Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 16
Um pouco de sangue do nariz não é tão grave...


Notas iniciais do capítulo

Acabei postando esse capítulo praticamente duas semanas depois do que tinha planejado, mas por fim aqui está ele! ♥



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Essa era à hora! Romeu respirou fundo sentindo seus músculos tremerem de empolgação, o último final de semana antes dos infernais dias de prova da segunda avaliação — mesmo que a primeira avaliação mal parecesse ter acabado! — e ele pretendia aproveitá-lo até o último segundo possível!

—É isso aí, vamos lá pessoal! — falou para seus companheiros de jogos pelo microfone nos fones — E é melhor vocês mostrarem serviço, porque eu não sou Noé para ficar carregando animal não!

—Montéquio você andou tomando energético de novo? — Lorde Zucker perguntou através do fone.

Ele quase nunca aparecia porque estava quase sempre trabalhando, mas quando aparecia era para virar a noite junto com o resto do pessoal!

—Energético é minha nova fonte da vida! — respondeu com o joystick nas mãos.

A porta do quarto se abriu, sua mãe enfiou a cabeça pela fresta e olhou lá para dentro.

—Romeu, ficar nesse quarto escuro em frente a essa tela faz mal para a vista. — ela acendeu a luz — Boa noite, e não vá dormir muito tarde.

—Tá bem… — concordou distraído.

Tudo o que ele precisava fazer era ir dormir antes de a mãe acordar, afinal cinco horas da manhã poderia ser considerado cedo ou tarde, dependendo do ponto de vista… e sua mãe vinha dormindo até cada vez mais tarde ultimamente.

—Perséfone vamos.

A mulher chamou para o montinho de pelos brancos amontoados na cama de Romeu, que se espreguiçou e a seguiu obediente.

—… todos prontos? — Zac estava dizendo — Ninguém precisa ir ao banheiro? Porque eu não quero morrer de novo porque alguém teve “uma emergência irremediável”.

—Caramba, ninguém aqui perdoa um erro de principiante? — Impostor reclamou.

E assim a partida começou.

De certa forma era até impressionante o quão rápido e quantas vezes Impostor era capaz de se suicidar acidentalmente… e às vezes levava junto um ou mais companheiros de time também.

Infelizmente perto das duas da madrugada Miragem teve que se desconectar quando os irmãos a deduraram para os pais.

—E depois reclamam porque eu não os escolhi como meus príncipes para meus 15 anos.

 Mas o resto do time seguiu firme e forte na batalha.

—Seus montes de acéfalos! — Japonese Dolll se estressou — O próximo que revelar nossa posição de novo eu juro que vou aí pessoalmente dar um tapão na orelha tão forte que sua cara vai virar para as costas!

—Hã… meu amor? — Lorde Zucker pigarreou — Você sabia que quando diz essas coisas estando literalmente bem ao meu lado, elas ficam mil vezes mais assustadoras?

—Então é melhor não ser o próximo delator atrapalhado. — Japonese Dolll respondeu séria e sombria.

E em meio aos gritos de vaias e provocações dos amigos, foi a voz de Romeu que se destacou quando ele afirmou:

—Impostor morre tantas vezes que nós deveríamos usá-lo de isca viva!

—Você ta bem Montéquio? — Pandora riu incrédula.

Romeu terminou sua segunda lata de energético e a jogou na lata de lixo.

—Eu to ligadão! — respondeu estremecendo desde as pontas dos dedos.

Era quase quatro da manhã agora, logo Romeu iria ter que ir dormir…

—Estamos sob ataque! — Zac gritou a certo ponto.

—Ele é grande demais! — Lorde Zucker chiou.

—Nem pense em amarelar! — reclamou Japonese Dolll — Morreremos lutando ou…!

—Gente como Impostor já morreu?! — Romeu riu de incredulidade.

—O Chili está fugindo com o barco! — Pandora berrou de repente.

É claro que quando viu o personagem de Aaron desamarrando o barco, Romeu largou tudo e saiu correndo para o cais, tentando alcançá-lo antes, mas tudo o que conseguiu foi cair no mar e quando tentou nadar atrás do barco, as ondas e a tempestade o empurraram e o fizeram morrer afogado.

—Chili volte aqui seu desgraçado! — Zac esbravejou, encurralado na batalha, junto com Japonese Dolll, Pandora e Lorde Zucker — Está me ouvindo?!

