Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 15
¡Bienvenidos a la Jungla de los Davila!


Notas iniciais do capítulo

Acho que acabei exagerando um pouco nesse aqui, mas meu espanhol é o basicão do basicão, então provavelmente não deverá ter problemas kkkkk



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801753/chapter/15

Para alguém que havia ganhado pela primeira vez os “Jogos Capelletes e agregados” e passado quase quinze minutos inteiros comemorando, gritando e dançando sem camisa, Romeu parecia bem infeliz agora.

—Cara me desculpa mesmo. — Romeu se desculpou pelo que devia ser a sétima vez enquanto pedalava — Talvez eu tenha exagerado um pouco, mas…

—Creí que éramos amigos ¡pero el dolor en mi tonillo es como un cuchillo en mis espaldas! — Aaron lamentou-se na garupa da bicicleta.

Surpreendentemente Heleno acabou não sendo a única “vítima” a necessitar de uma ambulância no fim dos jogos, pois ao tentar se levantar Aaron descobrira que havia torcido o tornozelo quando Romeu o derrubou na corrida de vassouras.

—Homens são tão dramáticos! — Julieta reclamou mal-humorada, pedalando logo ao lado — Seu tornozelo dói, e daí? É só colocar gelo e pronto. Não foi você quem foi esfaqueado pelas costas pelo melhor amigo em quem mais confiava e conhecia, literalmente, desde o dia do nascimento!

—Foi o que eu disse. — Aaron defendeu-se — Bom… quase.

—Gente, dá para parar? — Romeu suplicou — Eu só queria ganhar os jogos Capelletes e agregados pelo menos uma vez. Isso é pedir muito?

—E estava planejando tudo aquilo há quanto tempo? — Julieta quis saber.

—Desde o momento em que convidei o Aaron! — respondeu de imediato — Hã… certo, talvez eu tenha exagerado um pouco, mas…

Ele começou a se desculpar mais uma vez, quando Aaron o interrompeu com tom sarcástico:

—No lo sé, ¿quizá? ¿Que parece a ti se preguntarnos a mi tonillo?

Julieta não tinha certeza do que ele estava falando, mas sabia que ele estava reclamando do tornozelo de novo, quem ouvia nunca iria adivinhar que ele havia relutado tanto em aceitar a carona para casa, insistindo que podia ir andando sozinho.

Na verdade Julieta teria acompanhado Heleno até a parada de ônibus… se Margot não tivesse lhe lançado um olhar capaz de transformá-la em cinzas.

Então ali estava ela, só esperava que Margot não tentasse jogar Helena na frente de um ônibus para conseguir ficar alguns minutos a sós com Heleno.

—E você pode estar se desculpando agora, Romeu, mas se tivesse uma chance de voltar no tempo, faria tudo de novo, não é?! — Pressionou Julieta.

—Sem sombra de dúvida. — assumiu na mesma hora.

—Então não está nem um pouco arrependido! — Aaron reclamou.

—M-mas e daí?! Vocês me empurraram, perseguiram e jogaram porcos em mim e varetas nos meus olhos, e também não estão nem um pouco arrependidos! — Romeu defendeu-se.

—Foi só um porco! — Julieta protestou.

—E quantos porcos você queria me jogar, Julys?!

 —Tudo bem, nesse ponto você tem razão. — Julieta entregou-se suspirando e, de repente, não mais irritada — Então… provavelmente estamos quites?

—Com certeza estamos quites! — Romeu confirmou rapidamente, sorrindo por sobre o ombro.

Afinal com certeza ele não queria viver sob a sombra de uma possível — e dolorosa — vingança futura daquela Yop descontrolada.

Mas Aaron não sabia se acreditava plenamente naquilo. Então quer dizer que Julieta era mais propensa a perdoar um ataque sem revidar desde que ela tivesse atacado primeiro? Se até ele que a conhecia há poucas semanas havia entendido isso, então Romeu que a conhecia literalmente desde o dia em que nasceu… e em primeiro lugar não foi Romeu quem ficou incitando a ira dela propositalmente?!

—Mocosos. — resmungou.

—O que disse? — Julieta perguntou desconfiada.

—Que vocês têm que virar naquela rua ali. — desconversou inclinando-se na garupa para o lado oposto ao de Julieta, para conseguir enxergar o caminho melhor.

Pelo sim e pelo não, era melhor manter o bico fechado.

—Aaron cuidado, ou vai nos derrubar! — Romeu reclamou tentando manter o controle sobre a bicicleta.

Mas Aaron é que não iria mais cair naquela história de “garoto bonzinho”!

