Stella escrita por Vic


Capítulo 11
Confiança


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Esse capítulo tá um pouquinho tenso.
Boa leitura!

CAPÍTULO REVISADO



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O que Will mais temia aconteceu, não era baby blues que distanciava Stella de Lily. Primeiro vieram a insônia, os pesadelos, o choro e a irritabilidade constante. Depois vieram os ataques de pânico sempre que segurava o bebê ou sempre que falava sobre bebês. Stella sentia-se muito culpada por não ser a mãe que gostaria de ser e que sua filha merecia ter, mas Will carregava um peso muito maior, a culpa por ter demorado a procurar ajuda para a mãe de sua filha. Nas noites em que ouvia a esposa e a filha chorarem, sem que a mulher conseguisse confortá-la, a culpa pesava muito mais em seu peito. Foi em uma dessas noites que ele finalmente aceitou que o problema de sua amada era um pouco mais grave do ele que imaginava.

— Tudo bem, eu a troco. Vá se deitar. – Colocou as mãos sobre as mãos trêmulas da esposa. Lily gritava e se contorcia, incomodada com a fralda molhada de xixi. – O papai está aqui, querida. – Sorriu para a menina e começou a tirar a fralda suja dela. Stella voltou para a cama, estava um pouco mais calma. – Me promete que vai tentar ser boazinha com a mamãe? Ela está muito cansada, mas te ama muito. – Sussurrou, passando pomada em todas as dobrinhas da filha e colocando uma fralda seca nela. – Vamos voltar para o reino dos sonhos. – Pegou a criança nos braços e a balançou enquanto cantava a mesma música de ninar que ouvia da mãe.

Aos poucos Lily foi fechando os seus olhinhos, era ainda mais fofa quando estava dormindo. Will a colocou de volta no berço com muito cuidado para não a acordar e a cobriu, o bebê se mexeu e resmungou, mas continuou de olhos fechados. Ele ficou em pé ao lado do berço por alguns minutos, pensando no que faria a respeito da doença da esposa. Voltou para a cama assim que percebeu que Stella também já havia dormido, a aconchegou num abraço e beijou-lhe a testa, pensando numa maneira de iniciar aquela conversa sem que ela se sentisse humilhada.

A conversa no dia seguinte não ocorreu como Will esperava, absolutamente tudo tinha dado errado. Stella entendeu tudo errado, achava que ele estava a acusando de ser uma péssima mãe por conta do episódio da nevasca, e que queria a controlar de alguma forma. O homem foi trabalhar contrariado, não queria brigar com a mulher e depois sair deixando-a com a responsabilidade de cuidar da filha deles.

— Está tudo bem por aqui, temos mais dois casos para agora. – Disse para a esposa, que estava do outro lado da linha. Ainda pensava na briga que tiveram naquela manhã, Stella se recusava a enxergar o óbvio. Will sugeriu que contratassem uma babá para ajudá-la, mas ela encarou isso como se ele estivesse dizendo que ela era uma péssima mãe.

— Já que é tão bom assim, acho que não precisa de mim. – Stella estava um pouco chateada, preferia estar no trabalho do que em casa sozinha com o bebê.

— Só vou analisar mais essas duas cenas do crime, fazer alguns relatórios e estarei em casa em breve. – Disse ao notar o desânimo em sua voz. Não queria deixá-la muito tempo sozinha com Lily, elas eram suas prioridades no momento.

— Não tenha pressa. – Houve um silêncio, nenhum dos dois sabia o que dizer.

— Como está a Lily? – Tentou não deixar transparecer que estava checando-as, sabia que Stella odiava quando ele fazia isso.

— Ah... está ótima. Depois te passo o relatório completo... estou sendo uma mãe responsável. – O rancor em sua voz revelava que ela sabia quais eram as suas intenções com aquela ligação.

— Stella...

— Não se preocupe. Lily e eu teremos um dia ótimo, vamos passar bons momentos juntas. Não era isso que você queria?

— Sim, acho que será bom para vocês duas. – Suspirou.

— Então vou me certificar de seguir todas as suas ordens, doutor. – Alfinetou, antes de encerrar a ligação.

— Lily, vamos nos divertir muito hoje. – Começou a arrumar as coisas da filha em uma bolsa. Colocou duas mamadeiras cheias, cinco fraldas e outras coisas que poderiam precisar. – Estou muito animada para almoçar com você. – Foi até a menina, que estava dentro do carrinho. – Passear no parque, talvez possamos ir até aquela loja de bebê que a Lindsay me falou. – Sorriu, dando um longo suspiro em seguida. – Eu te amo muito, querida. – Deu outro longo suspiro. – Vamos superar isso, tudo bem? Você e eu. Prometo. – Lily resmungou, chutando o ar.

Duas batidas na porta interromperam o seu monólogo. A mulher levantou-se e foi abrir a porta. Dante sorriu para ela e disse:

— Oi.

— Oi. – Sorriu.

— Estava com um tempinho livre, então pensei em dar uma passadinha para dar uma olhadinha na menina mais bonita da cidade. – Entrou meio desconfiado.

