Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 10
Aqueles dias ruins...


Notas iniciais do capítulo

Era para essa ser uma fic curta de capítulos igualmente curtos, mas começo a sentir que talvez as coisas estejam fugindo um pouquinho do controle... ^^'
Feliz Halloween! ♥



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Todos nós temos nossos dias ruins, aqueles em que não gostaríamos de sair da cama, nem de ver ou falar com ninguém… todos os miolos de Julieta foram chacoalhados em seu crânio.

—Vocês estão me deixando maluca! — Margô gritou diante de seu rosto.

—O que? O que foi que aconteceu? — Julieta piscou atordoada e assustada.

Margô largou seus ombros e jogou os braços para o alto com desespero exagerado.

—Você nem está me escutando!

Julieta piscou letárgica.

—Claro que eu estava. O que foi que você disse? — perguntou desanimada.

Margô abriu a boca, já preparada com sua melhor expressão de irritação e revolta, mas algo no rosto de Julieta pareceu fazê-la mudar de idéia, ela fechou a boca, compadecida, e sentou-se ao seu lado pondo a mão em seu ombro.

—Ei, o que foi? — perguntou compreensível.

Julieta passou as mãos pelos cabelos puxando-os sobre os olhos e então os empurrando para trás novamente.

—Não foi nada. — respondeu evasiva — O que você estava dizendo, Margô?

Margô cruzou as pernas e os braços.

—Que eu disse a vocês que aquele cara é chave de cadeia, Juju, encrenca total, mas pelo que eu soube entrou por um ouvido e saiu pelo outro, não é? Até o Romeu com aquela carinha inocente, com as covinhas e os cachinhos de anjo! — ralhou, mas Julieta mal reagiu, nem sequer quando Margô propositalmente fez uso do apelido, limitando-se apenas a murmurar um “uhum” com um olhar perdido, Margô suspirou.

—O que é que tenho eu? — Romeu sentou-se de repente diante das duas garotas.

—Ai garoto! — Margô sobressaltou-se.

Mas Julieta ao seu lado mal demonstrou reação, e infelizmente Romeu conhecia aquela expressão e, mesmo tentando evitar, acabou por olhá-la preocupado de cima a baixo — pelo menos a parte visível por cima da mesa —, alguns cabelos de sua sobrancelha direita estavam brancos, será que era isso? Mas ficou envergonhado e desviou o olhar sem perguntar nada quando seus olhos encontraram os de Julieta.

—E você! — Margô sentou-se ao seu lado e passou o braço em volta de seu pescoço, parecendo estar genuinamente tentando estrangulá-lo — O que foi que eu disse a vocês? Hein?!

—O que? O que? — Romeu debateu-se confuso, sem conseguir libertar-se — O que foi que eu fiz?

—O que você fez?! — Margô apertou um pouco mais o braço em torno de seu pescoço — Eu vou te dizer o que foi que você não fez! Você não…!

—Alguém quer churro? — Aaron perguntou sentando-se repentinamente com eles à mesa.

Margô paralisou no mesmo instante, dando a Romeu a chance perfeita para finalmente conseguir desvencilhar-se dela, mas nenhum dos três olhou-o ou respondeu-lhe qualquer coisa… exceto pelo estender da mão de Julieta, aceitando o churro.

—Eu pedi com recheio de doce de leite, mas me deram goiabada. — explicou girando os olhos — E como eu já tinha mordido não quiseram trocar!

Goiabada era tudo de que Julieta precisava naquele momento, ela suspirou satisfeita enquanto comia, sem dar-se conta de que Aaron a observava atentamente.

Ele não sabia o que estava acontecendo, mas de repente parecia que muitas pessoas andavam evitando-o no colégio, agiam nervosamente e mudavam de assunto quando ele se aproximava, ou inventavam desculpas e se afastavam, alguns simplesmente davam-lhe as costas sem dizer coisa alguma, e aqueles três também não estavam encarando-o.

Se bem que no caso de Julieta não parecia ser nada pessoal, ela estava visivelmente no mundo da lua hoje, e Romeu… ok, como ele era definitivamente pessoal, mas Aaron sabia exatamente porque ele o estava ignorando, embora ainda ficasse incrédulo por ele estar bravo até agora, mas Margarida… ah sim, ela sabia sim de alguma coisa, isso com certeza.

Aaron se inclinou em direção a ela.

—Ei Margarida…

—July você deveria tomar um pouco mais de cuidado com o que vem do Aaron. — a voz de Romeu sobressaiu-se a dele — Porque pode ser que num segundo ele seja legal e amigável, com sorrisos e doces, mas no outro te apunhala pelas costas!

