Scientist escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 14
Capítulo 14 – A, B e C




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Capítulo 14 – A, B e C

                - Espera... – Peter pediu enquanto se vestiam para irem jantar no apartamento de May dali alguns minutos – Não fecha ainda, vem cá.

                Gwen sorriu, desistindo de abotoar a camisa e sentando-se ao lado do marido na cama deles. Peter a abraçou pela cintura, usando a mão livre para acariciar sua barriga, um pouco mais evidente agora que Gwen estava indo para os três meses.

                - Aposto que ninguém lá fora imaginaria que o Homem Aranha é um pai tão babão.

                - Não mesmo, porque isso é um segredo nosso – Peter falou beijando sua bochecha.

                - Você quer ouvir meu discurso? Ainda não sei se vou mudar algo, mas tô gostando por hora.

                - Eu quero sim.

                Gwen pegou uma folha de papel no criado mudo ao lado da cama e começou a ler para ele.

                - Eu sei que algumas vezes na vida nos parece que somos imortais, e um desses momentos é enquanto vivemos juntos por todos esses anos estudando e nos tornando quem somos a cada dia.

                Peter sorriu ao reconhecer as semelhanças com seu discurso do colégio, mas conhecendo Gwen, ele sabia que não teria o mesmo desfecho nas próximas palavras.

                - Há muitas coisas que tornam nossa vida preciosa. Sabermos que há um fim é uma delas, como estamos sentindo hoje. Mas é assim que é um círculo, o começo e o fim se misturam, e no final das contas sabemos que o que mais torna a nossa vida importante são as memórias que fizeram aquele fim ser tão triste quanto é especial, e que nos enchem de esperança para os novos começos. Assim como os melhores momentos de nossa vida acabam, os difíceis também se transmutam enquanto aprendemos a passar por eles e sermos pessoas mais fortes, e é à esperança que temos que devemos nos apoiar nesses momentos que doem. Não a de esperar que um dia algo melhor chegue, porque sempre haverá dias escuros, e temos que passar por eles pra chegar ao outro lado. Mas àquela esperança que sentimos nos nossos momentos mais preciosos e que ficou gravada na nossa alma pra nos lembrar que estamos vivos, que sempre há caminhos novos e quando chegar o final de qualquer coisa poderemos olhar pra trás e saber que fizemos um caminho feliz. Um dia eu acreditei que saber que tudo tem um fim torna a vida preciosa, e ainda acho isso, mas hoje eu sei que o que realmente a torna preciosa é tudo que fazemos pra que o caminho até o final seja o mais belo que podemos criar.

                Gwen parou de ler quando viu os olhos do marido se encherem de lágrimas, e Peter lhe deu um aceno de cabeça para que ela continuasse.

                - Lutem pelo que amam e acreditam, porque mesmo se perdermos algumas batalhas, não há maneira melhor de se viver. Antes de criarmos a vida ao nosso redor, ela surge e acontece dentro de nós. É fácil nos sentirmos esperançosos num dia bonito como hoje, mas nos difíceis, escuros, em que estivermos sozinhos, é quando devemos olhar pra dentro de nós e nos lembrar das razões que nos mantiveram vivos até então. Assim seremos maiores que nosso sofrimento, e quando acharmos que dissemos adeus hoje, nos lembraremos que cada um de nós faz parte de quem somos, nossas almas se tornaram uma nesses anos juntos. E mesmo seguindo caminhos diferentes agora, um pouco de cada um de nós irá dentro de todos os outros, como parte de quem somos. Esses anos que passei com todos vocês estão entre os mais felizes da minha vida, e um dia, quem sabe, nos encontraremos novamente – ela terminou, olhando para um Peter sem palavras e com os olhos tão inundados de lágrimas quanto os seus – Você pode chorar se quiser.

                Ele acenou positivamente, piscando e deixando algumas lágrimas rolarem por seu rosto.