— ¡Yo no hablo tu idioma, lo siento! — Aaron riu — ¡Pero me voy a ir, para buscar ayuda!

—Esse desgraçado sempre perde convenientemente a capacidade de falar nosso idioma! — Zac reclamou — Alguém aqui fala espanhol?!

Japonese Dolll certamente não falava, mas em seu ímpeto de fúria, ela bem que tentou:

—Seu miserable, hijo de uma cadela! Quando eu te pegar voy chutar tu bunda tan fuerte que vai volar direto para el  Japão!!!

Romeu esperava sinceramente que um raio partisse o barco de Aaron ao meio.

Que horas seriam agora?

5h17min?! Romeu se surpreendeu, quando foi que havia ficado tão tarde?! Mas não dava para abandonar o grupo justo agora depois da deserção de Aaron… isso mesmo, então ele iria jogar só mais um pouquinho, exato, só mais um pouquinho…

—Romeu, você já acordou? — Vanessa bateu na porta e começou a abrir — Você poderia…?

Ela parou de falar ao perceber a cama vazia e bem arrumada, como se ninguém houvesse passado a noite ali, mas uma breve olhada no quarto logo revelou onde seu filho havia passado a noite.

Vanessa se aproximou com os braços cruzados.

—Romeu. — chamou suavemente — Você já dormiu?

—Claro. — ele respondeu distraído — Olha.

E indicou com um movimento do queixo o monitor a sua frente, onde um grupo de personagens parecia dormir em volta de uma fogueira.

—Ah sei… — Vanessa começou a contorná-lo lentamente — E o Romeu live action já dormiu?

—Que…?

Era tudo que ela precisava ouvir.

—Entendi.

Acenando com a cabeça, Vanessa esticou a perna e desligou o computador com o dedão do pé.

—Não! — ele ganiu lamentável, deixando o joystick cair no colo e agarrando o monitor apagado com ambas as mãos — Mamãe quando a senhora entrou? Por que fez isso?

 Olhou-a choroso.

Sem descruzar os braços, Vanessa suspirou.

—Eu lhe disse claramente para não ir dormir tarde Romeu, e você passou a noite em claro. — explicou paciente.

—Já… é de manhã? — Romeu piscou sem jeito para a mãe — Então acho que tecnicamente não fui dormir tarde, certo?

—Romeu, você não é mais nenhuma criança, entende perfeitamente o que falo. — a mãe o repreendeu com um tom de voz bastante tranqüilo, embora seu olhar fosse sério.

Ela tinha razão… mas precisava mesmo tê-lo desconectado daquele jeito?! Parecia até que as últimas…

—Que horas são?

—Já passa das oito.

…dez horas em expedição com seu grupo haviam sido em vão!

—Podia pelo menos ter me dado tempo para chegar até as montanhas…

—Sim, claro, mas por que ao invés disso não vai até a padaria que é muito mais perto? — ela sugeriu.

Romeu a olhou.

—Hã? Padaria?

—Sim, e me traga meia dúzia de pães doces. — ela entregou-lhe a bolsinha de dinheiro.

Mas o cérebro de Romeu ainda não parecia ter se conectado completamente com a realidade.

—Por que a senhora quer tantos?

—Eu vou comê-los.

—Sozinha?!

Afinal Romeu não gostava de pão doce e o pai dele ainda estava viajando.

—Estou com um gosto metálico estranho na boca. — ela deu de ombros — Então vá logo.

E sem mais opções, Romeu se viu do lado de fora com aquele sol ofuscante — sério que ainda não eram nem nove da manhã?! — antes que pudesse se dar conta, e algo passou roçando por suas pernas: Hades.

—Olhe só você. — reclamou com o gato preto, enquanto colocava o boné na cabeça — Aposto que também virou a noite em claro, e fora de casa ainda por cima, mas duvido que mamãe vá te dar bronca ou mandá-lo fazer tarefas!

Mas Hades simplesmente lançou-lhe um olhar de superioridade, como se pensasse em Romeu como uma mera criaturinha patética, e entrou em casa pela janela sem mais demoras.

Mas tão logo voltou da padaria, Romeu logo se esqueceu de seu sentimento de inferioridade relativo aos felinos da casa ao estranhar ver sua mãe inclinada sobre a pia da cozinha, com um papel toalha pressionando o nariz.

