A confirmação do que eu sentia veio em um momento inesperado.

Depois do baile, eu não vi ou falei com Hinata pois, propositalmente, me mantive bem ocupado e bem afastado. Até pedi para outra pessoa fazer o encerramento da minha turma, dando uma desculpa qualquer.

Eu não queria admitir, mas a vontade que eu sentia de estar com ela crescia, quase na mesma proporção que o medo.

Finalmente as férias chegaram e eu teria tempo para pensar e me organizar, com segurança. E realmente foi tudo tranquilo durante os primeiros dias.

Saí com o Sasuke e com alguns amigos da faculdade que não víamos há um tempo. Visitei os túmulos da minha família. Marquei uma pequena viagem para o fim de ano, apenas para distrair um pouco e visitar alguns lugares históricos.

Li muito, muito mesmo.

E era nesses momentos que eu tinha mais dificuldade em não pensar na Hinata... Me habituei a presença dela junto com os livros e estava tendo dificuldade em separar as duas coisas.

E eu tentava, desesperadamente, não pensar no quanto eu queria estar com ela.

Dois dias antes do natal, descobri uma feira de livros ao ar livre, em uma cidade vizinha, e eu fui conferir. Gosto desse tipo de feira já que sempre encontro bons livros nesses eventos. Ás vezes, alguns raros.

E pra minha sorte, realmente tinha muitos livros fascinantes em exposição, com ótimos preços. Eu já estava com duas sacolas das aquisições que fiz, enquanto analisava mais um stand, completamente despreparado, quando ouvi uma voz muito familiar, bem ao meu lado:

— Professor?

Respirei fundo e engoli em seco, me virando. Hinata estava bem ali, usando roupas casuais e eu não me contive em olhá-la, demoradamente.

Eu estava com tanta saudade de por meus olhos nessa menina.

— Hyuuga – Limpei a garganta, afastando o pensamento – O que você está fazendo em uma feira de rua?

— E-eu gosto de eventos assim... A-alguns itens são de colecionador, não se acha em outros lugares – Murmurou tímida.

Claro que estamos fazendo a mesma coisa. Suspirei, tentando não reconhecer o quanto eu estava feliz vê-la...

— Você está bem? – Perguntei causalmente.

— Sim... E você? Soube que t-teve um assunto urgente pra resolver antes das férias...

— Ah, resolvido... Resolvido – Falei rápido. Já que o assunto urgente estava na minha frente.

— Que bom... – Ela murmurou, voltando a me olhar diretamente – Na verdade, fiquei f-feliz em te encontrar por aqui... N-não pude me despedir... Na escola... – Ela corou e baixou o olhar.

Novamente senti o estomago gelar.

            “Não, Naruto... Definitivamente, não” – Me censurei internamente.

Foi quando percebi a aproximação de outra jovem, muito semelhante à Hinata, com exceção do cabelo, que era castanho, e das feições mais espontâneas.

— Olá! – Falou com um largo sorriso no rosto, apoiando-se na morena.

— Essa é Hanabi Hyuuga, minha irmã.

— Claro, a outra Hyuuga. Vocês são muito parecidas. É um privilegio te conhecer, eu sou o professor de história da sua irmã, Naruto Uzumaki.

— Ah! – Demonstrou surpresa – Prazer, professor, minha irmã fala muito de você – A jovem contou e percebi Hinata a cutucar, envergonhada – Ai, o que eu disse?

Tentei ignorar que meu coração bateu mais rápido, mudando o foco da conversa.

— Então... Vocês encontraram alguma coisa interessante?

— Não, na verdade. Não encontrei nada que eu quisesse ainda...

— Mas eu acabei de achar. Algodão doce! Eu já volto – Hanabi disse alto e correu antes que pudéssemos processar sua saída.

— Como pode ver, somos apenas parecidas fisicamente... Ela é um mini furacão – Hinata comentou, com sua voz suave, dando alguns passos lentos.

