A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível escrita por Félix de Souza


Capítulo 8
Um sábado qualquer


Notas iniciais do capítulo

Olá prezado cliente.
Aqui quem fala é a diretoria.

Continuando a conversa da última vez, eu gostaria de fazer um pedido.
Me ajudem a esclarecer as duvidas de vocês e eu as porei nas notas finais.

Desde já agradecido.

— A Diretoria.



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— Bem vindos á maravilhosa loja de Argoluli.

Era assim que saudava sempre aquele sujeito estranho, não necessariamente engraçado, que era o dono daquela loja muito exclusiva.

Sua loja era tão exclusiva, que encontra-la exigia um convite de fregueses que a frequentaram ao menos três vezes. É claro, que o convite como tudo na loja, era mágico.

— E onde está o tão aclamado Argoluli, senhor? _ Alguém sempre perguntava.

— Oh! Sou eu mesmo. _ Dizia aquele homem com um pouco menos de um metro e setenta de altura, um e sessenta e oito, na verdade.

A reação a tal resposta é que sempre variava, mas servia para o feiticeiro avaliar os humores de seus fregueses, sobre tudo os que ele ainda não conhecia bem.

Alguns olhavam com estranheza alguém que falava de si mesmo na terceira pessoa, outros riam. Alguns de deboche e outros de deleite, e assim Argoluli fazia anotações mentais.

Sério, cauteloso, idiota, desconfiado, parvo, sociável e, por meio disso, o preço.

Era a loja dele, as regras dele, o seu reino.

Às vezes vinham criaturas estranhas de todos os lugares do universo para negociar na loja.

É preciso entender que a loja, também era conhecida como um território neutro. Aqueles que aceitavam seu convite tinham que ter sapiência disso. Os fregueses podiam vir de qualquer plano da realidade, desde que se comportassem.

Certa vez um ilitch, devorador de mentes, se atreveu a quebrar as regras da loja e achou, por bem capturar algumas das mentes ali no estabelecimento.

Hoje a distinta cabeça de polvo, está petrificada ao lado da porta de entrada e é o suporte de charutos mais exótico do local.

Desafiar Argoluli em seu reino era um ato suicida, no melhor das hipóteses.

Dito isso, a loja era o local onde Argoluli se sentia mais seguro, ele amava trabalhar naquela loja, e não importava se o freguês vinha de Doomlore, dos planos inferiores, ou superiores. Sua história, ou seu objetivo, desde respeitasse o estabelecimento.

Aquele seria um sábado qualquer.

Mesmo que, os arautos de um dos magos mais perigosos do mundo viessem ao seu estabelecimento.

Havia uma sineta acima da porta de entrada, que á todos soava da mesma maneira, menos aos ouvidos de Argoluli em certas situações. Era uma espécie de alarme que ele dispunha á convidados potencialmente problemáticos e ele ouviu um alerta naquele dia.

Nesse caso, não ouviu, na verdade.

Ouviu apenas o ranger da porta e isso só indicava uma coisa.

O Culto do Silêncio.

“Tão longe de casa” _ Pensou consigo mesmo, Argoluli. Foi atendê-lo com o máximo de naturalidade. Não podia demonstrar fraqueza.

— Bem-vindo, meu nobre amigo. _ Cumprimentou Argoluli, com um sorriso e o cenho franzido pronto para qualquer reação brusca. Encarava a criatura encapuzada seja lá o que fosse que o tivessem enviado dessa vez. Tinha que olhar para cima, era alto e vestia uma armadura de peças cristalinas, porém negras como obsidiana.

Um Cavaleiro Negro, de Mavrosia.

Seu capuz impedia de identificar sua natureza prontamente. Na verdade, esse drama todo era muito entediante para o feiticeiro.

Á essa altura eles deveriam saber que se ele quisesse, saberia o que eles são sem muito esforço, por outro lado, talvez o estivesse julgando mal. Provavelmente ele só não quisesse assustar os outros fregueses.

De fato, os outros fregueses na loja lançavam olhares mal disfarçados para o novo cliente.

— Meu senhor, requisita seus serviços, feiticeiro. _ Disse o cavaleiro com sua voz vazia de emoções.

— Esse humilde estabelecimento sempre fica grato pela preferência. _ Disse, numa vênia que beirava a zombaria. — O que ele deseja dessa vez? Drogas? Venenos? Alguma criatura exótica? Os artefatos amaldiçoados estão em promoção. Sei que ele faz bom uso.

A criatura simplesmente buscou um pequeno pergaminho de dentro do seu manto, e o entregou em silêncio ao feiticeiro, que o desenrolou sem cerimónia e logo arqueou uma sobrancelha, voltando seu olhar á criatura.

— Problemas? _ Indagou o cavaleiro. Havia um toque de satisfação mórbida em seu tom de voz.

— Isso não existe... _ Respondeu Argoluli.

Uma risada mais franca ressonou do encapuzado, e os que estavam ao redor tiveram sua curiosidade aguçada. Afinal, A Maravilhosa Loja de Argoluli, tinha a reputação de ter, bem, tudo. Era possível encontrar de tudo, essa era sua reputação.

Será que eles veriam essa reputação ser destruída? Era o que se passava na cabeça dos presentes.

Havia uma oferta perene na loja.