                - Ficou perfeito, Gwen – ele lhe disse – É difícil não lembrar daquela época.

                - Eu sei – ela respondeu acariciando seu rosto – É por isso que escrevi esse dessa forma. Faz sentido pra todos que vão ouvir, e acho que combina bem com o que vivemos e aprendemos de lá até aqui. Eu passei muito tempo pensando no quanto meu discurso daquele dia ia te machucar se eu tivesse mesmo morrido.

                - Não fala isso...

                - Então eu tava certa. Você pensou nisso também, não foi? Por isso passou tanto tempo sem querer lembrar do meu discurso quando nos casamos. Eu sabia. E quero que saiba que não tô chateada com você por isso.

                Peter assentiu.

                - Foi sim – ele disse.

                Gwen deixou o discurso de lado novamente e se moveu para ficar mais perto dele, sorrindo e levando novamente a mão livre de seu herói para a saliência em sua barriga, o bem mais precioso deles, a maior prova de que ela sobrevivera e que os dois tinham uma vida juntos. Peter relaxou enquanto sua mão acariciava o local junto com a de Gwen e ela brincava com seu cabelo castanho, afagando-o enquanto sorria para ele.

                - Eu amo seu cabelo e seus olhos – ela disse pela milésima vez – Eu ficaria feliz se nosso bebê se parecesse com você.

                Peter sorriu, amando o carinho em sua cabeça, e ciente de que Gwen sabia disso também.

                - Mas eu ia dizer a mesma coisa de você agora.

                - Então torça pra termos dois. Embora eu vá ficar bem mais cansada.

                Os dois riram juntos e compartilharam um beijo.

                - As modificações de proteção extra que fiz no seu traje funcionaram bem. Mas logo você vai tirar férias, Gwen Aranha.

                - Eu sei – respondeu com um olhar que Peter não tinha certeza se era de preocupação ou mágoa por não poder ajuda-lo por meses, por mais que ela entendesse e concordasse completamente.

                - Ei, podia ser pior. Em Nova York eu não ia parar em casa, aqui tem pouco crime. E nada tão pesado. E prometo compensar você toda vez que eu voltar de uma caça ao criminoso.

                - Como? – Ela perguntou começando a se divertir com as possibilidades.

                - Fazendo qualquer coisa que você quiser.

                - Isso não vai dar certo, Peter. Você vai voltar cansado e às vezes até machucado, eu que vou ter que cuidar de você. Volte vivo, e bem, e já terá me compensado mais que o suficiente.

                Ele assentiu.

                - É melhor irmos agora, vamos nos atrasar.

                - Só mais um pouquinho, mamãe aranha – Peter pediu se inclinando para beijar sua barriga e ganhando outro carinho em seus cabelos, sabendo que Gwen tinha um sorriso enorme no rosto.

******

                - Que saco!! – Peter exclamou quando um dos criminosos que estavam enfrentando ligou uma carcaça de perfurador de solo, felizmente sem o perfurador, e tentou usá-la contra ele.

                O Homem Aranha não teve muita escolha além de segurar o objeto à força quando o meliante o atacou do nada, sentindo pontadas de dor na pele nos pontos em que o objeto metálico o atingia. Apesar da falta da peça mais perigosa, a vibração do objeto ainda era suficiente para machucar. Os dois estavam no mercado ao lado do armazém de máquinas quando o lugar começou a ser roubado, e decidiram deixar suas compras para outro momento.

                - Como se desliga isso?! - Perguntou para si mesmo enquanto o criminoso ria.

                Olhando rapidamente em volta ele viu Gwen, andando por cima do armazém, lançando uma série de teias em alta velocidade para prender os bandidos restantes em algum lugar e impedi-los de ligar novas máquinas. Peter conseguiu rir ao vê-la assobiar enquanto prendia alguns criminosos de forma bem humorada nas teias, exatamente como ela o vira fazer tantas vezes desde que descobrira sua identidade.