—O ralo está cheirando mal? — perguntou se aproximando por trás dela e vendo-a estremecer levemente de susto.

—Ah, você já voltou? Foi rápido. — ela virou-se ainda pressionando o papel toalha no nariz — Não está fedendo, ou na verdade eu não sei… meu nariz está um pouco entupido.

E quando ela abaixou a mão, Romeu arregalou os olhos ao ver uma gota de sangue escorrendo da narina direita de sua mãe.

—Ah, você trouxe os pães, que bom.

O que importavam os pães doces?!

E como ela podia estar assim tão calma em uma situação dessas?!

E por que é que ninguém mais estava dando importância alguma aquilo?

Como se ele estive exagerando?!

—Meu Deus Romeu, pelo seu áudio eu achei que Vanessa estava tendo alguma hemorragia, ou algo assim. — Tia Alice suspirou sentando-se com uma xícara de café no sofá ao lado da mãe de Romeu meia hora mais tarde.

—Eu disse que não era nada demais. — a mãe dele comentou comendo um pão doce enquanto fazia carinho em Perséfone que ronronava sobre seu colo.

—Mas o nariz dela começou a sangrar do nada! — Romeu enfatizou suas palavras — Isso não é normal! É definitivamente sinal de que alguma coisa não está bem!

—Mesmo assim, algumas gotas de sangue do nariz não é razão para tanto alarde. — Julieta comentou pondo a mão sobre o ombro dele.

—Sim, quando você leva um soco! — Romeu afastou a mão dela.

E o fato de elas todas estarem agindo tão calmamente só o deixava anda mais agitado!

Será que alguém ali poderia, por favor, se preocupar pelo menos um pouco com o fato de o nariz de sua mãe repentinamente ter começado a jorrar sangue?!

—Eu me sinto bem, só estou… — Vanessa bocejou — Cansada.

—Por causa da perda de sangue!

É claro que até ele sabia que já estava exagerando, mas pelo menos isso era melhor do que agir como se tudo estivesse absolutamente normal!

—Não exagere Romeu. — Vanessa girou os olhos e começou a se levantar, mas quando Romeu fez menção de protestar, ela o descartou: — Eu tenho que preparar o almoço.

E sua boca continuava com gosto metálica, mas ela tinha quase certeza de que havia algumas balas na geladeira…

—Você e Romeu poderiam vir almoçar lá em casa. — Maria Alice convidou — E talvez você pudesse marcar um médico também.

—Maria Alice não comece você também.

—Mas… o Romeu não vai deixar a senhora em paz. — Julieta comentou.

—Não vou mesmo! — concordou Romeu.

Então na verdade Maria Alice e Julieta estavam sim preocupadas à sua maneira, Vanessa suspirou e, sentindo-se encurralada, não lhe restou escolha, exceto prometer que iria marcar uma consulta.

E isso tecnicamente deveria ter tranqüilizado Romeu um pouco mais, porém, ao invés disso, ele parecia determinado em passar os dias seguintes fixado naquilo, afinal, a mãe dissera que iria ao médico, mas nunca dissera quando, e também havia se recusado a permitir que Romeu a acompanhasse.

—Por que ela faria isso? Ela deve estar escondendo algo mais grave, não é?! — ele preocupava-se cada vez mais.

Andando logo adiante, Astolfinho roncou.

—Não querido, não concorde com ele. — Julieta o avisou — Primeiro Romeu, amanhã nós entramos em período de provas, lembra? Vamos começar com Português e Biologia, você já sabe alguma coisa?

—Sei que narizes não deveriam começar a sangrar do nada!

—E o que você ia fazer acompanhando-a? — Julieta continuou, como se ele não houvesse dito nada — Você não dirige Romeu… e vocês nem tem carro, para começar!

—Mas se ela estiver sozinha na rua e passar mal?!

Julieta balançou a cabeça, e tentou ir por outra vertente:

—Quando o tio Samuel volta de viagem dessa vez?

—Acho que terça-feira à noite ou quarta-feira de manhã.

—Se tia Vanessa está mesmo enrolando para agendar uma consulta, então vai dar tempo do tio Samuel chegar e acompanhá-la.

Romeu parou.