 Margarida arregalou os olhos, Julieta piscou entediada e comeu seu churro de uma forma que pareceu quase um ato de rebeldia.

—Por quê? — perguntou de boca cheia.

—Cara, isso não foi nem um pouco justo! — Aaron reclamou — Eu não te apunhalei pelas costas…

—Eu estava te defendendo e você me matou! — Romeu acusou-o.

Dando de ombros, Julieta tirou o celular do bolso e começou a mexer nele.

—Sim, mas não te apunhalei pelas costas eu quebrei seu pescoço, é diferente. — Aaron girou os olhos gesticulando com as mãos — Não foi nada pessoal, foi apenas estratégia: ao matar meu principal defensor era óbvio que o meu acusador estava tentando acabar com qualquer apoio que eu pudesse ter, para assim poder me incriminar.

—Que raio de lógica é essa?!

—Deu certo oras! E você não pode estar bravo com isso ainda, foi há quase duas semanas!

—Ah é? — Romeu bateu na mesa — Pois adivinha só!

—Esperem um pouco. — Margarida interveio confusa — Do que vocês estão falando?

Romeu voltou-se para ela.

—Aaron sempre me mata primeiro! — reclamou.

—Espere um pouco aí! — Aaron ergueu as mãos — Zack foi o primeiro a morrer, lembra?

—Mas quem matou o Zack foi Miragem!

—Vocês estão falando de um jogo? — Margarida perguntou completamente perdida na situação.

Romeu apontou acusador para Aaron.

—Eu deveria saber que não podia confiar em um sacrier!

—O que?! — Aaron piscou — Nós nem estávamos jogando Wakfu! Estávamos jogando…!

—Vocês estão falando de “Amongs Us”? — Julieta, que até então estivera totalmente alheia à conversa mexendo em seu celular enquanto comia churro, perguntou de repente.

—Sim, era disso que estávamos falando. — Aaron confirmou olhando-a estranhamente — Romeu está bravo porque eu o matei no Amog Us, sendo que esse é exatamente o propósito da coisa toda, mas como sabia?

—Não sabia, foi só coincidência. — respondeu enquanto digitava no celular.

—Que tipo…?

Começou a perguntar quando de repente Romeu levantou-se e puxou o celular da mão de Julieta.

—Há, eu sabia! Você está falando com Heleno! — exclamou vitorioso.

—Quem é Heleno? — Aaron perguntou confuso.

—O tio bruxo vidente dela! — respondeu-lhe com os olhos arregalados.

—Heleno não é um bruxo, Romeu. — Julieta pegou o celular de volta.

—E como é que ele sempre sabe o que vai acontecer? — ele sentou-se novamente.

—Isso não é verdade. — Julieta negou despreocupadamente voltando a baixar os olhos para o celular.

—Ele acabou de te perguntar se você conhece Amongs Us, como ele sabia que estávamos falando disso? Não é?

Insistiu olhando de Margô para Aaron, esperando conseguir algum apoio ali.

—Coincidência. — Julieta teimou.

Mas Romeu e Margô não estavam tão convencidos assim.

—Esse aí é o mesmo cara que previu a pandemia três dias antes dela começar lá na China? — Margô quis confirmar.

—É o que?! — Aaron assustou-se.

—Ele não “previu” nada. — Julieta retrucou em tom monótono, como se já tivessem tido aquela conversa um milhão de vezes — Ele só estava comentando com Helena como será que seria se um negócio desses de “futuro distópico pós-apocalíptico” desencadeado com, por exemplo… — pigarreou — um vírus mortal que começou a dizimar a população mundial, realmente acontecesse e se teríamos de verdade alguma chance de sobrevivência. Mas quem é que nunca se perguntou algo assim? E eles estavam assistindo Guerra Mundial Z!

Aaron precisava concordar.

—E o que mais…? — Romeu incitou-a, movendo a mão em círculos no ar.

Julieta fez uma careta.

—E se começaríamos a lutar pelos últimos mantimentos, e estocar papel higiênico, ou se surgiriam, hã, grupos negacionistas negando a periculosidade do vírus. — completou com má vontade — Mas isso não significa que ele previu o futuro!

—Olha… foi um chute e tanto. — Aaron comentou admirado. — Ele já pensou em apostar na loteria?

—Heleno não ganha nem jogo do bicho, mas mesmo assim, por mais inútil que seja, vovô continua a pedir dicas para ele sobre os números nos quais jogar. — ela respondeu.

—Mas profetizar uma pandemia de um vírus mortal é moleza?! — Margô reclamou incrédula arqueando as sobrancelhas.

