Inventei Você? escrita por Camélia Bardon


Capítulo 32
Perdão, declarações e (re) começos


Notas iniciais do capítulo

Preparem os lencinhos, galera ♥



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— Será que elas estão bem? — Ryan suspirou, chutando a bola para O Pai pelo que eu suspeitava ser a milésima vez. — Elas já estão lá há bastante tempo...

O Pai rebateu a bola para mim. Segurei-a no meu pé por um tempo, tentando entender o que fazer com ela.  Eu era péssimo em futebol e qualquer outra coisa que precisasse de coordenação motora dos pés.

— Elas precisam colocar as coisas nos eixos, amigão. Leva tempo. Não podemos invadir sua privacidade.

— Ah... Nesse caso, tudo bem — Ryan sorriu, trocando o peso dos pés. — A gente não se importa se vocês ficarem para o jantar. Compramos muita comida.

Não tive opção além de rir de seu comentário. Se Ryan continuasse assim, seria um adulto maneiro.

— Muito obrigado pelo convite estendido — sorri, finalmente devolvendo a bola. Já estávamos meio saturadas da brincadeira. — E acho que elas estão bem sim, Ryan. Cecilia sorriu para mim da janela agora há pouco.

— Sorrir nem sempre significa que está tudo bem — Ryan disse num tom reflexivo. — Mas, como você a conhece melhor do que eu, então confio que esteja certo.

— Emoções são complicadas, eu acho — repliquei.

— Claro que são! Se fossem fáceis, não existiria a psicologia!

O Pai – eu tinha de aprender a chama-lo de Sam – trocou um olhar significativo comigo, como quem diz “é, eu também não sei o que fazer com ele”. Felizmente, logo apareceu em frente à porta lateral com um sorriso tranquilo. Ryan correu em direção a ela, os cachinhos subindo e descendo em completa alegria.

— Oi! — Ryan abraçou-a pela cintura, porque era o único lugar que alcançava com aquele pouco tamanho todo. — Tudo bem?

— Tudo bem, meu amor — Leila acariciou os cabelos do pequeno, arrancando um sorriso de orelha a orelha da parte dele. — Demoramos muito?

— Sim! Já estávamos indo ver vocês! Convidamos o Matt e a Cecilia para o jantar, você se importa?

— É claro que não, bebê. Temos só que ver antes se eles querem... Você viu isso?

— Ah... Eu esqueci...

Sam gargalhou baixo em seu canto, provavelmente acostumado com esse tipo de situação. Estudando o terreno, Sam perguntou silenciosamente com os olhos se estávamos convidados a entrar ou ainda vetados do lado de fora. Leila sorriu de volta para o esposo, acenando com a cabeça para que nos aproximássemos. Com um tapinha amigável no ombro, Sam me conduziu de volta pelo gramado até a casa. Ryan adiantou-se em correr até o banheiro para lavar as mãos – isso foi o que ele disse –, e Sam passou o braço ao redor dos ombros da esposa para lhe dar um beijo rápido na têmpora. O clima tenso de antes parecia ter abandonado a casa de vez.

— Vocês não podem mesmo ficar mais um dia? — era Leila quem perguntava para a filha. Cecilia, por sua vez, ocupava-se de lavar a louça do almoço com rapidez e agilidade. — Estamos nas férias de verão, seria uma bela quebra de rotina pra nós que ficamos aqui o tempo todo nas férias. Isso quando não encontramos alunos na rua.

— Pode ser bastante entediante de ouvir, mas garanto que damos um jeito de nos divertir — Sam acrescentou em apoio à esposa. — Mas depende do aluno, é claro.

Ri do comentário, mas Cecilia respondeu com um sorriso:

— A gente pode marcar outro dia, não tem problema. Mas é que não posso largar o negócio lá de qualquer jeito... Eu tô sozinha agora, até achar outra funcionária permanente não posso nem pensar em férias...

— As férias duram três meses, não tem pressa — Sam piscou para ela, trocando de posição com a esposa. Agora ele se postava atrás como um protetor particular. — Não queremos atrapalhar.

— Três meses e o resto dos meses até o fim.

A resposta pareceu alegrar imensamente sua mãe. Com um sorriso, Leila aquiesceu e apertou a mão do esposo com delicadeza. Anotei o gesto para testar depois. Depois, quando? Ótima pergunta.