—Acho que você tem razão, Julys. — concordou após pensar por um instante.

Julieta deu um sorrisinho, pelo menos isso já era algum avanço.

— ¡Buenas tardes, mis amigos! — Aaron os chamou de um banco ali perto, Julieta já nem se surpreendia mais por ele estar sempre por ali quando ela passava — Y tocinho, ¿como se vá?

Julieta o olhou impaciente.

—Eu já te disse que o nome dele é Astolfo.

Aaron a olhou inexpressivo e respondeu seriamente:

—E eu já te disse que ele parece ser delicioso — como ele podia ser assim tão cínico?! Desviando o olhar dela e fixando-se no mini-porco, Aaron começou a fazer movimentos com a mão para atraí-lo enquanto chamava-o suavemente: — Vem cá feijoada, vem. — Astolfinho roncou alegremente e se aproximou inocente — Bom… agora senta… senta… isso mesmo! ¡Qué cerdito tan listo!

Aaron riu ao ver a mascote obedecê-lo e recompensou-o com um pedaço de cenoura, supostamente Astolfinho não deveria ser assim tão amigável com qualquer estranho, e também só deveria seguir os comandos de Julieta, mas ela supunha que isso fosse culpa dela mesma por nunca corrigi-lo nisso.

—Sua mãe também planta cenouras? — perguntou abrindo a pochete e pegando o álcool em gel.

—Não, eu peguei isso na geladeira. — Aaron estendeu a mão para aceitar o álcool em gel.

—Tudo bem, só pare de dar lanchinhos a ele entre as refeições, vai engordá-lo. — mas Aaron sorriu como se fosse exatamente essa a sua intenção, Julieta fez uma careta e puxou de leve a guia do porquinho — Astolfinho, junto.

Rindo, Aaron inclinou-se para trás, apoiando os braços no recosto do banco e deixando o calcanhar sobre o joelho.

—Romeuzinho, você não disse nada até agora, por acaso ainda está chateado por aquele negócio do barco ontem? — ele deu de ombros — Vocês não devem ter me entendido por causa do barulho da tempestade, mas eu disse que estava indo buscar ajuda, e você bem que tentou vir comigo.

Eles estavam falando de jogos, não é?

Não tinha importância, desde que isso distraísse Romeu…

—Eu estava tentando te deter! — Romeu protestou.

—Oh sim, claro… — Aaron inclinou a cabeça de lado, sorrindo cinicamente.

—E não, eu não fiquei bravo por aquilo. — Romeu deu de ombros, desconversando — Uma vez enquanto jogávamos “dead by daylight”, Zac era o assassino e ele encurralou a Japanese Doll e ela, para salvar a própria pele, entregou para ele a localização de todos os jogadores restantes, inclusive Lorde Zucker e também, na primeira vez em que jogamos Among Us, Lorde Zucker estava super nervoso e torceu para não cair como impostor porque ele “era um péssimo mentiroso”. — fez aspas no ar — Ele jogava exatamente igual ao Heleno, errando os comandos e ficando preso em salas porque se batia nas paredes, mas no final foi um dos únicos sobreviventes porque ele era o impostor e mentiu sobre não saber mentir! Apesar de que afirma até hoje que naquela vez só matou dois jogadores e todo o resto foi a Japonese Doll, aquela namorada psicopata dele…

Na verdade, Julieta provavelmente nem queria saber que tipo de jogos eles jogavam, puxando a guia de Astolfinho ela começou a se afastar.

—E por que sumiu de repente ontem de manhã? — Aaron perguntou vindo logo atrás com Romeu — Nós estávamos apostando que a sua internet caiu, você ficou sem luz ou a sua mãe te pegou.

Por que ele estava mencionando a tia Vanessa justo agora?! Julieta olhou-o irritadamente por cima do ombro.

—A minha mãe. — Romeu suspirou.

—Yes! — Aaron deu um soquinho no ar, indicando que ele havia ganhado a aposta — E por que não voltou mais desde então? Nós tínhamos combinado de jogar o final de semana inteiro…

Será que ele não sabia mesmo quando tinha que calar a boca?

—Hoje não vai dar para apostarmos corrida, porque o Romeu não está com a bicicleta. — Julieta tentou desviar do assunto rapidamente.

Aaron colocou as mãos nos bolsos.

