jas? – Danny indagou.

— O que quero dizer é que pensamos que ela é a Mulher-Maravilha, mas ela não é! – Explicou aos berros. – Ela é como o resto de nós, e a última coisa de que ela precisa é que vocês dois fiquem se digladiando.

— Não tem briga nenhuma. – Olhou para Will. – Só estou dizendo que estou indo atrás da minha amiga.

— E eu estou indo atrás da minha mulher. – Levantou.

— E eu não vou atrás de ninguém. – Pegou a bolsa no sofá. – Acho uma tremenda idiotice vocês dois ficarem aqui bancando os machões. – Desabafou. – Olha... eu te amo e a Stella também te ama, mas ela também ama o Will. – Acabou de vestir o sobretudo. – Boa sorte. – Disse para Will e foi embora.

— Vou atrás da minha amiga.

— E o que você quer assistir? – Stella bebeu mais um gole de cerveja.

— Não ligo... – Respondeu com um sorriso. – Desde que algo exploda.

— Sério? – Franziu as sobrancelhas. – O que acha desse Tschumi? – Apontou para o folheto.

— Você fala francês?

— Mais ou menos.

— E o que isso significa?

— Significa que consigo puxar assunto com alguém legal como você. – Fechou o folheto. – Demoraria uma eternidade até que eu conseguisse fazer isso em Nova York.

— E isso faz muita diferença?

— A cidade de Nova York é a minha próxima parada.

— Mas se formos assistir um filme francês, terei que ficar lendo as letrinhas no canto inferior da tela?

Ela deu de ombros.

— Se quiser saber sobre o que é o filme. – Riu. – Também podemos assistir outra coisa, mas esse aqui tem umas críticas ótimas.

— Alguma coisa explode?

— Só um casamento.

— Acho que devíamos ver outra coisa, quem sabe algo engraçado. – Sugeriu. – Quem sabe um com carros falantes ou pinguins cantores.

Stella deu uma boa risada.

— Adorei a ideia.

Os dois foram ver o filme escolhido por ela e voltaram direto para o bar quando a sessão acabou.

— Tem certeza de que vimos o mesmo filme? – Indagou enquanto franzia as sobrancelhas. – Como é que você pode achar uma coisa dessas?

— Acho que aquela mulher é uma daquelas pessoas que não quer ser feliz.

— Você está dizendo isso só porque está bravo por ter perdido no cara ou coroa.

— Isso não é verdade. – Riu. – E mesmo que fosse... aquela mulher é impossível, não acha? – O sorriso que ela tinha no rosto foi sumindo aos poucos. – Ela não queria ser feliz de jeito nenhum, estava sempre reclamando de alguma coisa.

— Eu acho que ela só estava desiludida.

— Por quê? – Franziu as sobrancelhas. – Ela tinha uma vida maravilhosa e o marido perfeito. – Fechou a cara. – Acho que a Lulu daria qualquer coisa para ter uma vida daquelas e ficar em casa com a filha o dia todo.

Stella passou as mãos no rosto, estava começando a se sentir ofendida.

— Mas eu não sou a Lulu.

— Desculpa...

— Não, o que eu estou tentando dizer é que aquela mulher conseguiu descobrir quem ela era. – Contornou a situação. – Só que era uma coisa muito diferente do esperado.

— Você se sentiu como se estivesse em casa outra vez?

— É melhor irmos atrás dela juntos. – Danny sugeriu em um sussurro insatisfeito.

— Cara, eu já te disse que ela vai nos jogar um contra o outro. – Tentou argumentar. – Ela já fez isso quando ligou primeiro para você. É óbvio que ela vai dar um jeito de fugir do assunto porque sabe que não estamos nos entendendo.

— Então não vamos brigar, vamos ser uma equipe.

Will passou as mãos no rosto.

— É melhor eu ir buscá-la sozinho, é a minha obrigação trazê-la para casa.

— A Stella precisa de mim e eu não vou abandoná-la.

— E a Lily? – Apontou para a filha que dormia no cercadinho. – Vai ser melhor para ela se os pais dela resolverem isso juntos.

O celular de Danny tocou, interrompendo mais uma vez a conversa.

— Messer. – Disse. – Tudo bem, obrigado. – Encerrou a ligação.

— Danny... – Tentou manter a calma. – Encontraram a minha mulher?

— Isso.

— Então estou indo atrás dela, com ou sem você. – Foi até ele. – Me diz onde é que ela está, ou irei processar essa delegacia. – Danny respirou fundo. – Estamos do mesmo lado.

— Ela está no hotel Overnight em Redfield. – Colocou a mão no ombro dele. – Vá até lá e a traga para casa em segurança.

— Acho que assistir aquele filme foi como assistir um acidente de trem em câmera lenta. – Os dois bebiam cerveja enquanto conversavam. – Já sabíamos exatamente o que ia acontecer, mas não conseguimos mais parar de olhar.

— Só não entendi porque eles continuavam voltando no tempo.

Stella deu de ombros.

— Era para mostrar como ela costumava ser feliz.

— É... as coisas mudam... – Ela apoiou o queixo sobre a palma da mão e ficou o observando falar. – O marido mudou e ela não conseguiu acompanhar todas essas mudanças.

— Mas e se fosse ao contrário? E se eles tivessem permanecido iguais?

— Aí o filme teria acabado em cinco minutos.

Os dois riram.

— Acha que ela estava errada por ter ido embora?

— Eu acho que ela estava infeliz porque dependia de outra pessoa para ser feliz.

O sorriso dela se fechou, esse podia muito bem ser o seu problema.

— Por que é que temos que estar sempre agradando alguém? – Sussurrou. – Por que não podemos simplesmente viver o momento e nos arriscar de vez em quando?

— E é isso que você quer? – Sorriu ao olhar para os lábios dela.

— Exatamente. – Sussurrou antes de morder os lábios e se inclinar para dar-lhe um beijo.

Stella era do tipo de mulher que acreditava que tudo acontecia por alguma razão, então de algum modo ela estava destinada a ir para Redfield e também estava destinada a beijar um carpinteiro naquela noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É bomba atrás de tiro aaaa.
Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stella" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.