Quando Cecilia terminou a louça, Ryan aproximou-se dela com timidez, provavelmente testando se ela ainda estava hostil à sua existência. Cecilia abriu um sorriso vacilante, abaixando-se até a altura dele.

— Não fui muito receptiva. Você me desculpa?

— Ah, é normal — Ryan sorriu. — Tá tudo bem. Vocês querem ficar para o jantar?

— Seria ótimo! Muito obrigada.

— De nada! Gostei do seu vestido! Ele é bem amarelo!

Cecilia achou graça. Eu imaginava como devia estar sendo difícil para ela – afinal de contas, eu não tinha visto nenhuma criança em sua bolha social de Healdsburg. Mas seu carisma natural falava mais alto.

— Eu gosto de amarelo!

— Eu também! É a minha cor favorita!

— A minha também! — Cecilia sorriu, levantando-se de volta. Haja costas... — Quer dizer que você tem um caderno de ideias, então?

Ryan olhou para os pais, como que pedindo permissão para falar de um assunto confidencial. Ao receber um aceno positivo, seus olhos brilharam.

— Ah, ele está cheio de ideias! Se você tiver mais alguma, pode dizer que eu anoto!

E então, com esse anúncio, os irmãos partiram casa adentro para se aprofundarem nas ideias um do outro. Não antes de Cecilia me presentear com um de seus sorrisos calorosos. Eu podia jurar que meus joelhos se tremeram todos.

É, eu estava caidinho.

— Onde eu guardo a louça, senhora Parker?

 

Voltamos para casa de mãos dadas. Eu percebi que não era muito chegado em fazer essas coisas nos meus relacionamentos anteriores, mas Cecilia merecia que eu me esforçasse um pouco mais para ser o melhor de todos. Ela não era qualquer uma, então eu não seria um cachorro velho.

— Vamos dormir agora? — ela se aninhou no meu braço confortavelmente, erguendo o olhar para mim. — Digo, tá com sono? Cansado?

— Hm-hm. Quero ficar com você.

— Ok. Ficamos acordados, então.

Beijei a testa dela, arrancando um sorriso doce.

— Você está bem? — aproveitei a ocasião para passar os dedos por seu cabelo, desembaraçando os fios avulsos. — Depois do almoço e tal?

Ela assentiu com um sorriso mais contido.

— Mesmo?

— Mesmo... Foi melhor do que eu esperava... Se bem que eu não fazia ideia do que esperar, então...

— Entendi — gargalhei. — Você encontrou as respostas que procurava? E sua mãe? Conte-me tudo o que puder. Tudo o que quiser.

Cecilia riu junto a mim, segurando minhas mãos em frente ao seu peito. Sentir seu coração bater foi tranquilizante num nível assustador.

— Ela estava tão assustada quanto eu, Matt — Cecilia respirou fundo, apoiando o queixo momentaneamente em minhas mãos. Aproveitei a ocasião para acariciar sua bochecha com o polegar. — Eu não faço ideia do que estava esperando que ela tivesse a me oferecer. Sei lá, eu pensei que ela tivesse ido embora porque me odiava ou tinha se cansado de mim. É bem bobo, falando em voz alta, mas era assim que eu me sentia. Mas... Não tinha nada a ver comigo. Tinha a ver só com ela. Minha mãe precisava redescobrir sua identidade... Ela achava que estava fadada a ser só “mãe” pelo resto da vida.

— Como assim? — perguntei com minha experiência nula sobre ser uma mulher ou uma mãe.

— Ah... Eu vou ver se consigo explicar. As pessoas costumavam dizer que se tornar mãe significa se sacrificar em nome dos filhos, mas... Minha mãe me mostrou uma nova faceta desse assunto. Não é só isso. Ser mãe não é deixar de ser quem é. É... Descobrir uma nova versão sua. Não é fácil, é um... É um processo.

Inspirada em seu próprio pensamento em maratona, Cecilia se desvencilhou de meus braços para sentar no sofá como se tivesse levado um choque.