—E ele não pode correr junto?

—Só se quiserem ver meu coração batendo através da camisa.

Romeu reclamou com uma careta, mas o sorriso brilhante e divertido que Aaron lhe deu, o fez recuar automaticamente.

Aaron riu.

—A propósito Romeuzinho…

—Não me chame de Romeuzinho.

—Por que você está aqui hoje? — Aaron se espreguiçou — Acho que não te vejo caminhando desde as férias, não é? Se não fosse por aqueles jogos mortais Capellete, eu ia achar que você tem alergia ao sol.

Romeu enfiou as mãos nos bolsos, com uma expressão amuada.

—Mamãe meio que me expulsou de casa, ela disse que “precisava dar um tempo de mim”, ela até chamou a Julys para me arrastar.

Claro que sim, afinal até mesmo a sempre tão paciente tia Vanessa devia ser capaz de chegar ao seu limite depois de mais de trinta horas exposta a paranóia constante de seu filho muito preocupado.

—Ela te expulsou é? — Aaron riu levemente, parecendo familiarizado com aquela situação — E o que você fez? Virou a prateleira da cozinha enquanto brincava de homem aranha e derrubou todos os temperos caros e novinhos dela, e quando ela viu caiu em lágrimas com a vassoura na mão?

Romeu o olhou.

Você fez isso?

Aaron deu de ombros.

—É… criança.

—Eu não quebrei nada. — Romeu se defendeu — Eu só estava preocupado, mas ela é muito teimosa!

—Preocupado com o que?

Por que ele continuava insistindo naquilo?! Julieta queria estrangulá-lo!

—O nariz da mamãe começou a sangrar…

Romeu estava fazendo aquela cara angustiada de novo, Julieta já estava avançando para dar um soco no estômago de Aaron.

—Por quê? Você e sua irmã estavam brigando por um caminhão de brinquedo e quando a sua mãe tentou separá-los, o caminhão escorregou e bateu na cara dela?

Julieta parou. O que?!

—Por que isso foi tão estranhamente específico? — ela piscou.

Não que ela já não tivesse uma boa idéia do porquê!

—Pois é… crianças. — Aaron deu de ombros.

—Mas eu não bati na cara da minha mãe, e nem tenho irmã! — Romeu se defendeu.

—Sorte a sua, si no fuera a recibir tal paliza que casi le da la mano al mismo Señor Jesús. — Aaron colocou a mão sobre o ombro de Romeu — Então porque o nariz dela começou a sangrar?

E por que ele não podia simplesmente deixar aquilo para lá?!

—Ele só começou a sangrar do nada…

—É? — Aaron passou a mão pelos cabelos. — Não parece tão grave assim…

—Por que todos ficam dizendo isso? — Romeu reclamou — Eu não estou dizendo que alguém bateu na cara da mamãe e o nariz dela começou a sangrar, eu estou dizendo que o nariz dela começou a sangrar do n…! Argh! Astolfinnho!

Ele virou-se e se afastou correndo quando Astolfinho escolheu justamente aquele momento para se aliviar.

Porquinho esperto!

Quando as provas em fim começaram, a única pessoa que parecia mais despreparada que Romeu — que obviamente não havia estudado uma linha sequer — era Margot: que nem sequer sabia que eles teriam prova.

—Por que não me avisou?! — a garota chorou desesperada, agarrando os ombros de Julieta, momentos antes de o sinal tocar — Que tipo de amiga você é?!

Julieta cobriu o rosto com a mão.

—E como eu ia saber que você não sabia? — reclamou — Os professores só falam disso há duas semanas, e literalmente passamos a semana passada inteira fazendo revisão! O que você faz durante as aulas Margot?!

—Julieta eu não preciso de uma bronca agora, minha mãe e minha tia já vão fazer isso depois, eu preciso de ajuda! — Margot a sacudiu.

—Devem faltar uns cinco minutos para o sinal, o que você acha que eu posso fazer Margot? — perguntou tirando as mãos dela de seus ombros, e Margot olhou-a incisivamente, sem dizer nenhuma palavra, Julieta se contraiu. — Não! De jeito nenhum!

—Julieta não me abandone! — Margot insistiu.

—E se eu tirar nota vermelha também? — Julieta a soltou.

Mas Margot olhou-a com uma expressão séria e inabalável.