—Ele não…! Ah, tanto faz. — Julieta voltou sua atenção para o celular novamente — E Heleno só estava perguntando se eu sabia o que Amog Us e agora que saber se você quer jogar com ele, Romeu.

Romeu levantou-se com um pulo.

—Viram?! Como ele poderia saber que eu jogo se não…!

—Eu acabei de falar para ele, seu bocó.

—Ah… certo. — ele sentou-se sem graça, mas Julieta não esboçou reação alguma, Romeu mordeu o interior da bochecha — July está tudo bem?

—Ah, nem adianta perguntar! — Margô cruzou os braços — Porque eu já estou aqui falando sozinha há séculos!

Mas Romeu tampouco parecia estar escutando-a agora também, pois sua mente estava longe, tentando elaborar maneiras de deixar Julieta feliz.

—Ei eu tenho uma idéia! — Aaron manifestou-se de repente — Romeu tem o contato do seu tio, meu bem? Porque se não tiver você pode me passar, e aí eu o adiciono no grupo e todos nós podemos jogar juntos hoje à noite…

—Eu não vou jogar hoje. — Romeu declarou interrompendo-o.

Aaron olhou-o incrédulo.

—Cara você não pode ainda estar bravo porque eu te matei em um jogo onde o objetivo é justamente matar os outros.

Romeu o olhou seriamente.

—Lembrai, lembrai o cinco de novembro, a pólvora, a traição e o ardil, então não vejo porque esquecer uma traição de pólvora tão vil. — recitou.

—Como é? — Aaron o encarou confuso — Cara, nós estamos em abril!

—A traição que me irritou e não a morte! — Romeu reclamou impaciente — E não é por isso que não posso jogar, acontece que hoje à noite eu vou dormir na casa da July.

Julieta levantou os olhos de repente.

—Vai dormir onde?

—Ou então você pode dormir na minha. — sugeriu.

Julieta não recebeu bem aquela sugestão, ela torceu o nariz empurrando os cabelos para trás.

—Eu nunca mais vou fechar os olhos no mesmo cômodo que aquele gato psicopata da tia Vanessa. — recusou-se.

—Hades não estava tentando te matar, July, ele é um gato, não tem malícia no coração!

—Pois esse “gato sem malícia no coração” — Julieta fez aspas no ar — Colocou um travesseiro na minha cara enquanto eu dormia e depois deitou em cima, ele estava tentando me matar asfixiada sim Romeu!

—Olha, uma vez eu vi um vídeo de um gato que todas as noites colocava, propositalmente, tachinhas nos sapatos de seu dono. — Aaron comentou passando a mão pelo queixo e atraindo o olhar zangado de Romeu. — E todas às vezes ele ainda olhava diretamente para a câmera antes e depois de fazer. Não sei, mas acho que eles são mais inteligentes do que nós pensamos…

—Você não está ajudando! — Romeu reclamou, antes de voltar-se novamente para Julieta. — Então eu vou dormir na sua casa.

Julieta girou os olhos, mas não tinha realmente como ficar brava com Romeu, afinal ela sabia exatamente o que ele estava fazendo. É claro que ele descobriria afinal.

—Acho que vou comprar mais um daqueles churros com goiabada para mim. — declarou se levantando.

—Eu vou com você! — Margô afirmou praticamente correndo para se levantar e ir atrás dela.

—Com queijo para mim! — Romeu acenou, embora já estivesse quase na hora de tocar o sinal para o fim do intervalo.

Quando elas se foram, e somente os rapazes restaram, Aaron bateu na mesa para chamar de volta a atenção de Romeu, que lhe lançou um olhar enfezado. Aquele cara sabia mesmo como guardar um rancor virtual, não é? Mas ele decidiu ignorar aquilo.

—Ei cara, só porque você vai dormir na casa da Julieta, não significa que não possa jogar conosco, sabia? Among Us é pelo celular afinal… — e antes que Romeu pudesse mandá-lo para um lugar provavelmente não muito agradável, Aaron completou: — E talvez pudesse ser a sua chance de conseguir a sua revanche contra mim.

Romeu piscou e sua expressão irritada desarmou-se automaticamente, enquanto Aaron tentava não rir com a facilidade de manipulá-lo.

Antes de começarem a partida todos se reuniram no grupo de whatsapp, assim como de costume, com exceção de Lorde Zucker, que precisava trabalhar e não poderia ficar online.

Zack: Já ta td mundo ak?

Em resposta, uma fileira de figurinhas com temática de Amongs Us começou a brotar no grupo, com exceção de Pandora e Japonese Doll que estavam usando de novo aquelas figurinhas bizarras, hoje eram de lutadores de sumor. Onde elas encontravam essas coisas?

