Stella escrita por Vic


Capítulo 10
Lockdown - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! A parte dois do incêndio. Espero que gostem.
Boa leitura!

CAPÍTULO REVISADO



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— Que tal ouvir a história de quando a mamãe e o papai se conheceram? – Lily segurava o dedo da mãe, como se a qualquer momento fosse ser tirada de seus braços novamente. – É uma história muito boa. Mas terei que te contar de novo quando estiver mais velha, então só vou contar agora porque... você está com sono. – Sussurrou a última parte próximo ao rosto da filha e sorriu carinhosamente. – E você é muito jovem para entendê-la. – Suspirou, balançando o dedo e a mãozinha da filha. – O papai estava ocupado com um caso quando o conheci... nós não gostamos muito um do outro no início, mas fiquei muito atraída por ele ao mesmo tempo, sei que parece loucura, mas irá entender o que quero dizer quando for mais velha. – Sorriu, percebendo que a menina parecia entender o que ela dizia. – O papai era o que chamamos de mulherengo, mas quando o conheci de verdade... descobri que seu pai era o homem mais maravilhoso, cuidadoso e paciente que já conheci. E a melhor parte... é que ele se apaixonou por você. Você é a garotinha do papai. – Lily dormia, alheia aos sentimentos da mãe e a incapacidade dela de sentir o mesmo que Will. – Seu pai te ama muito e eu também te amo muito. Vai ficar tudo bem. – A menina resmungou, mas continuou de olhos fechados.

— Como está a paciente? – O médico perguntou, caso ela não tivesse apresentado uma melhora significativa no quadro, era hora de Stella decidir o que iria ser feito.

— Acho que ela está melhor. – A menina não estava mais com tanta dificuldade para respirar, talvez não fosse necessário aumentar a dosagem do medicamento.

— Se ela não tiver melhorado, você vai ter que fazer uma escolha agora. – Levantou os bracinhos da menina para checar seus pulmões.

Os ânimos no laboratório ainda estavam bastante exaltados, ninguém podia entrar, mas Lindsay estava de prontidão na porta esperando que alguém conhecido passasse para que pudesse mandar o recado de Stella para Will.

— Ei, como estão a Stella e o bebê? – Dante perguntou ao encontrar a amiga na porta.

— Os médicos estão cuidando da Lily, estão decidindo o que fazer. – Atropelou as palavras por estar falando rápido demais. – A Stella não pode voltar aqui, mas queria que alguém falasse com o Will. – Deu pulinhos por conta da ansiedade.

— Ele está cuidando da evacuação do laboratório, mas perdemos a comunicação há algum tempo.

— Oh, espero que estejam todos bem. A Stella quer que ele a encontre no Mount Sinai, me pediu para vir buscá-lo. – Pelo semblante da amiga, ele soube que era urgente.

— Vou tentar entrar e digo que você está aqui. – Dante tinha mais chances de conseguir entrar, era um policial e poderia ajudar os outros policiais com a evacuação.

As notícias não eram tão boas para Lindsay, mas Stella estava recebendo ótimas notícias no Hospital Mount Sinai naquele mesmo momento.

— Isso é bom. Os sinais vitais dela melhoraram consideravelmente. – Colocou o estetoscópio de volta no pescoço. – Parece que ela trabalhou duro.

Stella olhou para a filha com orgulho.

— Meu Deus. – Deu uma risada de alívio.

— Isso é impressionante. Não nos ensinam isso na faculdade de medicina. – O médico também sorriu.

— O que quer dizer? – Franziu as sobrancelhas.

— O poder do amor de uma mãe. – Disse antes de sair do quarto.