— Ela está bem ali. – Sorriu e apontou para a menina no carrinho.

— É, ela é a mais bonita mesmo. – Brincou, aproximando-se dela. – Oi, garotinha. – A menina resmungou, sorrindo para o tio. – Ela está sorrindo para mim. Está reconhecendo o tio Dante, não está? – Acariciou a bochecha dela, e em seguida voltou a sua atenção para a mãe dela.

— Ficaria muito feliz em oferecer alguma coisa, mas estamos de saída. – Stella notou o desconforto do amigo.

— Tudo bem, não queria atrapalhar. O Will disse que eu podia passar para fazer uma visitinha. – Algo em seu tom de voz o delatou.

Ela mudou sua postura quase que de imediato.

— Ele disse? – Cruzou os braços. – Ele te pediu para me vigiar?

— Não, não. – Negou. – Eu só...

— Bom... acho que tem um papel e uma caneta por aqui em algum lugar para você fazer algumas anotações. – Seu tom de voz estava carregado de sarcasmo. – A Lily está bem, a Stella está sob controle.

Dante estava envergonhado.

— Estava no meu intervalo... e pensei em passar por aqui para dar um oi.

Ela respirou fundo.

— Desculpa. – Fechou os olhos. – Exagerei.

— Não está sendo você mesma...

— Estou muito sensível hoje.

— Tudo bem, já entendi.

— Entendeu o quê?

— Esse mau humor é típico em mulheres com depressão pós-parto.

Ela o encarou, não estava nem um pouco a fim de ter aquela conversa de novo.

— Como assim? – Estava começando a ficar brava. – Do que está falando?

— Só estou tentando te ajudar...

— Não, não está. Você está basicamente me atacando dizendo que simplesmente decidiu que eu tenho depressão pós-parto. Deve ter combinado isso com o Will.

— Dê uma pesquisada. – Stella virou as costas para ele. – Faça uma pesquisa e veja quais são os sintomas...

— Não preciso, porque não há nada de errado comigo. – Voltou-se para a bolsa e continuou arrumando as coisas da filha.

— O Will está preocupado com você. Ele disse que está em negação. – Aproximou-se com cautela.

— Ótimo. Isso é ótimo. Nós brigamos e então ele decidiu contar para todo mundo...

— Você sabe que não é isso.

Stella virou para ele.

— Tem sempre dois lados em uma história, cara. Você não ouviu o meu lado, porque sou eu quem está presa em casa enquanto o Will está no laboratório.

— O Will te ama e está preocupado com você. – Tentou argumentar.

— Tenho certeza de que as coisas estão muito difíceis para ele. – Ironizou.

— Sei que está em negação, mas deveria ouvi-lo. – Argumentou. – Você fica inventando uma desculpa atrás da outra.

— Vai embora. – Virou as costas para ele.

— Depressão pós-parto é uma doença muito grave...

— Você realmente deveria ir embora antes que eu diga algo de que me arrependa. – Aumentou o tom de voz, um claro sinal de alerta.

— Sei que se sente encurralada, é o que acontece com pessoas que estão em situações das quais não conseguem encontrar uma saída. – Ela riu de nervoso. – Estou tentando te ajudar, Stella.

Stella o xingou em grego, ele sabia que era um xingamento pela expressão em seu rosto.

— Não tem o direito de se meter na minha vida. – Foi até a porta e a abriu. – Dê um fora da minha casa. – Apontou para a saída. Dante deu uma última olhada para a sobrinha e saiu meio a contragosto.

— Ei, James. – Cumprimentou o velho conhecido, deixando o carrinho da filha parado bem ao lado de uma das mesas. – Posso pegar um daqueles mini muffins e um pouco de café?

— Claro, pegue quantos quiser. – Sorriu. – Espero que esteja tendo um dia maravilhoso com esse bebê lindo, Stella. – Stella sorriu. – Nós amamos ver bebês por aqui, e esse é um lindo bebê.

Ela pegou um dos muffins e deu uma mordida, pegando outros dois e levando para a mesa onde Lily a esperava. Antes que pudesse se sentar, Jas entrou roubando toda a sua atenção.

— Oi, Lily. – Jas cumprimentou a menina com um sorriso. – James, você pode pegar o meu lanche?

— Estava prestes a encaixotá-lo.

Stella fez uma careta.

— Tudo bem, obrigada.

— Oi, meninas. – Foi até elas. – Estão curtindo o dia juntas? – Olhava mais para a menina do que para a mãe dela.

— Sim, pensei em ir ao parque hoje.

— Ao parque? – Repetiu, agachando-se na frente do carrinho. – Oi, florzinha. Você vai ao parque? – Tirou o cinto de segurança da menina e a pegou nos braços. – Olha para você, está tão grande. – Lily colocou as mãos na boca. – Está comendo suas mãos? – Stella sorriu de um jeito estranho, ver aquela cena causava uma sensação estranha em seu interior. – Stella, ela é tão linda. Sabia que tenho uma teoria de que podemos dizer exatamente como será a personalidade de uma criança só de segurá-la no colo? – Sentou na cadeira com a menina. – Mesmo que ainda sejam muito jovens.