Contendo o último dos homens, ela desceu para ajudar Peter, e tentou mirar no ponto certo para desligar a carcaça do perfurador enquanto o marido e o criminoso ainda lutavam unidos pelo objeto. Tentou alguns vezes, mas o movimento agitado da batalha dos dois fez com que de nada adiantasse tentar mirar corretamente.

                - Se você sabe desligar isso, só me diz... – Peter pedia aos gritos para ser ouvido quando finalmente a esposa conseguiu acertar.

                - Agora você sabe – ela respondeu com humor – Vê se não esquece.

                O objeto se desligou, sendo todas as tentativas do meliante de religa-lo frustradas pelas teias grudadas ali, e num acesso de fúria assustadoramente rápido ao ver os comparsas todos presos ou nocauteados em volta, ele atirou o objeto na direção de Gwen, conseguindo atingi-la na lateral do corpo enquanto ela se virava para voltar à segurança do telhado. Peter a ouviu gritar com o impacto e cair no chão, e sentiu a raiva borbulhar em suas veias com as risadas do criminoso.

                - Cala a boca! – Disse ao prendê-lo numa teia, deixa-lo pendurado no teto do local, e ainda amordaçá-lo com mais teias, ficando satisfeito ao perceber que o homem tinha medo de altura, pois arregalava os olhos e tentava gritar quando olhava para o chão.

                Finalmente jogando a situação para o espaço, correu para Gwen, que tinha se levantado e atirado uma teia na direção do criminoso, providenciando para deixa-lo numa altura ainda maior do que a que já estava, vendo-o berrar mais alto.

                - Ninguém mexe com meu bebê – ela sussurrou com raiva para apenas Peter ouvir.

                Mas quando se virou para vê-lo, ela mal teve tempo de reagir quando o marido a pegou no colo, obrigando Gwen a enlaça-lo pelo pescoço e prender as pernas em volta de sua cintura para se segurar quando Peter recuperou a mochila com os pertences dos dois no telhado e fugiram dali em alta velocidade. Pelo coração dele disparado contra o dela e a mão protetora apertando suas costas, ela sabia que ele não estava bem. Os gritos e vozes dos civis que fugiam do mercado ao lado, aterrorizados com o barulho da batalha ou gritando em incentivo para o Casal Aranha, ficaram para trás enquanto os dois se distanciavam, e Peter parecia desconectado de qualquer outra coisa que não fosse afastar Gwen e o bebê da batalha.

                - Peter! Peter! Você tem que se acalmar! Pare de correr, já estamos seguros. Quero falar com você, pare em algum lugar – Gwen quase implorava enquanto Peter corria por cima dos prédios com ela no colo.

                Ele finalmente ouviu, parecendo perceber o quanto ficara cansado, e se escondendo com ela na cobertura de uma das construções.

                O Homem Aranha respirou ofegante, recusando-se a libertar Gwen de seus braços depois de se abaixar com ela para o chão. Suavemente, Gwen tirou o capuz e a própria máscara, e depois tirou a dele, vendo o medo estampado em seus olhos castanhos. Livre da máscara, seu desespero seguiu para outra forma, e Peter se afastou um pouco dela, colocando-a sentada no chão para olhar com atenção o ferimento que ia da lateral de seu corpo para as costas, rasgando parte do traje e expondo um canto da proteção extra que ele fizera para ela, ainda intacta. O ferimento não parecia profundo, mas havia sangue, e isso era suficiente para deixa-lo fora de órbita e fazê-lo ignorar completamente os próprios machucados.

                - Peter – Gwen segurou seu rosto, forçando-o a olhar para ela – Eu estou bem! O bebê está bem, nada atingiu minha barriga. Se houvesse algo errado eu já estaria perdendo sangue, gritando de dor ou perdido a consciência.

                Ouvindo isso ele se acalmou um pouco, mas não completamente.

                - Tem certeza? – O herói perguntou ainda sem fôlego.