— Isso é bom, não é? Estar quente e confortável. – Stella deitou a menina em cima do travesseiro. – É difícil acreditar que a apenas há algumas horas estávamos presas em uma nevasca. – Suspirou. – Mas essa é uma das muitas coisas que irá aprender sobre a vida, minha garotinha. As coisas podem mudar de uma hora para a outra, mas vamos nos concentrar no que é bom, porque... acho que a lição que podemos tirar disso tudo é que quando parece que nada vai dar certo, temos apenas que continuar lutando. – O rostinho da menina estava sereno, o carinho da mãe lhe deu tranquilidade para dormir. – Hoje passamos por um grande susto. Você ficou doente, nosso carro quebrou, nós nos perdemos e o seu pai ficou preso em um incêndio. – Ainda não conseguia parar de pensar no marido e nos amigos presos lá dentro. – Mas está tudo bem... estamos quentinhas e confortáveis juntas, tudo bem. – Abraçou o bebê, tomando cuidado para não a despertar de seu sono.

— Ei. – Danny entrou no quarto e tirou o sobretudo coberto de neve. – Tenho boas notícias. O Will já saiu do prédio. – Apesar da notícia ser muito boa, a expressão dele não era das melhores, estava escondendo alguma coisa.

— Onde ele está? – Stella estranhou que o marido não fosse direto para perto delas.

— O FBI o levou para um interrogatório.

Stella respirou fundo, processando a informação.

— E por que querem interrogá-lo?

— Stella, ele era o responsável pelo laboratório naquele momento, o FBI precisa interrogá-lo. – Explicou, vendo a expressão da amiga se suavizar. – Assim que terminarem, vou pedir para alguém buscá-lo imediatamente.

— Isso é ótimo. – Segurou a mãozinha da filha.

— Como está essa princesinha? – Sorriu ao perceber que o bebê estava segurando o dedo da mãe.

— Ela está muito melhor. A febre baixou, seus pulmões estão ficando limpos. – Sorriu para a menina. – A Lily vai ficar bem. – Fez a mesma vozinha que Lindsay fazia quando falava com a criança. – Sei que vai, sei que vai.

— E você? Passou por um verdadeiro inferno hoje.

— Eu não sei. Não sei o que estava pensando quando saí do carro no meio de uma nevasca com a Lily. – Suspirou, aquela com certeza tinha sido uma decisão péssima.

— Acho que estava pensando que caminhar era melhor do que morrer congelada em um carro velho e quebrado. – Ele tinha razão.

— Ainda bem que você e a Lindsay apareceram. Vocês salvaram a minha vida hoje, obrigada. – Olhou para a menina, pensando que se seus padrinhos não tivessem as resgatado... provavelmente ela não estivesse mais com ela em seus braços.

— Não precisa agradecer, sei que faria o mesmo por nós ou pela Luz. – Houve um segundo de silêncio. – Fez a escolha certa... como sempre faz. Não seja tão dura consigo mesma, ok? – Sorriu para a amiga. – Você e sua linda filhinha estão bem, é isso que importa.

Stella sorriu, adorava o jeito que Danny a compreendia.

— Estava dizendo exatamente a mesma coisa para a Lily. – Fez uma pinça com o polegar e com o indicador e apertou as bochechas da filha. – Há muitos heróis aqui hoje, querida. Médicos, bombeiros, policiais... pessoas ajudando outras pessoas. Só não sei se foi certo deixá-la com vocês para tentar ajudar na evacuação. Provavelmente deveria ter trazido o meu bebê para o hospital, mas... na hora pareceu egoísmo. O laboratório estava cheio de pessoas precisando de ajuda. O Will estava preso lá dentro. – Pensou no que sentiu ao saber que o marido estava preso em um incêndio.

— Bem-vinda às maravilhas da paternidade, estamos sempre fazendo malabarismos entre nossa vida profissional e o nosso bebê. Sabemos que é nosso dever ser um policial ou um detetive e cuidar do nosso bebê. – Danny se lembrava de como era quando sua filha era recém-nascida.

— Não é segredo para ninguém que tenho demorado a me acostumar com a ideia de ser a mãe de alguém. – Colocou a menina de volta no berço. – Mas hoje vi como é difícil... quando minha filhinha mais precisou de mim... fiz o que achei ser certo e tentei ajudá-la e... agora ela está bem. – Acariciou o rostinho da filha, velando seu sono.