Zack: Impostor o Montecchio já t explicou td?

“Impostor”, aquele Heleno tinha senso de humor.

Impostor: Acho que sim…

Japonese Doll: Será q podemos começar logo?

Japonese Doll: Hj eu fiz uma prova para a qual estava estudando durante as últimas 7 semanas então preciso MUITO matar alguém agora.

Mas obviamente Romeu não havia explicado tudo para Heleno, pois o jogo tinha começado a menos de dois minutos, quando ele soltou:

“Ei pessoal, porque só eu e o Montecchio estamos com os nomes em vermelho?”

—Não! — Romeu gritou em desespero, enquanto Aaron gargalhava pelo microfone — Não cara, não! Pelo amor de Deus não, não, não!

Pelo visto Julieta estava certa: seu tio Heleno realmente não era nenhum vidente… e isso se reforçou ainda mais quando, na partida seguinte, ele foi o primeiro a ser morto.

“Eu estava com Zack!” — Pandora foi a primeira a se defender.

“Eu estava nas câmeras, e os únicos que vi perto do Impostor foram o Montecchio e a Japonese Doll” — argumentou Aaron.

“Deve ter sido o Montecchio então” — Miragem concluiu.

—O que?! — Romeu se assustou — Não fui eu, eu que reportei!

“Mas pode ter sido isso mesmo” — Aaron refletiu — “Montecchio matou Impostor, e aí quando viu a Japonese Doll chegando, reportou a morte para não ser acusado”

—Não! — Romeu arregalou os olhos — Não fui eu!

“Eu também acho que foi o Montecchio.” — Zack afirmou.

—Não, não fui eu! Acreditem em mim! ACREDITEM EM MIM! — Ele desesperou-se a tal ponto que sacudiu repentinamente a perna espirrando água na cara de Julieta. — Ah… desculpe July.

—Será que você pode se controlar um pouco? — reclamou aborrecida passando a mão no rosto para livrar-se da água — Um pouquinho antes e eu teria enfiado esse alicate debaixo da sua unha, sabia?

Mas nem de longe estava tão irritada quanto seria de se esperar, Romeu a olhou preocupado.

—Ei July, onde…?

Mas se deteve quando ouviu o rumo que o debate entre seus amigos estava tomando:

“Por que Montecchio está se desculpando?” — Miragem estava perguntando.

“O Impostor tinha um pet.” — sugeriu Japonese Doll.

—Não! — Romeu assustou-se — Nada haver, eu estava me desculpando com a July por ter jogado água na cara dela!

“Claro, a “July””. — Zack concordou descrente.

—Ela existe mesmo! — defendeu-se — Chile, fala para eles!

“Yo no la conozco, señor”.

Aaron respondeu de cara lavada, deixando Romeu boquiaberto:

—Oras seu…! Deixa pra lá, e eu nem tinha visto que a Japonese Doll estava por perto também.

“Então eram só você e o cadáver?” — Aaron quis confirmar.

—Olha aqui eu sei o que você está sugerindo seu traidor. — Romeu irritou-se — Mas se você viu a Japonese Doll, eu e o Impostor todos perto uns dos outros antes do Impostor ser morto e eu não vi ela lá, talvez ela estivesse em uma ventoinha!

Dois segundos de silêncio.

“JD onde você estava?” — Pandora quis saber.

“Eu estava voltando da hidrelétrica”.

“E o que foi fazer lá?” — Miragem pressionou.

“Eu fui apagar as luzes…” — os gritos começaram de imediato — “Não, acender! Eu quis dizer acender as luzes!”

Mas o caos já havia se instalado, Pandora e Miragem estavam incrédulas enquanto, Aaron repetia sem parar que sabia o tempo todo que havia sido Japonese Doll, Romeu comemorava e Zack ria.

E então uma risada mais baixa e sinistra começou a se infiltrar entre eles, que foi aumentando gradualmente até que todos estivessem em silêncio e somente aquela gargalhada psicótica de Japonese Doll restasse, ela se deteve, puxando o ar com força e declarou sadicamente:

“Eu sou Kira”.

Japonese Doll foi ejetada.

Romeu desligou o microfone, baixou o celular e tirou os fones dos ouvidos bem devagar.

—As coisas ficaram estranhas rápido… — comentou engolindo em seco. — Ei July, o que está fazendo?!

—Fique quieto ou vai borrar o esmalte. — Julieta ralhou concentrada.

—Ah, desculpe. — Romeu aquietou-se, mas fez uma careta meio segundo depois — Espera um pouco, “desculpa” nada, você me disse que só ia passar base, não era para pintar as unhas dos meus pés de verde neon!