                - Tenho. Isso... – Gwen falou baixinho, continuando a acariciar o rosto do marido – Calma, Garoto Inseto. Estou aqui. Estamos todos aqui, vivos, e já nos curando.

                Gwen conseguiu puxá-lo para um abraço, e Peter a envolveu novamente, respirando para se acalmar.

                - Hospital – ele murmurou.

                - Eu vou se isso faz você se sentir melhor. Mas você precisa se acalmar. E temos que ficar apresentáveis primeiro, e conseguir uma boa desculpa pra esses machucados. Eu também acho que nosso sentido aranha teria alertado se houvesse algo errado ou diferente. Vamos pra casa, e de lá vamos ao hospital.

                Peter concordou. Gwen o segurou e acariciou suas costas por mais algum tempo até a respiração dele se estabilizar. Por fim os dois se levantaram, e ele lhe deu um beijo antes de ajudá-la a recolocar sua máscara, depois fazendo o mesmo. E insistiu em carrega-la pelo resto do caminho até a janela do quarto dos dois no apartamento.

                Tiraram os trajes quando já estavam seguros e com a janela fechada, olhando um para o outro e conferindo seu estado. Peter tinha um hematoma no rosto, outro no abdômen, e alguns cortes nos braços, vindos de sua tentativa de conter à força a máquina que o criminoso tentou usar contra ele. Gwen tinha apenas alguns hematomas no braço esquerdo e o corte do objeto atirado pelo criminoso, que a atingira de raspão.

                Peter se aproximou dela, encarando-a por um instante e descansando a testa na sua, suas mãos subindo para afagar a barriga da esposa. Gwen acariciou os braços do amado, tentando lhe transmitir algum conforto.

                - Nós estamos bem. Nosso bebê continua bem aqui – ela disse segurando uma das mãos dele sobre sua pele.

                Peter assentiu e a abraçou, colando os lábios aos dela. Gwen enlaçou o pescoço dele e ambos se permitiram relaxar finalmente no contato. Dentro do coração, ela tinha uma forte sensação de que seu filho estava bem, quase como o sentido aranha, mas tranquilizando ao invés de advertir.

                - Vou ligar pro hospital – ele disse ao se afastarem – Vai tomar banho que eu já vou também. Me chama se sentir qualquer coisa, por favor.

                Gwen concordou e o beijou uma última vez antes de buscar roupas limpas e seguir para o banheiro.

                Peter pegou o celular e discou o número da médica que vinha cuidando de Gwen desde a primeira consulta, esperando alguns segundos antes dela atender.

                - Peter? Como vão as coisas? Gwen está bem?

                - É que... Eu não sei se você já ouviu sobre o incidente num armazém de máquinas da cidade, o que fica perto do mercado. Houve um tumulto e as pessoas começaram a fugir.

                - Sim, os noticiários estão falando disso agora mesmo. Parece que o Casal Aranha apareceu pra ajudar.

                - Sim, eu e Gwen os vimos. Nós estávamos no mercado e nos machucamos um pouco quando as pessoas começaram a correr. Gwen sofreu um arranhão. Não parece preocupante, mas queremos ir até aí e verificar se o bebê está bem.

                A mulher do outro lado da linha ficou em silêncio por um momento.

                - Perto da barriga?

                - Da lateral do corpo pras costas – Peter respondeu.

                - Ela teve algum sangramento ou dor? Se sentiu mal, tonta...?

                - Não. Só ficou um pouco atordoada na hora.

                - Como ela está agora?

                - Bem. Tomando banho pra irmos aí.

                - Venham imediatamente. E vamos adiantar o ultrassom que faríamos daqui alguns dias. Você também se feriu?

                - Só um hematoma no rosto, nada sério.

                - Veremos isso quando chegarem aqui. Venham o quanto antes.

                - Certo.

                Peter agradeceu e desligou, em seguida buscando os documentos e itens que já estavam acostumados a levar nas consultas e indo se juntar à esposa no chuveiro.