— Já contei tudo o que eu sei. – Will estava impaciente, queria sair logo dali para ficar com a família.

— Só estamos tentando esclarecer os fatos. – O policial disse com serenidade.

— Vou explicar bem devagar. – Fez uma pausa. – O ácido sulfúrico é uma substância que quando misturada com água de forma errada causa explosões, o certo é misturar o ácido na água. Um dos técnicos fez exatamente o contrário, provocando uma explosão que causou outras explosões por conta dos materiais inflamáveis presentes na sala. Quatro pessoas morreram, incluindo ele. Muitas pessoas sofreram queimaduras graves, vi amigos gritarem de dor por conta das queimaduras na pele. Já sentiu o cheiro de carne humana queimada? É horrível. E para piorar, quando os sprinklers começaram a funcionar e a água entrou em contato com o restante do ácido sulfúrico, mais explosões começaram. Não consegui ajudar todos, fiz o que pude e o que não pude e mesmo assim metade do laboratório pegou fogo. – Ele estava quase gritando, não era nada agradável ser visto como um potencial causador de toda aquela tragédia. – Agora já posso ir para casa? Quero ficar com a minha esposa e com a minha filha que está doente.

— O médico está muito feliz com a sua recuperação, Lily. – Sorriu para a menina dentro do berço. – Mas ninguém está mais feliz do que eu. Eu te amo muito, minha menininha linda. – Lily esticou os braços e sorriu para a mãe, como se estivesse entendendo o que ela estava lhe dizendo.

— Oi. – Dante abriu a porta do quarto. – Estou interrompendo alguma coisa?

— Não, entre.

— Ouvi dizer que ela estava doente, mas pelo sorrisão que ela está me dando, diria que ela está melhor. – Sorriu, se aproximando mais da menina.

— Ela está melhorando. – Disse com orgulho. – Logo estará totalmente recuperada. Ela é uma menininha muito forte. – Apertou a barriguinha da criança, que a recompensou com outro sorriso.

— Tal mãe, tal filha. – Sorriu. – O que posso fazer para te ajudar?

— Oh, obrigada. – Sorriu. – Estamos esperando o Will... é que o FBI está o interrogando, ou algo do tipo... – Franziu a testa. – E como você está?

— Estou bem. – Suspirou. – Estou processando tudo que aconteceu...

— Sim. – Também suspirou. – É meio difícil acreditar que metade do laboratório pegou fogo...

— É verdade... – Comprimiu os lábios. – Mas não é só isso...

— O que aconteceu? – Estava curiosa.

— Nada. Melhor falar disso depois... estou feliz por você. – Se virou para sair, mas ela pulou da cama e o interrompeu.

— Ei, tem alguma coisa acontecendo? – Cruzou os braços.

— Não... não é nada de mais. – Ela fez uma careta, ele estava muito estranho. — É que nesse incêndio perdi uma amiga. Ela se chamava Rebecca Walsh. – Abaixou a cabeça.

Stella não disse uma palavra, apenas deu-lhe um abraço. Entendia muito bem o sentimento de perder alguém que se ama sem poder dizer um último adeus, palavras não eram necessárias naquele momento.

— Já disse que isso não foi proposital! Entendo que está chateado por isso ter acontecido durante o seu turno, mas é como eu disse, não tenho outra resposta. Preciso voltar para minha esposa e para minha filha. – Os ânimos na sala de interrogatório já estavam bem exaltados a essa altura.

— Agente Morrow, liguei para o Mount Sinai para fazer a checagem. Lily Katsaros-Taylor está estável e sua mãe permanece ao seu lado.

Will respirou aliviado.

— Obrigado. – Abaixou a cabeça.

— Está livre, detetive Taylor. – O agente Morrow deu duas batidinhas na mesa.

Ele se levantou.

— É sério?

— Sim.

Ele saiu da sala quase correndo. Sua família o esperava do lado de fora daquele pesadelo.

— A Lily está pronta para receber alta. – O médico disse enquanto lavava as mãos.

