Pianista Diferente escrita por Metal_Will


Capítulo 3
Ousadia e Surpresa


Notas iniciais do capítulo

Continuando...



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Foi isso mesmo que você leu. Depois das minhas péssimas notas na minha apresentação no Concurso de Novos Talentos, descobri que a cantora de funk para quem estou trabalhando simplesmente se inscreveu de última hora no concurso. O que, diabos, ela iria fazer lá? Seja como for, já era tarde. Viridian se dirigiu ao palco com aquele vestido branco minúsculo, mas parecia ter um olhar extremamente confiante. Ela chegou diante dos jurados e apenas sorriu.

—Você…já não vi você em algum lugar? - perguntou Marlene.

—Talvez - respondeu Viridian.

—Sua roupa…é bem diferente para alguém que vai se apresentar, não acha? - comentou José, olhando para as pernas de Viridian com um olhar julgador.

—Bom, o importante é o que vocês vão ouvir e não o que vão ver, concorda? - respondeu Viridian.

—Linguinha afiada, heim? - reparou Marlene - Para estar tão confiante, deve ser muito boa no que faz.

—Bom, vocês é que vão julgar - disse ela.

Eu ouvia isso e sentia minha barriga doer no lugar dela.

—César. Faz alguma coisa. Ela vai passar muita vergonha e…

—Já falei - comentou César - Só cala a boca e assiste.

—Muito bem - falou Marlene, colocando sua caneta na mesa e não escondendo que se sentiu desafiada pelo ar confiante da garota - Você não está com nenhum instrumento, então imagino que vai tocar o piano. O que você vai tocar?

—O que vou tocar? - perguntou Viridian, olhando para cima como se estivesse pensando - Que tal…a Fantaisie-Impromptu de Chopin?

—O que foi que ela disse? - estranhei - Desde quando ela conhece Chopin?

César não conseguiu esconder um sorriso. Os jurados riram.

—Você fala como se tivesse decidido o que vai tocar agora - comentou Rudolph - Você realmente está levando esse concurso a sério? Isso aqui não é brincadeira, menina!

—Ah, mas é sério - disse Viridian - Muito sério.

—Se é assim, então toque - desafiou Rudolph.

Viridian não disse mais nada. Ela apenas fez uma pequena reverência, foi até o piano, se sentou, respirou fundo e fechou os olhos. Ela ficou assim por alguns segundos. A plateia estava toda em silêncio. Já eu, não conseguia esconder minha tensão.

—Ela travou? - perguntei.

—Não - falou César - É agora que as coisas vão começar a ficar interessantes.

Depois de mais alguns segundos e os jurados já se preparando para rir e fazer algum comentário ácido, Viridian finalmente levou suas mãos às teclas e…começou a tocar. E quando falo tocar, falo de tocar a Fantaisie-Impromptu de Chopin. Para o leitor que por acaso não conhece essa música, apenas os primeiros segundos dela são lentos. O resto dela exige velocidade e precisão com os dedos que um amador jamais poderia tocar facilmente. E o que eu estava vendo (e ouvindo) não podia ser um amador. Nem ferrando. O que estava diante dos meus olhos era uma pianista tocando nada mais que a Fantaisie-Impromptu. Sem nenhuma partitura, sem nenhum acompanhamento, apenas com sua própria habilidade. Os jurados estavam impressionados, mas não tanto quanto eu. Eles não sabiam que estavam diante da MC Viridian. Eu, por outro lado, sabia que aquela pessoa, tocando o piano com uma perícia inacreditável, era a mesma pessoa que poucos dias atrás estava rebolando até o chão em um palco. Como? Como isso era possível?

Viridian deslizava suas mãos pelas teclas não deixando escapar nenhuma nota da difícil Fantaisie-Impromptu. Bem, não parecia nada difícil para ela. A garota tocava com uma facilidade impressionante, como se tivesse feito aquilo a vida inteira, tanto as partes rápidas quanto as lentas. Eu volto a repetir. Como? Como ela conseguia fazer isso?

A melodia dura por volta de cinco minutos e meio. Foram cinco minutos de olhos arregalados. Se pisquei, não lembro. Ao final, após segurar algumas notas mais lentas, Viridian encerra a sua performance e volta com as mãos para o banco. Depois que ela encerrou houve alguns segundos de silêncio até começarem a aplaudir. Os jurados também estavam boquiabertos. Depois dos aplausos, eles ainda demoraram um pouco para engolirem o orgulho e reconhecerem que foi uma apresentação digna.

—É, menina - disse José - Você não era só marra. Fiquei a apresentação toda tentando encontrar um defeito, mas não achei. Vou ter que dar 10.

O José? Um dos regentes mais exigentes do mundo dando 10? Para a Viridian? Eu realmente não conseguia acreditar no que estava vendo.

—Eu dou 8 - falou Rupolph - A música realmente foi impecável, mas…sua postura como pianista é inadequada. Estética também conta, apesar de estarmos aqui “para ouvir e não ver”. Ainda assim, não tenho como criticar a música. Em termos de técnica não teve um só erro. Impressionante.

A última era Marlene.

—Garota. Há quantos anos você toca piano?

—Toco desde criança - respondeu ela.

—Sua técnica é fora do comum - disse Marlene - Eu toco piano há mais de quarenta anos e não conseguiria tocar Fantaisie-Impromptu com essa perícia. Esse é um concurso para amadores. Você é mesmo uma amadora?

