Pianista Diferente escrita por Metal_Will


Capítulo 7
Revanche e Superação


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao final. Falei que seria uma fic curta, não falei? Boa leitura! :)



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E enfim chegou o dia. A grande final do concurso de música, valendo uma quantia razoável de dinheiro como prêmio, quantia esta que poderia dar uma bela ajuda para minha vida e as dificuldades financeiras da minha família. Só que eu não estava participando, todas as minhas esperanças estavam nas mãos da minha patroa, a funkeira MC Viridian. Sim, uma funkeira participando de um concurso de música erudita. Seria estranho se não fosse o fato dela também ser uma pianista genial. Viridian conquistou boas notas nas duas primeiras etapas e agora estava na final, concorrendo com mais três concorrentes, uma delas também uma pianista espetacular chamada Pandora. Bom, acho que resumi bem a história até agora, enquanto estava ali, na entrada do teatro que sediou toda a competição. Estava preocupado e ansioso com Viridian, mas, ao contrário da última etapa, dessa vez ela chegou cedo.

—Ricardo - disse ela, tirando seus óculos escuros e boné que usou de disfarce para entrar no teatro sem ser reconhecida por tantos fãs - Cheguei!

—Ah, graças! - comentei - E então? Está pronta?

—Prontíssima - disse a garota, com um sorriso confiante - Dessa vez, não vai ter erro.

—O que você vai tocar? - perguntei - Quer dizer, você ficou incomunicável esse tempo todo só ensaiando. Deve ter preparado algo bom.

—Só espera, querido - disse ela - Na hora certa você vai saber.

—Viridian - disse uma voz conhecida se aproximando. Era Marlene, uma talentosa pianista que fazia parte dos jurados.

—Ah, Marlene Everalda, falando com a gente aqui! - exclamei, impressionado.

—Nossa, sou tão incomum assim? - disse ela, rindo.

—Não, não é isso que eu quis dizer, é que…

—Tudo bem - falou ela, voltando seu olhar para Viridian - Parabéns por ter chegado aqui, Viridian. Ou, devo dizer, a talentosa filha da família Lumini.

—Como assim? - estranhou Viridian.

—Finalmente lembrei de você - explicou Marlene - Uma vez assisti uma apresentação de músicos mirins no interior e lembro de uma garotinha que tocava piano maravilhosamente bem. E o sobrenome dela era Lumini, uma família tradicional da região. Então, era você esse tempo todo.

—Então, você me reconheceu? - perguntou a garota.

—Demorei um pouco para me lembrar - disse a avaliadora - Mas aí pesquisei e vi que era verdade. Olha, não esperava que você fosse para um caminho tão diferente da música clássica.

—Bem, escolhas que a gente faz - justificou Viridian.

—Não precisa se explicar - continuou Marlene - Como falamos, não me importa nem um pouco o que vocês fazem na vida particular. Só que, na minha opinião, a música clássica está perdendo um grande talento.

—Como eu falei, cada um tem suas escolhas - disse Viridian, com um sorriso não muito simpático.

—Seja como for, não espere moleza. Nós não vamos facilitar para você - disse ela - E é bom vir com tudo. A outra pianista também não está para brincadeira.

—Nem me fale - disse Viridian, mudando para uma expressão mais séria.
Depois que Marlene se despediu e eu fui para a plateia, Viridian subiu para se trocar e, mais uma vez, encontrou Pandora. Vamos ver o que elas conversaram.

—Oh, então você teve coragem de voltar? - comentou Pandora - Pelo jeito, você gosta mesmo de ser humilhada.

—Dessa vez vai ser diferente - disse Viridian, com uma expressão bastante séria.

—Ah, vai? - provocou Pandora - Duvido muito. Fiz questão de praticar minha música com o dobro de dedicação. Não tem como eu tirar menos que a nota máxima.

—Veremos - falou ela - Eu, por outro lado, faço questão de ir por último mais uma vez.

—Por mim tanto faz - respondeu Pandora - Tocando antes ou depois de você, a vitória já é minha.

—Cuidado com a arrogância - disse Viridian - Ela pode ser sua pior inimiga.

—Fala isso por experiência própria, né? - riu Pandora - Você que foi arrogante em querer mostrar que sabia tocar Beethoven melhor do que eu e quebrou a cara.

—Sim, isso mesmo - respondeu ela - Admito. E você? Vai admitir sua derrota quando perder?

—Eu não vou perder - foi a última coisa que Pandora disse com uma expressão bastante séria. A tensão entre as duas estava no máximo.