— Tem certeza? Ela está muito doente. – Stella a olhava com incerteza.

— Em circunstâncias normais poderíamos mantê-la por uma noite, mas estamos superlotados com pacientes vindos do Mercy.

— Então acha que é melhor ela ficar uma noite? – Olhou para a menina.

— Senhora Taylor, não a deixaria ir se não tivesse certeza de que é seguro. Mas é uma decisão sua, vou dar-lhe alguns minutos para pensar, tudo bem?

— Tudo bem. – O médico saiu do quarto. – Oi. – Falou com a filha. – Não tenho certeza de que está pronta para ir para casa. – O bebê balbuciou e esticou a mãozinha para tocar o rosto da mãe. – Mas parece você parece estar bem melhor, tomei muitas decisões erradas nas últimas semanas, é por isso tenho que pensar muito bem. O que acha?

Danny abriu a porta.

— Ei, como estão?

— Lily, o seu padrinho está aqui. – Stella levantou a menina para que ela pudesse olhar para o padrinho.

— O padrinho está aqui. – Repetiu e fez cócegas na barriga da afilhada.

— Tenho ótimas notícias. – Sorriu.

— É? – Continuou brincando com a menina.

— A Lily teve alta do hospital.

— Eba! Ela está melhor. – Esticou os braços da menina como se ela estivesse comemorando a notícia.

— Ela está pronta para voltar para casa. – Sorriu. – O que acha? – A ajeitou no colo.

— Acho que é melhor estar em casa do que em um hospital. – Brincou.

— Isso é verdade. – Segurou a cabeça do bebê. – O que acha, Lily? Quer ir para casa? – A colocou de volta no berço para começar a arrumar as coisas.

— O que acha, querida? Está pronta para ir para casa? – Danny puxou um de seus pezinhos. – Ela está chutando, quer dizer que sim.

— Não tem como você saber se é sim ou não. – Vestiu o sobretudo e colocou o cachecol no pescoço.

— Temos uma ligação especial, ela vai te dizer quando souber falar. – Fez algumas caretas para a menina.

— Com certeza.

Stella pegou a menina de dentro do berço e a colocou no bebê conforto que Danny trouxe, estavam prontas para voltar para o conforto de sua casa. Danny encarregou-se de dizer ao médico a decisão que Stella havia tomado. Quando chegaram em casa, ele ainda estava cantando uma das musiquinhas de ninar que cantava para Luz quando ela era bebê.

— Lar doce lar. – Deu espaço para ela passar com a menina.

— Estranho, saímos há algumas horas, mas parece que já fazem anos. – Respirou fundo, sentindo o aconchego de sua casa. – É como se eu fosse outra pessoa.

— Não sei se fico orgulhoso de você, ou se te estrangulo por tentar ajudar na evacuação sendo que podia estar com hipotermia.

— Tinha muitas pessoas que precisavam da minha ajuda naquele laboratório. – Abraçou a filha.

— Mas você foi examinada por um médico?

Ela se sentou.

— Não tive tempo.

— Você sabe que seu sistema imunológico pode ter sido comprometido por conta do frio.

— Pareço doente para você?

— Não, mas você tem um bebezinho. Tem que começar a se cuidar mais.

— Eu sei e eu te amo por se preocupar tanto comigo, mas eu estou bem. – Sorriu e balançou a filha. – Estou mais do que bem. – Respirou fundo. – Me sinto eu mesma outra vez.

Will ainda estava ofegante quando abriu a porta do quarto. O lugar estava vazio, o berço onde Lily havia ficado ainda estava lá. Ele pegou o paninho e levou ao nariz, sentindo o cheirinho do seu bebê.

— Ei. – Dante disse. – A Stella e a Lily estão em casa, o Danny disse que o médico deu alta para ela.

Ele respirou aliviado, sua família estava bem.

— Obrigado, Dante. Pensei que elas fossem ficar aqui até amanhã. – Colocou o pano de volta no berço.