—Aquele portão grande ali a diante é uma vila, eu moro lá, é a quarta casa à esquerda, cuidado com as escadas, mas tem uma rampa para veículos. — instruiu-os, deixando o assunto de lado.

Do lado de fora “La jungla de los Davila” parecia uma casa completamente normal e bastante parecida às outras casas da vila: um muro comum verde desgastado com um portão de ferro pintado de preto no centro e ladeado por um interruptor para campainha de um lado e uma caixa de correio para cartas do outro, e um portão maior para veículos mais a esquerda, havia uma arvorezinha magrela e uma lixeira na calçada… isso claro se você ignorasse toda a densa vegetação que já se entrevia por sobre o muro e que já davam pelo menos alguma ideia do que encontrariam lá dentro.

Ainda assim Aaron achou melhor avisá-los antes de qualquer coisa:

—Se forem entrar mantenham as bicicletas sempre nos limites da trilha, se esmagar uma raiz sequer, mi madre será simplesmente invocada para arrancar suas cabeças.

—Ah, nós não vamos entrar, só o trouxemos porque era o mínimo que eu poderia fazer depois de…

Romeu foi parando de falar quando viu o que havia do outro lado do portão: era tanto verde que era como se ao invés de uma casa, ali houvesse, na verdade, alguma zona de proteção ambiental.

Aaron mancou alguns passos lá para dentro e então girou com os braços abertos.

— ¡Bienvenidos a la jungla de los Davila! — exclamou sarcasticamente.

—Mas que negócio é esse? … — Julieta perguntou abismada enquanto entrava cuidadosamente com a bicicleta ao lado.

Ela até se lembrava de Aaron ter comentado vagamente algumas vezes sobre sua mãe gostar de jardinagem, afinal, até onde sabia, ela cultivava tomates, pimentas e algumas flores também… mas aquilo era absurdo!

Mal dava para ver a casa no final da trilha de paralelepípedos!

Julieta sentia como se a qualquer momento fosse ver macacos pulando entre os galhos.

—Não se preocupem, não há nenhum animal selvagem vivendo aqui… provavelmente. — Aaron riu como se pudesse ler seus pensamentos — Madre proíbe qualquer mascote, porque eles arruinariam seu paraíso particular.

—Mesmo assim… é bem impressionante, acho. — Romeu comentou vindo atrás de Julieta, também com sua bicicleta ao lado — Mamãe não consegue nem plantar um cacto sem que ele morra em poucas semanas.

Isso porque Hades, aquele gato perverso, ficava fazendo xixi e escavando qualquer vaso que tia Vanessa ousasse ter.

—Normalmente só falamos português daquele portão para a rua, mas de lá para cá para dentro falamos em castellano, e como tem todo esse mato aqui, sempre que saio de casa eu sinto como se estivéssemos cruzando a fronteira escondidos ilegalmente de novo. — Aaron riu.

—Como é? — Julieta arregalou os olhos.

—É piada! — ele garantiu rindo mais ainda e lhes dando as costas ao acrescentar: — Eu só tinha dois anos quando chegamos ao Brasil, como ia me lembrar de uma coisa dessas?

—Mas… legalmente, não é? — Romeu quis confirmar… porém Aaron continuou em silêncio — NÃO É?!

Ignorando completamente a pergunta, Aaron começou a apontar algumas direções e deliberadamente mudou de assunto enquanto comentava:

—Bem aqui está o pé de pimenta onde vomitei naquela vez quando Julieta me nocauteou… para aquele lado fica o canteiro de ervas, já apanharam com um galho de loureiro? Dói à beça, o que é irônico, porque o chá de louro é bom para dores, ali, escondido naquele lado, atrás das maravilhas, está o pé de maconha, lá nos fundos fica o limoeiro e os tomates…

—Escondido ali fica o que?! — Romeu assustou-se, quase deixando a bicicleta cair.

— ¡Es un chiste! — Aaron riu olhando-os por cima do ombro — Uma piada! — traduziu — Nós não temos limoeiro.

—Hã?!

—É brincadeira, Romeuzinho. — o engraçadinho voltou a rir, mas Romeu continuou a olhar com desconfiança para as plantas, Aaron deu de ombros e seguiu em frente, mancando. — Si mi mamá realmente hubiera plantado algo como esto aquí, no se habría enojado tanto con solo un par de tatuajes.

—Um par de tatuagens?! — Repetiu Romeu.

Julieta gostaria muito de saber como ele fazia para entender mais de uma vírgula quando Aaron falava daquela forma.