O concurso finalmente começa. Embora os outros participantes tivessem tocado bem, nenhum deles tirou nota máxima com todos os jurados. A quarta participantes era Pandora e a quinta era Viridian. A final, sem dúvida, seria entre essas duas. Enfim, chegou a vez de Pandora pisar no palco.

—Muito bem. Nossa pianista - disse José - O que você tem para nós hoje?

—Uma das músicas mais lindas de todos os tempos - disse Pandora, confiante - Frederic Chopin. Noturno em Mi Bemol maior, Opus 9, número 2.

—Maravilhosa - disse Marlene com os olhos fechados - É uma responsabilidade e tanto reproduzir essa música.

—O maior defeito dessa música é que ela acaba rápido - comentou Rudolph - Espero que nos conceda uma boa experiência, dona Pandora.

—Vejam por vocês mesmos - Pandora se dirigiu ao piano, fez uma pausa e começou a tocar.

A música em questão é uma das obras mais conhecidas e belas de Chopin. É uma música curta, com menos de cinco minutos, mas de uma beleza indescritível. Pandora respirou fundo e começou a tocar. Era uma música lenta e suave, os dedos dela deslizavam docemente pelas teclas do piano a cada nota. Era um som tão agradável que eu praticamente podia me sentir no céu. Ela tocava na velocidade certa, nem tão rápido, nem tão devagar. Cada nota era perfeitamente encaixada na harmonia geral da música, nada estava fora do lugar. Não poderia descrever essa melodia na interpretação de Pandora como menos do que perfeita. Será que os jurados concordavam com isso?

Assim que Pandora terminou de tocar as últimas notas, os aplausos até demoraram um pouco, já que muita gente estava emocionada com a performance. Terminados esses aplausos, Marlene tomou a palavra, sem disfarçar que deixou algumas lágrimas caírem.

—Magnífico - disse Marlene - Não tenho palavras. Só posso dar 10.

Todos aplaudiram.

—Devo concordar - falou Rudolph - Uma das músicas mais lindas de Chopin, interpretada perfeitamente. O modo como você desliza pelas teclas, a suavidade desse final. Parabéns, Pandora. Você merece um 10.

Mais uma vez, os aplausos soaram. Agora era a vez do mais rigoroso, José. Após uma pausa, ele disse.

—Sabe, essa era a música preferida do meu avô - disse ele - Você mexeu com algumas memórias minhas, então não pude evitar de observar a sua interpretação em cada mínimo detalhe.

Pandora estava claramente tensa. Ela sabia que José não era tão fácil de agradar. Será que ele também daria um 10?

—E, não pude encontrar defeito algum - falou ele - Parabéns. Você tirou 10.

Todos aplaudiram. Pandora estava sorridente. Ela tirou a pontuação perfeita. Ninguém poderia derrubá-la agora. Parece que minhas esperanças estavam indo por água abaixo.

“Droga”, pensei, mordendo as unhas de nervoso. “Acho que nem a Viridian consegue ganhar dessa. E chegamos tão longe.”

—Veridiana - gritou o assistente de palco - É a sua vez.

Viridian respirou fundo e foi para o palco. Pandora não perdeu a oportunidade de provocá-la.

—Por que tentar ainda? - disse Pandora, enquanto Viridian passava por ela - Eu tirei a nota perfeita. Não tem como superar isso.

—Será que não tem mesmo? - falou Viridian - Só fica olhando.

Viridian se dirigiu para o palco e cumprimentou os jurados com um sorriso sarcástico.

—Boa tarde a todos - disse ela.

—E você de novo com um vestido curto - reparou José - Pelo menos é mais longo do que o outro?

—Ah, não. Acho que é até mais curto - falou Viridian, não se deixando pilhar.

Todos riram. Era impressionante como ela conseguia deixar o clima mais leve. Se fosse eu lá na frente já estaria me mijando de nervoso.

—Muito bem, senhorita Veridiana - falou Rudolph - O que você tem para nós hoje?

—Seja o que for, não tem como superar a nota perfeita da outra participante - comentou José - Mesmo que você tire 10 de todos nós, teremos um empate.

—Tem algum critério de desempate? - perguntou Viridian.

Os jurados se entreolharam. Seria muito difícil ela tirar três notas 10, mas, por incrível que pareça, havia um critério.

—Vai ser bem difícil, mas se as participantes não concordarem com o empate, o desempate fica a critério dos jurados - explicou Marlene - Nós decidiremos quem é a melhor.

—Por que não decidem esse critério agora? Vai poupar trabalho - disse Viridian.