—Achei que a única regra era não fazer parte de nenhum conjunto oficial - falou Viridian - E eu não faço parte mesmo. Sou tão amadora quanto qualquer um.

—Então, você é um prodígio - disse Marlene - Pelo menos nessa música. Quero muito ver o que você vai apresentar nas próximas etapas. Não tem como não te dar um 10.

—Só precisa melhorar um pouco suas maneiras - comentou Rudolph.

—Eu agradeço - Viridian fez uma reverência e saiu de cena.

—Lumini… - balbuciou Marlene ao ler o sobrenome dela - Eu juro que esse sobrenome não me é estranho.

Todos aplaudiram de novo. Quando ela se aproximou de mim nos bastidores levantou o meu queixo, rindo.

—Q-Quem é você? - perguntei.

—Como quem sou eu? - falou Viridian, sem tirar o sorriso do rosto - Sou a MC Viridian de sempre.

—Como pode? Você…canta funk, mas…sabe tocar Chopin como uma profissional, como… - minha fala estava saindo cheia de pausas, pois meu cérebro mal conseguia ligar as palavras.

—Ela nem sempre foi a MC Viridian, sabia? - falou César - Antes disso, ela provavelmente é o maior prodígio de piano da nossa geração.

—Isso…é sério? - falei, ainda não conseguindo acreditar.

—Acho que você entendeu bem, Ricardo - continuou ele - A Viridian é um gênio.

Um…gênio?!

—Ai, não exagera, César - reclamou Viridian.

—Não é exagero! - retrucou ele - Você consegue aprender uma música ouvindo apenas uma vez. Isso é uma genialidade fora do comum.

—Para alguma coisa eu tenho que servir, né? - brincou ela.

—Não pode ser- comentei, ainda pasmo - Por que você nunca me disse nada?

Viridian suspirou.

—É uma longa história - disse ela, pegando nas minhas mãos e me olhando com um olhar de ternura - Na verdade, eu nunca mais queria me apresentar tocando piano, mas…sabendo que a sua família precisa tanto desse prêmio, eu não podia ficar sem fazer nada.

—Como assim? Do que você está falando?

Viridian olhou bem para mim e disse:

—Eu vou ganhar esse prêmio pra você! - disse ela, com firmeza - Deixa comigo. Se alguém pode fazer isso, sou eu.

—Mas isso não tá certo - argumentei - Com o seu talento, você é quem tinha que ter todos os méritos e…

—Relaxa - disse ela - Minha carreira no funk tá bombando e a grana que entra cobre esse prêmio fácil!

—É isso que eu não entendo! - rebati - Como alguém com o seu talento foi parar no funk?

—Como eu disse, longa história - retrucou Viridian.

César tossiu (ou fingiu um pigarro para chamar a atenção)

—Odeio interromper - falou ele - Mas é melhor a gente ir embora, não é, Viridian?

—Ah, é verdade - disse ela - Não quero que a imprensa me pegue aqui. Daqui a pouco a Internet inteira vai saber do que aconteceu aqui. Tchau, Ricardo. A gente conversa melhor lá no estúdio.

Com certeza. A Viridian tem muita coisa para me responder. Seja como for, eles saíram disfarçadamente para não chamarem a atenção da imprensa, mas, naquela altura, todo mundo já devia saber que a Viridian estava participando do concurso. O que os fãs dela achariam? E por que ela estava em um ramo tão, tão diferente da música clássica? Eu queria muito saber.

—Ei, você - Pandora, a outra garota que foi muito bem na audição, estava me chamando.

—Tá falando comigo? - perguntei.

—Você mesmo - disse ela - Você…conhece aquela menina que tocou por último, não conhece?

Minha intuição me dizia para não dar muitas informações.

—É uma conhecida, mas não sei muito sobre ela - respondi.

—Odeio admitir, mas ela é muito boa. E conseguiu se sair melhor do que eu! - Pandora falava com um tom nada amigável na voz - Eu não vou perder para ela! Não vou!

Depois de dizer essas palavras, Pandora virou as costas e foi embora. Também já estava na hora de eu sair. No corredor principal, encontrei meus pais.

—Filho - disse minha mãe, correndo para me abraçar - Como você está?

—É, acho que não estou entre os dez primeiros que vão para a próxima etapa - falei.

—Como você sabe? Eles só vão divulgar a lista dos classificados depois, não? - meu pai perguntou.

—É só olhar pelas notas. As minhas não foram as melhores - lamentei.

—Não fica assim - minha mãe disse - Nós temos muito orgulho de você.

—Mas…e a Viridian? - perguntou meu pai - Por que você não disse que ela sabia tocar piano?

—É verdade - concordou minha mãe - Por que ela escondeu que estava participando do concurso? Como ela não estava sentada perto de nós, nem vimos ela sair para participar.

—Você não disse que ela cantava funk? - indagou meu pai - O que isso tem a ver com música clássica?


      -É isso que eu quero saber também - falei - Estou tão surpreso quanto vocês.

—Mas ela foi muito bem - disse minha mãe - Nunca ouvi uma apresentação de piano tão bonita.

Minha mãe não entendia tanto de técnica de música assim, mas ela estava certa. Acho que também nunca ouvi uma apresentação tão bem feita quanto a da Viridian, mas ela ainda tinha muita coisa para me explicar.


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