— Você acha? – Também se sentou.

— Sim. – Assentiu. – Fiz isso com a Luz, ela era uma menina feliz e cheia de energia desde o dia em que nasceu. – Colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. – Ela é muito bem humorada.

— Menos quando chora.

— Uau, mas está melhorando, não está?

— Se eu te fizer uma pergunta... – Mudou de assunto. – Promete que vai ser sincera comigo?

— Claro.

— Desde que me mudei estive muito preocupada em me sentir em casa, você tem sido muito boa com a Lily e quero que saiba que sou muito grata por isso, mesmo que às vezes não pareça...

— Somos vizinhas. – Arrumou a menina em seus braços. – E amigas.

— O que eu preciso saber é se o Will pediu para você passar um tempo comigo e com a Lily? – Fez a pergunta de uma vez. – Porque ele acha que tenho depressão pós-parto.

— O Will nunca me pediu nada.

— Jura?

— Eu juro. Eu sempre fui como sua amiga. – Franziu as sobrancelhas. – Sei que está muito estressada com todas essas mudanças, mas talvez só precise de uma boa dose de vinho para relaxar. – Riu. – Eu sei que o Will gosta muito de você e acho que ele te ama muito.

Stella sorriu.

— Também o amo, só que ultimamente sinto que ele está observando cada movimento meu, conferindo se estou à altura. – Jas abraçou a menina e deu-lhe alguns tapinhas nas costas.

— À altura de quê?

— Da perfeição. – Suspirou. – Acho que todo mundo espera que eu seja perfeita.

— Acho que ele só está emocionado por ser pai, e você tem tudo o que sempre quis. – Ergueu a menina em seus braços, mostrando-a para a mãe. – Um bebê saudável e um marido maravilhoso que é um pai muito dedicado.

— Não quero parecer ingrata, só... – Gesticulou com as mãos em sinal de tédio. – Isso me dá tédio... ser uma mãe...

— Uau, algumas mulheres perdem um pouco da própria identidade em meio as trocas de fraldas e as mamadas noturnas, mas isso melhora.

— Quando? – Sorriu.

— Você quer mesmo voltar ao trabalho, não é? – A licença maternidade estava fazendo-a subir pelas paredes.

— Mal posso esperar para voltar a trabalhar. Por um lado, é porque amo o que faço e por outro é porque foi lá que Will e eu nos conectamos, sabe? Tivemos nossos altos e baixos, mas o laboratório sempre foi o lugar onde conseguimos nos encontrar.

— E você é uma detetive brilhante.

— Ele sempre me consultava nos casos mais difíceis. – Mudou de assunto. – Respeitava a minha opinião, não é que não respeite mais. Mas hoje ele veio com essa conversa estranha.

— Talvez vocês só precisem de um pouco mais de tempo para se acostumarem.

— É mais fácil falar do que fazer. – Suspirou.

— Jas, aqui estão as coisas que você pediu. – James colocou uma caixa enorme em cima do balcão. – Espero que esteja tudo aqui. – Deu uma batidinha na caixa.

— Ótimo. Obrigada, James. – Sorriu para a amiga. – Segure-a. – Levantou-se para entregar o bebê para Stella.

— Coloque-a no carrinho e eu pego a caixa para você. – Stella saiu para pegar a caixa e Jas colocou a menina dentro do carrinho.

— Voltamos já, querida. – Foi ao encontro da amiga. – Obrigada, pedi para todo mundo. – Segurou o outro lado da caixa. – Vai dar tudo certo. Me ligue sempre que precisar, sabe que fico feliz em ter uma desculpa para ver aquela coisinha linda.

Stella sorriu e as duas foram em direção à porta.

— Ei, deixa que eu abro para você. – Segurou a porta para a amiga passar com a caixa.

— Obrigada.

— Tem certeza de que não precisa de ajuda? – Ela ainda a observava da porta do restaurante.

— Tudo bem, eu dou conta! – Gritou em resposta.

Estava entrando no restaurante quando seu celular tocou.

— Taylor. – Disse ao atender. – O quê? – Franziu as sobrancelhas. – Tudo bem e tem alguém para ajudar? Quantas crianças? – Pegou o sobretudo que tinha pendurado na entrada e vestiu. – Como as crianças estão? Algum suspeito? – Saiu esquecendo-se de que estava de licença maternidade, logo aquilo não era um problema para ela resolver. Mas esqueceu-se do mais importante, a filha que ainda estava a esperando dentro do restaurante.

Lily ainda estava com a mão na boca, alheia ao fato de ter sido esquecida em um cantinho do restaurante. Esse era um erro que sua mãe carregaria em sua consciência por muito tempo. Se Will soubesse perderia totalmente a confiança que ainda tinha nela.


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Notas finais do capítulo

Eita! Se as coisas já tavam difíceis, agora ficaram ainda mais...
Até o próximo!



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