—Calma aí, querida - disse José - Antes, você precisa tirar 10 em tudo. Está achando que vai ser fácil?

—Não, não vai ser fácil - respondeu Viridian - Mas eu me recuso a sair daqui sem a vitória, então vou propor um jeito de desempatar agora mesmo!

Viridian, que estava com as mãos para trás o tempo todo, revelou algo. Ela carregava um pedaço de pano bem opaco. A garota mostrou o pano para os jurados e continuou.

—Se eu tocar de olhos vendados e tirar a nota perfeita, vocês vão me considerar vencedora?

A plateia foi a loucura.

—Isso é loucura! - retrucou Rudolph - Você devia ter mais respeito por essa competição, menina! Essa é a final de um concurso sério! Não estamos brincando!

—Eu não estou brincando! - rebateu Viridian, em um tom firme e sério - Eu me comprometo a tocar de olhos fechados o tempo todo. Se eu conseguir, vocês me concedem a vitória, não concedem?

—Depende - falou José - Se você for tocar uma música fácil, não vai ser impressionante.

—O que você vai tocar, Viridian? - perguntou Marlene, em tom sério - Ele tem razão. Tocar algo simples de olhos fechados não vai impressionar ninguém aqui.

—Vou tocar…

Ela fez uma pausa e depois continuou.

—Vou tocar a segunda Rapsódia Húngara, de Franz Liszt— disse ela. Todos arregalaram os olhos e a plateia se agitou imensamente.

—Isso…é loucura!- falou Marlene - Você tem noção de que essa é uma das peças mais difíceis de Liszt? E quer tocar de olhos vendados?

—Você mesma disse que não se impressionaria com uma música simples, não é? - respondeu Viridian.

A plateia gritou ainda mais com esse tom desafiador. Eu também não podia acreditar no que estava ouvindo. Era uma aposta muito alta. Se ela errasse uma nota, uma notinha sequer, já perderia a nota perfeita. Qualquer um que já tenha ouvido essa música sabe que não é tarefa fácil tocá-la de olhos abertos, quanto mais de olhos vendados. Por outro lado, se ela conseguisse, superaria a interpretação da Pandora com toda a certeza. E por falar em Pandora, ela não conseguiu deixar de rir diante da ousadia de Viridian.

—Ela enlouqueceu de vez! - comentou Pandora, mais para si mesma do que para quem estivesse ali para ouvir - Quais as chances dessa piriguete vulgar tocar uma das peças mais difíceis da história de olhos vendados e ainda tirar nota perfeita? Vou adorar rir da cara dela depois da humilhação que ela passar.

—Você acha mesmo que consegue? - perguntou José - Nós não vamos ter piedade, fique sabendo disso. Vamos ouvir cada nota e o mínimo erro vai te custar caro. Se você vai apostar alto, tem que estar pronta para isso.

—Estou. Mato o BO no peito - disse ela - Podem vir com tudo.

—Viridian, pode nos dar um segundo, por favor - disse Marlene, pedindo um tempo para conversar com os jurados sobre a proposta dela. A plateia gritava para deixarem ela tocar de olhos vendados, tanto que a comissão teve que pedir silêncio no alto-falante. Após alguns minutos, eles finalmente chegaram em uma conclusão.

—Está bem - disse Marlene - Pode tocar de olhos vendados. Se tirar a nota perfeita, você vence a Pandora.

—Ridículo - falou Pandora em voz baixa para si mesma, ao ouvir isso dos bastidores - Ela nunca vai conseguir. Um erro e ela já era. Pode tentar, vou adorar ver seu fracasso, funkeirinha de merda!

—Então, espero que cumpram a promessa de vocês. Porque eu vou cumprir a minha! - disse Viridian. Ela se dirigiu até o piano, amarrou a venda nos olhos, respirou fundo, fez uma pausa de alguns segundos e…começou.

A segunda Rapsódia Húngara tem um início forte, mas lento. Os primeiros 50 segundos são bastante tranquilos e claro que Viridian não teve dificuldades em executá-los com perfeição. Depois disso, a música também segue suavemente, ainda que tenha algumas partes mais difíceis. Ainda assim, ela não teve problema nenhum. O problema mesmo começa a partir dos dois primeiros minutos. A música acelera bastante por alguns segundos, mas volta ao ritmo lento do começo. Esse tocar mais suave permanece por mais alguns minutos. Para quem nunca ouviu a música pode achar que é uma peça relativamente fácil apenas pelo começo, mas não se engane. Cerca de cinco minutos após o início da música, o ritmo acelera absurdamente e era isso que todos nós estávamos esperando.