— A Stella parecia estar muito cansada, mas estava feliz e mal pode esperar para te ver. – Sorriu.

— Estou indo para casa.

— Will... – Chamou, fazendo-o se virar para olhá-lo. – Só quero que saiba que o que você enfrentou hoje foi muito difícil, mas você se saiu muito bem.

— Todos ajudaram. 

— Sim, mas você salvou muitas vidas hoje.

Will desviou o olhar, o crédito não era só seu.

— Acho que não mereço parabéns, Dante. – Desabafou. – Você sabe que estou feliz por ter ajudado... mas eu não estava com a minha família quando elas mais precisaram de mim. – Foi embora.

— Oi, aqui é Stella Taylor, o FBI está interrogando o meu marido há muito tempo, sabe o que...

Foi interrompida por Will que acabava de chegar.

— Stella.

Ela largou o telefone.

— Will. – Sorriu e levantou-se com a filha, indo em direção ao marido. – Oi. – Disse antes de ser beijada por ele.

— Você está bem? – Ele segurava o rosto dela com as duas mãos.

— Sim, esperei por você no Mount Sinai. – Sorriu.

— Eu sei.

Lily chorou.

— Segure-a. – Ofereceu a menina para o pai.

— Ei, querida. – Aninhou a criança em seus braços. – Como está? – Deu alguns beijos no topo da cabeça do bebê, como fazia sempre que passavam muito tempo longe um do outro.

— Feliz por ver o papai. – Stella respondeu com um sorriso.

— Pensei em você o tempo todo, em vocês duas. – Sentou-se no sofá com a menina. – Estou tão feliz em saber que você está se sentindo melhor. Você é tão forte, igual a sua mãe. – Stella deu uma risada e se sentou ao lado deles. – Estou feliz por estarmos seguros e saudáveis, meu amor. – Deu outro beijo na cabeça da filha. – Que bom que estamos juntos. – Beijou a esposa. – Senti tanto a sua falta. – Deu vários beijinhos no rosto da filha. – O dia foi tão ruim que nem consigo acreditar que estamos mesmo aqui.

Stella deitou a cabeça no ombro do marido, unindo seu corpo ao dele.

— Eu sei. – Suspirou, relaxando. – Juro que se você se mexer não vai acordar preso em um incêndio no laboratório.

— Mas posso estar alucinando... é uma possibilidade. – Deu um beijo na testa da esposa.

— É... o cansaço pode causar alucinações. – Brincou. – Mas tenho quase certeza de que estamos mesmo em casa.

— Só tem um jeito de descobrir.

Ela levantou a cabeça para olhá-lo.

— Hum.

— Eu te amo. – Se beijaram.

Lily estava dormindo há alguns minutos quando seu pai a colocou no cercadinho.

— Ela está respirando muito bem. – Os dois observavam a serenidade no rosto da criança.

— A Lindsay fez um ótimo trabalho hoje. – Suspirou. – Sei que acha que foi horrível mandá-la para o hospital com a Lindsay, mas... queria ficar para ajudar com a evacuação. – Se justificou, mas ao contrário do que esperava não recebeu nenhum olhar de reprovação.

— Ela está segura e você também, isso é o que importa. – Deu-lhe um beijo no topo da cabeça.

— Você foi brilhante hoje. – Se distanciou dos dois, indo sentar no sofá.

— Só estava fazendo o meu trabalho. – Foi se sentar ao lado da esposa.

— Ficou em um laboratório em chamas até que todos estivessem seguros. – Apoiou a cabeça na mão esquerda, o olhando com orgulho.

— Nem todos, ainda estão contabilizando...

— Você fez o que pôde. – Segurou sua mão.

— Deixei vocês sozinhas. – Lamentou. – Pode me dizer o que foi que aconteceu?

Stella se encolheu, ia ser difícil falar sobre isso com ele.

— Enquanto você estava sendo um herói, eu tinha uma pessoinha pequenininha para cuidar. – Olhou para o cercadinho onde sua filha dormia tranquilamente. – Tudo bem. – Se virou para o marido, suas mãos ainda estavam entrelaçadas. – Lembra de como ficava irritado toda vez que eu queria estar certa sobre tudo?