— Quantos anos ela tem? – Me virei e passei a acompanhá-la, automaticamente.

— Quatorze.

— Então a diferença de idade de vocês é pequena.

— Sim... – Ela sorriu, observando a irmã, ao longe – Professor, tem lido ultimamente?

— Muito... E acabo de conseguir mais material – Falei apontando para minhas sacolas.

— E-eu gostaria de continuar indo biblioteca, no próximo ano... Estou fazendo tudo o que posso para não... Abrir mão desses momentos...

Meu coração acelerou mais com essa ideia e instantaneamente minha razão reagiu... Precisava cortar da raiz.

— Sobre isso, Hyuuga... – A morena levantou o olhar, mas não chegou a me fitar. Percebi que alguma coisa atrás de mim a surpreendeu – O que foi?

— Não acredito! – Ela caminhou até uma mesa e pegou um livro, com os olhos brilhando – Eu tenho poucas lembranças da minha mãe, mas em minhas memórias ela sempre estava com um livro nas mãos. Um livro de capa amarela... Meu pai não sabia o nome... 

Percebi que ela segurava um livro com carinho.

— É esse?

— Sim... Sim! Eu tenho certeza...

Me deixei observá-la, aproveitando o momento de distração. Era engraçado como ela conseguia transitar entre o estado normal e completamente tímido, tão rápido...

Ela era tão linda.

Hinata olhou em volta, procurando o dono daquele stand, mas não tinha ninguém...

— Hina... – Sua irmã voltou, com um algodão doce em uma das mãos e o celular na outra – É o papai.

Notei que a expressão da jovem mudou e ela respirou bem fundo antes de atender a ligação, se afastando um pouco. Deixou o livro de volta na mesa.

— Papai deve estar passando o itinerário do aniversário dela – Hanabi puxou assunto comigo – Teoricamente, é um dia feliz, mas ela odeia.

— É o aniversário dela?

— Não, vai ser dia 27... Ela vai fazer dezessete anos – Hanabi comentou e se concentrou em seu doce.

Neste momento, o rapaz do stand voltou e, sem pensar muito, eu peguei o livro de capa amarela, que antes Hinata segurava, e comprei. Peguei uma caneta que eu sempre carregava e escrevi uma dedicatória.

Agora eu só queria fazê-la pensar... No futuro, mudaria nossas vidas.

Estava recolocando o livro na sacola quando ela apareceu.

— Hanabi, temos que ir.

— Ah, mas nem fomos até o fim da feira – Reclamou.

— Já vieram nos buscar... – A jovem olhou alarmada para a mesa de livros, depois me fitou – Professor, compraram o livro?

— Sim... Eu comprei – Falei, entregando a sacola – Feliz aniversário adiantado.

A jovem ficou surpresa e fitou Hanabi, que a ignorou. Ela pegou a sacola de minhas mãos, mas não me olhou diretamente...

— O-obrigada...

Meu peito aqueceu. Talvez pelas batidas aceleradas que não cessavam.

— Eles chegaram – Hanabi disse, fitando alguém ao longe. – Tchau, professor Uzumaki.

A morena observou a irmã se afastar e me fitou rapidamente, ruborizada, ainda abraçada a sacola que eu tinha entregado.

— P-posso... Te dar um abraço? – Perguntou, me pegando desprevenido.

— Claro... – Permiti. Então a morena se aproximou e me abraçou, sem jeito. Fechei os olhos por um momento, ao sentir um arrepio na pele.

— Feliz Natal, professor... – Ela murmurou e sua voz pareceu ecoar no meu ouvido. Então, ela se afastou e correu em direção a Hanabi. E eu a segui com os olhos, até não conseguir mais vê-la.

Meu corpo ainda estava quente e meu coração disparado. Tremi ao reconhecer essas sensações e levei uma mão até a boca, chocado.

Como eu deixei isso acontecer?