—Então aceitarei meu destino honradamente. — declarou.

—Margot, colar é errado.

Romeu, que já havia aceitado seu destino — ou melhor, nem se importava com ele — a repreendeu.

—Eu não posso me render sem lutar! — Margot respondeu imediatamente, antes de voltar-se para Julieta novamente: — Então você vai me ajudar, não é? Minha querida amiga Juju.

Julieta fez uma careta.

—Está bem! — respondeu a contra gosto — Mas se formos pegas, eu vou jogar toda a culpa em você sem nem pensar duas vezes, entendeu?

—Ah, eu sabia que você não me abandonaria amiga! Romeu troca de lugar comigo agora! — Margot comemorou pulando animadamente sobre o pescoço da outra…

Que não era nem um quarto da animação com a qual ela se encontrava depois da prova:

—Meu Deus Julieta, como sua letra pode ser tão horrível?! — lamentou com o rosto escondido entre as mãos. — Eu não consegui ler nada! É certeza que levei bomba!

—Pelo menos vocês não foram pegas. — Romeu comentou.

Julieta cruzou os braços.

—Minha caligrafia é perfeitamente legível, você que precisa trocar de óculos! — defendeu-se.

—Ta, tanto faz. — Margot inclinou-se de lado e deitou a cabeça em seu ombro — Só tenta fazer a letra um pouco maior na próxima.

—Próxima?! — Julieta sobressaltou-se.

Margot olhou-a seriamente.

—Não vai me deixar nadar tanto só para morrer na praia, não é, Juju?

—Margot, eu acho que você já se afogou há uns dois quilômetros da costa.

Romeu opinou colocando as mãos sobre os olhos e os semicerrando, como se estivesse vendo o corpo de Margot boiando à distância.

—Não dê ouvidos a ele Juju! — Margot arregalou os olhos, erguendo a cabeça e agarrando-se ao braço de Julieta.

—Está bem, mas pare de me chamar de “Juju”! — Julieta tentou afastá-la, empurrando-a pela cabeça — E nos próximos dias tente pelo menos abrir o caderno para saber que prova nós teremos no dia, porque eu não quero ter que agüentar isso pelo resto da semana! — reclamou inclinando-se para frente e deitando a cabeça sobre os braços cruzados — Um dia só já é cansativo o suficiente!

—A prova a deixou tão desgastada que ela até começou a perder a cor.

Alan comentou ao passar rindo por eles, atraindo instantaneamente o olhar irritado de Julieta, mas Romeu rapidamente colocou-se de pé diante dela, obstruindo seu campo de visão.

—Eu liguei para o meu pai e falei sobre a mamãe! — anunciou.

—E o que ele disse? — ela perguntou, deixando Alan para lá… por enquanto.

—Vai tentar voltar mais cedo para levá-la ao médico o quanto antes. — ele respondeu voltando a se sentar. — Mesmo se para isso tiver que enganá-la e dizer que eles vão ao shopping.

A mãe dele definitivamente não gostava nem um pouco de ir ao médico.

—Sua mãe está doente Romeu? — Margot perguntou interessada, e sorriu brincalhona. — Está evitando alguma vacina?

Mas Romeu balançou a cabeça.

—É que sábado o nariz dela começou a sangrar.

—Ela bateu ou espirrou muito forte?

Romeu voltou a balançar a cabeça.

—Nada disso, só começou a sangrar de repente.

—Ah. — Margot fez uma pausa. — Uma vez Narciso me contou que o nariz de um dos colegas de classe dele começou a sangra no meio da aula.

Romeu e Julieta a olharam ansiosos.

—E…? — Instigou Julieta.

—Ele tinha câncer.

—O QUE?!

Romeu gritou ao mesmo tempo em que Julieta, já arrependida e irritada por ter perguntado, socava o ombro de Margot.

Mas que força no braço direito tinha aquela mulher!

—É claro que Margot não sabe do que está falando, se soubesse ela não estaria me pedindo cola em biologia, não é?! — perguntou por entre dentes com um olhar ameaçador.

—C-claro! — Margot assustou-se — Romeu desculpe, não escute o que eu disse ok? Eu não quis dizer que sua mãe pode estar com câncer, eu só estou nervosa com as provas e falando besteira, não precisa me levar a sério!