******

                - Gwen, abra a roupa e me deixe ver isso enquanto cuido de Peter – a profissional pediu já aplicando algum gel no rosto machucado do herói secreto.

                Gwen assentiu e sentou-se na cama do consultório, abrindo os botões da camisa e se deitando com o lado ferido do corpo para cima conforme a mais velha lhe instruiu. Peter decidira não citar seus outros ferimentos, uma vez que já estariam curados no dia seguinte, Gwen os tinha medicado antes de saírem de casa, deixando apenas o hematoma do rosto que serviria para reforçar sua história no hospital, e ele não queria remover os lançadores de teia escondidos nas mangas da jaqueta.

                - Vocês estavam no mercado perto do armazém? – A médica de Gwen perguntou preocupada enquanto tratava o grande arranhão nas costas dela – Quando vi o tumulto na TV não imaginava que estivessem lá.

                - Sim – Peter confirmou, recusando-se a soltar a mão da esposa – A situação foi controlada pelo Casal Aranha e a chegada da polícia pouco depois. As pessoas ficaram mais calmas quando os viram, apesar de continuarem fugindo. Mas a essa altura os empurrões que levamos na fuga foram suficientes pra colidirmos com algumas paredes e prateleiras por acidente.

                A mulher assentiu.

                - Vocês têm sorte. Não acho que tenha acontecido nada errado. Se o bebê tivesse se machucado, Gwen poderia perder sangue, e a dor física seria muito grande. Muitas mães chegam aqui gritando de dor em abortos espontâneos. Vamos adiantar o ultrassom que faríamos daqui alguns dias quando eu terminar aqui, pra verificar. Você sente alguma dor ou mal estar, Gwen?

                - Não.

                - Isso é bom. O papai parece que ficou mais desesperado que você – ela brincou com um sorriso, fazendo Gwen rir, e Peter ficou feliz, ele sempre estaria feliz se ela estivesse sorrindo.

                - Você não faz ideia – Gwen respondeu – Ele quase teve um ataque até chegarmos em casa.

                - Vai ser um ótimo pai, Peter – a médica lhe disse, e ele sorriu em resposta – Isso não foi grave, foi de raspão. Mas fizeram bem em vir. Cuidados com o bebê nunca são demais, especialmente na primeira gravidez.

                Alguns minutos depois os três foram para outra sala, onde finalmente prosseguiram com um ultrassom. Peter segurava a mão de Gwen enquanto os dois conversavam e ele beijava seus cabelos. Eles não conseguiam entender muito da imagem manchada na tela do aparelho, essa não estava entre as especialidades dos dois no campo da ciência, e esperavam com expectativa para saber algo novo, apesar da segurança do feto ser a prioridade. De repente a profissional de saúde abriu um enorme sorriso enquanto olhava para a tela, ainda sem dizer nada aos dois.

                - Está tudo bem, não se preocupem – ela falou num tom alegre quando percebeu os olhares ansiosos em sua direção.

                - Já é possível saber o gênero? – Gwen perguntou.

                - Não, Gwen. Mais algumas semanas até lá. Mas já ouviram falar da tabela chinesa? Alguns dizem que é bobagem, mas poucas vezes ela falha. Vocês podem dar uma olhada pra ter uma previsão sobre isso. Embora no caso de vocês possa haver dificuldades pra uma previsão precisa nesse método.

                - Por que? – Peter questionou.

                - A tabela chinesa varia de precisão conforme o tempo de vida do feto? – Gwen perguntou.

                - Não – a mulher falou sorridente e com calma, como se estivesse se preparando para dizer algo muito importante aos dois – Mas no caso de gêmeos fraternos sim.

                Ela continuou sorrindo enquanto observava os novos pais em choque com a surpresa. Então Gwen riu enquanto parecia que choraria ao mesmo tempo, e olhou para Peter, ainda chocado.

