Tive dificuldade em lidar com o que eu estava sentindo.

O restante das minhas férias foi um tormento, comigo em estado de negação permanente. Quando o ano letivo começou, eu estava preocupado e em alerta.

Eu tinha esperança de que o que eu senti no natal, não fosse real. Ansiava que fosse um lapso momentâneo, um deslize, qualquer coisa... Menos que eu tivesse desenvolvido sentimentos por uma aluna.

— O que você tem? Está inquieto demais – Sasuke perguntou, ao meu lado, na sala dos professores.

— Estou um pouco nervoso... Por causa do começo do ano letivo – Disse como meia verdade. Eu realmente ficava nervoso, mas não era isso o que me deixava inquieto agora. Minha turma era basicamente a mesma, com leves mudanças. Eu não sei como seria minha reação quando chegasse à sala, para dar as boas vindas a todos, e visse Hinata.

Sasuke me olhou desconfiado. Ele sabia que era mais do que eu estava falando...

Quando deu o horário, cada professor foi para uma sala, recepcionar os alunos e direcioná-los ao ginásio, para a cerimônia de abertura. Apreensivo, eu caminhei em direção à minha sala. Respirei bem fundo, antes de entrar.

— Muito bem turma – Falei alto, entrando na sala e me posicionando. Observei enquanto eles se acalmavam e, meu coração acelerou quando meu olhar recaiu no lugar onde Hinata sentava.

E ela estava lá, no mesmo lugar, olhando pra mim. Seu rosto imediatamente corou, como de costume, e eu senti o estomago gelar, na mesma proporção que meu peito se aquecia.

Não tinha mais como fugir, o sentimento estava em mim.

Eu nem sei quais palavras usei para recepcionar os alunos. Eu não sei quando eles se levantaram e saíram... Eu não prestei a menor atenção na cerimônia.

Tudo o que eu conseguia pensar era que eu tinha que me afastar da Hinata.

— Quando você vai me contar o que está acontecendo? – Sasuke surgiu ao meu lado. Eu ainda estava fora da escola, perto do ginásio.

— Do que esta falando? – Desconversei.

— Eu te conheço e não é de ontem. Sei que tem alguma coisa te incomodando, desde o ano passado. Por que não quer me contar?

— Não é isso... Eu nem sei como contar – Suspirei.

Sasuke olhou ao redor e deu um passo em minha direção, se colocando ao meu lado, com as mãos no bolso.

— É sobre a Hyuuga?

No mesmo momento me endireitei, alarmado. Não respondi, permanecendo em silêncio, mas ele ficou me olhando diretamente, ainda esperando uma resposta, então eu confirmei com a cabeça.

— Sabia que você tinha se aproximado demais dela... – Ele bufou – Naruto, você é inexperiente, mas não é burro. Nós chamamos atenção, é normal, por isso é preciso muito cuidado. Eu te alertei disso... – Ele fez uma pausa – Ela se confessou pra você?

— Não... Não, Sasuke, nada assim...

— Então?

Eu respirei fundo e o olhei diretamente, me preparando para o que viria.

— Eu... Desenvolvi sentimentos que não...

Não saberia descrever o olhar que ele me lançou, então eu parei de falar. De todas as situações que ele imaginou, tenho plena certeza que, em nenhuma delas, ele achou que o problema partisse de mim.

— Você? – Perguntou, como se precisasse que eu repetisse.

— Sim...

Sasuke cruzou os braços e abaixou a cabeça, pensativo. Ele olhou em volta, novamente, antes de continuar.

— Não acredito nisso! Você é o professor. Os pais dessas meninas confiam em você! – Ele estava inconformado – Não faz isso, Naruto.

— Sasuke, eu não fiz nada. Não precisa se preocup...

— Nem termina! – Ele me fitou muito sério – É preocupante sim. Você precisa se afastar dela, imediatamente. Nada de leitura, nada de biblioteca, nada de conversas aleatórias.

— Eu sei disso.

— Naruto, eu estou falando sério.

— Eu sei, eu sei... – Repeti – Já decidi fazer isso... Eu vou me afastar. Foi à primeira decisão que eu tomei assim que percebi meus...

— Para! Você não me disse nada, porque não percebeu nada. Está bem?

Eu apenas concordei... Era melhor assim.

Ele suspirou e pegou no meu braço, apertando levemente.

— Eu sei que você não é assim, então, não estrague tudo – Seu olhar era preocupado – Me prometa, Naruto.

— Eu prometo.

Fui sincero. Eu realmente queria por um fim naquela situação, por isso eu passei a evitar a Hinata. As únicas vezes em que conversei com ela, se não foi em sala de aula, foi nos corredores, nas raras vezes que ela puxava assunto, quando me via. Contudo, mal trocávamos duas frases inteiras. Eu realmente fugia dela, com a desculpa de estar ocupado, mesmo quando eu não estava.

Um dia, depois de uma aula na minha turma, eu observei todos os alunos saírem, incluindo a Hyuuga, e me demorei em arrumar as minhas coisas.

Sozinho e despreocupado, me levantei pra sair e me deparei com ela retornando sozinha pela porta.

Meu coração foi parar na garganta.

— Esqueceu alguma coisa? – Falei e tentei esboçar um sorriso.

— D-desculpa, eu só... Só queria perguntar... – A jovem abriu a boca para falar, umas duas vezes, mas desistiu. Eu revezava meu olhar entre ela e a porta, resistindo muito à vontade de fixar meu olhar nela – Está... Tudo bem, professor? – Finalmente disse, com voz baixa.

A pergunta me pegou de surpresa. Meu olhar caiu sobre ela e me demorei por tempo demais... Meu coração disparou. Senti a ponta dos meus dedos formigarem e engoli em seco.

O que diabos estava acontecendo comigo?

— Sim – Me forcei a responder – Está sim e com você? – Falei enquanto passava por ela, em direção à porta.

Eu precisava sair.

A morena permaneceu no mesmo lugar. Abaixou a cabeça e afirmou que sim, em silêncio...

— Que bom. Muito bom, então, a gente se vê... – Disse de modo vago e ela novamente concordou, então eu saí.

Com passos largos, caminhei para longe daquela sala.

 Eu não devia estar fazendo muito sentido para ela, mas como eu poderia dizer que precisava me afastar, por que não confiava em mim perto dela? Ou admitir que ela monopolizava meus pensamentos a ponto de eu não me reconhecer?

Como explicar que eu queria ser mais que o seu professor?