— Um processo que conta com várias pessoas, e não só a mãe. Tipo... Minha mãe era uma mãe quando tinha só a Nona e o meu pai — ela se interrompeu, controlando um arrepio. — E se tornou outra mãe quando só tinha a Nona. E outra ainda quando só tinha o Sam. É algo que é moldado dia a dia. Então não tem bem um jeito certo. Tem o seu melhor. Então... Eu nunca conseguiria odiá-la, não quando é visível que ela ama muito o Ryan.

— E você também — acrescentei num tom gentil. Cecilia me olhou com uma expressão curiosa. — É visível...

Ela mordeu o lábio, raciocinando sobre o meu comentário. Um pouco de sua energia se esvaiu, porém Cecilia ainda escancarava sua felicidade.

— Queria ter entrado em contato com ela antes...

— O que importa é que você a procurou agora — sorri, me virando para ela no sofá. Ela estava sobre uma das pernas, então ao fazer isso meu pé arrastou-se por sua perna. — E que quer se consertar com ela agora. Isso é bem mais do que deixar de lado por medo de tentar e não dar em nada...

— Confesso que era uma das opções — ela sussurrou, segurando um dos pés nervosamente. — Era mais cômodo...

— Fico feliz que não tenha optado por isso... E por ter confiado em mim para te acompanhar até aqui...

Cecilia sorriu, abandonando seu lugar no sofá para vir se sentar em meu colo. Ela passou as pernas ao redor da minha cintura, e eu permiti que ela arrumasse os fios de cabelo grudados na minha testa. Fui presenteado com um beijo ali, e o carinho do gesto me surpreendeu positivamente.

— Sou eu que agradeço por você ter vindo comigo. Matt... Não sei o que eu faria se não estivesse aqui. É bem provável que eu tivesse desistido no meio do caminho. O seu apoio... Ah, Matt, foi essencial.

— Vou pra qualquer lugar onde você estiver, Ceci — dei-lhe um beijo leve para salientar minhas palavras. Seus olhos brilharam. Se depender de mim, você vai ter sempre o meu apoio. Você... V-você é tudo do melhor que eu tenho, Cecilia...

Seus lábios tremeram discretamente quando ela respondeu tudo aquilo com um sorriso. Fui tomado por uma emoção que não achei justo guardar só para mim, portanto puxei-a mais para perto para beijá-la com mais calma. Cecilia correspondeu com muito carinho e vontade, chegando até a suspirar no processo. Cecilia enterrou as mãos em meu cabelo, aprofundando o beijo. Meu coração deu um salto dentro do peito.

— Eu poderia dizer o mesmo — ela disse tão baixo que, se eu não estivesse grudado nela não teria distinguido nada. — A vida com você é tão melhor... Promete que não vai embora...?

Assenti com a cabeça e envolvi-a num abraço de corpo. Cecilia recostou a cabeça em meu ombro e afagou minhas costas. Dessa vez, senti seu coração batendo forte contra a roupa. E foi ali que eu soube exatamente onde eu queria estar todos os dias.

O abraço de Cecilia era seguro. Afastava o medo. Não tinha armadilhas, nenhuma faca escondida atrás das costas; Cecilia era verdadeiro, sem pretensões ou segundas intenções. E justamente por isso era eu quem tinha de implorar para ela ficar, e não o contrário.

— Cecilia... Você é maravilhosa, eu já te disse isso antes. Enquanto me quiser do seu lado, é aqui que eu vou estar. Só vou embora se você me pedir.

Ela ergueu a cabeça, com os olhos levemente arregalados.

— Por que eu faria isso? Mandá-la embora?

— Bem, eu... Eu sou muito imperfeito, Ceci...

Cecilia continuou me encarando, como se eu tivesse enlouquecido de vez. Talvez eu tivesse, mesmo.

— Eu nunca disse que queria que você fosse perfeito. Ou que só iria te quere ser você fosse perfeito. Ou que só iria te querer se fosse perfeito...

— Não, não disse. Mas... Eu quero ser assim... Você merece o melhor que a vida tem pra te oferecer, Ceci, e eu... E-eu tenho medo de que se arrependa das suas escolhas, quando perceber que talvez estivesse melhor sem mim do que comigo, como... Como você está dizendo agora.