                - Diga alguma coisa – pediu ao marido.

                - É sério? – Ele perguntou num fio de voz, fazendo as duas mulheres gargalharem.

                - Sim, Peter. Os bebês estão perfeitamente bem. O que aconteceu não os afetou em nada. Mas recomendo que Gwen procure não fazer atividades com muito esforço e descansar mais pelos próximos dias. Ainda foi um estresse pra ela e pras crianças.

                Peter riu com a maior alegria que Gwen já vira em seu rosto, e se inclinou para beijá-la.

                - E tem mais uma coisa – a médica chamou a atenção dos dois com mais um sorriso que parecia guardar um segredo – Ainda é cedo pra saber se vocês têm três meninos, três meninas ou ambos.

                - O que?! – Gwen perguntou sorrindo, agora realmente com os olhos cheios de lágrimas.

                - Três?! – Peter falou com a mesma reação da esposa.

— Sim. Três bebês não idênticos. Por isso a tabela chinesa pode ser imprecisa. Se ela indicar uma menina, pode ser que um seja menina e os outros meninos. Ou podem ser duas meninas e um menino. O mesmo vale pro contrário. Ou todos podem ter o mesmo sexo. Mas só o exame vai dizer daqui algumas semanas.

Ela deixou que o casal fizesse sua festa particular entre sorrisos, beijos e abraços enquanto fazia algumas anotações e depois explicava aos dois a imagem da tela, esclarecendo onde estava cada bebê e como era possível saber que eram três crianças diferentes.

— Vamos chamá-los de bebê A, bebê B e bebê C pra identificação. Nem sempre é possível identificar o gênero de todos de uma vez, mesmo quando são apenas dois, por causa da posição em que estão, um pode esconder o outro, e isso até mesmo gera algumas falhas de identificação que só são descobertas no nascimento. Mas há um exame de sangue não invasivo que permite identificar. Quando demoramos demais sem ter certeza do sexo de uma das crianças, podemos fazê-lo. Isso é tudo por enquanto. Vou pedir que imprimam as leituras de hoje pra vocês levarem. Querem cartões com imagens separadas dos três bebês pra fazerem surpresa pra alguém?

— Sim! – Peter exclamou com tanta empolgação que fez as duas rirem de novo.

— Tenho três irmãos mais novos – Gwen falou – Vou entregar um pra cada um deles mais tarde e pedir que olhem junto com todo mundo.

— Vai ser uma surpresa grande então – a médica comentou enquanto desligava o aparelho e limpava o gel da pele de Gwen.

******

— Uma das coisas mais legais disso é que vamos ter menos dúvida podendo escolher três nomes – Gwen falou enquanto voltavam para casa de táxi, querendo surpreender logo a família, que em breve estaria toda em casa.

— Vamos reservar logo dois de menino e dois de menina. Se precisar de mais algum de um dos dois vamos pra nossa lista número três de favoritos.

— O que você vai fazer? – Gwen perguntou ao ver Peter discar o número de May no celular.

— Brincar um pouco com ela.

Gwen riu quando ouviu May atender.

— Tia May... A senhora prefere ser avó de um menino ou uma menina?

— Estranho você me ligar pra perguntar isso, Peter, nos vemos toda hora em casa. Tem alguma coisa acontecendo? – A ouviram dizer no viva voz.

— Só responda – Peter pediu.

— Eu não sei. Eu ficaria feliz com qualquer um dos dois. Embora eu gostaria de cuidar de uma garotinha. Meu único filho foi menino. Mas o bom de um garotinho seria relembrar aqueles tempos com você.

Gwen se derreteu ao ver o olhar e o sorriso no rosto do marido com essas palavras.

— Eu te amo – Peter disse.

— Também amo você, querido.

                Todos ficaram em silêncio um pouco até May falar novamente.

                - Vocês já descobriram? Não era só daqui alguns dias? Gwen está bem?