Mas a feição extremamente pálida de Romeu dizia a qualquer um que ele já não estava ouvindo absolutamente mais ninguém.

E é claro que ele também não ficou muito mais calmo quando, na quarta-feira de manhã, o nariz de sua mãe começou a pingar sangue no café e ficou tão desesperado que ele mesmo marcou por telefone uma consulta para ela no mesmo instante, era apenas o clinico geral então conseguiu agendar para sexta-feira à tarde, e também até lá seu pai já teria voltado de viagem, por isso poderia acompanhá-la.

No meio de tudo isso, obviamente a semana de provas passou praticamente despercebida.

É claro que começar a sangrar pelo nariz sem nenhuma razão aparente era um pouco alarmante — especialmente depois das palavras “tranqüilizadoras” de Margot —, por isso era compreensível que inclusive Julieta estivesse preocupada com tia Vanessa, mas também estava com um pouco de pena, porque sabia que tio Samuel e Romeu devia estar a enlouquecendo em casa, já que quase todos os dias ao invés de ir para casa depois do trabalho, ela parava na casa de Julieta para comer petiscos, cochilar no sofá ou “comentar casualmente” sobre quantos dias faltava para a próxima viajem de tio Samuel e como era uma pena que ele não pudesse levar Romeu junto… isso até um deles — ou os dois — começar a ligar e perguntar por ela, logo antes de já aparecer na porta para levá-la.

Mas ela só teria que agüentar isso por mais alguns dias, já que o resultado dos exames só iriam sair na quinta-feira… e Julieta tinha certeza que eles não mostrariam nada de grave.

De jeito nenhum.

—Que tal uma corrida? — Aaron sugeriu se alongando. — Ganha quem completar a primeira volta, a menos que esteja com medo de perder igual à ontem.

Julieta olhou-o irada.

—Eu só perdi porque você jogou um tomate para Astolfinho e ele me puxou para fora da trilha para ir atrás! — reclamou afrontada.

—Meu bem. — Aaron sorriu-lhe cinicamente — Você teria perdido de qualquer jeito.

Julieta teria retrucado, ou melhor, o socado, se seu celular não tivesse começado a tocar, então se conformou em lhe mostrar o dedo do meio e lhe dar as costas para atender.

—A…?

— JULYS VEM PARA CÁ AGORA!

Romeu desligou sem dar tempo para uma resposta.

O coração de Julieta acelerou como se ela tivesse acabado de completar uma corrida.

—Que dia é hoje?!

—Que? — Aaron a olhou confuso — Dois de junho.

—Da semana!

—Quinta-feira…?

—Os exames da tia Vanessa! — Julieta puxou a guia de Astolfinho — Vem meu amor! Anda!

E saiu correndo sem dar mais explicações.

Por que Romeu parecia desesperado daquele jeito? O que tinha dado nos exames de tia Vanessa? Era mesmo câncer?!

—Ei Julieta! — Aaron chamou alcançando-a — O que houve?!

—É a tia Vanessa, a mãe do Romeu! Aconteceu alguma coisa com ela!

Aaron não perguntou mais nada, até Astolfinho parecia entender a urgência de sua tutora, correndo o máximo que conseguia com suas perninhas roliças.

Romeu a estava esperando em frente de casa.

—Julys! — ele correu para abraçá-la assim que a viu. — Julys!

Chamou com voz embargada.

Julieta o abraçou de volta, tremendo e de olhos arregalados.

—É a tia Vanessa? — Romeu confirmou — Os resultados do exame saíram? — ele acenou novamente, Julieta engoliu em seco — É… câncer? — Romeu negou, Julieta quase suspirou aliviada, mas mesmo que não fosse câncer ele ainda parecia nervoso demais — É grave?

Romeu começou a negar, mas então confirmou, e logo em seguida negou novamente.

Ele afastou-se dela, olhando-a confuso e esfregando o rosto para secar as lágrimas.

—Não é grave exatamente, é… é delicado… ela… ela…

—O que?! — Aaron reclamou impaciente, erguendo as mãos como se quisesse sacudi-lo — ¡Date prisa y habla de una vez hombre!

—Ela…

—Fala Romeu! — Julieta gritou a ponto de por o coração pela boca.

—Ela está grávida!


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Notas finais do capítulo

Quem esperava por essa? XD



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