Subindo na varanda da casa — que oh, mas que surpresa, também estava cheia de vasos de plantas — Aaron virou-se e os olhou com simulada e inocente surpresa.

—Quem foi que falou em tatuagens?

Romeu era tão absurdamente fácil de ser provocado — na verdade, os dois eram, cada um a sua maneira —, mas antes que sua revolta de fato entrasse em ebulição, ambos se surpreenderam e quase pularam de susto com o som de algumas folhagens se mexendo a sua esquerda.

O que? Será que eles ainda achavam que alguma onça ia mesmo pular da mata? Se bem que um sapo seria bem previsível… mas o que surgiu dali não foi um sapo nem uma onça… embora tenha sido quase isso.

Adila olhou seriamente dos dois visitantes desconhecidos para o irmão parado na varanda logo adiante.

—Creí de oído voces. — comentou.

Ligeiramente molhada, com os cabelos presos num coque desleixado, calçando havaianas e usando uma camiseta sem mangas e uma bermuda claramente surrupiadas das gavetas do irmão, era óbvio que ela não esperava visitas.

—Mis amigos me han traído hoy, ellos son Romeu y Julieta. — Aaron respondeu.

Ele estava falando sobre eles, disso Julieta tinha certeza, mesmo que ele tenha distorcido o som de seus nomes, fazendo com que o “R” de “Romeu” tivesse o mesmo som do “R” de “maroto” e “Julieta” soasse mais parecido com “Rulieta”.

Mucho gusto. — cumprimentou-os rapidamente, logo antes de voltar-se para o irmão novamente — ¿Por qué? — encarou-o incisiva — ¿Qué hicieses ahora su imbécil?

— ¡Nada! — Aaron hesitou — Pero solamente por curiosidad, ¿mamá está en casa?

—No.

—Entonces me ayuda a ir a la cocina apañar un poco de hielo para mi tornillo…

A porta se abriu tão de repente atrás de Aaron que ele pulou de susto, gemendo de dor logo em seguida, graças a seu tornozelo.

— ¡¿Y para qué quieres hielo?!

E a velocidade com a qual Aaron virou a cabeça também foi o suficiente para ele acreditar que agora somaria um torcicolo aos seus machucados também.

— ¡Madre! ¿Qué haces aquí?

A mulher empurrou também a porta de tela e saiu para a varanda, agarrando o filho pela camisa.

—  ¡Esta es mi casa, pelotudo!, y no cambies el tema, ¿para qué quieres hielo? ¿Qué le pasa a tu tobillo? — ela ergueu o punho ameaçadoramente — ¡¿Te involucraste en otra pelleja?!

Eles falavam tão rápido! Romeu e Julieta estavam completamente tontos, de fato parecia mesmo como se houvessem cruzado a fronteira para algum outro país, tal qual Aaron havia dito.

— ¡Detenga te mujer loca! — Aaron reclamou. — ¡No le paso nada a mi t…!

Porém, antes que pudesse terminar de dizer o que queria, Adila abaixou-se atrás dele e descuidadamente apertou seu tornozelo, fazendo-o uivar com a dor repentina e sua mãe cruzar os braços olhando-o ceticamente.

— ¿Ah, sí?

Aaron suspirou derrotado.

— También se ve un poco hinchado. — Adila comentou ainda agachada, apenas para acrescentar um pouco de lenha na fogueira.

—Ya lo entendí, pero es verdad que no me ha involucrado en una pelleja, solamente caí, mis amigos allá, lo pueden confirmar se ustedes no lo creen.

Respondeu cansado, indicando os amigos esquecidos logo ali, para a surpresa de ambos.

E agora, o que estavam dizendo? Por que estavam olhando para eles de repente? Será que Aaron havia lhes dito que fora Romeu quem o empurrara e o fizera torcer o tornozelo? A mãe dele parecia uma pessoa muito brava…!

Mas considerando o tanto que Aaron havia relutado em se deixar acompanhar até em casa, não parecia que ele iria simplesmente delatar alguém por um acidente — quer dizer, Romeu não teve intenção de propositalmente fazê-lo machucar o tornozelo afinal — e se fosse para Aaron delatar alguma coisa, então ele obviamente já teria falado daquele incidente de nocaute na escola… mas quer a mãe dele tenha ou não acreditado naquela história de “acidente”, ela certamente reconheceria Julieta ali, pois sua imagem não era facilmente esquecida…!

Era melhor estarem preparados para correr se a mulher pegasse um galho de loureiro!

A mãe de Aaron cruzou os braços, notando-os ali.

— ¿Y quién son estos?

Parece que não a havia reconhecido ainda!