                - Estamos todos bem, tia May – Gwen falou – Um contratempo atravessou nossos planos, mas estamos bem.

                - Onde vocês estão?

                - Indo pra casa – Peter respondeu – Helen e os meninos já chegaram?

                - Há alguns minutos.

                - Pode pedir pra todos nos esperarem juntos? – Gwen pediu.

                - Posso. Eu vou pra casa de Helen agora.

                - Perfeito – Peter disse – Chegamos em alguns minutos.

                Os dois gargalharam juntos depois de se despedirem e desligarem, logo vendo a rua de casa e saindo do táxi momentos depois. Subiram para casa e vestiram roupas mais confortáveis antes de se juntar aos demais no apartamento dos Stacy.

                - Peter?! – Helen exclamou surpresa ao ver o hematoma em seu rosto – O que aconteceu?!

                - O tumulto no mercado. Nós estávamos lá na hora, desistimos de fazer compras e saímos o quanto antes quando o assalto no armazém do lado começou, mas as pessoas ficaram aterrorizadas. Foi difícil sair sem levar nenhum empurrão.

                - Ele ainda se usou de escudo pra mim – Gwen falou enquanto May tocava o rosto do sobrinho para ver a lesão, e lhe dava um de seus olhares codificados.

                - Você tá bem, mana? – Philip perguntou.

                - Sim. Eu me arranhei, mas não foi nada feio. Nós fomos ao hospital verificar o bebê de qualquer forma. Estamos bem.

                - E por que pediram pra nos juntarmos aqui? – Simon perguntou.

                - Aconteceu alguma coisa, mesmo com o bebê bem? – Howard questionou.

                - Então... O bebê é a questão – Peter falou sério – Não aconteceu nada com ele durante nossa fuga, mas descobrimos algo importante no ultrassom.

                Gwen quase teve pena dos olhares apreensivos de May e Helen, e tentou segurar o sorriso que estragaria toda a surpresa enquanto Peter entregava três envelopes a cada um dos irmãos de Gwen.

                - O que é isso? – Howard quis saber.

                - Descobrimos três coisas importantes no exame – Gwen falou segurando a mão de Peter – E vocês são três. Cada um olha uma.

                Os três garotos se entreolharam sem entender nada.

                - Você está me matando, Gwen – Helen reclamou.

                - Calma, mamãe. Espere eles abrirem.

                Simon foi o primeiro a puxar o conteúdo do envelope e olhar por um tempo tentando entender a informação.

                - Bebê C? – Ele perguntou olhando para a irmã, e imediatamente fazendo os irmãos arregalarem os olhos e verificarem o que havia em seus envelopes, ficando ainda mais chocados quando o fizeram.

                - Bebê A?! – Philip exclamou.

                - Bebê B?!

                Dessa vez Peter e Gwen não conseguiram ficar sérios com a cara de choque de May e Helen, e gargalharam junto com Howard e Philip.

                - São três?! – Simon finalmente assimilou a informação.

                Gwen assentiu e os três irmãos berraram de alegria, correndo para abraçá-la.

                - Eu não acredito, Peter! – May falou cheia de lágrimas nos olhos – Então era com isso que estavam brincando no telefone? – Ela perguntou abraçando o sobrinho com força, e sendo igualmente retribuída – Ben estaria tão feliz! Seus pais estariam tão felizes!

                - Gwen! Gwen! – Sua mãe exclamava e ria enquanto abraçava a filha – Seu pai estaria louco de felicidade agora.

                - Já sabem os gêneros? – Philip perguntou a Peter após também abraçá-lo.

                - Ainda não. Precisamos de mais algumas semanas pra isso. Vamos contar tudo daqui a pouco.

                - Vamos fazer outro jantar especial! – May sugeriu.

                - Agora mesmo! – Helen concordou já arrastando todos para a cozinha enquanto ainda riam e celebravam – Menos vocês dois – ela disse a Peter e Gwen – Sentem e descansem.

 


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