—E não era para você jogar água de pé na minha cara. — Julieta retrucou — Então acho que isso nos deixa quite.

—Quite como? O negócio da água foi um acidente, tire logo esse esmalte daí, por favor. — reclamou se concentrando novamente no jogo, mas internamente estava feliz, por finalmente conseguir ver Julieta sorrindo hoje. — Ei July. — chamou devagar. — Onde foi que elas apareceram dessa vez?

—Então você já percebeu. — Julieta suspirou — Bem, eu também sou péssima em disfarçar, com certeza.

E sem dizer mais nenhuma palavra, simplesmente tirou a blusa fora, ficando somente de top na frente do amigo, mas tudo parecia exatamente igual, até que ela levantou os braços.

—As duas axilas de uma vez. — reclamou chateada abaixando os braços novamente. — Estou cada vez mais me parecendo com uma “colcha de retalhos”.

—Não diga isso, você não é uma colcha de retalhos. — Romeu reclamou bravo, batendo com a mão no joelho.

Julieta sorriu de lado, inclinando-se para trás e apoiando o peso do corpo sobre as mãos.

—Ah sim, é verdade, eu acho que disse que ia afundar os olhos do próximo que me dissesse isso, não é?

—Disse. — Romeu concordou enfático, mesmo não sabendo, porque era difícil se lembrar de cada uma das ameaças que Julieta já havia feita a alguém na vida… ou mesmo durante a semana. — Então retire agora mesmo o que disse!

—Eu retiro, desculpe. — Julieta suspirou.

—Está certo. — Romeu assentiu satisfeito — Agora tire o esmalte das minhas unhas também, por favor.

Mas, como se houvesse sido combinado, Astolfinho escolheu aquele exato momento para empurrar a porta e entrar no quarto e Julieta aproveitou para virar-se ignorando o pedido do amigo.

Alice vivia dizendo que o porquinho não podia ficar dentro de casa, mas tanto a filha quanto o suíno ignoravam aquilo prontamente.

—O que foi meu amor?

Roncando o porquinho aproximou-se trazendo a guia na boca até começar a dar leves cabeçadas na barriga e no braço de sua tutora, que riu colocando as mãos em ambos os lados de seu rosto e sacudindo suas bochechas.

—Acho que está na hora do passeio de alguém, não é? — falou com a voz boba, já se levantando.

Romeu a olhou chocado.

—E quanto às unhas pintadas dos meus pés?

—Ah sim. — ela fingiu ter se esquecido e então lhe deu um sorrisinho — Vamos ter que terminar a sua pedicure mais tarde, no momento há coisas mais urgentes que precisam da minha atenção.

Atolfinho roncou como se concordasse.

—Mas esperem um pouco aí! — Na pressa de se levantar o pé de Romeu mergulhou direto na bacia d’água de novo, espalhando mais água ainda, dessa vez ele não se importou — Não pode sair e me deixar com as unhas assim July!

—E por que não? — Julieta perguntou em um tom curioso, como se ele estivesse sendo completamente irrazoável.

Romeu fez uma careta e sentou-se novamente na cama, nem adiantava discutir.

—Se vocês puderem esperar só mais vinte minutos até eu terminar essa partida, eu gostaria de ir junto.

Julieta estalou os dedos para chamar a atenção do porco de estimação.

—Venha querido, vamos guardar tudo antes de sair. — chamou pegando do chão a bacia com o que restara de água, já que Romeu insistia em ficar batendo os pés e espirrando a água para todo o lado.

O mini porco roncou feliz e seguiu-a trotando aos seus calcanhares ainda levando a guia na boca.

E, de volta ao jogo, Romeu sorriu consigo mesmo quando as suspeitas sobre o impostor recaíram sobre Aaron e Pandora.

—Antes de dar meu voto, tem uma história que eu gostaria de contar. — começou a falar pelo microfone — Era uma vez, um jovem e inocente Montecchio que estava fazendo uma task, fazendo um download, eis que ele viu seu amigo Chile passando… e ele quebrou seu pescoço e o deixou para morrer. Então só de ódio dessa vez eu vou confiar na Pandora.

—Mas isso não faz nem sentido! — Aaron protestou — Foi ela quem…!

Aaron foi ejetado.

Por fim Aaron não era o imposto, mas nem mesmo a derrota esmagadora que se seguiu com o massacre da tripulação — tendo o próprio Romeu incluso — foi capaz de tirar de Romeu o seu sorriso vitorioso e o gosto da vingança consumada.


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Notas finais do capítulo

Romeu sempre estará ali para dar um sorriso a sua Julieta ♥



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