  -Nada mal - Pandora novamente falou baixinho com ela mesma - Mas é agora que as coisas começam a ficar difíceis.

Os jurados também estavam aguardando. Viridian tinha ido bem até agora, mas a próxima parte da música seria complicada. Fechei os olhos e rezei para que ela não cometesse nenhuma falha. A hora era agora. O ritmo acelerou e entramos na parte mais rápida da música. Sim, foram dois minutos de dedilhadas frenéticas nas teclas. Para um pianista experiente já era uma tarefa difícil, mas havia o adicional dela estar tocando com os olhos vendados. Eu não tinha coragem de olhar, mas não podia deixar de ouvir e o que eu ouvia, bem, era uma interpretação maravilhosa. O ritmo estava perfeito. Aquilo, sem dúvidas, era a Rapsódia Húngara de número 2, mas tocada de olhos fechados.

—Não…pode ser - Pandora mudou de uma expressão cética para uma mais preocupada.

E ela tinha motivos para isso. Viridian continuou tocando naquele ritmo frenético até uma diminuir a velocidade aos poucos, como era esperado na música. Mas também era esperado um retorno ao ritmo acelerado nos segundos finais, ritmo que ela não teve a menor dificuldade em retornar. Mais alguns segundos de toque frenético até dar as últimas dedilhadas que encerravam os nove minutos e meio da melodia com estilo. Assim acabou. Houve um silêncio de dois segundos ou menos. A plateia estava sem palavras. Após “retornarem à Terra” todos fizeram questão de aplaudir de pé. Acho que nunca ouvi tantos aplausos na minha vida toda. Quando achava que ia acabar, eles continuavam batendo palmas. Finalmente, após um bom tempo de aplausos, Viridian tirou a venda e se levantou. Era hora de encarar os juízes.

—Você… - balbuciou Marlene - Você tem noção do que acabou de fazer? Essa é uma das peças de piano mais difíceis da história e você tocou…de olhos vendados. É algo fora de série.


        -Bem, pratiquei bastante - explicou ela.

Claro que muita prática é necessária, mas poucos conseguiriam repetir o feito dela. Dificilmente alguém que não seja capaz de decorar uma música ao ouvi-la na primeira vez poderia executar uma performance como aquela.

—Eu…não tenho palavras, a não ser dar 10 - disse Marlene - Não tem como dar outra nota.

Todos aplaudiram.

—Bem - disse Rudolph - Também não tenho nada a criticar. Sua interpretação foi realmente perfeita. Tenho que concordar com a minha colega. Seria injusto dar outra nota além de 10.

O único que faltava era José. Ele coçou a cabeça, fez uma pausa e finalmente falou.

—Vocês têm certeza que ela merece um 10? - disse ele.

Ok, agora eu tinha gelado. Ele achou mesmo um defeito naquela interpretação? Qual?

—Tenho quase certeza que umas das últimas notas ficou fora de tempo - explicou ele - Concordo que a música como um todo ficou excelente, mas se não foi perfeita, não tenho como dar 10.

Todos vaiaram. Pandora sorria dos bastidores. Parece que ela não conseguiu a nota perfeita dos três jurados. Viridian engolia seco, mas mantinha o olhar firme neles. Após algum tempo, Rudolph comentou.

—Não, você está enganado - disse o alemão.

—O quê? - estranhou José.

—Você está enganado - Rudolph repetiu com firmeza - Conheço essa peça de Liszt perfeitamente e não, não estava fora de tempo. Cada nota que essa garota tocou estava perfeita. Não tem como duvidar disso.

José fez outra pausa, pensou mais um pouco e, finalmente, cedeu.

—Bem, você entende mais de Liszt do que eu - reconheceu ele - Não tem jeito. Se estava certa, então…é 10 também.

Os aplausos aumentaram. Ela conseguiu. Ela conseguiu mesmo.

—Com isso, a vencedora do nosso concurso é você. Parabéns, senhorita Veridiana - falou José.

Os aplausos continuavam. Claro que uma pessoa não ficou nada feliz com isso e ela fez questão de entrar no palco.

—Vocês…vocês estão loucos! - disse Pandora, entrando no meio da comemoração.

—Senhorita Pandora - disse Rudolph - Quem te deu permissão para entrar no palco fora do seu momento de apresentação?

—Dane-se a permissão! - respondeu ela - Vocês têm ideia do que estão fazendo? Vocês sabem quem é essa mulher? Ela é uma cantora extremamente vulgar! Esse resultado é uma ofensa a Liszt! Não, é uma ofensa a todos os grandes compositores que prezam pela boa música!