— Oh, isso é o que mais me cativa em você. – Sorriu.

— Bem, isso não vai mais acontecer. – Comprimiu os lábios. – Porque hoje estourei a cota de escolhas erradas... e é um milagre que Lily ainda esteja viva. – Suspirou.

— Devia ter voltado para casa mais cedo. – Abaixou a cabeça.

— Como assim? – Fez uma careta para ele. – Você veio para casa mais cedo quase todos os dias na semana passada.

— Mas jurei que nunca colocaria o trabalho à frente da minha família, porque era isso que meu pai costumava fazer. – Respirou fundo.

— Não foi sua culpa, você estava preso no laboratório. – Não havia nada que ele pudesse fazer diante daquilo.

— Era isso que o meu pai dizia...

— Houve um incêndio. Você estava preso no laboratório...

— Devia estar com a minha família quando vocês mais precisaram de mim. – Stella fez uma carícia em seu braço. – O que aconteceu?

— Eu... eu não sei nem por onde começar. – Coçou a nuca. – Percebi que ela estava com febre e decidi levá-la ao Mercy... foi a coisa mais idiota que eu poderia ter feito.

— Queria levá-la ao hospital, o que tem de errado nisso? – Segurou sua mão livre.

— Estava caindo uma nevasca e diziam no rádio para todos ficarem fora das estradas...

— Você só estava tentando ajudar a nossa filha.

— Não, devia ter ficado em casa, devia ter esperado o remédio fazer efeito...

— Você fez o melhor que pôde. – Tinha certeza de que ela não sairia com a filha doente no meio de uma nevasca se não fosse urgente.

— Diga isso para a Lily, foi ela quem acabou em uma árvore.

Will a olhou surpreso.

— Me diga o que aconteceu, como ela foi parar em uma árvore?

— Me perdi, o que já foi estúpido por si só. E o carro quebrou.

— Mas ele era novinho.

— Acho que ele não esperava que eu fosse para o meio de uma nevasca.

— Sinto muito.

— Pensei que estava indo para o centro da cidade, mas na verdade estava indo na direção oposta...

— Você ficou com medo?

— Não, achei muito engraçado quando o carro quebrou. – Lembrou-se do medo que sentiu ao constatar que estava sem saída. – A Lily começou a chorar. – Respirou fundo. – Meu celular estava quebrado e a tempestade não estava parando, pensei que fôssemos morrer congeladas, então decidi sair e caminhar um pouco. Pensei que estivéssemos em uma vizinhança, não no meio da floresta, pensei que encontraríamos uma casa, um lugar para se aquecer e depois enfrentaríamos a tempestade juntas.

— Isso faz sentido.

— Não faz nenhum sentido. – Discordou. – Saí do abrigo no meio de uma nevasca com um bebê que estava com febre. – Fez uma careta.

— Sinto muito. – Era a única coisa que conseguia dizer. – Eu não estava lá... me desculpe por ter deixado você passar por tudo isso sozinha. – Puxou a esposa para que ela se aconchegasse em seu colo novamente.

— Temos que nos levantar. – Os lábios dele passeavam pelo topo de sua cabeça.

Ela riu.

— Não, eu não quero sair do sofá.

— Não podemos ficar aqui para sempre.

— Para sempre é bom. – Lily chorou, fazendo seu pai se levantar e ir até ela. – Ei, querida. O papai está aqui. – Sussurrou. – E a mamãe também. – A tirou do cercadinho. – Oi. – Deu-lhe um beijo na cabeça e voltou para o sofá com ela nos braços. – Quer dar a mamadeira para ela?

— Você pode fazer isso. É melhor do que eu. – Pegou a mamadeira que estava em cima da mesa e entregou para ele. Will notou o ressentimento em sua voz, mas achou melhor não perguntar o motivo.


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Notas finais do capítulo

Um minuto de paz pelo menos...
Até o próximo!



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