Escondendo a mão direita atrás das costas, Julieta virou o rosto para o lado, fingindo observar a flora nativa, para esconder tanto quando possível suas manchas de vitiligo que a faziam tão facilmente reconhecida.

—Amigos de Aaron. — Adila respondeu se levantado — Ellos o han traído, porque se lastimo lo tonillo, se laman Romeu y Julie… — ela se deteve só então se dando conta da estranha combinação dos nomes e voltou-se para o irmão — ¿Te estás burlando de min?

—No. — Aaron puxou a irmã para perto, tentando se apoiar nela antes de começar a pular para dentro de casa, mesmo que ela estivesse molhada — Sin embargo Julieta es la chica de lo cerdito. Ahora o hielo…

— ¡¿Qué?!  

Adila virou-se, afastando-se tão rápido do irmão, que ele quase caiu de cara dentro de casa, mas por sorte conseguiu se agarrar bem a tempo no batente da porta.

Pronto ele tinha contado! Definitivamente ele tinha contado sobre o tornozelo ou o nocaute na escola! Romeu e Julieta se atrapalharam tentando recuar, mas o espaço era muito estreito, ainda mais com suas bicicletas ao lado.

— ¿Aquel de la foto con el tomate en la boca?

A mãe deles riu, então… se estava rindo ela não estava zangada, não é? Ou estava rindo porque estava imaginando como transformá-los em adubo?!

E aquele desgraçado do Aaron! Julieta pensou furiosamente. Entrou mancando e resmungando em casa e simplesmente deixou-os ali sozinhos! Foi uma armadilha…?!

¡Niños! Lo siento que mijo… — A mãe de Aaron estava dizendo enquanto se aproximava.

—Mamá — a irmã dele a chamou — Acho que português é melhor.

A mulher mais velha girou nos calcanhares, sacudindo o punho no ar para filha.

— ¡En mi casa y hablo como me gusto! — gritou com tamanha fúria que foi quase inacreditável quando se virou novamente para os visitantes com um sorriso angelical — Sejam bem vindos, é um prazer conhecê-los, eu me chamo Mariangel. — apresentou-se — Desculpe por meu filho idiota ter lhes causado problemas…

Parecendo bastante acostumada àquela situação, Adila girou os olhos e entrou em casa.

—Não, na verdade… — Julieta começou a dizer, virando-se para ela.

—Vamos, entrem um pouco, pelo menos para beber um vaso… digo copo de água!

—Não, na verdade, já estávamos indo… — Romeu tentou dizer.

—Deixem suas bicicletas na varanda, mas cuidado com meus vasos.

Mariangel fez como se nem os escutasse, enquanto voltava para casa, chamando-os com uma das mãos.

Sem mais escolhas, eles simplesmente a seguiram.

—Na verdade… acho que ela deve ser legal. — Romeu comentou entrando com Julieta.

—Ah sim… — Julieta começou a concordar.

Mas uma gargalhada alta e incrédula abafou sua resposta.

—Legal? — Aaron, que estava deitado em um sofá de capa azul, com um guardanapo com gelo sobre o tornozelo retorquiu — Essa mulher louca arremessadora de vassouras e sandálias?! Não se deixem enganar, isso aqui é uma selva…!

Ele deteve-se quando recebeu um cascudo da mãe ao passar.

—¡Callate pelotudo! — o censurou — Niños sentem, eu vou buscar algo para beberem, estão com fome?

—Não, nós… — Julieta tentou dizer.

—Vou preparar um lanche! — Mariangel determinou.

Então, mais uma vez, não lhes restou escolha além de obedecer.

—Sua mãe e sua irmã são… interessantes. — Romeu comentou, sem saber exatamente o que deveria dizer.

—Pode dizer que são doidas. — Aaron achou graça — Conseguem imaginar como é morar nessa selva?

De algum lugar de dentro da casa — provavelmente a cozinha — D. Mariangel começou a ralhar furiosa:

— ¡Tu pelotuda! ¡Está mojando toda mi cocina! ¡¿Por qué entraste a mi casa empapada?! ¡Debería hacerte que se seque todo con la lengua…!

— Mamá, ¿sabías que Aaron les decía a sus amigos que tú cultivas marihuana? — Adila a interrompeu calmamente.

— ¡¿QUÉ?!

Quase imediatamente, uma sandália veio voando lá de dentro e Aaron esquivou-se dela, protegendo-se com uma almofada enquanto gargalhava.

“Bienvenidos a la Jungla de los Davila”, ele dissera, sim, é claro, “Bem vindos à selva dos Davila”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Isso não é Romeu e Julieta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.