Ela continuou me olhando, mas dessa vez com os olhos transbordando de preocupação. Eu me odiei por deixá-la assim, e não consegui estabelecer mais contato visual sem sentir aquela onda de melancolia tomar conta de mim. Estava tudo certo, mas e se de repente as coisas desandassem? E se eu estragasse tudo, como sempre fazia? E se não fosse o suficiente tudo o que eu tinha para oferecer? O que eu tinha para oferecer? Meu Deus.

— Matt... — ela sussurrou, encostando o queixo na minha cabeça, apoiada em seu peito. — Ah, Matt... Eu te amo tanto... Se conseguisse ver o meu coração, se você só pudesse ver tudo o que eu sinto por você...

Sua voz embargou, sem tempo para correções. Eu já tinha a deixado triste com as minhas ações. Mas aí eu repassei tudo o que ela tinha falado na minha cabeça. Eu tinha escutado direito? Cecilia disse...? Ela disse...?

Não, não podia ser. Ela era fácil de ser amada, mas eu?

— Por que...? E como...?

Só saiu. E Cecilia respondeu primeiramente colocando ambas as mãos em meu rosto. Eu consegui sentir sua pulsação em minha pele. Respirei, tentando esconder minha vergonha. Era um tanto patético ficar tão sentimental na frente dela.

— Desculpe... Por que o que? — ela sussurrou, tombando a cabeça para o lado. — Acho que não entendi.

Por que você me ama, Cecilia? Como você consegue me amar sendo assim...?

Cecilia abriu um sorriso doce. Era como se ela finalmente tivesse encontrado uma luz no fim do túnel.

— Não é nada difícil, na verdade... Você é extremamente agradável. Antes de eu amar você romanticamente, eu já te amava profundamente como amigo. A meu ver, você sempre se apresentou como uma pessoa tão... Tão carismática, tão alegre, tão cativante! E você sempre foi tão gentil e compreensível comigo... Porque, eu não sei se você se lembra, mas eu era uma maluca que inventou um namorado aleatório.

— É apenas um detalhe — ri fraco, mas o gesto pareceu satisfazê-la. — Nada relevante, é claro.

— É claro — ela concordou, exibindo um sorriso condescendente. — Olhe, eu não me importo se tiver de dizer outras vezes, mas... Você tem um lar aqui, Matt... Tudo bem, você é imperfeito. Mas amor é isso, é... Continuar querendo a pessoa por perto quando as coisas saem um tanto erradas. De um modo saudável, obviamente.

Ela me cativou com seu discurso. Impossível não sorrir. Cecilia havia crescido tanto desde que nos conhecemos... Deixado de ser uma mulher esquiva e insegura para se tornar confiante, eloquente e admirável. Permiti que ela continuasse falando. Eu queria ouvir. Eu precisava ouvir.

— O amor não te ama só quando você acerta, mas quando você erra também... E eu quero você exatamente assim: imperfeito. Se você fosse perfeito, significaria que eu também teria de ser. E nós dois sabemos que eu não sou; Relacionamentos são... Duas pessoas imperfeitas lidando umas com as outras e se amando apesar dos defeitos justamente porque eles fazem parte das pessoas.

E então, Cecilia suspirou exasperada, e pensei que eu a tivesse irritado, mas quando ela voltou a falar foi numa enxurrada de palavras:

— Está fazendo sentido ou eu estou falando um monte de coisas aleatórias? Porque eu acabei de falar e percebi que eu não estava prestando atenção em nada...

Gargalhei com gosto, assustando-a com a brusquidão do gesto. Desculpei-me com um afago em seus cabelos, mas logo reparei que ela estava rindo comigo. Cinco minutos e ela havia conseguido transformar o clima de velório em uma primavera sem fim. Não fazia mais sentido lutar contra aqueles sentidos todos.

— Obrigado...

— De quê? — ela soltou um risinho, tentando se recompor da explosão de gargalhadas. — Ai, essa foi boa...

— Por me amar...

Cecilia piscou, assimilando o que eu tinha dito. Com o rosto enrubescido, ela assentiu lentamente com a cabeça. Algo naquilo me fez ficar louco, por isso mesmo beijei-a da mesma maneira. Sem pressa e detalhadamente. Ela arquejou, o som abafado pelos lábios selados. Meu coração disparou. Agora eu sabia o que dizer.