Todos na plateia vaiaram, mas Pandora estava convicta, independente do que ouvisse. A palavra final era dos jurados.

—Como assim? - rebateu Rudolph - Ela tocou perfeitamente. Do ponto de vista artístico, ela não deve em nada.

—Além disso - completou José - Já dissemos que a vida particular dos participantes fora do concurso é irrelevante. Tudo que importa é como ela toca e não tem como negar que ela tocou imensamente bem.

—Se isso te incomoda tanto - sugeriu Marlene - Pode entrar em um acordo com ela para fazermos disso um empate. Teremos que dividir o prêmio.

—Dividir o prêmio com ela? - falou Pandora, com uma expressão de nojo - Nunca!

—Então não tem jeito, vai ter que admitir sua derrota - disse Marlene, em tom sério - Não podemos voltar atrás. Prometemos que se ela conseguisse tocar a segunda Rapsódia Húngara de olhos vendados e tirasse a nota perfeita, ela venceria. Aliás, você estava ouvindo muito bem quando esse acordo foi feito. Se não protestou na hora é porque também concordou com esses termos. Sinto muito.

Pandora ficou furiosa.

—Esse concurso todo é uma piada! - disse ela - Não fico mais nem um segundo aqui.

A pianista saiu enfurecida e com um sentimento de insulto. Apesar disso, o resultado se manteve. Viridian venceu a competição e ganhou o prêmio. Após ser cumprimentada pelos jurados, dar algumas entrevistas (inclusive de fãs que foram ao teatro só para vê-la), finalmente ela conseguiu escapar e me encontrar quase na saída.

—Ricardo - chamou ela - Nossa, foi duro, mas consegui dar um perdido na galera e pegar meu disfarce. Você viu?


     -É claro - comentei - Foi fantástico. Você deve ser a melhor pianista do mundo.

—Não exagera - riu ela - Mas eu treinei aquilo a semana toda. Não devia ter subestimado a Pandora na segunda etapa, mas dessa vez dei o troco. Você viu a cara dela?

Nós dois rimos, mas depois o tom ficou um pouco mais sério.

—Eles vão mandar o prêmio para a minha conta - explicou Viridian - Depois eu passo para você.

—Ai, eu…eu não posso aceitar - falei - Você que lutou para isso. O prêmio é seu por direito e…

Mas fui interrompido por um tapa na minha orelha.

—É, eu sei, o prêmio é meu e por isso gasto ele como eu quiser. E o que eu quero é te ajudar. A sua família precisa desse dinheiro muito mais do que eu. Além disso…

Ela fez uma pausa com uma cara séria.

—Você sabe - continuou a garota - Se eu ficasse com a grana ia gastar tudo em cachaça, então é melhor você ficar com o prêmio mesmo.

É, não dava para falar sério com ela por muito tempo.

—Posso…pedir só mais uma coisa, então? - perguntei.

—O quê?

—Posso…te dar um abraço? - falei, não conseguindo segurar as lágrimas.
—Ai, mas é uma bicha mesmo! - disse ela, mas também não conseguindo conter a emoção e abrindo os braços - É óbvio que pode!

Essa é a minha história. Foi que assim eu tive a ajuda de uma das pessoas mais maravilhosas que conheci na vida. O que aconteceu depois? Bem, continuei praticando meu violino, mas também continuei no meu emprego de auxiliar. Pretendo continuar lá até terminar a faculdade. Acho que tenho muito para aprender com a Viridian.

—Bora, gente! - gritava ela, em um dos shows que eu acompanhava pelos bastidores - Hoje é dia de rebolar a raba até o chão!

É, não dá para julgar alguém pelas aparências mesmo. MC Viridian, gratidão sempre!


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Notas finais do capítulo

Bem, certamente não foi uma das minhas melhores fics, mas foi bem divertido escrever.

Também preciso dizer que essa história não reflete exatamente minhas opiniões pessoais. Acredito em padrões objetivos em estética e sou crítico da ideia de que qualidade musical é subjetiva, então, não, funk não está no mesmo nível de música clássica, desculpem. Também não acho que o estilo de vida escolhido por Viridian, regado a festas, bebida e sexo livre seja um bom exemplo para ninguém. Apesar disso, gostaria de manter a mensagem de que nem sempre o sonho dos filhos é o sonho dos pais.

Espero que os leitores desta fic tenha maturidade para compreender esses pontos e serem críticos com o que é passado aqui. Sintam-se livres para opinar nos comentários.

Mais um vez, obrigado por ler e espero vê-lo em fics futuras.

Até mais! ;)



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