Se alguém que buscasse algo na loja que não fosse de posse dos próprios deuses, não encontrasse ali, todos no local nesse dia, poderiam levar um objeto qualquer de graça.

— Está dizendo que não o possui? _ Retorquiu o cavaleiro.

— Não. Eu disse que isso não existe. _ Pronunciou tais palavras de cabeça baixa encarando o papel. Voltou seu olhar, no entanto, ao confrontar o cavaleiro com um sorriso renovado.

— Não existe, ainda. _ Disse por fim. — Fico impressionado que seu senhor saiba que vá existir algum dia. É a máscara, não é? _ Não esperava uma resposta de fato. — Fascinante! Adoraria estudar a máscara dele um dia, um verdadeiro sonho. _ Passou as mãos limpas pelo avental intocável, um gesto inconsciente de se recompor. — Vieram ao lugar certo, meus amigos. Sigam-me.

Sim, você leu certo. Ele se referiu à criatura no plural, porque percebeu do que ela se tratava.

Não era um cavaleiro negro, era algo pior, mais antigo e condizia com a importância da carga.

 

Logo eles estavam subindo as escadarias para o segundo andar da loja, onde ficavam as portas de acesso para salas especiais. Argoluli tinha plena confiança que ninguém seria tolo o suficiente de tentar rouba-lo naquele dia.

Logo eles chegaram à porta no fim do corredor que abria para uma sala onde havia... Mais duas portas e um arco de entrada.

Uma porta tinha aparência de muita antiga, outra parecia que acabara de ser feita, e o arco de entrada carecia de porta, estava simplesmente aberta e além dela somente uma escuridão indecifrável.

O encapuzado se sentiu atraído pelo arco, involuntariamente estendendo a mão até ele.

— Meu amigo, eu recomendo veementemente que você se afaste dessa entrada.

A criatura se deteve.

— Aguarde um momento, sim? _ Disse Argoluli se dirigindo exatamente para o arco que ele disse ao outro para se afastar.

— Para onde leva essa entrada? Nem eu consigo enxergar nessa escuridão.

Argoluli deu de ombros.

— Estoque. _ Parou na entrada e olhou para trás e para o alto. — Você se perderia lá dentro.

Deu um passo á frente e desapareceu no ar.

Somente para surgir um segundo depois arrastando um baú.

Estava desgrenhado, ofegante, um tanto sujo de sangue seco, fedendo a fumaça, mas intacto.

— Esse deu trabalho. _ Disse recontando-se no baú. — Pronto! Pode conferir.

O cavaleiro ficou observando por alguns momentos, a reação mais próxima de espanto que aquele ser conseguia demonstrar.

— Não há necessidade. Meu senhor confia na sua palavra.

— Oh! Bom, ótimo saber que seu senhor confia em mim.

— Quanto custará? _ Indagou a criatura.

— Aposto que seu mestre sabe.

— Ele sabe. Fica acertado como sempre, então.

— É sempre bom fazer negócios com vocês. _ Disse o feiticeiro com um largo sorriso. — Ainda mais nesse momento em particular.

Argoluli acompanhou o cavaleiro até a saída, enquanto esse carregava o baú sem o menor esforço. Do lado de fora da loja, comtemplou um corcel de pesadelos que aguardava. O cavaleiro prendeu seu baú ao lombo do cavalo sobrenatural com gentileza anormal, e montou.

— Mande lembranças ao clã Mavros. _ Disse-lhe o feiticeiro em despedida.

Não houve respostas e ele não esperava nenhuma novamente.

Argoluli voltou à loja um tanto apreensivo, apesar de tudo, ao imaginar que desgraça seu cliente tão ilustre estaria planejando dessa vez ou contra qual inimigo colossal ele estaria se precavendo. Algo grandioso pairava no horizonte.

“Bom. Não é da minha conta, não é mesmo”? _ Pensou, descartando a preocupação.

Ao se voltar para adentrar novamente a loja, teve uma visão desagradável.

— Você saiu da loja, Argoluli.

Ele reconheceu de imediato a barda. Uma mulher alta, de longos cabelos negros como o auge da meia-noite e olhos azuis como um dia de verão ao meio-dia.

Léia Língua D’prata.


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Notas finais do capítulo

Hoje vamos falar das grandes forças ocultas por trás da historia. Uma das partes que mais me chamaram atenção.
Existem forças que agem nos bastidores e que podem ter influência ou não em níveis diferentes na historia.
Estou falando de seres citados como, Cogshogorat -A mãe da cobiça, Y'v, Portador da Inveja e Chafaudurh, Pai da Preguiça. Como você deve ter percebido, seus títulos são intimamente ligados aos pecados capitais.
Eles são comumente taxados de lordes infernais, cada um rege um reino do inferno nesse mundo. Tem nomes diferentes na mitologia judaico-cristã, mas esse não é um mundo judaico-cristão afinal.
Além disso, muitos se não todos tem o poder de uma divindade e até cultos em seu nome, Coisas que podem ser apresentadas em outras historias.
No capitulo "Uma lenda é só metade da verdade" , esses três são citados. Por enquanto vou fazer mistério dos demais, porém, saiba disso. Existem mais quatro deles e eles podem ser citados ou não.
É um mundo vasto e sombrio esse que você acompanha.

Espero que gostem, e até a próxima.

— A Diretoria.



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