— Vou fazer o máximo para que não se arrependa disso — murmurei, distribuindo beijos por seu pescoço. — E prometo não repetir nada do que te disse, tudo bem...? Não vou chateá-la com as minhas inseguranças. Eu... Eu acredito em você, Cecilia.

— M-mesmo? — ela retorquiu num tom rouco, mas inclinou o pescoço para aumentar o alcance dos beijos. Ah, mulher... — Não vou me arrepender...

— Que maravilha. Porque eu pretendo retribuir todo esse carinho que você me dá. Retribuir mais, eu digo.

Ela riu um tanto para dentro, mas afastou o rosto para me olhar nos olhos. Abri um sorriso torto para não desacostumar.

— Pretende, é?

— É uma promessa — baixei o tom da voz, o que fez com que ela precisasse achegar-se para frente para conseguir ouvir. — Eu vou fazer isso. Porque você merece ser muito amada por todas as pessoas, imensamente. Por sua mãe e agora a sua família adicional, pela Nona, pela tia Georgie, pelas meninas, por aquela cidade ingrata... E por mim, também...

Seus olhos brilharam, e eu tive de me conter para não ter uma taquicardia.

— Você merece se sentir amada assim, também. E, roubando um pouco as suas palavras... — ri fraco, interrompendo-me uns instantes. — Se precisar que eu diga todos os dias, eu digo... Ser amado é algo a trabalhar, mas amar você também é muito fácil... E é por isso que quero retribuir...

— Por isso? — ela ecoou, parecendo estar se divertindo à beça com a minha timidez. — Só por isso, Carpenter?

— Ah, Cecilia, eu estou tentando me declarar aqui, qual é!

Nós dois gargalhamos, o que ajudou a concretizar o nervosismo da situação. Só mesmo Cecilia para me fazer rir enquanto eu estava me cagando de medo.

— Sinto-me bastante tentada a permitir a sua declaração, senhor Carpenter — ela abriu um sorriso que foi um misto de emoção mal contida e malícia. — Quer dizer que quer estar aqui todos os dias, então?

— Seria um projeto de longa data interessante — fingi ponderar. — O que você acha?

— Podemos ser... Sócios.

— Companheiros, sim.

— Parceiros? — Cecilia ergueu uma sobrancelha.

Estalei a língua no céu da boca.

Comparsas. É o melhor que tenho para barganhar.

Cecilia riu energicamente, chegando até a soluçar. Todas as variações de seu riso compunham uma sinfonia que eu não me importava de colocar no replay todos os dias. Ela era maravilhosa, o que eu podia fazer a respeito?

— Bem... — ela se recompôs, respirando fundo. E então se ajeitou em meu colo, provavelmente com as pernas dormentes. — Você precisa de um lar, e eu também, então...

— O plano é unir o útil ao agradável? — sorri.

— Nesse momento, Matthew — Cecilia pontuou, passando os braços ao redor do meu pescoço. Entrei em combustão espontânea automaticamente. — Eu conheço algumas atividades bastante agradáveis...

Aquiesci, esboçando uma cara de pôquer quase aceitável.

— Como seu sócio...

— Comparsa — ela corrigiu, segurando o riso.

— ... Eu acho pertinente discutirmos essa pauta. Agora mesmo, preferencialmente.

Cecilia murmurou um riso ferino, adiantando-se para me beijar outra vez. Foi intenso, mas não lascivo. Eu não sei bem como definir, entretanto... Algo havia mudado. Havia um flerte de sua parte, mas dessa vez tudo estava tão sutil. Acima da luxúria, era algo bem mais prazeroso, pois me deixava de joelhos de corpo e alma.

Eu ficaria satisfeito de apenas beijá-la. Pior: eu ficaria satisfeito de apenas ficar no mesmo cômodo que Cecilia, sem fazer absolutamente nada. Até mesmo para o novo “padrão Cecilia”, era uma experiência e, para ser honesto, era um pouco intimidante.

Quando ela tomou a iniciativa de passar a camisa por minha cabeça, permiti que ela fizesse o mesmo com o restante das roupas e não sentir os tremores ruins que sempre transpassavam meu corpo quando eu me desnudava. Cecilia distribuía sussurros de “eu te amo”, e eu podia chorar de felicidade se me descuidasse. Esses eram os bons tremores.

Amor não era uma cura milagrosa, mas era um começo.


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